CICLOS DE POLÍTICA ECONÔMICA DO PÓS GUERRA Seminário Produtividade e Competitividade. Samuel Pessoa - Ibre-FGV Insper, 1º de agosto de 2013

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Transcrição:

CICLOS DE POLÍTICA ECONÔMICA DO PÓS GUERRA Seminário Produtividade e Competitividade Samuel Pessoa - Ibre-FGV Insper, 1º de agosto de 2013

EVOLUÇÃO DA PTF BRASIL

DOIS CICLOS DE POLÍTICA ECONÔMICA Liberalização da economia Retomada do crescimento Choque externo Estagnação

DOIS CICLOS DE POLÍTICA ECONÔMICA Primeiro ciclo pela direita: 1. Liberalização da economia no governo Castello Branco 2. Retomada do crescimento no governo Médici 3. Choque do petróleo em 1973 4. Estatização da economia com Geisel

DOIS CICLOS DE POLÍTICA ECONÔMICA Segundo ciclo pela esquerda: 1. Liberalização da economia no governo FHC incluindo o período Palocci 2. Retomada do crescimento no governo Lula 3. Crise mundial em 2008 4. Estatização da economia com Lula (2009-10) e Dilma

MEDIDAS ADOTADAS DESDE 2009 1. Alteração no regime de câmbio flutuante para fortemente administrado. Nos últimos anos, vigora na prática regime de câmbio fixo 2. Tolerância com inflação. Há percepção generalizada de que o Banco Central trabalha com uma meta informal de 5,5% ao ano de inflação 3. Adoção recorrente de artifícios para atingir a meta de superávit primário reduzindo a transparência da política fiscal 4. Controle de preços para tentar conter a inflação. Isso é visível, por exemplo, nos combustíveis e na política de desoneração tributária 5. Expansão do papel do BNDES na intermediação do investimento. Como nos anos 70, as opções do banco são altamente questionáveis. Não há literatura que sustente que a política de criar empresas campeãs nacionais alavanque o crescimento 6. Tendência a fechar a economia ao comércio internacional 7. Direcionamento da política de desoneração tributária a alguns setores ou bens, em vez de estendêla de forma equitativa todos os setores produtivos 8. Aumento do papel do Estado e da Petrobrás no setor de petróleo. Isso ocorreu com o novo marco regulatório para o pré-sal. Ele dificulta os novos leilões de áreas a explorar 9. Uso dos bancos públicos de forma muito arriscada com vistas a baixar na marra o spread bancário 10. Dificuldade ideológica no emprego do setor privado na oferta de serviços de utilidade pública e infraestrutura em geral A inspeção da lista esclarece os motivos mais importantes da fortíssima desaceleração de nossa economia de 4% ao ano para 2%

COM RELAÇÃO À PARTICIPAÇÃO DOS BANCOS PÚBLICOS E O IMPACTO SOBRE O BALANÇO DO SETOR PÚBLICO TRABALHO DOS ANOS 70 AFIRMAVA: (Silva, Adroaldo Moura, Luna, Francisco Vidal e Cruz, Hélio Nogueira da., Inflação e Mercado de capitais, São Paulo, Bolsa de Valores de São Paulo, 1977, página 15) E é exatamente isso que tem ocorrido. De um lado, o Governo, através de algumas agências, capta ou garante a captação de poupança com correção monetária a posteriori mais juros anuais da ordem de 4 a 6% a.a. Isso, na verdade, fixa um limite inferior para a remuneração desejada pelos poupadores. De outro, o Governo através de suas agências (BNDE, Banco do Brasil, ou mesmo através de repasses ao próprio setor privado financeiro que se apropria de um generoso spread ) realiza empréstimos e financiamentos a taxas de juros subsidiados, fixando, direta ou indiretamente, um limite superior, menor que o pago ao poupador, para o custo do dinheiro. Esse crédito seletivo e subsidiado é bastante abrangente: a) Crédito Agrícola: taxa máxima: 15% a.a. Saldo total das operações em 1976 não inferior a 160 bilhões de cruzeiros (13 bilhões de US$ dólares); b) Crédito para manufaturados exportáveis: taxa máxima de 8% a.a. Saldo total das operações em 1976 não inferior a 30 bilhões de cruzeiros (2.5 bilhões de US$ dólares); c) Crédito para investimento no sistema BNDE: taxas variando entre 3 e 8% a.a. mais correção monetária máxima (sic) de 20% a.a., mesmo que a taxa de inflação se aproxime dos 50% a.a. d) Inúmeros outros programas menores a taxas subsidiadas para programas especiais: pequena e média empresa, crédito comparativo, projetos de colonização, etc. e) Dada a importância quantitativa e qualitativa do Governo no mercado de capitais, isso subverte a própria noção de mercado de capitais eficientes: seu mais importante agente opera com um spread negativo. Dada a importância quantitativa e qualitativa do Governo no mercado de capitais, isso subverte a própria noção de mercado de capitais eficientes: seu mais importante agente opera com um spread negativo.

QUAL A DIFERENÇA? Somos democracia O ensaio nacional desenvolvimentista não resistirá às eleições de 2014 Há recuos nítidos na própria administração: Recuo na política das campeãs nacionais Recuo na política de fechar a economia (Valor de hoje) Recuo na política de fechar a BP à entrada de capitais E, oxalá, recuo na política de aceitar inflação maior