A gestão das emoções e afectos

Documentos relacionados
Objectivos Educativos

PROGRAMA DE MÉTODOS E HÁBITOS DE ESTUDO

Construir o Futuro (I, II, III e IV) Pinto et al. Colectiva. Crianças e Adolescentes. Variável. Nome da prova: Autor(es): Versão: Portuguesa

PROMOÇÃO DA SAÚDE EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES:

Técnicas de Animação Pedagógica. gica

i dos pais O jovem adulto

PA.CRH.17. Pág. 1 de 6

PARA QUE SERVE A CRECHE E A PRÉ- ESCOLA = FINALIDADE NA SOCIEDADE: QUAL SEU PAPEL / FUNÇÃO DIANTE DA CRIANÇAS E DE SUAS FAMÍLIAS

Estratégia Nacional para o Envelhecimento Activo e Saudável Contributo da OPP

Cláudia Moura. IDOSOS: As Palavras e os Gestos na Comunicação. Centro Cultural Entroncamento,

1º Ciclo. Competências Gerais do Ensino Básico

Competências gerais. Princípios e valores orientadores do currículo. Competências gerais

CATÁLOGO DE FORMAÇÃO ESTRATEGOR

48 horas (18 horas/área comportamental + 18 horas/área da saúde+ 12 horas/ área jurídica)

Agrupamento de Escolas Dr. Vieira de Carvalho P L A N I F I C A Ç Ã O A N U A L D E E D U C A Ç Ã O P A R A A C I D A D A N I A

Serviço de Apoio Domiciliário SAD

Cursos Recomendados TOPIC: COMMUNICATION SKILLS MANAGEMENT AND LEADERSHIP TIME MANAGEMENT

Ano Lectivo 2007/08. Agrupº. Escolas Padre Vítor Melícias

2. As percepções de competência dos parceiros numa relação podem influenciar a forma como cada um responde aos comportamentos outro;

Tma: Tema: Competências do professor para o trabalho com competências

Programa BIP/ZIP 2018

Grupo de Trabalho da Violência ao Longo do Ciclo de Vida da ARS Algarve, IP

REFERENCIAL DE RVCC PROFISSIONAL

PROJECTO EDUCATIVO OBJECTIVOS

ELEIÇÕES / PROGRAMA ELEITORAL LISTA B

O Impacto Psicossocial do Cancro na Família

Escola EB1/PE da Nazaré

Promover a inserção social de pessoas e grupos mais vulneráveis; Estimular o desenvolvimento de projectos de vida;

PROGRAMA DE COMPETÊNCIAS SOCIAIS PROGRAMA DE COMPETÊNCIAS SOCIAIS COMPETÊNCIA SOCIAL... COMPETÊNCIA SOCIAL... COMPETÊNCIA SOCIAL...

Tema do Painel: Um novo paradigma de desenvolvimento profissional: Valorização de percursos e competências. Tema da Comunicação:

Plano Anual de Atividades. Resposta Social: Serviço de Apoio Domiciliário

O PORTFOLIO E A AVALIAÇÃO DAS APRENDIZAGENS. Ana Cláudia Cohen Coelho Ana Paula Ferreira Rodrigues

UNIDADE DE TRABALHO: Capa, Embalagens, Natal, etc. Duração 14 aulas de 90 minutos

Programa BIP/ZIP 2014

Planificação Anual Oficina de Teatro. 7.º Ano 3.º Ciclo. 1.º Semestre. Ano letivo: 2017/2018

Soft-skills / Comportamental

OBJECTIVOS EDUCATIVOS DE SECÇÃO_ALCATEIA

Escola Básica Sande S. Martinho Relatório de avaliação de Atividade

PERFIL DO ALUNO CONHECIMENTOS. CAPACIDADES. ATITUDES.

Burnout Plano de Ação

Soft-skills / Comportamental

STRESSE: De Motor da Vida a Assassino no Trabalho. 28 Janeiro de 2009

MOTIVAÇ O PARA ESTUDAR

PROGRAMA EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE EM MEIO ESCOLAR MOVIMENTO ESCOLA/CIDADE DOS AFECTOS

Ana Gonçalves. Curso: TSHT- Técnico de Segurança e Higiene no trabalho. CP: Cidadania e Profissionalidade. Formadora: Ana Gonçalves

Competentes entre-pares: (E se nos falassem antes de incertezas?.) HBSC AVENTURA SOCIAL & SAÚDE

CURSO DATA DE INÍCIO HORAS VALOR LOCAL

CRECHE. Educadora Responsável. Cristiana Andias. 24 aos 36 meses sala A A CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROJECTO PEDAGÓGICO

Referencial Estratégico para Monitorização do Desenvolvimento Social de Lisboa

PLANO DE ATIVIDADES SÓCIO CULTURAIS. Terceira Idade e Deficiência

ATIVIDADES DE ENRIQUECIMENTO CURRICULAR PLANIFICAÇÃO ANUAL DO ATELIER DAS EMOÇÕES Ano Letivo 2018/2019

Plano Anual de Atividades. Resposta Social: ERPI

PLANO ANUAL DE ATIVIDADES 2017/2018 REV. 00

O Papel da Psicologia e dos Psicólogos na Natalidade e no Envelhecimento Activo

PARECER DO CONSELHO DE ENFERMAGEM N.º 101/2018

Competência comunicativa e comunicação interpessoal

CÓDIGO DE ÉTICA INTRODUÇÃO. A Cerci-Lamas garante o acesso ao Código de Ética a todas as partes interessadas.

ATIVIDADES DE ENRIQUECIMENTO CURRICULAR PLANIFICAÇÃO ANUAL ATELIER DAS EMOÇÕES Ano Letivo 2019/2020

P L A N I F I CA ÇÃ O ANUAL

OBJECTIVOS EDUCATIVOS DE SECÇÃO I Secção Alcateia. capaz. A6 Sei quais são as minhas qualidades e os meus defeitos. A7 Esforço-me por ser melhor.

OS/AS PSICÓLOGOS/AS VALORIZAM A EXCELÊNCIA E O BEM-ESTAR

EB1/PE DE ÁGUA DE PENA

MESTRADO EM PSICOLOGIA ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE

INSTITUTO POLITÉCNICO DE SANTARÉM ESCOLA SUPERIOR DE DESPORTO DE RIO MAIOR. Laboratório de Investigação em Desporto PSICOLOGIA DO DESPORTO 2014

Plano Anual de Atividades. Resposta Social: ERPI

AGIR PARA MUDAR O MUNDO

A Problemática da Deficiência Mental: Da Avaliação à Intervenção Psicológica

F o r m a s d e p o t e n c i a r a s v e n d a s

Desenvolvimento Físico

Aula n.º 2 / 3 20/09/2012. Módulo 5 - Ética e Deontologia no Desporto Aula de Apresentação 2

Programa BIP/ZIP 2012

QUALIDADE DE VIDA: O CUIDADOR E A PESSOA COM DEMÊNCIA

O Perfil do Psicólogo na Administração Local

Programa 2013 FICHA DE CANDIDATURA. Refª: 048 Projeto "Palavra Amiga"

OBJECTIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS DA EDUCAÇÃO AFECTIVO-SEXUAL

Módulo 5375 NOÇÕES DE PEDAGOGIA

Programa BIP/ZIP 2016

VIII Ciclo De Conferências em Economia Social 2018

QUESTIONÁRIO SOBRE OS VALORES PESSOAIS

Medidas de Simplificação Administrativa

Plano Anual de Atividades. Resposta Social: ERPI

INCOGNUS: Inclusão, Cognição, Saúde. Um olhar sobre as várias formas de demência

PLANIFICAÇÃO ANUAL EDUCAÇÃO FÍSICA. Curso Profissional de Técnico de Apoio à Gestão Desportiva OBJETIVOS TRANSVERSAIS

ESCOLA SECUNDÁRIA DE AMORA PLANIFICAÇÃO A LONGO/MÉDIO PRAZO

PLANIFICAÇÃO DA 2ª UNIDADE DE TRABALHO PARA 6º ANO

CIDADES AMIGAS DAS PESSOAS IDOSAS, OMS Guia Global Cidades Amigas das Pessoas Idosas_OMS_ adapt_mjquintela

ESCOLA BÁSICA E SECUNDARIA DE VILA FLOR DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS ÁREA DISCIPLINAR DE FILOSOFIA

I CONGRESSO CABOVERDIANO DE GERONTOLOGIA E GERIATRIA POLÍTICAS SOCIAIS, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA. Dias 5 e 6, de outubro de 2012

Proposta de Criação da Qualificação do Técnico/a de Apoio Psicossocial

Envelhecimento: um desafio ao futuro.

PLANO DE ATIVIDADES SÓCIO CULTURAIS.

Modelo Curricular High/Scope

Direção de Serviços da Região Norte AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE VILA FLOR ESCOLA EB2,3/S DE VILA FLOR

Critérios de Avaliação

CRECHE. Educadora Responsável. Cristiana Andias. 4 aos 12 meses sala A A CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROJECTO PEDAGÓGICO

Programa BIP/ZIP 2017

O Processo de Comunicação em Formação

Curso-Piloto de Formação de Consultores de Negócios. Módulo 2 Compreender o próprio negócio

Mediação Educativa Um protocolo para a gestão de conflitos

Transcrição:

A gestão das emoções e afectos Carla Ribeirinho Serviço Social / Gerontologia Social Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

A gestão das emoções e afectos de que falamos?

O século XXI é o século do afecto temos necessidade de explorar o lado afectivo das pessoas (Alçada Baptista) "O pior cárcere não é o que aprisiona o corpo, mas o que asfixia a mente e algema a emoção". (Augusto Curry)

A gestão das emoções e afectos como fazemos?

Dificuldades em pôr em prática os princípios da relação de ajuda Sobrecarga de trabalho Multiplicidade/ heterogeneidade das situações Gestão das emoções e afectos como fazê-lo? Complexidade que rodeia as relações interpessoais num contexto profissional Falta de reconhecimento por parte das instituições da importância dos aspectos relacionais Falta de preparação/formação para o fazer Prioridade dada a outras actividades

curativas preventivas articuladas frias remediativas desarticuladas comunicativas Gestão das emoções e afectos que práticas? reconfortantes humanizadas deformadas rígidas flexíveis profissionais estimulantes conformistas manipuladoras respeitadoras uniformizadoras activas reactivas passivas

A gestão das emoções e afectos o enfoque compreensivo-existencial

A gestão das emoções e afectos competências para, no e do cuidar

A gestão das emoções e afectos Cuidar não é apenas uma emoção, atitude ou um simples desejo. O seu objectivo é proteger, melhorar e preservar a dignidade humana. Cuidar envolve valores, vontade, um compromisso para o cuidar, conhecimentos, acções e suas consequências. Nós, algumas vezes, falamos como se cuidar não requeresse conhecimentos, como se cuidar de alguém, por exemplo, fosse simplesmente uma questão de boas intenções ou atenção calorosa. (Mayerhoff, cit in Watson, 2002:55) Assim, cuidar tem algumas condições epistemológicas, éticas, intuitivas, estéticas e metológicas. Requer: Estudo Reflexão Acção Pesquisa de novos conhecimentos

Muito importante para o profissional Dar relevância não apenas às situações objectivas da situação das pessoas (condição socio-económica, redes sociais de suporte, etc.), mas também às dimensões subjectivas (fragilidade emocional decorrente da situação que está a vivenciar, formas de encarar a situação/problema, alterações psicológicas associadas, etc.)

A gestão das emoções e afectos Indica uma maneira de se ocupar de alguém, tendo em consideração o que é necessário para que ele realmente exista segundo a sua própria natureza, ou seja, segundo as suas necessidades, os seus desejos, os seus projectos.

A gestão das emoções e afectos Valorizar a existência da pessoa idosa Ter em consideração a sua história Estimular sem confrontar com competências perdidas ou capacidades reduzidas Valorizar e potenciar os seus interesses e aptidões Ajudar a tirar o melhor partido das suas actuais condições de vida.

A gestão das emoções e afectos Que atitudes a dificultam? Exprimir ansiedade, agressividade, prepotência Promover a dependência Falar muito alto e/ou muito depressa Infantilizar Criticar, julgar, ter pena Negligenciar Abusar do poder

A gestão das emoções e afectos ATITUDES Demonstração de Respeito Acreditar, aceitar, apreciar o utente, respeitando a sua dignidade e os seus valores Chamar o utente pelo seu nome Inspirar confiança Estar atento às necessidades e prioridades Dar apoio efectivo Saber incutir auto-estima e segurança

A gestão das emoções e afectos No centro da intervenção ão deve estar, sempre, o próprio utente. Por isso, é fulcral conhecê-lo bem. É útil, para que se consiga atingir este objectivo, que uma equipa técnica multidisciplinar faça uma avaliação inicial da situação da pessoa. Esta avaliação consiste numa análise profunda que aborde aspectos físicos e de saúde, cognitivos, comportamentais, de linguagem, emocionais, sociais, formativos e profissionais, sempre com respeito pela intimidade do utente.

O cuidar deve ser visto como relacional e afectivo, assenta num interesse e consideração pelo outro enquanto pessoa e não apenas na efectiva prestação de serviços. (Manual CID)

A gestão das emoções e afectos O processo de ajuda consiste em: Criar um laço de confiança Escutar e observar Manifestar compreensão Identificar a necessidade de ajuda Conduzir a pessoa a reconhecer a aceitar a sua necessidade Apoiar a pessoa na acção (Lairez-Sosiewicz, 2004:60)

Observar A gestão das emoções e afectos Avaliar os riscos Fazer o retrato psicológico da pessoa Planificar Fazer o inventário das necessidades Definir as prioridades Formular os objectivos de intervenção Desenvolver as Eliminar os factores de risco estratégias de intervenção Proteger Detectar Organizar Restaurar a autonomia sempre que possível Manter a autonomia evitando o agravamento da dependência Aplicar o plano de intervenção com a pessoa de acordo com as suas capacidades/possibilidades Avaliar o plano de intervenção (Lairez-Sosiewicz, 2004:60)

Importa aqui procurar tudo o que possa ser desenvolvido, suscitar e estimular o desenvolvimento das capacidades físicas, mentais e sociais para fortalecer o que existe ou o que resta de autonomia, discernir o que deve ser compensado, estimular e libertar as capacidades potenciais. (Collière, 2003:230)

Cuidar indica uma maneira de se ocupar de alguém, tendo em consideração o que é necessário para que ele realmente exista segundo a sua própria natureza, ou seja, segundo as suas necessidades, os seus desejos, os seus projectos. (Honoré, 2004:17)

A gestão das emoções e afectos Utente como pessoa de corpo inteiro e não como um ser inferiorizado pela perda de poder que traz a doença e/ou a dependência. Qualquer que seja o seu estado é um parceiro no processo de cuidados. Nós prestamo-los, ele recebe-os e colabora neles, segundo as suas possibilidades. Envolvimento / Motivação / Estímulo

A gestão das emoções e afectos propostas para uma intervenção gerontológica positiva!

A gestão das emoções e afectos propostas para uma intervenção gerontológica positiva! Incentivar a procura de novos centros de atenção e de ocupação com significado Promover sentimentos de segurança e de identidade pessoal Encorajar as pessoas idosas a desenvolver e a manter amizades/relacionamentos significativos Fomentar a estimulação sensorial e cognitiva Encontrar uma ocupação com significado Evitar actividades massivas Trabalhar com a família a aproximação e o envolvimento com a pessoa idosa, sempre que isso seja desejado pela pessoa idosa Promover projectos intergeracionais Promover a preservação dos laços de vizinhança Preservar a continuidade da vida social da pessoa idosa Impulsionar novas solidariedades formais e informais Estimular a resiliência Criar ambientes interactivos Promover o desenvolvimento de projectos de vida (re)criar a existência.

Isto para que a velhice seja um tempo de continuidade, ou de reconstrução de uma vida vivida com sentido e não de uma vida suportada, de uma vida consentida; seja um novo percurso na continuidade de ser pessoa e não apenas de ser indivíduo; seja, enfim, uma oportunidade para continuar a protagonizar o processo da sua própria vida, abrindo o horizonte do possível e não perdendo, nunca, a auto-estima. (Dinah Ferreira Calado, 2004) TRANSFORMAR O DESTINO EM PROJECTO DE VIDA!