ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA GAB. DES. MANOEL SOARES MONTEIRO DECISÃO APELAÇÃO CÍVEL Ng- 018.2006.002439-7/001 (Oriunda da 4fī Vara da Comarca de Guarabira/PB) RELATOR APELANTE ADVOGADO APELADO ADVOGADO :Des. MANOEL SOARES MONTEIRO :Município de Guarabira/PB, representado por seu prefeito :José Anchieta dos Santos :Edrnilson Rodrigues da Silva :Claudio Galdino da Cunha APELAÇÃO CÍVEL - COBRANÇA - FÉRIAS PROPORCIONAIS - CARGO COMISSIONADO - EXONERAÇÃO ANTES DE COMPLETAR O PRIMEIRO PERÍODO AQUISITIVO - INDENIZAÇÃO DEVIDA. DECISÃO EM HARMONIA COM ENTENDIMENTO DO STJ E JURISPRUDÊNCIA DE TRIBUNAIS ESTADUAIS DIVERSOS. SEGUIMENTO NEGADO. - É devido o pagamento de férias proporcionais a servidor comissionado ainda.que exonerado antes de completar o primeiro ano do período aquisitivo, sob pena de restar configurado enriquecimento sem causa por parte da administração pública. Vistos e etc. Trata-se de Ação de Cobrança proposta por EDMILSON RODRIGUES DA SILVA em face do MUNICÍPIO DE GUARABIRA, pugnando pelo pagamento de férias vencidas e não pagas.
Em sua exordial, relata que exercia cargo comissionado junto à municipalidade de janeiro de 2001 até dezembro de 2004, e que, nesse período, não gozou nem recebeu quaisquer vantagens a título de férias. Com base no exposto, requereu o pagamento de férias, em dobro, acrescidas de um terço, de todo o período referido, conforme docs. de fls. 07/08. Após contestação da municipalidade, foi designada audiência de instrução e julgamento (fls. 80), ocasião em que a parte autora restringiu sua pretensão ao pedido de pagamento das férias proporcionais entre setembro de 2004 e dezembro de 2004, acrescidas de 1/3 (um terço). Não houve oposição da parte adversa. Após alegações finais, sobreveio sentença (fls. 81/84) de procedência, em face do direito a férias restar assegurado pela Constituição Federal, bem como por não evidenciar, nos autos, demonstrativo do adimplemento de tais valores. Irresignado, o Município de Guarabira interpôs recurso de apelação, alegando, em resumo, que antes de completar o primeiro período aquisitivo, não são devidas férias de forma proporcional, exceto se existir lei que expressamente preveja tal direito, o que não é o caso. Contrarrazões ofertadas às fls. 95/96. Despacho de fls. 99, da lavra do magistrado de 1 9. grau, enviando os autos a esta instância sem a necessidade de reexame necessário. 411 Instada a se pronunciar no feito, a douta Procuradoria de Justiça opinou pelo desprovimento reclusa' (fls. 105/106). Em síntese, é o relatório. DECIDO. O caso é de fácil deslinde, restando apenas a saber se são devidas férias de forma proporcional antes de completado o primeiro período aquisitivo ao exservidor comissionado, autor/apelado nos presentes autos. Não merece razão a municipalidade, senão vejamos. Antes de enfrentar a questão, destaque-se que na audiência de instrução e julgamento (fls. 80), a parte autora restringiu sua pretensão inicial ao pedido de
pagamento das férias proporcionais entre setembro de 2004 e dezembro de 2004, acrescidas de 1/3 (um terço), delimitação de pleito a que a parte adversa não se opôs. Assim, tem-se que a decisão impugnada se refere apenas ao pleito restringido, como acima explicitado. Pois bem. Após detida análise dos autos, entendo que sentenciou com acerto o juízo de 1Q grau ao assegurar ao demandante/apelado o direito constitucional às férias. Sobre o tema o STJ já se pronunciou, ressaltando que o direito a férias se perfaz pelo efetivo laborar do servidor, não podendo sofrer limitações, sob pena de ensejar em enriquecimento sem causa da administração. Vejamos: "O direito a férias se perfaz pelo efetivo laborar do servidor no período. Qualquer entendimento diverso, no sentido de se limitar o direito a férias proporcionais, dá ensejo ao enriquecimento sem causa da Administração, o que é inadmissível no ordenamáto jurídico hodierno." (REsP 323.389/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 16/06/2005, DJ 01/08/2005, p. 505) Assim, entendo que não deve ser restringida a interpretação ao direito às férias, contemplado no inciso XVII do art. 7Q da CF188. Nesse sentido já decidiu a Justiça Federal do Distrito Federal, vejamos: ADMINISTRATIVO. SERVIDOR COMISSIONADO. FÉRIAS. PAGAMENTO PROPORCIONAL. Ao servidor exonerado do cargo em comissão é devido o pagamento relativo a férias proporcionais. (...) (AC 85143 DF 1999.01.00.085143-1. Relator(a): JUIZ FEDERAL FLÁVIO DINO DE CASTRO E COSTA (CONV.). Julgamento: 23/02/2005. Órgão Julgador: SEGUNDA TURMA SUPLEMENTAR. Publicação: 17/03/2005 DJ p.59.) Ademais, frise-se que é irrelevante o fato de inexistir lei infraconstitucional a assegurar o direito a férias proporcionais, posto que, conforme pronunciamento da Procuradoria de Justiça, é a própria Constituição Federal que o assegura.
Outros tribunais também já decidiram na mesma direção. Veja-se: ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL. CARGO EM COMISSÃO. EXONERAÇÃO COM A MUDANÇA DE PREFEITO. SALÁRIO REFERENTE A CINCO DIAS EM JANEIRO/2001 NÃO PAGO E FÉRIAS NÃO GOZADAS. SENTENÇA QUE CONDENA AO PAGAMENTO DOS DIAS DE JANEIRO, NEGANDO O DIREITO DE RECEBER EM PECÚNIA, AS FÉRIAS E SEU TERÇO.... FÉRIAS NÃO GOZADAS. SERVIDOR EXONERADO OU DEMITIDO. DIREITO AO RECEBIMENTO DE INDENIZAÇÃO PELO VALOR DAS FÉRIAS NÃO GOZADAS DURANTE O VÍNCULO. ART. 7 2, INC XVII, DA CF. DISTINÇÃO ENTRE A PROIBIÇÃO DE CONVERSÃO EM PECÚNIA DURANTE O VÍNCULO E INDENIZAÇÃO PELO NÃO GOZO DAS FÉRIAS ANTES DA DEMISSÃO OU EXONERAÇÃO. APELAÇÃO PROVIDA NESTE ASPECTO. "A administração pública está proibida de converter em pecúnia as férias a que tem direito o servidor. Porém se não há mais vínculo com o serviço público, por exoneração ou demissão, o servidor tem direito a receber a devida indenização pelas férias não gozadas oportunamente, inclusive o terço constitucional. APELO PROVIDO". (TJPR ApCív. 287119-0 - Ac. 783-10a C. Cível - Rel. Des. Marcos de Luca Fanchin - Rev. Des. Leonel Cunha - j. 03/05/05 - DJ 6877). COBRANÇA - FÉRIAS PROPORCIONAIS - CARGO COMISSIONADO - EXONERAÇÃO - INDENIZAÇÃO DEVIDA. "É devido o pagamento de férias proporcionais a servidor comissionado, se houver comprovação do serviço prestado, independente da legalidade da contratação". (TJRO AC 200.000.2003.008581-0 - C. Esp. - Rel. Des. Rowilson TeixeiraL j. 25/08/2004) SERVIDOR PÚBLICO - CARGO EM COMISSÃO - FÉRIAS - EXONERAÇÃO - INDENIZAÇÃO. "Se o servidor comissionado efetivamente exerceu o cargo, prestando serviço, faz jus a todos os direitos devidos pela 'relação de emprego, inclusive à indenização de férias não gozadas, e não se discute se a contratação foi ou não legal, porque a remuneração decorre do serviço prestado, cuja contraprestação decorre de princípio constitucional". (TJRO - AC
200.000.2003.008595-0 - C. Esp. - Rel. Des. Eliseu Fernandes - j. 07/04/2004). Portanto,, sem maiores considerações, NEGO SEGUIMENTO ao apelo, em harmonia com o parecer ministerial. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. À escrivania para, diante do despacho de fls. 99, proceder a correta autuação, excluindo a referência à remessa oficial. João Pessoa, /de01l. Des..A OEL SOARES MONTEIRO RELATOR
TRIBUNAL 1.)E JUSTIÇtS Coordena:leria Judrniárisl RvisJrado az