Apresentação no encontro da Academia IberoAmericana de Administração, São Paulo, FGV,

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Transcrição:

Apresentação no encontro da Academia IberoAmericana de Administração, São Paulo, FGV, 8 de dezembro de 2013 Luiz Carlos Bresser-Pereira www.bresserpereira.org.br

} Falso. Foi uma reforma social-democrática. } Visou tornar mais eficientes e, assim, legitimar a carga tributária elevada que é necessária para manter os grandes serviços sociais e científicos de um grande Estado do Bem-Estar Social, enquanto que o objetivo do neoliberalismo é reduzir a carga tributária e o tamanho do Estado.

} Falso; o Banco Mundial, que foi a agência responsável pela difusão das reformas neoliberais, se opôs a ela com o argumento sequencialista de que, primeiro, seria necessário completar a Reforma Burocrática. } O BID, sim, deu apoio, mas depois de aprender com a reforma brasileira; um dos seus diretores me dice em 1997: agora temos um modelo de reforma que o Banco Mundial não tem.

} } Parcialmente falso. Eu não consigo identificar uma teoria por trás da NPM, mas um conjunto de políticas baseadas na gestão por resultados da administração de empresas. Já a Reforma Gerencial de 1995 foi formulada tendo como base uma teoria histórico-estruturalista, que 1. Parte das formas históricas do Estado (patrimonialista, burocrático e finalmente gerencial). 2. Contém uma distinção estrutural entre as atividades exclusivas de Estado e as não-exclusivas. 3. Envolve uma mudança estrutural: transfere os grandes serviços sociais e científicos para as organizações sociais. 4. Dá grande importância ao fortalecimento do núcleo estratégico do Estado, formado por servidores públicos de alto nível, bem pagos, e promovidos de acordo com mérito. 5. Nada disso existe na NPM. 6. Além de adotar a gestão por resultados e a concorrência administrada por excelência, adota o controle social.

} Falso. Para a Teoria Estruturalista a reforma gerencial complementa a reforma burocrática ao invés de substituí-la. } A reforma burocrática visava tornar o pequeno (7% do PIB ) aparelho do Estado Liberal efetivo. } A reforma gerencial do Estado visa tornar eficientes os grandes serviços sociais e científicos do Estado Social (42% do PIB).

Sim, é importante a mudança de estratégia de gestão (mais controle por resultados, mais competição administrada, e mais controle social / menos regulamentos rígidos, menos supervisão direta), Mas, mais importante, é a reforma estrutural e institucional. É a mudança das instituições que regulam a administração pública. É a mudança estrutural do aparelho do Estado, através da transferência dos grandes serviços sociais e científicos para as organizações sociais.

} Falso. Para a Reforma Gerencial prêmios em dinheiro são úteis, mas 1. não substituem o etos do serviço público, o espírito republicano, que continua a ser o principal elemento motivador dos poucos e altos funcionários que a Reforma Gerencial necessita 2. as mudanças na gestão e principalmente as mudanças estruturais são mais importantes.

} Falso. Para a Teoria Estruturalista ela é a segunda reforma do Estado moderno. } A primeira foi a Reforma Burocrática que promoveu a transição do Estado Patrimonialista e Absoluto para o Estado Burocrático e Libera. } A segunda está sendo a Reforma Gerencial que está promovendo a transição do Estado Burocrático e Democrático-Liberal para o Estado Gerencial e do Bem-Estar Social.

} Falso. Dado ser a segunda grande reforma administrativa do Estado moderno a Reforma Gerencial é uma grande reforma que não dura quatro mas 40 anos. } Ela implica o aumento do tamanho do Estado. } Ela implica mudança estrutural das instituições públicas. } Ela implica uma mudança de cultura administrativa. } Essas tarefas não se fazem de um dia para o outro; são tarefas para muitos anos.

} Pelo contrário, ela vem avançando em todo o Brasil. E é o tema intelectual dominante do ensino e da pesquisa em administração pública. Na verdade, se continuar a haver desenvolvimento no país (se o Estado social continuar a progredir), ela necessariamente avançará, mas poderá se atrasar. } Uma vez que um país se torna democrático, os eleitores exigirão que o Estado deixe de ser liberal e se torne social. } E uma vez que o Estado se torna social, ele aumenta de tamanho, precisa se tornar eficiente, e a reforma gerencial torna-se inevitável. } Se houve mérito da minha parte, foi o de desenvolver um modelo teórico, e de fazer o Brasil ficar na linha de frente da mudança mundial.

Luiz Carlos Bresser-Pereira Professor Emérito da Fundação Getúlio Vargas www.bresserpereira.org.br