LINFOMA DE HODGKIN NODULAR COM PREDOMÍNIO DE LINFÓCITOS: RELATO DE CASO.

Documentos relacionados
PALAVRAS-CHAVE Transtornos Linfoproliferativos; Linfoma; Linfoma de Hodgkin; Linfoma não Hodgkin.

PALAVRAS-CHAVE Processos Linfoproliferativos. Linfoma não Hodgkin. Epidemiologia

LINFOMA DIFUSO DE GRANDES CÉLULAS B CD20 NEGATIVO. 1: Estudante de graduação em Medicina da Universidade Federal da Paraíba

XXIII Jornadas ROR-SUL. 15, 16 e 17 Fevereiro 2016 Lisboa

COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO/PUBLISHING COMMITTEE

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

UMA PROSPECÇÃO CIENTÍFICA SOBRE LEUCEMIA LINFOIDE CRÔNICA DE CÉLULAS PILOSAS

INTRODUÇÃO AO LINFOMA EM GATOS

1) Qual translocação é característica da Leucemia mielóide crônica? a) t(14;18) b) t(9,21) c) t(9;22) d) t(22,9) e) t(7;22)

NÓDULOS LINFÓIDES GRANDES: Aspéctos práticos para o diagnóstico

Enquadramento e Racional

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS MÉDICAS DEPARTAMENTO DE MEDICINA INTERNA TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO

Tumores renais. 17/08/ Dra. Marcela Noronha.

DENGUE: INCIDÊNCIA E ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS EM PACIENTES DO MUNICÍPIO DE PINHALZINHO, SC. Resumo

Linfomas não-hodgkin extranodais em Salvador-Bahia: Aspectos clínicos e classificação histopatológica segundo a OMS-2001

HERPES ZOSTER DISSEMINADO EM PACIENTE IMUNOCOMPETENTE. Dra. Rosanna Carrarêtto Dr. Fabrício Prado Monteiro

DOENÇA DE GRAVES EM IDADE PEDIÁTRICA: AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DOS ANTITIROIDEUS

Avaliação do Doente Oncológico. José Alberto Fonseca Moutinho

RADIOTERAPIA LOCAL ISOLADA COMO TRATAMENTO DE DOENÇA DE HODGKIN EM IDOSA: RELATO DE CASO

ESTUDO CLÍNICO DAS CÉLULAS SANGUÍNEAS

Artigo Original TUMORES DO PALATO DURO: ANÁLISE DE 130 CASOS HARD PALATE TUMORS: ANALISYS OF 130 CASES ANTONIO AZOUBEL ANTUNES 2

DIAGNÓSTICO CLÍNICO E HISTOPATOLÓGICO DE NEOPLASMAS CUTÂNEOS EM CÃES E GATOS ATENDIDOS NA ROTINA CLÍNICA DO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIVIÇOSA 1

RESUMO ANÁLISE DO TROPISMO DE LEISHMANIA BRAZILIENSIS

5. No resumo executivo do documento apresentado pela CONITEC lê-se: Os estudos incluídos apontam para benefício nesse contexto.

Tratamento do linfoma difuso de grandes células B do paciente idoso. Rony Schaffel Universidade Federal do Rio de Janeiro

CARCINOMA DA ADRENAL, FEOCROMOCITOMA E PARAGANGLIOMA. ANA CAROLINA GUIMARÃES DE CASTRO Faculdade de Medicina da UFMG

O QUE É? O RABDOMIOSARCOMA

VISÕES GERAIS DO HEPATOBLASTOMA PEDIÁTRICO

PREVALÊNCIA DE SÍFILIS ADQUIRIDA EM HOMENS E MULHERES NO MUNICÍPIO DE XANXERÊ, SC

Revista Baiana de Saúde Pública ARTIGO ORIGINAL LINFOMAS NÃO-HODGKIN EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES: UM ESTUDO DESCRITIVO NO ESTADO DA BAHIA, BRASIL

AVALIAÇÃO DOS ACHADOS MAMOGRÁFICOS CLASSIFICADOS CONFORME SISTEMA BI RADS¹. Beatriz Silva Souza², Eliangela Saraiva Oliveira Pinto³

O exame do líquor mostrou:

Dissertação de mestrado

Gaudencio Barbosa R4 CCP HUWC UFC

Linfoma de Hodgkin. 154 Guia Prático para o Oncologista Clínico

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA HEPATITE AUTO- IMUNE

A EQUOTERAPIA COMO RECURSO FISIOTERAPÊUTICO NO TRATAMENTO DE CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

Caso Clínico - Tumores Joana Bento Rodrigues

INTRODUÇÃO À PESQUISA CLÍNICA MODULO 1. Dra Carla M. Guerra Instituto Prevent Senior

Imagem da Semana: Ressonância nuclear magnética

SELEÇÃO DE MÉDICOS RESIDENTES PARA 2017 ÁREA DE ATUAÇÃO COM PRÉ-REQUISITO GABARITO

Caracterização Anatomopatológica dos Tumores Neuroblásticos Periféricos e Implicações com Prognóstico

Determinação do grau de incapacidade em hansenianos não tratados *

UFSM - Universidade Federal de Santa Maria Semana do Servidor Público 2017 e II Simpósio em Gestão Pública Santa Maria/RS De 28/10 a 01/11/2017

Artigo Original TRATAMENTO DO CÂNCER DE CABEÇA E PESCOÇO NO IDOSO ACIMA DE 80 ANOS

I Data: 09/01/2006. II Grupo de Estudo:

Diagnóstico por Imagem em Oncologia

1883 Cunhou o termo fagocitose

LINFOMA NASAL IMUNOBLÁSTICO DE IMUNOFENÓTIPO B EM FELINO - RELATO DE CASO IMMUNOBLASTIC NASAL IMMUNOFENOTHERAPY B LYMPHOMA IN FELINE - CASE REPORT

APLASIA DE MEDULA ÓSSEA

Sarcomas de partes moles do adulto Estudo Populacional/Institucional Regiões do Alentejo e Algarve

LEUCEMIA LINFOCÍTICA CRÔNICA (LLC) EM PACIENTE JOVEM: RELATO DE CASO CHRONIC LYMPHOCYTIC LEUKEMIA (CLL) IN YOUNG PATIENT: A CASE REPORT

Os tumores neuroendócrinos retais expressam marcadores como cromogranina e sinaptofisina, embora nem sempre sejam positivo.

LEVANTAMENTO EPIDEMIOLÓGICO DA PNEUMONIA NO ESTADO DE MINAS GERAIS E NA CIDADE DE VIÇOSA-MG

Câncer de Ovário (Epitelial)

A Estenose Intracraniana na Doença das Células Falciformes

LEUCEMIA LINFOCÍTICA AGUDA COMO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DA ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL

Resultados. Grupo SK/aids

EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER INFANTO-JUVENIL DO HOSPITAL INFANTIL NOSSA SENHORA DA GLORIA NOS ANOS DE 2010 A 2015

AVALIAÇÃO DA RESPOSTA IMUNE EM PACIENTES COM LEISHMANIOSE MUCOSA TRATADOS COM ANTIMONIAL

TratamentoAtual do Seminoma de Testículo

Gustavo Nader Marta, Rachel Riera, Cristiane Rufino Macedo, Gilberto de Castro Junior, André Lopes Carvalho, Luiz Paulo Kowalski

Caso do mês. Sociedade Brasileira de Patologia. Apresentadores: Dra. Sheila Ap. Coelho Siqueira Dr. Ariel Barreto Nogueira

PERFIL EPIDEMIOLOGICO DOS PACIENTES INFECTADOS PELO HIV COM E SEM CANCER EM UM HOSPITAL PUBLICO NA BAIXADA SANTISTA SP BRASIL

Epidemiologia Analítica. AULA 1 1º semestre de 2016

A RELAÇÃO ENTRE O DIAGNÓSTICO PRECOCE E A MELHORIA NO PROGNÓSTICO DE CRIANÇAS COM CÂNCER

Melanoma maligno cutâneo primário: estudo retrospectivo de 1963 a 1997 no Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo

PALAVRAS-CHAVE: Staphylococcus coagulase negativa. Infecção Hospitalar. Recém-nascidos. UTIN.

TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA

Vigilância ativa em câncer de próstata. Marcos Tobias Machado Setor de Uro-oncologia

Brazilian Journal of health Review

SEVEN-YEAR-OLD INDIAN GIRL WITH FEVER AND CERVICAL LYMPHADENITIS THE PEDIATRICS INFECTIOUS DISEASE JOURNAL Vol. 20, No. 4, April, 2001.

Caso RM. Letícia Frigo Canazaro Dr Ênio Tadashi Setogutti

UNIVERSIDADE PAULISTA CENTRO DE CONSULTORIA EDUCACIONAL DELANE CRISTINA DA SILVA AVALIAÇÃO CITOLÓGICA DO PAPILOMAVÍRUS HUMANO-HPV

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES COM NEOPLASIA DE MAMA EM TRATAMENTO COM TRANSTUZUMABE EM HOSPITAL NO INTERIOR DE ALAGOAS

PREVALÊNCIA DOS SINTOMAS DA ASMA EM ADOLESCENTES DE 13 E 14 ANOS

Microcarcinoma: como seguir? Fábio Russomano IFF/Fiocruz Paranacolpo 25 a 27 de julho de 2013

Que informações epidemiológicas sobre Oncologia Pediátrica têm sido produzidas?

Evidências obtidas a partir das investigações de óbitos parte 2

Mandado de segurança contra ato do Secretário Municipal de Saúde RITUXIMABE PARA LINFOMA NÃO-HODGKIN FOLICULAR TRANSFORMADO EM DIFUSO

13ºEncontro do Núcleo de Especialidades Sociedade Brasileira de Patologia 23.jun.12. Dra. Sheila Ap. Coelho Siqueira Dr. Ariel Barreto Nogueira

Modelos de estudo em saúde

Biopsia de glândula salivar acessória no S. de Sjögren: resultados e sua importância, numa população de 78 doentes.

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES DIAGNOSTICADOS COM HIV NO BRASIL NA DÉCADA

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 PROVA OBJETIVA

Cuidado interdisciplinar centrado no pacie cardiopata

Leucemia Linfática Crônica

Riscos e complicações do uso de piercing oral: uma revisão sistemática Risks and complications of the use of oral piercing: a systematic review

Imagem da Semana: Fotografia. Imagem 01. Fotografia da região lateral do tronco

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA INFECÇÃO POR HIV/AIDS EM INDIVÍDUOS ACOMPANHADOS NO HOSPITAL DE REFERÊNCIA DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA-PB

QUEM SÃO OS INDIVÍDUOS QUE PROCURARAM A AURICULOTERAPIA PARA TRATAMENTO PÓS-CHIKUNGUNYA? ESTUDO TRANSVERSAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA. Maria Fernanda Barbosa de Medeiros LINFOMA PRIMÁRIO DE ESTÔMAGO DIFUSO DE GRANDES CÉLULAS B: UM RELATO DE CASO

TÍTULO: COMPORTAMENTO ALIMENTAR ENTRE HOMENS E MULHERES COM TRANSTORNOS ALIMENTARES AUTOR(ES): CAROLINA HADDAD CUNHA, ALESSANDRA ÚBIDA BRAGA FERNANDES

Abordagem a Linfonodomegalia Periférica. Guilherme Medeiros Reunião Clínica Real Hospital Português

DIRETRIZES DE UTILIZAÇÃO DO PET CT ONCOLÓGICO NO PLANSERV.

Análise Crítica de Diretrizes para PTI

Linfoma extranodal - aspectos por imagem dos principais sítios acometidos:

Campus Universitário s/n Caixa Postal 354 CEP Universidade Federal de Pelotas.

CARACTERIZAÇAO SOCIODEMOGRÁFICA DE IDOSOS COM NEOPLASIA DE PULMAO EM UM HOSPITAL DE REFERENCIA EM ONCOLOGIA DO CEARA

Transcrição:

ARTIGO ORIGINAL LINFOMA DE HODGKIN NODULAR COM PREDOMÍNIO DE LINFÓCITOS: RELATO DE CASO. NODULAR HODGKIN S LYMPHOMA WITH PREDOMINANCE OF LYMPHOCYTES: CASE REPORT. Mirza Carolina Ferreira Santana¹, Vera Lúcia Venâncio Gaspar², Lucas Teiichi Macedo Monteiro De Castro Hyodo³ RESUMO O linfoma de Hodgkin nodular com predomínio de linfócitos corresponde a 5% dos linfomas de Hodgkin e difere da forma clássica nos aspectos clínicos, prognósticos e histopatológicos. Por ser raro, esse subtipo histológico é pouco representado nos estudos prospectivos para linfoma de Hodgkin. O objetivo deste artigo é relatar um caso de linfoma de Hodgkin nodular com predomínio de linfócitos em criança, além de comparar esses achados com os descritos na literatura para a forma clássica da doença. Foi realizada revisão da literatura nas plataformas Scientific Electronic Library Online, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde e Literatura Internacional em Ciências da Saúde e, em seguida, realizou-se um estudo de caso clínico, do tipo descritivo e retrospectivo. Como conclusão, o linfoma de Hodgkin nodular com predomínio de linfócitos ocorre mais comumente em meninos, é ABSTRACT Nodular Hodgkin s lymphoma with lymphocytes predominance corresponds to 5% of Hodgkin s Lymphomas and differs from classical form with regards to clinical aspects, prognostic and histopathological. Due to its rarity, this histological subtype is poorly represented in Hodgkin Lymphoma prospective studies. The aim of this article is to report a case of nodular Hodgkin s lymphoma with lymphocytes predominance in children, whilst comparing these findings with those described in this disease classical form literature. A review of the literature on Scientific Electronic Library Online, Latin American and Caribbean Literature on Health Sciences and International Literature on Health Sciences platforms was carried out, and thereafter a descriptive and retrospective clinical case study was accomplished. In conclusion, nodular Hodgkin s lymphoma with lymphocytes predominance which is ¹ Médica pediatra do Hospital Márcio Cunha Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil. ² Médica pediatra do Hospital Márcio Cunha Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil. ³ Médico oncologista pediatra do Hospital Márcio Cunha Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil. Autor correspondente: Mirza Carolina Ferreira Santana Av. Kiyoshi Tsunawaki, nº41, Bairro das Águas, Ipatinga, MG. CEP: 35.160-000. E-mail: msantana.santana@fsfx.com.br Artigo recebido em 10/07/2016 Aprovado para publicação em 08/10/2016 10

diagnosticado em estágio mais inicial, com ausência de sintomas B, não parece relacionar-se à infecção pelo vírus Epstein Barr e possui melhor prognóstico quando comparado com a forma clássica do linfoma de Hodgkin. more common in young boys, can be diagnosed in the very early stage without any B symptoms, yet it does not seem to be related to Epstein Barr Virus infection and presents a better prognosis when compared to Hodgkin s Lymphoma classical form. Palavras-chave: Linfoma. Doença de Hodgkin. Classificação. Keywords: Lymphoma. Hodgkin Disease. Classification. INTRODUÇÃO O linfoma de Hodgkin (LH) nodular com predomínio de linfócitos é uma forma incomum de linfoma de Hodgkin, que se difere da forma clássica, tanto nos aspectos clínicos e prognósticos quanto nos aspectos histopatológicos. 1,2 Corresponde a apenas 5% dos linfomas de Hodgkin. 3.4 Enquanto a forma clássica apresenta as características células de Reed Stenberg, a forma nodular de predominância linfocitária apresenta as células de predominância linfocitária (células LP), também chamadas de pipoca ou células Linfo-Histiocíticas (L&H), e essa forma não está relacionada ao vírus Epstein Barr, ao contrário da primeira. Na presença de células de Reed Stenberg, bem reconhecidas em um paciente com a forma nodular com predomínio linfocitário, deve-se pensar na forma clássica rica em linfócitos.¹ A doença geralmente é localizada e não costuma acometer o mediastino, baço ou medula óssea, nem causar sintomas B (febre, sudorese noturna, perda de peso de mais de 10%, diarreia persistente, por mais de duas semanas). 5 Os linfonodos mais acometidos são os cervicais, axilares e inguinais. Apresenta evolução mais insidiosa e geralmente possui melhor prognóstico. 2 O linfoma de Hodgkin nodular com predomínio de linfócitos provavelmente é subdiagnosticado. Em nosso meio, LH pediátrico ocorre em crianças de 3 a 15 anos de idade (mediana 8,6) e com maior frequência em meninos (3,1 meninos: 1menina). 2 De acordo com alguns estudiosos, não há dúvida de que se trata de condição histórica e erroneamente classificada devido às dificuldades em diferenciá-lo, tanto do LH forma clássica com predomínio de linfócitos quanto das condições reacionais. 6 Há um estudo que relata um caso de difícil distinção entre a forma não clássica e a forma clássica com predomínio de linfócitos. 7 Além das dificuldades apresentadas, o Brasil é carente de estudos específicos sobre a doença. O relato de caso clínico deste artigo, portanto, tem o intuito de divulgar, na comunidade científica, o caso para um reconhecimento precoce, a fim de promover melhor qualidade de vida aos portadores da doença. O objetivo deste artigo é relatar um caso de linfoma de Hodgkin nodular com predomínio de linfócitos em adolescente, permitindo a diferenciação do linfoma de Hodgkin nodular com predomínio de linfócitos do linfoma de Hogkin forma clássica, especialmente do subtipo com predomínio de linfócitos. 11

MÉTODOS Trata-se de um estudo de um caso clínico do tipo descritivo e retrospectivo, no qual foram analisados dados obtidos no prontuário médico eletrônico, comparando com os casos já publicados da doença. A pesquisa foi estruturada em três etapas, iniciando pela revisão de literatura, no período de dezembro de 2015 a janeiro de 2016, por meio da consulta de artigos nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE). Foram selecionados artigos com critérios de relevância e atualidade. Na segunda etapa, após o consentimento do Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos, realizou-se o contato com a família do paciente para assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e subsequente coleta de dados. Essa coleta envolveu análise criteriosa e sigilosa do prontuário eletrônico do paciente, identificando-se informações relevantes como quadro clínico, resultados de exames, história pregressa, tratamento medicamentoso realizado e evolução da doença. A terceira etapa consistiu em correlacionar os dados do paciente aos obtidos com a revisão de literatura, descrevendo as condutas mais firmadas para pacientes acometidos com a doença. RELATO DO CASO Adolescente de 13 anos, do sexo masculino, apresentando linfadenopatia cervical anterior, há cerca de um ano, em evolução progressiva há 3 meses. Perda ponderal de 3 kg em um ano, sem história de febre ou sudorese noturna. Foi submetido à biópsia. O anatomopatológico mostrou proliferação linfoide atípica e o imuno-histoquímico apresentou achados que suportam o diagnóstico de linfoma de Hodgkin nodular com predominância linfocitária da World Health Organization WHO 2008. O estadiamento de Ann Arbor foi IIA. A sorologia para o vírus Epstein Barr foi negativa. O paciente recebeu quimioterapia baseada no regime CVP (ciclofosfamida, vimblastina e prednisolona), conforme proposto na literatura. 10 Atualmente, o paciente está em seguimento oncológico e encontra-se sem evidência de recidiva tumoral. Realiza consulta mensalmente, com exames laboratoriais a cada dois meses (hemograma, velocidade de hemossedimentação, desidrogenase lática, proteína C reativa e cobre sérico). DISCUSSÃO O caso relatado reforçou as características observadas em estudo: sexo masculino, idade entre 3 e 15 anos, sorologia negativa para Epstein barr e uma linfadenopatia precedeu o diagnóstico. 2 Em estudo com adultos, também observou-se predominância do diagnóstico no gênero masculino (77,7% dos casos). O estadiamento IIA de Ann Arbor foi encontrado em 32,8% dos pacientes nesse estudo. Foram observados sintomas B em apenas 4,8% dos pacientes e, no caso analisado neste estudo, também não houve sintomas B. 9 Em coorte com 73 pacientes, pesquisadores encontraram 85% de homens e 15% de mulheres, 33% correspondiam ao estádio II, 75% foram diagnosticados em estágios precoces e apenas 5,5% apresentaram sintomas B. 3 12

Pesquisadores observaram que 16% dos pacientes estudados tinham idade inferior a 20 anos no momento do diagnóstico, e 69% eram do gênero masculino e 31%, do feminino. Em relação à raça, 73% brancos, bem como o paciente do caso relatado. Em relação ao estadiamento, 26% correspondiam ao II. 11% apresentavam acometimento extranodal (não observado em nosso caso) e 11% sintomas B, sendo que em 23% a ocorrência de tais sintomas é desconhecida. 4 Esse mesmo estudo analisou pacientes com Linfoma de Hodgkin forma clássica, dos quais 14% tinham menos de 20 anos de idade no momento do diagnóstico. Observou-se predominância para o gênero masculino (54% dos casos) e 85% dos doentes eram classificados como brancos. O estadiamento II correspondeu a 42% dos casos e 24% tinham acometimento extranodal, 37% apresentavam sintomas B, sendo que, em 21%, a ocorrência destes é desconhecida. 4 Pesquisadores estudaram 30 pacientes com LH nodular com predomínio de linfócitos, sendo 19 homens e 11 mulheres. 8 Em contrapartida, entre os 33 pacientes com LH forma clássica, 21 eram homens e 12 mulheres. 6 CONCLUSÃO Conclui-se, portanto, que o Linfoma de Hodgkin nodular com predominância linfocitária sempre deve ser levado em conta diante de pacientes com adenomeglia, especialmente na região cervical, já que esse subtipo de linfoma não costuma vir acompanhado de sintomas B. A suspeita deve ser maior quando se trata de meninos. O diagnóstico geralmente ocorre em fases precoces da doença (estadiamentos I e II) e, nessas situações, apresenta excelente prognóstico. REFERÊNCIAS 1. Souza LNS. Doença de Hodgkin: análise do protocolo D-II-90. (Dissertação de Mestrado). São Paulo: Universidade de São Paulo; 2010. 2. Nascimentto, MMC. Linfoma de Hodgkin predominância linfocitária nodular: aspectos clínicos-epidemiológicos e patológicos. (Monografia). Salvador: Universidade Federal da Bahia; 2012. 3. Strobbe L, Valke LL, Diets IJ, Van Den Brand M, Aben K, Raemaekers JM, et al. A 20-year population-based study on the epidemiology, clinical features, treatment, and outcome of nodular lymphocyte predominant Hodgkin lymphoma. Annals of Hematology. 2016;95(3):417-23. 4. Gerber NK, Atoria CL, Elkin EB, Yahalom J. Characteristics and outcomes of patients withvnodular lymphocyte-predominant hodgkin lymphoma versus those with classical Hodgkin lymphoma: a populationbased analysis. Internat Jour of Radiat Oncol Biology Physics. 2015;92(1):76-83. 5. Fonseca BAL, Bollela VR, Neto RJP. Sarcoma de Kaposi e síndrome da imunodeficiência adquirida: características desta associação, incluindo novos conceitos sobre patogênese e tratamento. [publicação online]; 1999. [acesso em 23 de outubro de 2015]. Disponível em: <http://revista.fmrp.usp. br/1999/vol32n1/sarcoma_kaposi_e_sindrome_ imunodeficiencia_adquirida.pdf> 6. Mckay P, Fielding P, Gallop-Evans E, Hall GW, Lambert J, Leach M, et al. Guidelines for the investigation and management of nodular lymphocyte predominant Hodgkin lymphoma. Brit Jour of Haemat. 2016; 172:32-43. 7. Sakai J, Tanae K, Takahashi N, Nagata K, Yoshimo T, Tamaru J, et. al. Lymphocyte-rich classical Hodgkin lymphoma: a case with difficulty in distinguishing from nodular lymphocyte-predominant Hodgkin lymphoma. Jour of Clin and Exper Hematop. 2015; 55: 23-28. 8. David JA, Huang JZ. Diagnostic utility of flow cytometry analysis of reactive t cells in nodular lymphocytepredominant Hodgkin lymphoma. Am J Clin Pathol 2016; 145:107-115. 13

9. Lazarovici J, Dartigues P, Brice P, Obéric L, Gaillardet I, Hunault-Berger M, et al. Nodular lymphocyte predominant Hodgkin lymphoma: a lymphoma study sssociation retrospective study. Haematolog. 2015;100(12): 1579-1586. 10. Shankar AG. Treatment of Children & Adolescents with Early Stage Nodular Lymphocyte Predominant Hodgkin Lymphoma with a Low Intensity Short Duration Chemotherapy Regimen [CVP] on Behalf of the EuroNet-PHL. Group. Blood. 2006; 108:2471. 14