UM ESTUDO SOBRE AS ASSOCIAÇÕES ENTRE DÉFICITS EM HABILIDADES SOCIAIS E PROBLEMAS PSICOLÓGICOS NA INFÂNCIA

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Transcrição:

UM ESTUDO SOBRE AS ASSOCIAÇÕES ENTRE DÉFICITS EM HABILIDADES SOCIAIS E PROBLEMAS PSICOLÓGICOS NA INFÂNCIA FONSECA, Bárbara Cristina Rodrigues Psicóloga, ACEG/FASU barbara.cristina2@itelefonica.com.br RONDINA, Regina de Cássia Docente do curso de Psicologia - ACEG/FASU rcassiar@terra.com.br A competência social em crianças é essencial para o seu desenvolvimento, suas relações harmoniosas com colegas e adultos e seu sucesso escolar. O presente artigo apresenta uma revisão da literatura recente sobre o estudo das associações entre déficit de Habilidades Sociais e o aparecimento de transtornos psicológicos na infância. Os resultados indicam que um repertório social empobrecido pode desencadear sintomas relacionados a vários problemas psicológicos infantis de natureza internalizante e/ou externalizante. São necessários mais estudos, destinados a elaborar programas de cunho interventivo com pais, professores e profissionais de diversas áreas de tratamentos de crianças e adolescentes, evitando efetivamente as dificuldades de socialização, escolares e a delinquência juvenil. Palavras-chave: Habilidades sociais; transtornos psicológicos, crianças, adolescentes Tema Central: Psicologia A STUDY ABOUT THE ASSOCIATION BETWEEN DÉFICIT IN SOCIAL HABILITIES AND PSYCHOLOGICAL DISORDERS DURING THE CHILDHOOD The social competence in children is essential for their development, harmonious relations with colleagues and adults and their success in school. The present article presents a revision of recent literature on the study of the associations between deficit of Social Abilities and the appearance of psychological disorders in childhood. The results indicate that a defective social repertoire can lead to symptoms related to some child psychological problems of internalizing and/or externalizing nature. More studies, destined to elaborate programs of intervention with parents, professors and professionals of diverse areas of treatments of children and adolescents are necessary, preventing effectively the difficulties of socialization, pertaining to school and the youthful delinquency. Keyworlds: Social abilities, psychological diorderes, child, adolescents Central subject: Psychology 1. INTRODUÇÃO O estudo do campo teórico-prático das Habilidades Sociais (THS) é importante, segundo Caballo (1999), porque os seres humanos passam a maior parte de seu tempo engajados em alguma forma de comunicação interpessoal e ao

comportarem-se de maneira socialmente competentes são capazes de promover interações sociais satisfatórias em vários contextos. Recentemente, vem aumentando o número de publicações sobre o assunto versando, especificamente, sobre Habilidades Sociais em crianças e adolescentes. A criança necessita aprender novos conhecimentos e desenvolver um grande repertório de habilidades sociais para lidar com as demandas e os desafios atuais. Pesquisas revelam que a competência social em crianças é considerada essencial para o seu desenvolvimento e o seu ajustamento psicossocial; há evidências científicas de que um repertório social empobrecido é um dos fatores que podem predispor o jovem ao aparecimento de problemas psicológicos (CABALLO, 2003; DEL PRETTE e DEL PRETTE, 2005; GOMIDE, 2003; MARINHO, 2003). Este artigo apresenta uma revisão da literatura recente sobre a inter relação entre déficit de Habilidades Sociais e o surgimento / evolução de transtornos psicológicos na infância e adolescência. É importante destacar a relevância científica deste tema, uma vez que estudos desta natureza podem subsidiar o trabalho de profissionais da área da saúde e áreas afins, no atendimento a crianças e adolescentes. 2. CONTEÚDO Embora não haja consenso quanto à definição do conceito de Habilidades Sociais (HS), o termo HS geralmente é usado para designar um conjunto de capacidades comportamentais aprendidas que envolvem interações sociais. Del Prette e Del Prette (2005, p.31) definem o termo habilidades sociais: aplica-se às diferentes classes de comportamentos sociais do repertório de um indivíduo, que contribuem para a competência social, favorecendo um relacionamento saudável e produtivo com as demais pessoas. No Brasil, pesquisas (Caballo, 1999; Del Prette e Del Prette, 2005) mostram que o repertório de habilidades sociais a ser desenvolvido pela criança é bastante variado. Tomando-se como referência os problemas interpessoais mais comuns encontradas entre as crianças e as demandas verificadas em vários contextos, estes pesquisadores propõem um sistema de sete classes de habilidades sociais, entendidas como prioritárias no desenvolvimento interpessoal da criança:

autocontrole e expressividade emocional, civilidade, empatia, assertividade, fazer amizades, solução de problemas interpessoais e habilidades sociais acadêmicas (DEL PRETTE e DEL PRETTE, 2005). Para esses pesquisadores brasileiros, as falhas na aprendizagem de comportamento social podem ocorrer devido a vários fatores: restrições de oportunidades de experiências em diferentes grupos culturais; relações familiares empobrecidas, com pais agressivos ou pouco empáticos que fornecem modelos inapropriados de interação; inteligência rebaixada e dificuldades para resolver problemas; práticas parentais que premiam dependência e obediência e que punem ou restringem o contato social da criança. 2.1. A relação entre déficits em Habilidades Sociais e o surgimento de problemas psicológicos na infância A competência social na infância pode aumentar a capacidade da criança para lidar com situações estressantes e inesperadas. Por outro lado, estudos sobre os efeitos negativos da baixa competência social mostram que esta pode resultar em sintomas ou manifestações de diferentes transtornos psicológicos; podendo predispor a criança a problemas em fases posteriores do desenvolvimento. Os problemas comportamentais e emocionais relacionados a diferentes transtornos psicológicos e que podem se expressar sob a forma de dificuldades interpessoais na infância, são classificados, na psicopatologia infantil, em dois grandes grupos: os externalizantes e os internalizantes (DEL PRETTE e DEL PRETTE, 2005). Os problemas internalizantes se expressam predominantemente em relação ao próprio indivíduo. São mais facilmente identificáveis em transtornos como depressão, isolamento social, ansiedade, fobia social, queixas somáticas, e depressão, todos com implicações sobre o isolamento social e o autoconceito (MERRELL, 1999 apud DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2005). A ansiedade pode ser caracterizada como uma resposta interna que envolve sentimentos subjetivos de medo e desconforto e, por respostas abertas de esquiva/fuga de situações sociais, incluindo excitação geral e reações fisiológicas de sudorese. Em geral, crianças com distúrbios de ansiedade mostram-se excessivamente preocupadas com suas tarefas, com o tempo disponível para realizá-las e também com sua saúde. Assim, a criança pode se tornar irritadiça,

tensa, crítica e com dificuldade de concentrar-se (DEL PRETTE e DEL PRETTE, 2005). Os sintomas depressivos na infância, de acordo com Del Prette e Del Prette (2005), estão relacionados à perda de interesse e prazer pelas atividades cotidianas, à dificuldade em várias áreas do funcionamento adaptativo, à desesperança e a auto-recriminação. O isolamento social, quando associado à depressão e à ansiedade, geralmente reflete um repertório pobre de habilidades sociais, principalmente de expressividade não-verbal de sentimentos e conversação. A criança, com freqüência, sente-se insegura e desconfortável nos contatos sociais, em especial nas situações que necessita expressar desagrado ou afeição, defender os próprios direitos, falar de si, aceitar ou refutar críticas (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2005). Os problemas externalizantes se expressam predominantemente em relação a outras pessoas. São mais freqüentes em transtornos que envolvem agressividade física e/ou verbal, comportamentos opositores ou desafiantes, condutas anti-sociais (como mentir e roubar) e tendência à adoção de comportamentos de risco como uso de substâncias psicoativas. Os principais transtornos psicológicos encontrados neste grupo são: os de comportamento anti-social, agressivo ou opositor, hiperatividade e desatenção (DEL PRETTE e DEL PRETTE, 2005). Os transtornos de comportamento expressos por indisciplina, agressividade e outros comportamentos anti-sociais podem estar associados a déficits da competência social, como baixo autocontrole, falta de empatia, percepção equivocada dos fatos e normas sociais. Estes transtornos também podem estar associados a comportamentos utilizados como forma de enfrentamento que podem produzir conseqüências imediatas favoráveis ao indivíduo tais como condutas desafiantes, comportamento opositor, estilo coercitivo ou dissimulado, entre outros (DEL PRETTE e DEL PRETTE, 2005). A desatenção e a hiperatividade também prejudicam a qualidade das relações da criança com os adultos e com os demais colegas de seu ambiente. Estas crianças são geralmente impopulares, rejeitadas e isoladas por colegas, o que tende a aumentar a probabilidade de se engajarem em comportamentos anti-sociais e se envolverem com grupos de risco na adolescência. Os comportamentos anti-

sociais podem gerar rejeição dos colegas e adultos, baixo rendimento escolar, aumentar a probabilidade de fracasso ou evasão escolar, da delinquência, do alcoolismo, participação em gangues, criminalidade e maiores taxas de doenças e mortes (DEL PRETTE e DEL PRETTE, 2005). É verificada uma maior preocupação de pais e educadores com as crianças que apresentam estes tipos de problemas, possivelmente porque são mais difíceis de serem ignoradas pelas pessoas, apresentam maior resistência a programas de intervenção e suas dificuldades interpessoais podem sinalizar problemas mais sérios no futuro (DEL PRETTE e DEL PRETTE, 2005). Alguns transtornos psicológicos se expressam tanto por problemas internalizantes como externalizantes. Dentre eles, podemos destacar: as dificuldades ou distúrbios de aprendizagem, as deficiências sensoriais ou mentais, alguns transtornos invasivos do desenvolvimento e os transtornos decorrentes do uso e dependência de substâncias psicoativas (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2005). 3- CONCLUSÕES O presente artigo procurou tecer considerações entre as associações existentes entre déficit de Habilidades Sociais e problemas psicológicos na infância. Os resultados encontrados em publicações recentes indicaram consenso entre a maioria dos pesquisadores, no sentido de alertar para o fato de que um repertório social empobrecido pode predispor a criança e o adolescente a apresentar sintomas relacionados a vários problemas psicológicos infantis, tanto internalizantes (depressão, isolamento social, ansiedade, fobia social, queixas somáticas, depressão) como externalizantes (comportamento anti-social, agressivo ou opositor, hiperatividade, entre outros) (Caballo, 2003; Del Prette & Del Prette, 1999 e 2005; Gomide, 2003; Marinho, 2003). A grande complexidade do comportamento social infantil justifica a necessidade de investimentos dos órgãos públicos em estratégias educativas e terapêuticas, que reduzam os fatores de risco, por ser esta uma alternativa de prevenção por meio da ação integrada entre escola e família. Bolsoni-Silva e

Marturano (2002) argumentam que é necessário, também, o investimento em programas de Treinamento de Habilidades Sociais para pais que promovam habilidades sociais educativas como: resolução de problemas, elogios e recompensas, experiência de autocontrole pessoal (envolvendo o tratamento de depressão, controle de raiva e stress), habilidades de comunicação e o fortalecimento de suporte social entre outras. A revisão da literatura sugere que o assunto é complexo e multifacetado. Ainda são necessárias mais pesquisas, de modo a subsidiar a elaboração de programas de cunho interventivo com pais, professores e profissionais de diversas áreas de tratamentos de crianças e adolescentes, com a finalidade de prevenir e reduzir os principais problemas psicológicos infantis, evitando efetivamente as dificuldades de socialização, escolares e a delinquência juvenil. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOLSONI-SILVA, A. T.; MARTURANO, E. M. Práticas educativas e problemas de comportamento: uma análise à luz das habilidades sociais. Estud. psicol. (Natal), Natal, v. 7, n. 2, Julho 2002. CABALLO, V. E. O Treinamento em Habilidades Sociais. In: V.E. Caballo (Org.), Manual de Técnicas de Terapia e Modificação do Comportamento. São Paulo: Santos, 1999. CABALLO, V. E. Manual de Avaliação e Treinamento das habilidades Sociais. São Paulo: Santos Livraria e Editora, 2003, p. 1-2, 315, 334. DEL PRETTE, Z. A. P; DEL PRETTE, A. Psicologia das Habilidades Sociais: terapia e educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999. DEL PRETTE, Z. A. P; DEL PRETTE, A. Psicologia das Habilidades Sociais na Infância: teoria e prática. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005, p. 15-49. GOMIDE, P. I. C. Estilos parentais e comportamento anti-social. In Del Prette, Z. A. P (Orgs.), Habilidades sociais, desenvolvimento e aprendizagem: Questões conceituais, avaliação e intervenção. Campinas: Alínea, 2003, p. 21-60. MARINHO, M. L. Estilos parentais e comportamento anti-social. In Del Prette, Z. A. P (Orgs.), Habilidades sociais, desenvolvimento e aprendizagem: questões conceituais, avaliação e intervenção. Campinas: Alínea, 2003, p. 61-68.