Nova queda do PIB não surpreende mercado Os dados do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE) nesta primeira semana de março mostram a tendência de retração da economia brasileira. Conforme pode ser visualizado pela Figura 1, após um ano e seis meses de crescimento negativo, os dados do quarto trimestre confirmam mais um quadro de queda na produção interna, 5,9% em relação ao mesmo período de 2014, e de 1,4% se comparado com o trimestre anterior, reflexo de uma economia desacelerada. No ano de 2015 o crescimento foi de -3,8%. Como podemos ver pela Figura 2, as previsões do mercado para o crescimento do PIB em 2015 e início de 2016 vem se deteriorando de forma acentuada. Figura 1: PIB Trimestral Variação (em %) em relação ao mesmo trimestre do ano anterior 2,5% 1,7% 1,0% 2,5% 2,5% 2,8% 4,1% 2,8% 2,4% 3,2% -0,8% -1,1% -0,7% -2,0% -3,0% -4,5% -5,9% Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE A Figura 2 mostra que a mediana do Focus apontava para uma recessão de 4,1%, valor menor que o -4,5% observado no terceiro trimestre de 2015, ou seja, a queda real no PIB foi maior que a queda esperada pelos agentes, processo que se repetiu durante todo o ano. Já para o quarto trimestre de 2015 a projeção do mercado era de uma queda na ordem de -5,8%, segundo a mediana do Focus, valor próximo ao de -5,9% observado.
22/08/2015 27/08/2015 2/9/2015 9/9/2015 15/09/2015 21/09/2015 25/09/2015 1/10/2015 7/10/2015 14/10/2015 20/10/2015 26/10/2015 30/10/2015 6/11/2015 12/11/2015 18/11/2015 24/11/2015 1/12/2015 7/12/2015 11/12/2015 17/12/2015 23/12/2015 30/12/2015 6/1/2016 12/1/2016 18/01/2016 22/01/2016 28/01/2016 3/2/2016 11/2/2016 17/02/2016 23/02/2016 Figura 2: Mediana da Expectativa do Mercado e PIB para o terceiro e quarto trimestres de 2015 02% 01% 00% -01% -02% -03% -04% -05% -4,5% -06% -5,9% -07% Expectiva PIB Evolução PIB Desvio padrão Fonte: Elaboração própria a partir de dados do FOCUS / Bacen e IBGE Destaca-se na Tabela 1 (próxima página) a retração do setor industrial em 8,0% (-1,4% na margem) explicada em grande parte pela queda da atividade no setor de transformação em 12% e pela redução do comércio em 12,4%, ambas comparadas ao mesmo trimestre de 2014. O consumo das famílias apresentou retração de 6,8%, queda registrada pelo quarto trimestre consecutivo. O consumo, que é uma medida do bem-estar da sociedade, tem contribuição significativa, pelo lado da demanda, para o crescimento do PIB. Houve também uma queda nos investimentos, uma vez que a formação bruta de capital fixo registrou variação negativa de 4,9% contra o trimestre anterior, pelo 10º trimestre consecutivo. A queda contínua do investimento é bastante explicada pela baixa confiança do empresariado dada a instabilidade política, o cenário de deterioração fiscal e inflação de 10,60%. A agropecuária teve um aumento de 2,9% na margem. As exportações líquidas registram novamente alta, explicada pela depreciação do Real e pelo decrescimento da renda brasileira que desestimulam as importações (a queda nas importações foi de 20,1% em relação ao mesmo trimestre de 2014). O setor de serviços registrou uma queda de 4,4% em relação ao quarto trimestre de 2014 (-1,4% na margem) e o consumo do governo apresentou redução de 2,9%.
Tabela 1: Evolução do PIB por Setor e componentes da oferta e demanda Variação contra trimestre imediatamente anterior (série dessazonalizada) 2014Q4 2015Q1 2015Q2 2015Q3 2015Q4 4º Tri 2015 vs 4º Tri 2014 PIB 0,1% -0,8% -2,1% -1,7% -1,4% -5,9% Agropecuária 1,3% 3,4% -3,5% -2,4% 2,9% 0,6% Indústria -0,4% -1,3% -3,7% -1,3% -1,4% -8,0% Serviços 0,0% -0,9% -1,0% -1,0% -1,4% -4,4% Consumo das Famílias 1,4% -2,0% -2,4% -1,5% -1,3% -6,8% Consumo do Governo -0,8% -0,7% 0,7% 0,3% -2,9% -2,9% Formação Bruta de Capital Fixo -1,5% -3,5% -6,6% -4,0% -4,9% -18,5% Exportações -13,8% 16,1% 3,1% -1,8% -0,4% 12,6% Importações -6,3% -0,5% -8,0% -6,9% -5,9% -20,1% Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE Expectativas, Riscos e Cenários Alguns fatores que contribuem para a permanência da atual crise brasileira são agravados por notícias ruins da política e economia. Por exemplo, o último boletim Focus de 2015 indicava uma expectativa de 6,87% (na mediana) para o IPCA 2016, com um cenário pessimista de 8,50% naquela época. Entretanto, como pode ser visto na Tabela 2 (próxima página), o boletim Focus de 04/03 mostra que a expectativa dos agentes piorou, a mediana passou agora para 7,59% e o cenário pessimista com 9,0% de inflação. Em relação ao crescimento para 2016, a previsão mediana no final de 2015 era de uma queda de -2,90%, enquanto a nova previsão mediana chega a -3,50%. No pior dos cenários o crescimento esperado para 2016 é de -4,62%, comparado com o de -4,30% feito no final de 2015. Outro indicador importante, o resultado primário, também apresentou pior mediana. No final de 2015, a previsão mediana feita pelo Focus possuía valor igual a -0,95%, no momento atual a previsão chegou a -1,35%. A previsão mais pessimista manteve- se em 2%. Em contrapartida, a taxa Selic apresentava uma mediana de 15,25% e caiu para 14%. Figura 3: IPCA (acum. 12) x Expectativas (média) 12.00% 10.00% 8.00% 6.00% 4.00% 2.00% 0.00% Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Expectativa (Focus) IPCA Desvio Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Bacen e IBGE
A incerteza em relação ao cenário político, que possui estreita relação com o lado fiscal constitui um dos fatores de risco que impactam a taxa de câmbio, inflação esperada e nível de investimento privado doméstico. Conforme mostra a Tabela 2, a mediana no boletim Focus de 04/03 é de uma taxa de câmbio (fim de período (R$/US$)) com um valor de 4,45. Houve uma deterioração das expectativas de 0,25 se comparada com a previsão mediana feita para 2016 no final de 2015. No pior cenário, a taxa de câmbio pode atingir o valor de 4,60 em 2016 e 4,90 em 2017. Tabela 2: Cenários Macroeconômicos para a Economia Brasileira Boletim FOCUS 04/03/2016 - previsões para 2016 Campos / Cenários Otimista Mediano Pessimista Boletim FOCUS 04/03/2016 - previsões para 2017 Campos / Cenários Otimista Mediano Pessimista Boletim FOCUS 04/03/2016 - previsões Top 5 para 2016 Variáveis Otimista Mediano Pessimista Boletim FOCUS 04/03/2016 - previsões Top 5 para 2017 Variáveis Otimista Mediano Pessimista
nov-11 fev-12 mai-12 ago-12 nov-12 fev-13 mai-13 ago-13 nov-13 fev-14 mai-14 ago-14 nov-14 fev-15 mai-15 ago-15 nov-15 Feb-03 Jan-04 Dec-04 Nov-05 Oct-06 Sep-07 Aug-08 Jul-09 Jun-10 May-11 Apr-12 Mar-13 Feb-14 Jan-15 Dec-15 *Notas: Elaboração própria a partir do site www3.bcb.gov.br/expectativas/publico/consulta/serieestatisticas do Banco Central. Para IPCA, taxa de câmbio e Selic utilizou-se para o cenário otimista o valor mínimo esperado; para o pessimista, o valor máximo. Para os campos restantes, utilizou-se para o cenário otimista o valor máximo esperado, e, para o pessimista, o valor mínimo. Foi considerado o cenário mediano como a mediana esperada. Desemprego, Investimento e Inflação Analisando a Figura 7 (próxima página), durante o período Nov./11 a Jan./16, o setor de serviços teve uma redução de um milhão e 300 mil empregos, sendo o setor que mais desempregou. O setor de comércio teve uma queda de 600 mil empregos, valor próximo ao setor de construção civil. Já o setor industrial teve 800 mil demissões e mantém o caminho de queda para os próximos meses. O único setor que esboçou uma pequena reação foi o agropecuário, que terminou com saldo zero. Por fim, o saldo de empregos acumulado nesse intervalo mostrou uma redução de mais de três milhões de empregos (Figura 5). Em relação aos investimentos, o gráfico de formação bruta de capital fixo na Figura 6 (próxima página) mostra uma queda que se acentua desde o ano de 2013, atingindo -6% em 2015. A queda no investimento privado desacelera a geração de empregos nos diversos setores, como o industrial e de serviços. A Figura 8 mostra uma grande oscilação da taxa de juros, após uma queda acentuada no período Jul./11 a Jan./13, houve um crescimento até Ago./15 e em seguida uma queda até Jan/16. Em relação à inflação, ela superou o teto da meta em dois momentos, no intervalo de Nov./14 a Mar./15 e após Jun./15. O aumento da inflação contribui para a queda na massa salarial real e perda de poder aquisitivo da população. A massa salarial real atingiu -9,64% em dezembro de 2015, conforme mostra a Figura 4. Figura 4: Massa Salarial Real Var. ano sobre ano 15.0% 10.0% 5.0% 0.0% -5.0% -10.0% -15.0% -20.0% Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE Figura 5: Saldo total de empregos, acumulado em 12 meses (em milhões) 2 1.5 1 0.5 0-0.5-1 -1.5-2 Total Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CAGED - IBGE
nov-11 jan-12 mar-12 mai-12 jul-12 set-12 nov-12 jan-13 mar-13 mai-13 jul-13 set-13 nov-13 jan-14 mar-14 mai-14 jul-14 set-14 nov-14 jan-15 mar-15 mai-15 jul-15 set-15 nov-15 jan-16 1996.II 1996.IV 1997.II 1997.IV 1998.II 1998.IV 1999.II 1999.IV 2000.II 2000.IV 2001.II 2001.IV 2002.II 2002.IV 2003.II 2003.IV 2004.II 2004.IV 2005.II 2005.IV 2006.II 2006.IV 2007.II 2007.IV 2008.II 2008.IV 2009.II 2009.IV 2010.II 2010.IV 2011.II 2011.IV 2012.II 2012.IV 2013.II 2013.IV 2014.II 2014.IV 2015.II 2015.IV Figura 6: Formação Bruta de Capital Fixo (contra tri. anterior - com ajuste sazonal) 10.00 5.00.00-5.00-10.00-15.00 Fonte: Elaboração própria a partir de dados do SIDRA - IBGE Figura 7: Saldo de empregos por setor, acumulado em 12 meses 1000000 800000 600000 400000 200000 0-200000 -400000-600000 -800000 Indústria Comércio Serviços Construção civil Agropecuária Fonte: Elaboração própria a partir de dados do CAGED
25/09/2009 12/11/2009 29/12/2009 12/02/2010 31/03/2010 18/05/2010 02/07/2010 18/08/2010 04/10/2010 18/11/2010 04/01/2011 18/02/2011 06/04/2011 23/05/2011 07/07/2011 23/08/2011 07/10/2011 28/11/2011 12/01/2012 01/03/2012 18/04/2012 05/06/2012 23/07/2012 06/09/2012 25/10/2012 13/12/2012 31/01/2013 21/03/2013 09/05/2013 26/06/2013 12/08/2013 26/09/2013 12/11/2013 31/12/2013 17/02/2014 07/04/2014 27/05/2014 14/07/2014 28/08/2014 14/10/2014 28/11/2014 16/01/2015 06/03/2015 27/03/2015 18/05/2015 03/07/2015 19/08/2015 10/6/2015 24/11/2015 12/1/2016 9.00 8.00 7.00 6.00 5.00 4.00 3.00 2.00 1.00 Figura 8: IPCA esperado em 12 meses X Juros reais ex-ante IPCA esperado (12 meses) % Juros Reais ex ante Piso da Meta - Inflação Centro da Meta - Inflação Teto da Meta - Inflação Fonte: Elaboração própria a partir de dados Bacen Considerações Finais O resultado do PIB manteve-se negativo no quarto trimestre de 2015, -5,9%, e na margem foi de -1,4%. A queda no PIB do último trimestre de 2015 superou a expectativa de queda do mercado em apenas 0,1%. Como mostrado no boletim anterior, os fatores que movimentam a economia seguem em trajetória decrescente. O consumo das famílias e os investimentos privados se mantêm em níveis negativos (-6,8% e -18,5%, respectivamente), o que reflete o pessimismo geral da população e do mercado, sem perspectivas de melhora e estabilidade no curto prazo. estrangeiros ficaram mais caros devido à perda de valor do Real. O aumento das taxas de desemprego, nos diversos setores reduz o nível de consumo e agrava a recessão existente, impossibilitando uma recuperação do PIB no curto prazo. A expectativa de crescimento para o biênio 2015-2016 é negativa - uma das piores da história. As exportações apresentaram um crescimento de 12,6%, impulsionado pela depreciação da moeda. As importações caíram 20,1%, os produtos