Panorama Macroeconômico Cenário Interno Em fevereiro, o cenário externo foi marcado pelas primeiras atitudes do novo governo americano frente ao aprofundamento da crise internacional. O primeiro pilar do programa é um pacote fiscal de estímulo à economia, no valor total de US$ 787 bilhões. O total se divide em cortes de impostos, ajuda a desempregados e gastos do governo em infraestrutura. O pacote foi aprovado após muita discussão, alterações no congresso e com folga de apenas um voto no senado. O segundo pilar é o Plano de Estabilidade Financeira, no qual o governo norte-americano definiu uma estratégia para estabilizar a economia e, no médio prazo, retornar à normalidade. Essa estratégia tem três partes. A primeira, composta pelo novo Financial Stability Trust (provavelmente com recursos do TARP), destina-se à capitalização dos bancos, de maneira similar ao que já foi feito no ano passado, mas com condicionalidades mais rigorosas, sendo a principal delas o compromisso de aumento do volume de crédito ao setor privado pelas instituições participantes. Para avaliar a necessidade de capital de cada um dos bancos será conduzido um teste de estresse com parâmetros estabelecidos pelo Tesouro. A idéia de realizar stress tests nos bancos, para avaliar a dimensão do problema patrimonial, é uma iniciativa que estava faltando. Até agora, não se sabe, com grau razoável de confiança, o valor das perdas potenciais com a queda dos preços dos ativos bancários. Além disso, se exigirá que as instituições recebedoras de capital modifiquem os seus financiamentos imobiliários para evitar a retomada dos imóveis. A segunda parte do Plano de Estabilidade Financeira compreende o Public-Private Investment Fund, cuja tarefa será comprar ativos problemáticos dos bancos. No entanto, permanecem dúvidas acerca da precificação dos ativos tóxicos. A terceira é a ampliação dos recursos do Term Asset-Backed Securities Loan Facility (TALF), operado pelo Federal Reserve, para o financiamento de títulos privados lastreados em ativos das mais variadas origens. Também foi criado um programa de refinanciamento de hipotecas habitacionais de mutuários que possam entrar em dificuldades para honrar estes compromissos. O pacote representa uma mudança no sistema atual, ao prover assistência a proprietários de imóveis antes de eles começarem a atrasar os pagamentos dos empréstimos. Além de todas as medidas listadas acima, o Tesouro norte-americano anunciou um acordo para troca de ações preferenciais que possui no Citigroup por ações ordinárias, em uma operação inédita que não implicará qualquer injeção adicional de recursos do governo dos EUA na instituição. Apesar da operação, as autoridades americanas, principalmente o presidente do FED, Ben Bernanke, se esforçaram em dizer que não se trata de uma operação de nacionalização do banco. No entanto, apesar dos esforços e do pacote fiscal bilionário, o pessimismo em relação à economia mundial não foi revertido, com as bolsas ao redor do mundo registrando suas mínimas desde a crise de 1997. Um dos motivos apontados para a má recepção do programa é a falta de detalhamento operacional das medidas, uma vez que os problemas já identificados em pacotes anteriores, como a dificuldade em precificar os ativos tóxicos, permanecem em aberto. A visão negativa foi reforçada pelos dados macroeconômicos divulgados ao longo do mês, em particular o PIB dos Estados Unidos, cuja queda de 6,4% no 4º trimestre de 2008 surpreendeu até mesmo os mais pessimistas.
Cenário Interno Os indicadores econômicos divulgados durante o mês de fevereiro tornaram mais evidentes os impactos da crise financeira sobre a economia doméstica. Em dezembro, a produção industrial intensificou a trajetória de queda iniciada em novembro, apresentando os resultados mais baixos de toda a série histórica, tanto na base mensal como na interanual. Na comparação mensal, a produção recuou 12,4% em relação a novembro, após queda de 7,2% nesse mês (em relação a outubro). Na base interanual, a indústria apresentou desaceleração de 14,5% em dezembro, após queda de 6,4% em novembro, ambos em relação ao mesmo período de 2007. Esse forte recuo na produção nos dois últimos meses do ano fez o resultado acumulado em 2008 tombar para 3,12%, após crescimento de 6,02% em 2007. Vale destacar que o acumulado em 12 meses até setembro apresentava alta de 6,81%. 12,0% 9,0% Produção Industrial % a.a. 6,0% 3,0% 0,0% 3,1% -3,0% -6,0% -9,0% Variação acumulada em 12 meses -12,0% Variação em relação ao mesmo período do ano anterior -15,0% -14,5% Fonte: IBGE jan-03 abr-03 jul-03 out-03 jan-04 abr-04 jul-04 out-04 jan-05 abr-05 jul-05 out-05 jan-06 abr-06 jul-06 out-06 jan-07 abr-07 jul-07 out-07 jan-08 abr-08 jul-08 out-08 Após as paralisações e demissões que têm sido anunciadas na mídia desde o final de 2008, com destaque para as perdas de vagas nos setores financeiro e industrial, o indicador oficial do emprego mostrou o primeiro recuo em janeiro. Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, a taxa de desocupação passou do ponto mínimo da série em dezembro (6,8%) para 8,2% em janeiro, acima da expectativa do mercado de aumento para 7,8%. Apesar de sazonalmente ocorrer um aumento da taxa de desemprego em janeiro, a elevação foi acima do natural, indicando deterioração no mercado de trabalho Apesar da deterioração do emprego, o rendimento médio real cresceu em janeiro: 2,2% em relação a dezembro e 5,9% na comparação com janeiro de 2008. Esse aumento no rendimento deve oferecer sustentação apenas temporária às vendas do comércio varejista. Para os próximos meses, a expectativa é de que o aumento no desemprego tenha impactos negativos sobre a renda dos trabalhadores e, consequentemente, sobre o desempenho do varejo. Além disso, sobre as vendas varejistas pesam as incertezas dos consumidores sobre a economia e quanto à manutenção do seu próprio emprego em um ambiente de crise financeira, com efeitos contracionista sobre as decisões de compra futura. Com a perspectiva de deterioração acentuada no mercado de trabalho, a tendência é que a inadimplência bancária continue aumentando. Sobre este ponto vale destacar que, segundo os dados de crédito divulgados mensalmente pelo Banco Central, a inadimplência no segmento de pessoa física já
cresceu um ponto percentual desde o início da crise financeira, alcançando 8,3% em janeiro. Este valor refere-se à maior taxa de inadimplência registrada desde junho de 2002, e próximo ao nível máximo da série, de 8,44% em maio de 2002. Em um cenário adverso como o atual, o aumento da inadimplência reforça a restrição de crédito que já está em curso, impedindo uma recuperação vigorosa da economia. Mercado de Renda Fixa O mês de fevereiro foi marcado por fortes turbulências no cenário internacional, sobretudo na segunda metade do mês. Um dos destaques foi o PIB americano que teve sua taxa de crescimento revisada para uma queda de 6,2% no 4º trimestre de 2008. Neste mesmo período, o PIB da zona do Euro também teve forte redução caindo 1,5% e a recessão no Japão foi aprofundada com um encolhimento do PIB em 12,7%, o menor desde 1974. O esperado plano de estabilização financeira dos Estados Unidos foi divulgado pelo secretário do tesouro Timothy Geithner, porém a ausência de informações concretas sobre mecanismos operacionais acabou por influenciar negativamente os mercados. Na Europa, as preocupações com o setor financeiro continuam, assim como permanece a injeção de recursos por parte dos governos dos países desenvolvidos. No cenário interno, destaque para o fluxo cambial que voltou ao terreno positivo após 4 meses. O mês também foi marcado pela divulgação de péssimos resultados da produção industrial de dezembro. Dados de janeiro da indústria automobilística apresentaram significativa melhora com a redução do IPI pelo governo. A curva de juros continuou sua trajetória de fechamento em função de dados fracos de atividade. O DI que vence em janeiro de 2010 passou de 11,16% no fechamento de janeiro para 10,63% a.a. no final de fevereiro. O DI janeiro 2012 passou de 11,72% para 11,30% a.a.. 13.0% 12.5% 12.0% 11.5% 11.0% Curva de Juros 10.5% 1 36 71 106 141 176 211 246 281 316 351 386 421 Dias Úteis Fonte: 2007-12-31 2009-01-31 2009-02-28 O câmbio no mês de fevereiro apresentou desvalorização mesmo com um desempenho positivo da balança comercial, sendo muito influenciado pelo aumento da aversão a risco. Dessa forma, o dólar fechou o mês cotado a R$ 2,3503, com alta de 3,26%. No mercado de títulos indexados à inflação, o Tesouro Nacional vendeu 36.450 títulos da NTN-B 2045 a 6,75%. As taxas aceitas pelo Tesouro Nacional no leilão de janeiro estão descritas na tabela abaixo: Resultado dos Leilões de NTN-B (Papel IPCA) Venc. mar/08 abr/08 mai/08 jun/08 jul/08 ago/08 set/08 out/08 nov/08 dez/08 jan/09 fev/09 2011 7.80% 8.09% 8.23% 8.86% 8.90% 8.98% 8.99% 9.81% - 8.86% 7.35% 7.00% 2014 - - - - - - - - - - 7.65% 7.37% 2020 - - - - - - - - - - 7.40% 7.20% 2024 6.95% 7.00% 6.87% 7.10% 7.15% 7.20% 7.28% - - 7.75% - 6.99% 2035 6.77% 6.85% 6.78% 6.95% 7.02% 7.06% 7.15% 8.18% 8.00% 7.75% - 6.78% 2045 6.66% 6.71% 6.69% 6.80% 6.84% 6.99% 7.05% 8.08% 7.95% 7.70% 7.05% 6.75%
Mercado de Ações Em Fevereiro, as bolsas mundiais continuaram a sua trajetória de desaceleração devido à desconfiança dos investidores com relação aos estímulos e pacotes oferecidos pelos governos, ajudado pelos indicadores macroeconômicos cada vez piores. No Brasil, o Ibovespa chegou a alcançar a casa dos 42.000 pontos no início do mês, porém não resistiu às notícias negativas mundiais e fechou o mês aos 38.183 pontos, uma queda de 2,8% em relação à Janeiro. Ainda assim, as bolsas brasileiras se mostram bem resistentes diante de tal conjuntura econômica e aindam registram altas em torno de 2% até o mês de Fevereiro. O fluxo estrangeiro na Bovespa se mantém positivo no ano e o bom desempenho das ações das empresas ligadas a commodities sustentam as bolsas brasileiras. Mês IBOVESPA IBX jan/09 4.7% 3.5% fev/09-2.8% -0.9% 2009 1.7% 2.5% Fonte: Bloomberg No cenário corporativo, os principais destaques positivos no mês foram as ações da Positivo (+33,3%), diante de rumores sobre uma nova oferta para aquisição da empresa, da Vivo (+17,5%), pelo fato de ter apresentado um surpreendente resultado no 4º trimestre de 2008, e dos papéis do setor elétrico, dada a expectativa de uma maior distribuição de dividendos para algumas empresas do setor. Destaque negativo para as ações de Cyrela (-24,3%) e Rossi (-26,5%), as quais divulgaram dados preliminares com queda nas vendas e lançamentos no 4T08. Outro destaque ficou por conta da Embraer (-24,2%), que anunciou uma forte queda nas encomendas de aeronaves, mais uma consequência da crise mundial. PERFORMANCES BOLSAS MUNDIAIS PAÍS ÍNDICE Fevereiro 2009 2009 BRASIL IBOVESPA -2.8% 1.7% BRASIL IBX -0.9% 2.5% EUA DOW JONES -11.7% -19.5% EUA S&P 500-11.0% -18.6% EUA NASDAQ -6.7% -12.6% MEXICO MEXBOL -9.3% -20.7% INGLATERRA FTSE-250-7.7% -13.6% FRANCA CAC-40-9.1% -16.0% ALEMANHA DAX -11.4% -20.1% JAPÃO NIKKEI 225-5.3% -14.6% HONG KONG HANG SANG -3.5% -11.0% Fonte: Bloomberg
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