ASPECTOS A SEREM LEVADOS EM CONSIDERAÇÃO NO MOMENTO DE OPÇÃO DE TRIBUTAÇÃO LÚCIA HELENA BRISKI YOUNG Ao optar por uma forma de tributação, deve-se levar em conta todas as vantagens e desvantagens que cada regime pode oferecer. Dentre estes fatores, apontamos alguns aspectos positivos e negativos de cada forma de tributação já mencionada no capítulo anterior, para melhor escolha para o ano-calendário de 2006 (exercício 2007), visto que o primeiro recolhimento é o que define a opção. LUCRO REAL ESTIMADO MENSAL Nesta forma de tributação, o imposto de renda e a contribuição social sobre o lucro são calculados mensalmente, com base no faturamento. São aplicados percentuais (definidos em lei, de conformidade com a atividade desempenhada) sobre a base de cálculo. Esta deverá ser acrescida de demais receitas não operacionais para que sobre este montante, seja aplicada a alíquota do imposto de renda. Deve ser efetuado um balanço de ajuste em dezembro, para confrontação entre o que foi pago durante o ano-calendário como lucro estimado e o resultado efetivo da empresa. Deste confronto, se resultar que o que foi pago pelo lucro estimado (a título de antecipação) excede o apurado no balanço de ajuste, a pessoa jurídica deverá solicitar restituição do que foi pago a maior ou compensar este valor com tributos de mesma natureza ou de natureza distinta (formalizar pedido perante a SRF através do preenchimento da Declaração de Compensação). Nesta forma de tributação é permitido em qualquer momento do anocalendário, utilizar-se de balanços ou balancetes acumulados para fins de suspensão ou redução do imposto de renda e da contribuição social. Estes balanços ou balancetes são utilizados quando o contribuinte percebe que está pagando muito imposto na forma do lucro estimado. Como aspecto positivo no sistema do lucro estimado entendo que seja a flexibilidade de utilização desde desmembramento comparativo suspensão ou redução do imposto e contribuição. Quanto à limitação de compensação de prejuízos fiscais de até 30%, apurados no próprio ano-calendário, o balancete de suspensão ou redução estará isento.
Outro ponto é que, do imposto de renda apurado, poderão ser abatidos os incentivos fiscais existentes na legislação. Como aspecto negativo aponta-se que seja o fato da obrigatoriedade de manutenção de uma contabilidade mais controlada, escrituração em dia, o que a torna mais onerosa e trabalhosa. LUCRO REAL TRIMESTRAL Na forma de tributação denominada lucro real trimestral, o imposto é apurado trimestralmente. São consideradas as receitas e as despesas que a empresa obtenha durante o trimestre. Como aspecto positivo apontamos que esta forma de tributação é a que mais se aproxima da apuração verdadeira do lucro/prejuízo auferido pela pessoa jurídica. Pode-se fazer uso dos benefícios fiscais previstos na legislação. Para as empresas que possuem muitas despesas, consideradas dedutíveis para fins do imposto de renda, esta é uma forma de tributação a se pensar. Como pontos negativos, citamos: a) onerosidade da manutenção de escrituração contábil regular; b) a questão da limitação de utilização de prejuízo fiscal no lucro real dos trimestres subseqüentes (30%). SIMPLES O SIMPLES é uma forma de tributação que podemos considerar como progressiva, ou seja, à medida do aumento do faturamento, muda-se a alíquota da tributação. Neste regime não são computadas as despesas, sendo o SIMPLES calculado sobre o faturamento mensal. Esse sistema tributário de recolhimento único abrange o imposto de renda pessoa jurídica, a contribuição social sobre o lucro líquido, o PIS, a Cofins e o INSS parte da empresa. Como aspecto positivo, vemos que reduz a burocracia, pois se recolhe imposto e contribuições sociais em um único DARF. A escrituração fiscal é simplificada, portanto, menos onerosa.
Há progressividade de tributação de conformidade com o aumento do faturamento. A pergunta 113, da Perguntas e Respostas da SRF/2005, estabelece que a pessoa jurídica que optar por se inscrever no SIMPLES terá os seguintes benefícios: a. tributação com alíquotas mais favorecidas e progressivas, de acordo com a receita bruta auferida; b. recolhimento unificado e centralizado de impostos e contribuições federais, com a utilização de um único DARF (DARF-Simples), podendo, inclusive, incluir impostos estaduais e municipais, quando existirem convênios firmados com essa finalidade; c. cálculo simplificado do valor a ser recolhido, apurado com base na aplicação de alíquotas unificadas e progressivas, fixadas em lei, incidentes sobre uma única base, a receita bruta mensal; d. dispensa da obrigatoriedade de escrituração comercial para fins fiscais, desde que mantenha em boa ordem e guarda, enquanto não decorrido o prazo decadencial e não prescritas eventuais ações, os livros Caixa e Registro de Inventário, e todos os documentos que serviram de base para a escrituração; e. dispensa a pessoa jurídica do pagamento das contribuições instituídas pela União, destinadas ao SESC, ao SESI, ao SENAI, ao SENAC, ao SEBRAE, e seus congêneres, bem assim as relativas ao salário educação e à Contribuição Sindical Patronal; f. dispensa a pessoa jurídica da sujeição à retenção na fonte de tributos e contribuições, por parte dos órgãos da administração federal direta, das autarquias e das fundações federais (Lei 9.430/96, art. 60); g. isenção dos rendimentos distribuídos aos sócios e ao titular, na fonte e na declaração de ajuste do beneficiário, exceto os que corresponderem a prólabore, aluguéis e serviços prestados, limitado ao saldo do livro Caixa, desde que não ultrapasse a Receita Bruta. Como aspecto negativo, a Lei 9.317/96, instituidora do regime SIMPLES, em seu art. 9º, conjugada com a IN SRF 608/2006, enumera situações impeditivas de opção por este sistema de tributação. Portanto, muitas pessoas jurídicas, cujas atividades sejam, principalmente, a prestação de serviços, estão excluídas desta forma de tributação. Outro fator negativo é a não-permissão de aproveitamento dos benefícios fiscais. LUCRO ARBITRADO
O lucro arbitrado é uma forma de tributação menos utilizada, visto que sobre o faturamento trimestral são aplicados percentuais para determinação da base de cálculo. Existe ainda o arbitramento por parte do órgão fiscal. Este é utilizado quando o contribuinte não apresenta a escrituração em conformidade com a legislação, quando não possui a documentação que deu origem à escrituração, entre outros casos. Opinião diversa encontramos no Manual do Imposto de Renda Pessoa Jurídica 1 O lucro arbitrado não deve ser encarado como modalidade optativa ou favorecida de tributação, pois representa coercitivamente a determinação do lucro e do imposto, para contribuintes que descumprirem as disposições legais relativas ao lucro real e ao lucro presumido. Estes percentuais arbitrados são entendidos como margem de lucro que a pessoa jurídica obteria naquela atividade. Estes são os mesmos definidos para o lucro presumido, porém acrescidos de 20%. Sobre esta base de cálculo, acrescida de demais receitas nãooperacionais, é que se aplica a alíquota do imposto de renda, sendo, portanto, desconsideradas as despesas atreladas ou não à atividade. Como aspecto positivo podemos citar que a escrituração é simplificada. Como aspecto negativo, é que nem sempre os percentuais determinados pelo Fisco representam a verdadeira margem de lucro auferida pela empresa. Existe ainda o arbitramento por parte do órgão fiscal. Este é utilizado quando o contribuinte não apresenta a escrituração em conformidade com a legislação, quando não possui a documentação que deu origem à escrituração, entre outros casos. LUCRO PRESUMIDO Para o autor, Eduardo Marcial Ferreira Jardim 2, o lucro presumido é: Modalidade de determinação do imposto sobre a renda, susceptível de opção por parte de pessoas jurídicas num dado patamar de receita anual e que não estejam obrigadas a apurá-lo por meio do lucro real. Trata-se de fórmula mais singela de mensuração do imposto, se comparada com as exigências relacionadas com o lucro real. 2 BERNARDES, Adherbal Corrêa; PEREIRA, Wilson Chamhie; NEVES, Silvério das; MACIEL, Amaury. São Paulo: Hamburg Donnelley, 2000. p. 11 2 JARDIM, Eduardo Marcial Ferreira. Dicionário Jurídico Tributário, 3. ed. São Paulo: Dialética, 2000. p. 139.
O lucro presumido é calculado sobre o faturamento trimestral, sem levar em consideração as despesas e custos. Sobre o faturamento trimestral são aplicados os percentuais ( margem de lucro determinada pelo Fisco), de conformidade com a atividade desenvolvida, para determinação da base de cálculo. Sobre a base de cálculo, acrescida das demais receitas não-operacionais, é aplicada a alíquota do imposto de renda. Como vantagens podemos citar: a escrituração simplificada (livros Caixa e Registro de Inventário); menor onerosidade; para as empresas que não possuam muitas despesas, tal tributação pode representar uma menor carga tributária. Por outro lado, como desvantagens, citamos: o imposto é calculado sobre uma base estimada, não representando, portanto, o resultado real da empresa; são desprezados os prejuízos e as despesas/custos; devido à escrituração simplificada, pode haver problemas de ordem comercial, judicial, falimentar ou previdenciária; não existe compensação de prejuízos fiscais; é vedada a utilização de incentivos fiscais, tais como o PAT Programa de Alimentação ao Trabalhador, Audiovisual, Criança e Adolescente e Cultura; falta de escrituração contábil completa pode ser prejudicial no momento de se apurar o lucro isento a ser distribuído. Portanto, cada empresa deverá efetuar um levantamento sobre suas receitas e despesas, aplicações em incentivos fiscais e projetar valores dentro das formas de tributação existentes para verificar qual a opção de tributação é mais pertinente à sua capacidade contributiva. Lembrando sempre que, uma vez efetuada a opção de tributação para o ano corrente, este deverá ser mantido, sem qualquer possibilidade de alteração de regime através de REDARF. Lúcia Helena Briski Young
a) formada em Direito, com especialização em Direito Tributário; b) contadora, com especialização em Auditoria e Controladoria Interna; c) administradora, com especialização em Gestão Empresarial e Direito; d) instrutora/palestrante de cursos tributários; e) responsável Técnica pelo Boletim Atualidades Tributárias Juruá ; f) autora de livros tributários pela Juruá Editora (www.jurua.com.br); g) membro Honorário do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário IBPT; h) Membro Consultivo da Associação Paulista de Estudos Tributários APET. e-mail para contato: luciayoung@terra.com.br.