A criança de dois anos e o planejamento dietético

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Transcrição:

Universidade de São Paulo Biblioteca Digital da Produção Intelectual - BDPI Departamento de Nutrição - FSP/HNT Artigos e Materiais de Revistas Científicas - FSP/HNT 2009 A criança de dois anos e o planejamento dietético Nutrição e Pediatria, s.l, v. 1, n. 1, p. 10-13, 2009 http://producao.usp.br/handle/bdpi/14122 Downloaded from: Biblioteca Digital da Produção Intelectual - BDPI, Universidade de São Paulo

Destaque A criança de dois anos e o planejamento dietético Profa. Dra. Sonia Tucunduva Philippi* * Docente e Pesquisadora do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Livre- Docente com Mestrado e Doutorado. Orientadora de Pós-Graduação na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP) e no PRONUT. Ex-presidente da Associação Paulista de Nutrição (APAN), pertence ao Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN) e da diretoria da Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN). A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde (MS) recomendam o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade acompanhando-se as curvas de crescimento e o padrão de desenvolvimento da criança. A partir dos 6 meses de idade deve ter início a alimentação complementar, que é todo e qualquer alimento oferecido à criança diferente do leite materno. No entanto, o aleitamento materno pode prosseguir até os 24 meses. A alimentação é de fundamental importância para o pleno alcance do potencial de desenvolvimento e crescimento, sendo a introdução dos novos alimentos importante para criação dos hábitos e atitudes alimentares que se formam na infância. Nessa fase a criança gosta de brincar com água, utensílios que possam ser enchidos, sendo o banho uma das horas mais agradáveis. Brincadeiras ao ar livre, correndo, convivendo com pequenos animais, plantas e natureza, mas também a casinha, a tenda, devem ser estimuladas para a criança brincar. As fantasias, imitações, sons de vozes, instrumentos e animais são apreciados pelas crianças nessa fase. Nesse universo de descobertas, a alimentação, com seus gostos, cheiros, cores e texturas, torna-se importante, não só para promoção da saúde, mas para a prevenção de doenças e formação de um acervo gustativo importante para a vida adulta. Aos dois anos de idade, fase também denominada de pré-escolar, a criança está irrequieta, andando e querendo brincar o tempo todo. Quando a fome aparece já é capaz de solicitar alimento, mas também é capaz de não querer interromper a brincadeira para comer. Nessa fase em que a criança tem comportamento às vezes imprevisível, um planejamento dietético adequado é importante para garantir que a criança tenha um adequado aporte de energia, macro e micronutrientes, como também para introdução de disciplina e limites com os horários estabelecidos para alimentação. A alimentação deve ser a da família a partir dos 12 meses, sendo que o local, os utensílios, a forma de apresentar e de oferecer os alimentos merecem cuidados e devem despertar a atenção e a curiosidade da criança. A refeição com a família deve ser estimulada e também o convívio com irmãos e outras crianças, seja na família ou em instituições como creches e escolas. A criança come lentamente e se distrai com o ambiente, levando o cuidador a dar o 10 Revista Nutrição & Pediatria

alimento na boca, nem sempre respeitando o ritmo e o tempo próprio de uma criança de dois anos. É preciso, no entanto, dar autonomia para que a criança possa desenvolver sua habilidade motora para começar a se alimentar sozinha e imprimir seu próprio ritmo. Na hora da refeição deve-se oferecer pequenas quantidades, ter paciência para despertar a curiosidade, a possibilidade de explorar todos os órgãos dos sentidos, estimulando a criança a pegar, cheirar e provar os alimentos. A variedade e as cores dos alimentos contribuem para uma alimentação equilibrada, assim como um ambiente calmo é decisivo para uma boa aceitação dos alimentos. O mundo moderno traz a TV, os vídeos com desenhos e filmes com personagens infantis que passam a fazer parte do imaginário. Na hora de comer a criança deve ser estimulada a focar no alimento, na mastigação, na quantidade oferecida, permitindo uma interação maior da criança com o mundo real. A partir dos dois anos de idade a criança pode ser estimulada a fazer a higiene oral, ou seja, a escovação dos dentes, sem creme dental, sempre supervisionada, para formação deste hábito. Os dentes devem ser escovados sempre após as principais refeições e antes de a criança dormir. As recompensas por comer tudo, assim como os castigos por não querer comer, devem ser evitados. As atitudes ante os excessos ou recusas devem ser proativas, com conversas, explicações sobre por que é hora de parar ou por que a próxima refeição está longe e ela poderá ficar com fome. O aprendizado é um processo lento, mas com cuidados apropriados e orientações seguras, a cada fase do desenvolvimento infantil contribui-se para a formação de uma personalidade saudável. Comportamento alimentar aos dois anos de idade Nesse período a criança apresenta diminuição na velocidade de crescimento e, portanto, provável diminuição do apetite. O interesse pelos objetos à volta é mais importante para a criança e a atenção pelos alimentos fica diminuída. A criança nessa fase pode apresentar inapetência, o que preocupa muito os pais, pois pode ser uma forma de chamar a atenção usando os alimentos para tal fim ou ser uma inapetência chamada orgânica. A observação da criança e sua relação com os alimentos na hora das refeições pode ser indicativa das relações familiares e o acompanhamento do peso, estatura e os exames bioquímicos podem Aos dois anos de idade, fase também denominada de pré-escolar, a criança está irrequieta, andando e querendo brincar o tempo todo. Quando a fome aparece já é capaz de solicitar alimento, mas também é capaz de não querer interromper a brincadeira para comer Revista Nutrição & Pediatria 11

ajudar a elucidar o tipo de inapetência. Nessa idade a criança consegue captar nas relações familiares as tensões, usando o alimento para compensar estas situações. Todas as medidas usadas para forçar a criança a comer podem levar a uma rejeição futura de tal alimento. Fatores para a inapetência Figura 1. Pirâmide alimentar infantil - 2 a 3 anos de idade, dieta de 1300 kcal LEITE, QUEIJO E IOGURTE - 3 PORÇÕES (1 porção = 120 kcal) VERDURAS E LEGUMES 3 PORÇÕES (1 porção = 8 kcal) ÓLEOS E GORDURAS (1 porção = 37 kcal) CARNES E OVOS 2 PORÇÕES (1 porção = 65 kcal) AÇÚCARES E DOCES (1 porção = 55 kcal) FEIJÕES (1 porção = 20 kcal) FRUTAS 3 PORÇÕES (1 porção = 35 kcal) Fonte: Profa. Dra. Sonia Tucunduva Philippi, 2008. Philippi ST. Alimentação saudável e a pirâmide dos alimentos. In Philippi ST. Pirâmide dos alimentos: fundamentos básicos da nutrição. Barueri: Manole 2008. A inapetência aos dois anos de idade pode ser resultado de fatores como: introdução inadequada dos alimentos (prolongando as papas, leite na mamadeira e retardando a oferta da alimentação da família); utilização de estratégias com brincadeiras para distrair a criança, fazendo com que estas ações facilitem a aceitação do alimento, mas impeçam a atenção no que deve ser ingerido; monotonia na oferta de alimentos; quantidades inadequadas; rigidez nos horários com as refeições principais muito próximas e oferta constante de alimentos nos intervalos (troca constante dos alimentos rejeitados sempre por outros da preferência da criança); ansiedade, insegurança e falta de paciência das mães devido ao desconhecimento sobre o comportamento alimentar da criança nessa fase. Planejamento dietético individualizado para crianças de dois anos de idade ARROZ, PÃO, MASSA, BATATA, MANDIOCA 5 PORÇÕES (1 porção = 75 kcal) Estabelecer o Valor Calórico Total (VCT) diário, baseado nas recomendações nutricionais, respeitandose suas individualidades, assim como o volume gástrico diário da criança (de 200 a 300 ml). Para o planejamento dietético pode-se utilizar a pirâmide alimentar infantil, que foi dividida em quatro níveis: Primeiro nível: Grupo do arroz, pão, massa, batata, mandioca: constituído por cereais, tubérculos e raízes, fontes de carboidratos; contribui com a maior parte das calorias da dieta 5 porções, sendo pelo menos uma de grãos integrais. Segundo nível: Grupo das verduras e legumes e Grupo das frutas: fontes de vitaminas e minerais 3 porções. Terceiro nível: Grupo do leite, queijo e iogurte: fontes de proteínas, cálcio e vitaminas 3 porções; Grupo das carnes e ovos: alimentos fontes de proteínas, ferro e vitaminas; inclui carne 12 Revista Nutrição & Pediatria

bovina e suína, aves, peixes e frutos do mar, vísceras e ovos 2 porções; Grupo dos feijões: inclui feijão, soja, ervilha, grão-de-bico, fava e amendoim; alimentos fontes de proteína vegetal 1 porção. Quarto nível: Grupo dos óleos e gorduras (margarina/manteiga, óleo) e Grupo dos açúcares e doces (doces, mel e açúcares): fontes de gorduras e carboidratos, respectivamente; os alimentos destes grupos devem ser consumidos com moderação, pois se encontram no topo e em todos os outros níveis da pirâmide, estando presentes na composição e preparação dos alimentos 1 porção. Os oito grupos foram compostos com alimentos semelhantes (fig. 1) e foi definido o número de porções diárias para cada grupo (os valores das porções estão de acordo com uma dieta padrão calculada). Estabelecer três refeições por dia (café da manhã, almoço e jantar), intercalando-se lanches entre estas refeições, com intervalos de no mínimo duas horas entre elas. Com relação à distribuição das refeições na dieta, 19% do valor calórico total (VCT) diário estão no café da manhã, 23% no almoço e 24% no jantar. O restante se distribui entre os lanches intermediários, sendo cerca de 10% em cada um. Esta distribuição não segue aquela recomendada para adultos, considerando-se que as calorias devem ser distribuídas mais homogeneamente durante o dia, não se concentrando apenas nas refeições principais. A alimentação diária da criança deve ter a presença de todos os grupos alimentares, possibilitando contato com alimentos variados e de bom valor nutritivo. A presença diária do arroz com feijão deve ser estimulada e indicativa de bom aporte de nutrientes. O contato visual diário e frequente com alimentos como verduras e legumes é importante para a formação dos hábitos alimentares, pois a criança costuma imitar as ações dos pais, irmãos mais velhos e cuidadores. As preferências alimentares nesta fase são pelo sabor doce, mas deve-se evitar a oferta de doces como lanches intermediários, assim como colocar açúcar em bebidas. Não ter doces armazenados em casa auxilia na não oferta destes produtos alimentares. O tamanho da porção oferecida pode ser determinante para o baixo consumo de outros tipos de alimentos; as frutas podem ser oferecidas como sobremesa, evitando-se o consumo dos doces. Para um adequado planejamento, as refeições não devem ser substituídas por leite ou sucos, frituras, bebidas açucaradas, doces, biscoitos doces recheados devem ser evitados. Deve-se estimular o consumo dos grupos alimentares das frutas, verduras e legumes, dando preferência às frutas regionais e de época. Os alimentos como leite, queijo e iogurte devem estar sempre presentes no dia alimentar da criança, podendo ser utilizados como ingredientes de molhos, vitaminas e frutas, sopas creme ou com cereais. Durante as refeições deve-se evitar a ingestão de líquidos. A água deve ser oferecida no copo ao final e várias vezes ao dia nos intervalos das refeições. As ervas e temperos naturais melhoram e variam o sabor dos alimentos. O uso de muito sal, pimenta e temperos fortes prejudica a aceitação dos alimentos pela criança. A criança de dois anos apresenta-se como uma janela de oportunidades para a formação de bons hábitos alimentares, pois um planejamento dietético adequado pode prevenir o aparecimento de doenças e promover a saúde das crianças. Referências 1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Coordenação Geral da Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Guia Alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável. 2005. [Disponível em www.saude.gov.br/alimentacao]. 2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Coordenação Geral da Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Guia Alimentar para crianças menores de dois anos. 2002. [Disponível em www.saude.gov.br/alimentacao]. 3. Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia. Manual de orientação: alimentação do lactente, pré-escolar, escolar, adolescente na escola, 2006. 4. Philippi ST, Cruz ATR, Colucci ACA. Pirâmide alimentar para crianças de 2 a 3 anos. Rev Nutr Campinas 2003;16(1):5-19, jan./mar. 5. Vitolo MR. Práticas Alimentares na Infância. In: Nutrição da gestação ao envelhecimento. Rio de Janeiro: Ed. Rubio, 2008. Os alimentos como leite, queijo e iogurte devem estar sempre presentes no dia alimentar da criança, podendo ser utilizados como ingredientes de molhos, vitaminas e frutas, sopas creme ou com cereais Revista Nutrição & Pediatria 13