PORFIRIA CUTÂNEA TARDA NO PACIENTE INFECTADO PELO VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA

Documentos relacionados
PORFIRIAS PROF ELISA PIAZZA

EXAMES LABORATORIAIS PROF. DR. CARLOS CEZAR I. S. OVALLE

PORFIRINAS DISCIPLINA: BIOQUÍMICA PROFESSOR: Dra. Selene Babboni

Porfirias Diagnóstico laboratorial

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES DIAGNOSTICADOS COM HIV NO BRASIL NA DÉCADA

ENFERMAGEM DOENÇAS HEPÁTICAS. Profª. Tatiane da Silva Campos

PLANILHA GERAL - OITAVO PERÍODO - FUNDAMENTOS DA CLINICA IV - 1º 2018

Relato de Caso: Porfiria Aguda Intermitente

PLANILHA GERAL - OITAVO PERIODO - FUNDAMENTOS DA CLINICA IV - 2º 2017

EM MEDICINA INTERNA. curso de atualização AUDITÓRIO MUNICIPAL DE VILA DO CONDE PROGRAMA 18 A 23 DE NOVEMBRO DE 2019 HEMATOLOGIA CUIDADOS PALIATIVOS

ENFERMAGEM SAÚDE DO IDOSO. Aula 8. Profª. Tatiane da Silva Campos

ENFERMAGEM ATENÇÃO BÁSICA E SAÚDE DA FAMÍLIA. Parte 14. Profª. Lívia Bahia

CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: FARMÁCIA INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO

ESTUDO DA INFLAMAÇÃO ATRAVÉS DA VIA DE EXPRESSÃO GÊNICA DA GLUTATIONA PEROXIDASE EM PACIENTES RENAIS CRÔNICOS

SÍFILIS MATERIAL DE APOIO.

II SIEPS XX ENFERMAIO I MOSTRA DO INTERNATO EM ENFERMAGEM

RELAÇÃO DE PONTOS PARA A PROVA ESCRITA E AULA PÚBLICA

CASO CLÍNICO III IV WIAH - MAIO 2009

TÍTULO: INCIDÊNCIA DE AIDS NA POPULAÇÃO DE 50 ANOS OU MAIS EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO-SP, NO PERÍODO DE 2003 A 2013

Sistema Urinário. Patrícia Dupim

Prevenção. Prevenção primária. Prevenção secundária. Prevenção terciária. pré-concepcional. pré-natal. pós-natal

Lesões e Condições Pré-neoplásicas da Cavidade Oral

As porfirinas são sustâncias orgânicas cíclicas e nitrogenadas, formadas por formadas por quatro anéis pirrolicos ligados por ligação de metileno.

eritema bolhas, crostas cicatrizes, esclerose

Vírus DNA tumorais: PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV) Testes inespecíficos:

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Diabetes Mellitus Parte 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

Aplicação de métodos nãoinvasivos

resposta papular anormal para uma única ou 3 exposições consecutivas às radiação de UVB acima da DEM (90 mj/cm2) (Fig. 2).

Cursos de Graduação em Farmácia e Enfermagem

AVALIAÇÃO DO AUTOCONHECIMENTO SOBRE O CÂNCER DE BOCA DOS IDOSOS NO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ: PROJETO DE PESQUISA

NEWS artigos CETRUS Ano 2 - Edição 16 - Dezembro/2010

Biossegurança 14/02/2019

Manifestações cutâneas na Síndrome POEMS: relato de caso

ANEXO II CONTEÚDO PROGRAMÁTICO EDITAL Nº. 17 DE 24 DE AGOSTO DE 2017

HEPATITES VIRAIS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS EM IDOSOS: BRASIL, NORDESTE E PARAÍBA

- Descrito na década de 70, mas com aumento constante na incidência desde os anos 90

Sumário ANEXO I COMUNICADO HERMES PARDINI

INTRODUÇÃO À PATOLOGIA GERAL

Imagem da Semana: Ressonância nuclear magnética

AVALIAÇÃO DOSIMÉTRICA DE COBERTURAS UTILIZADAS PARA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE RADIODERMITES EM PACIENTES SUBMETIDOS A RADIOTERAPIA

Análise de agrupamento dos estados brasileiros com base nas taxas de incidência de Aids nos anos de 1990 a 2008

Departamento de Pediatria Journal Club. Apresentadora: Eleutéria Macanze 26 de Julho, 2017

PROJETO LAAI: LUPUS ELABORAÇAO DE UM FOLDER

Infecções Recorrentes na Criança com Imunodeficiências Primárias Pérsio Roxo Júnior

GDH CID-9-MC A CID-9-MC é um sistema de Classificação de Doenças, que se baseia na 9ª Revisão, Modificação Clínica, da Classificação Internacional de

TALASSEMIAS ALFA NA POPULAÇÃO EM DEMANDA DO LABORATÓRIO MONTE AZUL NA CIDADE DE MONTE AZUL-SP

Mudanças hepáticas secundárias ao processo de envelhecimento.

Dia Mundial de Combate ao Câncer: desmistifique os mitos e verdades da doença

ENVELHECIMENTO. Definições do Envelhecimento, Acne e Lesões de conteúdo liquido. Envelhecimento cutâneo. Envelhecimento Intrínseco (fisiológico)

PLANILHA GERAL - BASES BIOLÓGICAS DA PRÁTICA MÉDICA IV 1º Dia Data Hora Professor/GAD Sala Conteúdo Módulo Michele - GAD Anatomia e

PLANILHA GERAL - BASES BIOLÓGICAS DA PRÁTICA MÉDICA IV 1º Dia Data Hora Professor/GAD Sala Conteúdo Módulo Michele - GAD Anatomia e

SARCOIDOSE. Luiz Alberto Bomjardim Pôrto Médico dermatologista

Afinal, o. que é isso

Carbúnculo ou antraz Bacillus anthracis

COLÉGIO SHALOM Trabalho de recuperação 8º Ano ( ) - Ciências - Valor: Profª: Nize G. Chagas Pavinato

Sumário ANEXO I COMUNICADO HERMES PARDINI

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS DE HEPATITE A NOTIFICADOS EM UM ESTADO NORDESTINO

D.P.O.C. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica

Universidade Federal de Pelotas Programa de Pós-Graduação em Veterinária Disciplina de Doenças metabólicas DOENÇAS METABÓLICAS

PUERICULTURA E PEDIATRIA. FAMED 2011 Dra. Denise Marques Mota

ENFERMAGEM SAÚDE DA MULHER. Doenças Sexualmente Transmissíveis Parte 10. Profª. Lívia Bahia

Porfiria cutânea tardia. Estudo evolutivo das características clínicas e laboratoriais: bioquímica, imunofluorescência e microscopia óptica

VITILIGO. Dra Thais Veloso

Hematologia Geral. Anemias Classificação Morfológica das Anemias NORMOCÍTICAS MICROCÍTICAS E E MACROCÍTICAS NORMOCRÔMICAS HIPOCRÔMICAS SIDEROBLÁSTICA

CUIDADOS PRÉ E PÓS PROCEDIMENTOS A LASER EVITAM AGRESSÃO À PELE

ÚV DEFENSE L BEL. Protetor solar FPS 50

PORFÍRIAS: CLASSIFICAÇÃO, FISIOPATOLOGIA, GENÉTICA E DIAGNÓSTICO LABORATORIAL.

TÍTULO: COLESTEATOMA DE CONDUTO AUDITIVO EXTERNO COMO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE PATOLOGIAS DA ORELHA EXTERNA

Sumário ANEXO I COMUNICADO HERMES PARDINI


Vamos encarar juntos o carcinoma basocelular avançado? Bem-vindo ao

Hepatites Crônicas e Tumores Hepáticos

INTERNAÇÃO DOMICILIAR: EXPERIÊNCIA EM UM MUNICÍPIO DE MINAS GERAIS

APLICAÇÕES DA BIOLOGIA MOLECULAR NO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA HEPATITE B. Maio

ENFERMAGEM. Doenças Infecciosas e Parasitárias. Hepatites Aula 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

Componente Curricular: Envelhecimento Cutâneo. Pré-requisito: --- Professor: Iolando Brito Fagundes Titulação: Doutor PLANO DE CURSO EMENTA

ANEXO III ALTERAÇÃO AO RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO E FOLHETO INFORMATIVO

Dermazine. Creme. Sulfadiazina de Prata 1%

RELATO DE CASO Identificação: Motivo da consulta: História da Doença atual: História ocupacional: História patológica pregressa: História familiar:

VEGELIP 3 GEL. Gel vegetal rico em ômegas

Glomerulopatias Secundárias. Glomerulopatias Secundárias. Glomerulopatias Secundárias. Glomerulopatias Secundárias. Glomerulonefrites Bacterianas

Prevenção e Tratamento

Hepatites. Introdução

É a resultante final de várias doenças caracterizadas por inflamação persistente que leva à dilatação irreversível de um

HEPATITE B NA POPULAÇÃO IDOSA BRASILEIRA

Degenerações Celulares. Processos Patológicos Gerais Profa. Adriana Azevedo Prof. Archangelo P. Fernandes ENF/2o sem

b) caso este paciente venha a ser submetido a uma biópsia renal, descreva como deve ser o aspecto encontrado na patologia.

INTRODUÇÃO LESÃO RENAL AGUDA

BENFOTIAMINE. Derivado da Vitamina B1

Cuidados Paliativos em Pediatria

D I S C I P L I N A D E S E M I O L O G I A U N I V E R S I D A D E D E M O G I D A S C R U Z E S FA C U L D A D E D E M E D I C I N A

Tema Sífilis Congênita

CURSO SUPERIOR DE TECNOLÓGIA EM ESTÉTICA E COSMÉTICA Autorizado pela Portaria MEC nº 433 de , DOU de CH Total: T 30h P 30h

Tópico 9 Prevenção e controle de infecções

Programa Nacional para a Prevenção e o Controle das Hepatites Virais

INVESTIGAÇÃO SOROEPIDEMIOLÓGICA SOBRE A LARVA MIGRANS VISCERAL POR TOXOCARA CANIS EM USUÁRIOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE DE GOIÂNIA GO

Abstinência periódica. Métodos tabela de Ojino Knauss (tabelinha ou calendário) método de Billings ou do muco cervical método da temperatura basal

Acidentes Ocupacionais com Material Biológico

Glomerulonefrites Secundárias

Transcrição:

PORFIRIA CUTÂNEA TARDA NO PACIENTE INFECTADO PELO VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA FUNDAÇÃO TÉCNICO-EDUCACIONAL SOUZA MARQUES / FUNDAÇÃO PELE SAUDÁVEL na Carolina Conde Almeida, Daniella de Nascimento Fukumaru, Flavia Dias Colombano, Michella de Almeida, Valcinir Bedin INTRODUÇÃO Porfirias são distúrbios metabólicos raros caracterizados pela biossíntese anormal do complexo heme, a partir de uma deficiência enzimática na produção de precursores de porfirina. A forma mais comum é a Porfiria cutânea tarda (PCT) ou hepática crônica, que ocorre por uma deficiência herdada ou adquirida da uroporfobilinogênio decarboxilase hepática, a quinta enzima na via do heme. Pode-se apresentar de duas maneiras: hereditária(ou tipo II) e adquirida (esporádica ou tipo I). A forma adquirida predomina no gênero masculino, entre os 40 e 50 anos de idade e mais de 70% dos casos estão relacionados ao alcoolismo e à lesão hepática. Outros fatores incriminados são estrogênios, ferro, hidrocarbonetos policlorados, hexaclorobenzeno, hemodiálise, hepatite C e infecção pelo HIV. APRESENTAÇÃO CLÍNICA DO CASO Paciente feminina, 29 anos, infectada pelo vírus da imunodeficiência adquirida há 3 anos apresentando lesões vésico-bolhosas que se iniciaram no dorso das mãos e, depois, em áreas expostas à luz solar, há aproximadamente 3 meses. Além disso, a paciente apresentava fragilidade cutânea aumentada, hiper e hipopigmentação mosqueada, hipertricose não virilizante facial e cabelos finos. As lesões apresentavam aspecto histopatológico característico, além de aumento de uroporfirinas I e III, coproporfirinas urinárias e também de isocoproporfirinas nas fezes. 1

DISCUSSÃO Infeçção por HIV e HCV estão fortemente implicadas na precipitação da PCT tipo I. Clinicamente, os achados cutâneos são similares aos vistos nos casos clássicos. Embora a fisiopatologia dessa associação não seja compreendida, tem sido sugerido que o vírus pode levar a prejuízo da função hepática por ação do próprio vírus ou dos medicamentos associados. O tratamento com flebotomias repetidas é dificultado por razão da anemia coexistente e pelo risco de transmissão do vírus, portanto, doses baixas de antimaláricos (ex: hidroxicloroquina três vezes por semana) deve ser considerado.a hipótese de deficiência de glutationa descrita em pacientes portadores de HIV, nos leva a crer que N-acetil- cisteína pode ter um resultado favorável no tratamento das lesões, porém o modo de ação não foi totalmente explicado. Sugere-se que seu mecanismo seja a diminuição da fotossensibilidade induzida pelo acúmulo de porfirinas pela prevenção da formação de radicais livres ou através do aumento intracelular de glutationa. Álcool, uso de anticoncepcional oral e exposição solar devem ser evitados. Rastreamento para hepatite C deve ser realizado. CONCLUSÃO Apesar de serem raras, as porfirias usualmente estão associadas a outras patologias comuns. O diagnóstico correto e o tratamento precoce melhoram o prognóstico do doente. 2

3

4

5

Clivagem subepidérmica. Bolha com conteúdo plasmático escassamente celular e aspecto festonado. Teto da bolha constituído por epiderme contendo corpúsculos eosinofílicos amorfos e alterações degenerativas discretas e reacionais na camada basal. Derme papilar com fibrose, discreta hialinização. Espessamento de paredes vasculares generalizado por material eosinofílico amorfo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Porphyria cutanea tarda in a human immunodeficiency virus-infected patient: treatment with N- acetil-cysteine(internacional (Journal of Dermatology 37 (9), 718-719 doi: 10.1046/j.1365-4362.1998.00481.x) Vieira, F M J; Martins J E C Porfiria Cutânea Tardia ( An. Bras. Dermatol.v81; n6; Rio de Janeiro; nov./dez.2006). Wolff, K; Goldsmith, LA; Katz SI; Gilchrest BA; Paller AS; Leffell DJ Fitzpatrick s Dermatology in General Medicine Seventh Edition Volume Two pages 1236-1243, 2008. 6