DIAGNÓSTICO CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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Transcrição:

DIAGNÓSTICO CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO FAERJ / SEBRAE Rio de Janeiro 2010

instituições executoras FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E PESCA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Rodolfo Tavares - Presidente SEBRAE-RJ - SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS Rodolfo Tavares - Presidente do Conselho Deliberativo Sérgio Malta - Superintendente Evandro Peçanha - Diretor César Vasquez - Diretor INSTITUiçÕES parceiras SENAR-RIO Maria Cristina Teixeira de Carvalho Tavares - Superintendente REDETEC - Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro Paulo Alcantara Gomes - Presidente do Conselho Diretor Armando Augusto Clemente - Secretário Executivo Paula Gonzaga - Gerente Geral Tereza Trinckquel - Resp. por Projeto MPEs UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - Instituto de Zootecnia Prof. Dr. Nelson Jorge Moraes Matos - Coordenador Técnico OUTROS AUTORES Profª Dra. Elisa Cristina Modesto - UFRRJ Prof. Dr. Luiz Carlos de Oliveira Lima - UFRRJ Dr. Moacyr Fiorillo Bogado - FAERJ Prof. Dr. Pedro Paulo de Oliveira e Silva - UFRRJ Profª Dra. Rosana Colatino Soares Reis - UFRRJ COLABORADORES Curt Pinto Cortes, Fernando Silveira Ferolla, Jorge Luiz Teixeira Palmeira, Marcos Alexandre da Silva, Matheus Resende Oliveira, Mathias Mintelowsky, Plínio Leite Neto, Sandy dos Santos Lima e Tiago Sertã Passos AGRADECIMENTOS ESPECIAIS Agropecuária Alambari e Rancho Seridó DIAGRAMAÇÃO, IMPRESSÃO e acabamento Editora Populis Ltda. (21) 2573-5511 Programação visual Raquel Sacramento REVISÃO Alexandre Rodrigues Alves CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ D526 Diagnóstico da cadeia produtiva da pecuária de corte do Estado do Rio de Janeiro: relatório de pesquisa / [elaboração Nelson Jorge Moraes Matos]. - Rio de Janeiro: FAERJ: SEBRAE-RJ, 2010. il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-87533-11-1 1. Pecuária - Rio de Janeiro (Estado). 2. Bovino de corte - Rio de Janeiro (Estado). 3. Bovino de corte - Aspectos econômicos - Rio de Janeiro (Estado). I. Matos, Nelson Jorge Moraes. II. Federação da Agricultura, Pecuária e Pesca do Estado do Rio de Janeiro. III. SEBRAE/RJ. 10-5847. CDD: 338.176213098153 CDU: 338.439.4:637.5 62(815.3) 11.11.10 23.11.10 022769

DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SUMÁRIO 1 Introdução... 07 2 Panorama da pecuária de corte no mundo... 09 2.1 - Rebanho mundial... 09 2.2 - Principais países produtores de carne bovina... 10 2.3 - Principais países exportadores de carne bovina... 15 3 Panorama da pecuária de corte no Brasil... 17 3.1 - Histórico... 17 3.2 - Distribuição geográfica da pecuária de corte no Brasil... 17 4 Aspectos econômicos da pecuária de corte brasileira... 21 4.1 - Balança comercial da carne brasileira... 21 4.2 - Mercados de carne Halal... 26 4.3 - Mercado de carne Kosher... 28 4.4 - Importações... 28 4.5 - Perspectivas... 28 4.6 - Ciclo da pecuária bovina de corte no Brasil... 29 4.7 - Principais índices da pecuária de corte brasileira... 31 4.7.1 - Taxa de abate... 31 4.7.2 - Consumo per capita de carne bovina... 32 4.7.3 - Custo de produção... 33 5 Sistemas de Produção... 35 5.1 - Fases do sistema de criação... 35 5.2 - Sistemas de acasalamento... 37 5.3 - Grupamentos raciais criados no Brasil... 37 6 Boas práticas na bovinocultura de corte... 39 6.1 - Manejo sanitário... 39 6.2 - Manejo nutricional... 40 6.3 - Índices zootécnicos... 42 6.4 - Cadeia produtiva da carne bovina no Brasil... 48 7 O setor de abate e processamento no Brasil... 51 7.1 - Histórico... 51 8 Inspeção sanitária da cadeia da carne bovina no Brasil... 57 9 Evolução e distribuição espacial do abate no Brasil... 63 10 Pesos e rendimentos médios da carcaça e dos subprodutos de bovinos... 65 10.1 - Padronização dos cortes da carne bovina... 67 10.2 - Subdivisão da meia carcaça em grandes peças e cortes... 68 11 Rastreabilidade... 75 12 Universo da pesquisa e técnicas utilizadas... 77 13 Diagnóstico da bovinocultura de corte no Estado do Rio de Janeiro... 79 14 Perfil do Produtor... 89 15 Administração da empresa rural... 97 16 Assistência técnica e capacitação tecnológica... 103 17 Participação em instituições representativas dos produtores... 107 18 Índices de manejo e tecnológico... 111 19 Avaliação do pesquisador... 133 20 Abate e Processamento... 135 21 Considerações sobre a atividade de abate de bovinos... 143 21.1 - Concentração do setor... 144 22 Propostas para o desenvolvimento da pecuária de corte no Estado do Rio de Janeiro... 149 23 Legislação... 151 24 Glossário... 153 25 Bibliografia consultada... 157 3

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DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Apresentação Este é o primeiro Diagnóstico da Bovinocultura de Corte do Estado do Rio de Janeiro. Devemos o feito ao apoio do Conselho Deliberativo do Sebrae-RJ e ao Sistema Faerj/Senar-Rio, a Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro, a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, bem como aos técnicos e colaboradores destas instituições. Aqui, pesquisadores, produtores rurais, técnicos e estudiosos, terão à disposição um conjunto de informações da atividade, vista do mundo para o estado. A bovinocultura é o ramo mais importante do agronegócio fluminense e, portanto, deverá continuar a merecer grande atenção no planejamento estratégico do setor para os próximos anos. Dedicamos o Diagnóstico ao maior líder rural da história do Brasil: Antônio Ernesto de Salvo (1933/2007) - lá da currutela de Curvelo, encravada nas montanhas das Minas Gerais, que tanto amou. Presidente eterno da CNA-Brasil, exemplo de ética, competência e sabedoria, valorizou todos os líderes rurais e colocou nossa entidade maior na dianteira do progresso das últimas décadas. Sem a sua heróica esposa D. Jane e seus filhos, ele não teria conseguido manter suas outras duas paixões, o guzerá e a CNA. Vamos continuar lutando por nossos ideais. É o mínimo que devemos ao Produtor Rural Fluminense. Rodolfo Tavares Presidente 5

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DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 1 Introdução De acordo com dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, no mundo, o agronegócio representa a geração de US$ 6,5 trilhões por ano. No Brasil, a participação do agronegócio representa 26% do PIB, com valores próximos a R$ 350 bilhões. A bovinocultura de corte representa a maior fatia do agronegócio brasileiro, gerando faturamento de mais de R$ 50 bilhões/ano e oferecendo cerca de 7,5 milhões de empregos. Com o valor do comércio global de carne bovina estimado em US$ 33 bilhões e com o crescimento das exportações brasileiras, as possibilidades abertas em mercados usualmente não atendidos pelo Brasil mostram-se apropriadas à realização de estudos mais amplos e ao levantamento das informações disponíveis sobre a cadeia de carne bovina no Brasil e sua inserção no mercado mundial (MAPA, 2006). Este estudo tem por objetivo realizar, utilizando linguagem de fácil compreensão ao público leigo, um diagnóstico da cadeia produtiva da pecuária de corte no Estado do Rio de Janeiro, identificando as características principais da cadeia produtiva da bovinocultura de corte no Estado e as limitações e barreiras observadas no setor, estimular a mobilização dos agentes da cadeia com visão de futuro, aumentar a competitividade e apresentar informações que possam subsidiar tomadas de decisões quanto ao desenvolvimento de políticas públicas em nível federal, estadual e municipal. 7

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DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 2 Panorama da Pecuária de Corte no Mundo 2.1 Rebanho Mundial A taxa de crescimento do rebanho bovino mundial nos últimos cinco anos foi da ordem de 4,2%. De acordo com estudos divulgados pela FAO (Food and Agriculture Organization) em 2008, 69,7% deste rebanho estão concentrados em quatro países e na União Européia: na Índia, com aproximadamente 282 milhões de cabeças, Brasil, com o segundo maior rebanho mundial, com aproximadamente 190 milhões de cabeças, seguidos por China, com 140 milhões, EUA com 96,9 milhões, e União Européia, com 87,8 milhões de cabeças. Dentre os maiores produtores, somente o Brasil e a China aumentaram os seus rebanhos neste período. A Tabela 1 apresenta a distribuição dos rebanhos bovinos no mundo no período de 2004 a 2008. Tabela 1 Evolução do rebanho bovino no mundo de 2004 a 2008. Fonte: FAO, 2009. 9

2.2 Principais países produtores de carne bovína A produção mundial de carne bovina no período de 2004 a 2008 apresentou crescimento da ordem de 6,6%, passando de uma produção de 56.888 milhões de toneladas de equivalente carcaça em 2004 para uma produção de 60.906 milhões de toneladas de equivalente carcaça em 2008. Destacam-se como maiores produtores os Estados Unidos da América do Norte, com produção de 12,17 milhões de equivalente carcaça, seguido do Brasil, com 9,2 milhões de toneladas de equivalente carcaça, União Européia e China com 8,12 e 7,30 milhões de equivalentes carcaças, respectivamente. A Tabela 2 apresenta a evolução da produção de carne de bovinos no mundo no período de 2004 a 2008. Tabela 2 Produção mundial de carne bovina (em mil toneladas equivalente carcaça). Equivalente carcaça = venda de carne com osso (carcaça). Fonte: CNA, 2008. 10

DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO A demanda mundial por carnes no mundo crescerá graças ao aumento da população, urbanização e aumento da renda per capita. Segundo um relatório divulgado pela ONU (Organização das Nações Unidas), a taxa média de crescimento da população mundial é estimada em 1,1% ao ano. A população mundial chegará a mais de 9,2 bilhões de habitantes em 2050. De acordo com a pesquisa, o mundo terá um aumento de 2,5 bilhões de habitantes nos próximos 40 anos, passando dos 6,7 bilhões a 9,2 bilhões em 2050. Segundo o informe, esse aumento será absorvido, em sua maioria, pelos países em desenvolvimento. Sozinhos, esses países devem passar de 5,4 bilhões de habitantes em 2009 para 7,9 bilhões de habitantes em 2050. Em contraste com o crescimento nos países em desenvolvimento, a população das regiões desenvolvidas deve sofrer poucas alterações no período estudado, com uma média de 1,2 bilhão de habitantes. Para o Brasil, é estimada uma taxa de crescimento na ordem de 1% ao ano. Em 2010, a população urbana mundial, estimada em 3,3 bilhões de pessoas, ultrapassará a população rural, indicando que haverá mais pessoas vivendo em cidades e menos no campo. As Figuras 1 e 2 representam as projeções realizadas pela ONU acerca da taxa de crescimento e evolução da população rural e urbana no mundo no período de 2005 a 2050. Figura 1 Estimativa de crescimento populacional no período de 2005 a 2050. Fonte: Souza, 2009. 11

Figura 2 Projeção da população rural e urbana no mundo. Fonte: ONU, In: ABIEC, 2008. O consumo de carne tenderá a aumentar onde isso mais ocorrer. Dessa maneira, pode-se esperar crescimento de consumo em países emergentes, em crescimento e com aumento do percentual da população que vive nas cidades. Figura 3 Projeção da taxa de crescimento da renda per capita. *Renda per capita - Valor em dólar que cada habitante receberia caso o PIB (Produto Interno Bruto**), fosse dividido igualmente por toda a população. **Produto Interno Bruto - indicador econômico que representa a soma dos valores de todos os bens produzidos por um país em determinado período. Fonte: FAO, 2006, In: ABIEC, 2008. 12

DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO As projeções apontam para o crescimento da renda per capita principalmente nos países em desenvolvimento, o que certamente influenciará no consumo de carne. Relatório do USDA (2005) apresenta estimativas de crescimento do PIB das principais regiões para o período 2006-2014; neste período os países em desenvolvimento terão crescimento econômico de 5,1% ao ano. A Figura 4 apresenta uma estimativa do consumo per capita de carne de bovino em diferentes regiões. O país que melhor representa as mudanças causadas por essas grandes tendências é a China, que consome hoje 24% de toda carne (suínos, aves e bovina) produzidas no mundo; é o país onde o consumo mais vai aumentar em volume absoluto até 2015. O consumo de carne bovina no mundo registrou aumento, no período de 2000 a 2008, de 1,7% ao ano, passando de um consumo de 53 mil toneladas de equivalente carcaça para aproximadamente 60 mil toneladas. O crescimento observado foi Figura 4 Projeção do consumo per capita de carnes em diferentes regiões. Fonte: FAO, 2006, In: ABIEC, 2008. 13

fortemente influenciado pelo aumento de consumo nos países em desenvolvimento: 3,1% ao ano, contra 0,5% ao ano observado nos países desenvolvidos. No ano de 2008, os principais mercados consumidores de carne bovina foram os EUA, com a absorção de 22% da produção mundial, a União Européia, com 14%, seguidos da China e Brasil, com 13 e 12% respectivamente. Estes países foram responsáveis pelo consumo de 61% da carne produzida. A Figura 5 apresenta, em valores percentuais, os principais países consumidores de carne bovina em 2008. Estudos publicados pela FAO, em 2009, com projeção da produção de carne bovina até 2050 apresentados na Figura 4 mostram que os países em desenvolvimento deverão produzir cerca de 70% da produção mundial. O aumento da demanda interna, a limitação de oferta, custo de produção maior do que outros países exportadores, redução no rebanho levarão principalmente a União Européia, a Rússia e os Estados Unidos da América do Norte a aumentar suas importações de carne bovina nos próximos anos. Figura 5 Consumo mundial de carne bovina em 2008. Fonte: OLIVEIRA, 2009. 14

DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Figura 6 Produção mundial de carne de acordo com o estágio de desenvolvimento. Fonte: FAO, 2009. Os dois grandes aumentos da produção de carne bovina para os próximos 10 anos devem vir da China e do Brasil. Contudo, a produção chinesa será quase toda voltada para o mercado interno. 2.3 Principais países exportadores de carne bovina No mundo, a comercialização de carne bovina é realizada em atendimento aos mercados do Pacífico e aos do Atlântico. No mercado do Pacífico, os principais produtores são Austrália, com 18% das exportações mundiais, Nova Zelândia, com 7% e Estados Unidos, com 11%, e os grandes importadores são o Japão e a Coreia do Sul. Os Estados Unidos, além de serem grandes produtores, sempre foram grandes importadores, principalmente da carne proveniente do Canadá, da Austrália e da Nova Zelândia. No lado do Atlântico, dos países do MERCOSUL, o Brasil é o maior exportador mundial, respondendo por 24% da produção mundial; Argentina, Uruguai e Brasil são os principais fornecedores da Comunidade Europeia. (IICA: MAPA/SPA, 2007). Na Figura 7 são apresentados os valores percentuais da quantidade exportada pelos principais países produtores de carne bovina. 15

Figura 7 Principais países exportadores de carne bovina em 2009 (valores em percentagem da quantidade). Fonte: Adaptado de Minerva Alimentos, 2009. 16

DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 3 Panorama da Pecuária de Corte no Brasil 3.1 Histórico A pecuária foi trazida para o Brasil pelos portugueses no século XVI, através da introdução de gado crioulo da Península Ibérica. Esta introdução foi realizada onde hoje se localiza o Estado da Bahia. Já no século XVII, outros animais teriam chegado à capitania de São Vicente. Posteriormente, no início do século XX, foram importados animais zebuínos da Índia, principalmente da raça nelore, que, por suas características adaptativas ao clima tropical, dominaram o setor de pecuária de corte do país. Ainda no século XX, após as duas grandes guerras mundiais, muitos programas de incentivos, inclusive financeiros, foram criados para levar o gado zebuíno e a braquiária, numa expansão que se deu nas regiões Norte e Centro-Oeste do país, denominadas zonas de expansão da fronteira agropecuária. A bovinocultura nacional possui relevância socioeconômica para o Brasil. Além de movimentar a indústria e a distribuição de uma gama variada de insumos que utiliza no segmento produtivo, a cadeia da pecuária bovina, incluindo produção, abate, transformação, transporte e comercialização de produtos e subprodutos fornecidos pela exploração do rebanho, movimenta um grande número de agentes e de estruturas, da fazenda à indústria e ao comércio, gerando renda e criando empregos em seus diversos segmentos (CORRÊA, 2000, in PORTA GRÜNDLING, et al. 2009). 3.2 Distribuição geográfica da pecuária de corte no Brasil O Brasil possui o maior rebanho bovino comercial do mundo. Estimados, em 2009, em 207 milhões de cabeças, as características do rebanho são de aproximadamente 75% para corte, 20% leiteiro e o restante com dupla aptidão. A criação de gado de corte, desde o período colonial brasileiro, tem ocupado áreas da chamada fronteira agrícola, onde pouca ou nenhuma tecnologia é adotada. Assim, criou-se a ideia de que gado de corte deve ser criado de forma extensiva e sem nenhum investimento em equipamentos e insumos. Em termos de localização geográfica, conforme apresentado na Figura 8, a produção pecuária encontra-se distribuída por todas as regiões, com predominância para o Centro-Oeste, com 34,8% do rebanho, seguido da região Norte, com 20%, da região Sudeste, com 18,8%, da região Sul, com 13,4%, e da região Nordeste, com13%. 17

Figura 8 Distribuição da pecuária de corte por região no Brasil. Fonte: IBGE, 2009. A bovinocultura de corte se distribui em todos os estados da federação. Nos últimos anos, na região Norte o destaque é para expansão da pecuária de corte nos estados do Pará, com 18,1 milhões de cabeças, e o estado de Rondônia, com 11,3 milhões, que representam 71% do rebanho da região. Na região Nordeste, nos últimos anos ocorreu uma estabilização no rebanho, e a Bahia é o estado que apresenta o maior rebanho da região, com 10,5 milhões de cabeças, seguido do Maranhão, com 6,4 milhões, concentrando nestes dois estados 62,6% do rebanho da região. Na região Sudeste, 89,5% do rebanho se concentram nos Estados de Minas Gerais e São Paulo com 21,4 milhões de cabeças e 13,4 milhões de cabeças, respectivamente. Na região Sul, 87,8% do rebanho se localizam no Estado do Rio Grande do Sul, com 14,2 milhões de cabeças, e no Estado do Paraná, com 10,2 milhões de cabeças. Na região Centro-Oeste, o rebanho do Distrito Federal é de 100.000 cabeças. Os demais estados destacam-se por concentrar o maior rebanho de bovinos do País: Mato Grosso, com 26,7 milhões de cabeças, seguido do Mato Grosso do Sul, com 24,5 milhões de cabeças, que é o segundo estado com maior concentração nacional de bovinos, e Goiás cujo rebanho ocupa a quarta colocação nacional, com um rebanho de 20,7 milhões de cabeças. Na Tabela 3 pode ser observado, com dados atualizados, como se comportam os números dos rebanhos por estado, ou seja, a importância de cada estado na atividade pecuária nacional. 18

DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Tabela 3 Distribuição do rebanho bovino por região e unidade da federação (em milhões de cabeças). Fonte: IBGE, 2007. Com base no levantamento sistemático e contínuo dos preços das terras brasileiras, empreendido pelo Instituto FNP (IFNP), de março de 2002 a fevereiro de 2008 a valorização média das terras no Brasil chegou a 131%, valores muito acima da inflação do período (53,16%). As áreas apontadas com maior crescimento em investimento na pecuária de corte estão localizadas em regiões onde o custo da terra comparado com outras regiões é relativamente mais barato. O aumento da atividade pecuária nessas regiões pode ser interpretado como efeito indireto da expulsão da atividade em outras regiões. De acordo com dados publicados pelo IBGE, em 2008, no Brasil são ocupados com pastagens e campos naturais aproximadamente 172 milhões de ha, equivalentes a 20,2% do território. O mesmo estudo mostra ainda que existe para ser utilizada em atividades agropecuárias área equivalente a 106 milhões de ha, equivalentes a 12,5%. A Figura 9 apresenta uma estimativa das áreas ocupadas no Brasil com diferentes atividades e disponíveis para uso na agropecuária, de acordo com dados do IBGE e MAPA. 19

Figura 9 Distribuição territorial e utilização das terras no Brasil. Fonte: CNA, 2009. De acordo com dados publicados pelo IBGE, em 2009, a maior parte do rebanho brasileiro (38,74%) situa-se em áreas entre 100 e 1.000 ha, categoria em que se encontram apenas 9,35% dos estabelecimentos nacionais. Em seguida, destacam-se áreas maiores de 1.000 ha, que englobam 27,19% do rebanho nacional, distribuídos em apenas 0,94% dos estabelecimentos. Em áreas entre 10 e 100 ha, dispõem-se 24% do rebanho, sendo 34,06% dos estabelecimentos responsáveis por esse rebanho. Por último, estão os estabelecimentos com menos de 10 ha, que representam somente 8,25% do rebanho e 43,96% dos estabelecimentos. Dessa forma, verifica-se que, apesar de a maior parte dos estabelecimentos encontrarse em áreas com menos de 100 ha, a maior parte do rebanho bovino encontra-se em poucas e maiores propriedades. 20

DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 4 Aspectos Econômicos da Pecuária de Corte Brasileira 4.1 Balança Comercial da Carne Brasileira O principal mercado da indústria de carne bovina é o interno, que absorve cerca de 80% da produção nacional. A participação do Brasil na comercialização de carne bovina no mercado mundial não é um fenômeno de curto prazo; desde 2005, o Brasil ocupa a posição de maior exportador de carne bovina do mundo. Vários são os fatores que contribuíram para o aumento das exportações brasileiras; dentre eles se destacam o baixo custo de produção no Brasil, comparado a outros países exportadores, aumento das exportações para países tradicionalmente compradores de carne dos Estados Unidos, postura mais agressiva na conquista a novos mercados em razão das restrições à carne dos países concorrentes em função da doença da Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE) também conhecida como doença da vaca louca. Em 2009, o Brasil produziu em torno de 9,18 milhões de toneladas de equivalente carcaça de carne bovina, das quais aproximadamente 80% foram destinados ao mercado doméstico e 20% à exportação, com 75% do volume nas formas in natura, 13,5% na forma industrializada, 6% de miúdos, 5% de tripas e 0,2% salgadas. A Figura 10 apresenta as percentagens referentes à exportação de diferentes tipos de cortes realizada pelo Brasil em 2009. Figura 10 Participação dos tipos de corte nas exportações de carne bovina em 2009. Fonte: ABIEC, 2010. 21

Embora o Brasil seja o primeiro em volume exportado, 75% do volume exportado é de carne fresca ou congelada, com menor valor agregado. A Tabela 4 apresenta o preço médio em dólares de comercialização da carne bovina brasileira em 2009, de acordo com o processamento. Tabela 4 Preço médio de comercialização de acordo com o processamento em 2009. Fonte: Adaptado de ABIEC, 2010. A exportação de carne bovina brasileira é realizada de maneira pulverizada para mais de 150 países. No ano de 2009, as exportações de carnes e derivados alcançaram volume de aproximadamente 1,25 milhão de toneladas, correspondendo a valores na ordem de US$ 4,12 bilhões. As Tabelas 5 e 6 apresentam os dados de volume em quilograma e valores em dólares das exportações de carne e derivados para diferentes regiões do mundo e os diferentes tipos de carnes e derivados exportados pelo Brasil em 2009, em que 68% do volume exportado foi na forma de carne congelada e desossada. 22

DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Tabela 5 Destinos das exportações de carnes e derivados (janeiro/2009 a dezembro/2009). Fonte: ABRAFRIGO, 2010. Para a América do Sul, as exportações foram da ordem de 4,2% do volume total exportado, sendo 76% deste volume absorvido pela Venezuela. O volume comercializado para a América do Norte foi da ordem de 3,8%, sendo que 92% do volume comercializado naquele continente foram direcionados aos EUA na modalidade de carne industrializada. O continente africano foi responsável pela aquisição de 15% do volume total exportado de carnes e derivados, onde a Argélia foi o destaque, com importações em volume equivalente a 57% do total enviados àquele continente. Na Europa Ocidental, as exportações equivaleram a 11,6% do total, volume pulverizado por vários países. Para os países do Leste Europeu, o volume exportado foi equivalente a 27,4% do volume total, sendo 97,8% deste volume comercializados com a Rússia, que permanece como maior comprador de carne in natura do Brasil. 23

Para a Oceania, o Brasil exporta um volume muito pequeno, 0,1% do total, pulverizado pelos países daquele continente. Para o continente asiático, o volume das exportações de carnes e derivados foi de 36,9%, com 45% deste volume comercializados no leste da Ásia com Hong Kong; no Oriente Médio, os maiores volumes exportados foram para o Irã, com 7,1%, e o Egito com 6,5%. Tabela 6 Exportação brasileira de carnes e derivados de bovinos (janeiro/2009 a dezembro/2009). Fonte: ABRAFRIGO, 2010. 24

DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO As Figuras 11, 12 e 13 apresentam um panorama, em 2009, dos principais países importadores, de carne bovina in natura, industrializada e de miúdos, tripas e salgados exportados pelo Brasil. Os países que compõem a União Européia, quando considerados conjuntamente, representam o maior destino das exportações brasileiras de carne bovina. Vale ainda destacar o papel da Rússia, do Egito e de Hong Kong nas importações do produto brasileiro. Esses destinos têm aumentado sistematicamente o consumo do produto nacional. Figura 11 Importadores de carne industrializada do Brasil em 2009. Fonte: ABIEC, 2010. Figura 12 Principais importadores de carne in natura fresca ou congelada do Brasil em 2009. Fonte: ABIEC, 2010. 25

Figura 13 Principais importadores de miúdos, tripas frescas e salgadas do Brasil, em 2009. Fonte: ABIEC, 2010. 4.2 Mercado de Carne Halal De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), esse mercado é composto, potencialmente, por cerca de 1,5 bilhão de muçulmanos que existem no mundo. O crescimento das importações de carne brasileira pelo Egito, Irã, Argélia e Indonésia, atesta esse potencial. A Figura 14 apresenta a localização geográfica dos principais países importadores de carne Halal e potenciais mercados formados por países onde mais de 50% da população é muçulmana. Figura 14 Segundo o Alcorão, livro sagrado da religião islâmica, o alimento é considerado Halal (permitido para consumo) quando obtido de acordo com os preceitos e as normas ditadas pelo Alcorão Sagrado e pela Jurisprudência Islâmica. Esses alimentos não podem conter ingredientes proibidos, tampouco parte deles. De acordo com as exigências das embaixadas dos países islâmicos, o abate Halal deve ser realizado em separado do não-halal, sendo executado por um mulçumano mentalmente sadio, conhecedor dos fundamentos do abate de animais no Islã. As normas básicas a serem seguidas para o abate Halal, de acordo com a ABIEC, são: Serão abatidos somente animais saudáveis, aprovados pelas autoridades sanitárias e que estejam em perfeitas condições físicas; 26

DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO A frase Em nome de Alá, o mais bondoso, o mais misericordioso deve ser dita antes do abate; Os equipamentos e utensílios utilizados devem ser próprios para o abate Halal. A faca utilizada deve ser bem afiada, para permitir uma sangria única que minimize o sofrimento do animal; O corte deve atingir a traquéia, o esôfago, artérias e a veia jugular, para que todo o sangue do animal seja escoado e o animal morra sem sofrimento; Inspetores mulçumanos acompanharão todo o abate, uma vez que eles são os responsáveis pela verificação dos procedimentos determinados pela Sharia. É importante ressaltar que o abate e processamento Halal vislumbra produzir produtos seguros e que tragam benefícios à saúde de quem os consome. Portanto, higiene e sanidade são requisitos imprescindíveis para os operadores e suas vestimentas, equipamentos e utensílios empregados no processo, evitando assim as contaminações por substâncias não-halal. Por esta razão, todo o preparo, processamento, acondicionamento, armazenamento e transporte devem ser exclusivos para os produtos Halal, que obrigatoriamente são certificados e rotulados conforme a lei da Sharia. Figura 14 Principais países importadores de carne Halal e potenciais mercados. Fonte: MORATA, 2008. 27

O rótulo deve conter o nome do produto, número do SIF, nome e endereço do fabricante, do importador e do distribuidor, marca de fábrica, ingredientes, código numérico identificador de data, carimbo ou etiqueta para identificação Halal e país de origem. No caso de produtos de carne primária, também devem constar a data do abate, da fabricação e do processamento. 4.3 Mercado de Carne Kosher É a definição dada aos alimentos preparados de acordo com as Leis Judaicas de alimentação. A Torá exige que bovinos sejam abatidos de acordo com essas leis, num ritual chamado Shechita. Apenas uma pessoa treinada, denominada Shochet, é apta a realizar esse ritual. Antes do Shechita é realizada uma oração especial chamada Beracha. O objetivo desse ritual é fazer a degola do animal ainda vivo e assim provocar uma morte instantânea, sem dor. É utilizada uma faca especial bem afiada. O corte deve atingir a traquéia, o esôfago e as principais veias e artérias do pescoço. Deve haver intensa sangria do animal. Em 2009, esse mercado representou vendas do Brasil para o Estado de Israel no valor de 91,3 milhões de dólares (ABIEC, 2010). 4.4 Importações As importações brasileiras totais de carne bovina e outros animais vêm se reduzindo acentuadamente a cada ano. As principais importações são oriundas do Uruguai, Paraguai e Argentina, mas o volume total importado ao longo dos últimos anos tem sido inexpressivos; em 2009 os valores foram de 1% em relação às exportações brasileiras. 4.5 Perspectivas De acordo com Projeções do Agronegócio - Brasil - 2008/09 a 2018/19, realizadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, haverá expressiva mudança de posição do Brasil no mercado mundial. A relação entre exportações brasileiras e o comércio mundial mostra que, em 2018/19, as exportações de carne bovina brasileira representarão 60,6% do comércio mundial de carne bovina. Apesar de o Brasil apresentar nos próximos anos forte potencial de aumento das exportações, o mercado interno terá forte fator de crescimento do consumo de alimentos provocado pelo crescimento populacional e do aumento de renda. Este cenário aponta para outra expectativa importante para o setor, que será a contínua evolução do modelo produtivo e do uso intenso de novas tecnologias. Nos rebanhos comerciais o desempenho econômico das propriedades, ou seja, maior produção carne/ha/ano está diretamente relacionado com medidas a serem tomadas dentro da porteira, como aumento da capacidade de suporte das pastagens, aumento do peso a desmama e o ganho de peso no período das águas e da seca, aumento da eficiência reprodutiva, intensificação do controle sanitário, em particular da febre aftosa e adoção da rastreabilidade no rebanho. 28

DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 4.6 Ciclo da pecuária bovina de corte no Brasil A pecuária de corte no Brasil possui um ciclo econômico com duração entre três e cinco anos, também referenciado como ciclo do boi, que se inicia com um período de abundância de matrizes, alta produção de bezerros e, como consequência, alta produção de carne. Com o aumento na oferta de bezerros, o preço deste diminui e passa a ser mais lógico economicamente abater a matriz do que produzir mais bezerros. Com o aumento no abate de vacas, a quantidade de bezerros diminui e seu preço aumenta, voltando a ser mais viável a retenção de fêmeas para refazer os rebanhos. O último ciclo da pecuária de corte brasileira teve seu início em 2003, quando a baixa rentabilidade do setor levou os pecuaristas a aumentar o abate de matrizes. De acordo com o comportamento do preço da arroba e a oferta de boi gordo ao mercado, é estimado que esse ciclo tenha se encerrado no final do ano de 2007. Especialistas no mercado estimam que a reversão desse ciclo seja mais visível a partir de 2010, com o aumento de boi gordo ao mercado. As Figuras 15, 16 e 17 apresentam as variações anuais dos abates de boi e vacas de 1998 a 2008, a evolução na produção de bezerros no mesmo período e a variação no preço da arroba do boi durante o período de 2006 a 2009, de acordo com Minerva Alimentos, 2009. Figura 15 Variações anuais dos abates de bois e vacas. Fonte: Minerva Alimentos, 2009. 29

Figura 16 Evolução da produção de bezerros. Fonte: Minerva Alimentos, 2009. Figura 17 Variação no preço da arroba dos bovinos. Fonte: Minerva Alimentos, 2009. 30

DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 4.7 Principais índices da pecuária de corte brasileira 4.7.1 - Taxa de abate Por definição, é um valor em percentual que representa número de animais abatidos por ano em relação ao número total de animais no rebanho. A taxa de abate brasileira é baixa, em razão da idade tardia dos animais em condições de abate, quando comparada com os demais países produtores e exportadores de carne. Essa variação nas taxas é uma consequência da diferença do nível tecnológico na criação de bovinos para corte adotado nos diferentes países. A Tabela 7 apresenta a taxa de abate de alguns países produtores e exportadores de carne. Tabela 7 Taxa de abate de bovinos em 2009 em países exportadores de carne bovina. Fonte: ABIEC, 2010. 31

4.7.2 - Consumo per capita de carne bovina A Argentina e o Uruguai são os países que apresentam maior consumo per capita de carne bovina, com valores de 70 e 53 kg/habitante/ano, respectivamente. O consumo no Canadá e na Austrália tem permanecido estável nos últimos anos, com valores médios de 45 kg/habitante/ano. No mercado brasileiro, o consumo ficou em 37,4 quilos no ano de 2009. A Figura 18 apresenta o comportamento do consumo de carne bovina por habitante no período de 2003 a 2009. Figura 18 Consumo per capita de carne bovina. Fonte: ABIEC, 2010. 32

DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 4.7.3 - Custo de produção Entende-se por custo de produção a soma dos valores de todos os recursos (insumos) e operações (serviços) utilizados no processo produtivo de uma atividade agrícola (COELHO et al, 2008). Como medida para aumentar a margem de lucro na pecuária, pode-se contar com o aumento na produtividade ou redução dos custos. Para ambos os casos é preciso que se tenha o valor de quanto custa produzir o quilo de carne na propriedade e, com base nesse dado, através de simulações e comparações, definir estratégias que nos próximos anos venham aumentar a rentabilidade da sua atividade (COELHO et al, 2008). A Figura 19 apresenta os principais componentes que representam o custo para a produção do boi gordo no Brasil. Na média nacional, os custos com mão de obra representam 22% dos custos de produção. Os custos da alimentação, incluindo os preços do sal mineral e pastagens, representam 41% do custo total de produção. Figura 19 Custo de produção do boi gordo (insumos do boi gordo). Fonte: CEPEA, 2010. 33

A Tabela 8 apresenta uma síntese dos custos de produção dos principais países exportadores de carne; Austrália e EUA apresentam custos de produção de 80 a 90% maiores em relação aos obtidos no Brasil. Isto se deve principalmente aos elevados custos da alimentação, naqueles países, onde predominam dietas ricas em grãos. Tabela 8 Custo de produção de carne bovina em diferentes países produtores. Fonte: Vários autores. 34

DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 5 Sistema de Produção No Brasil, os sistemas de produção podem ser classificados como: Pecuária extensiva: é caracterizada pela criação dos bovinos exclusivamente a pasto de gramíneas nativas, principalmente dos gêneros Brachiaria e Panicum, sem suplementação alimentar; em geral, apenas é fornecido periodicamente sal mineral. Nas propriedades que adotam este sistema, os animais ocupam grandes áreas e são poucos eficientes, tanto produtiva, quanto economicamente, com taxa de desfrute muito baixa. Este sistema é o que predomina na maioria dos estados brasileiros. Sistema semi-intensivo: é praticado em propriedades de menor extensão de terra. Este sistema exige a formação de pastagens de forrageiras melhoradas, suplementação mineral constante no cocho, escrituração zootécnica, separação do rebanho de acordo com o sexo, idade e finalidade, adoção de medidas sanitárias adequadas, alimentação suplementar durante o período de estacionalidade da produção de forragens. Este sistema têm sido adotado pela maioria dos produtores que trabalham com melhoramento genético e têm como atividade a produção de matrizes e reprodutores. Contudo, este sistema também é adotado em propriedades que têm como objetivo a produção de animais precoces para o abate. Sistema intensivo ou confinamento: é o sistema onde os animais destinados ao abate são criados durante um período de 90 a 120 dias em lotes, em piquetes ou currais com área restrita recebendo nesse local os alimentos e água. No Brasil, essa prática é realizada durante o período da seca, período da entressafra de animais para o abate. De acordo, com Associação Nacional dos Confinadores (ASSOCON), a quantidade de animais confinados em 2009 foi semelhante à de 2008, estimada em 2,7 milhões de cabeças, com destaque para os Estados de Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Minas Gerais. 5.1 Fases do sistema de criação A pecuária de corte no Brasil é caracterizada por três fases: Cria: é marcada pela propriedade que produz animais até a desmama; nestas propriedades, após a desmama, que ocorre de seis a sete meses, os animais são comercializados. O objetivo maior de quem se dedica à cria de bovinos deve ser investir recursos financeiros suficientes para aplicar tecnologias que garantam o desmame de um bezerro pesado e saudável, de cada vaca do rebanho por ano. 35

Recria: esta fase é caracterizada por propriedades que adquirem animais desmamados e permanecem com eles criados a pasto com ou sem suplementação até que alcancem o peso próximo a 12 arrobas, quando são comercializados. Terminação ou engorda: são propriedades que têm como atividade a aquisição de animais com peso próximo a 12 arrobas e que a pasto ou confinados são mantidos até que alcancem peso próximo a 16 arrobas. A terminação de bovinos no Brasil é realizada quase que exclusivamente a pasto, sendo que 95% dos animais destinados ao abate anualmente são terminados desta forma. No Brasil, a distribuição das propriedades de acordo com a fase do sistema de exploração adotado é mostrada na Figura 20; 24% das propriedades realizam a fase de cria, 21% cria e recria e 18% o ciclo completo (cria, recria e engorda). Figura 20 Estrutura de produção de acordo com a fase de exploração. Fonte: CORREA, 2009. 36

DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 5.2 Sistemas de acasalamento Os principais sistemas de acasalamento são: a monta a campo, a monta controlada ou dirigida e a inseminação artificial. O sistema de acasalamento mais empregado na pecuária de corte extensiva é a monta em campo. Nesse regime de acasalamento, os touros permanecem junto ao rebanho de fêmeas na relação de um touro para 25 vacas. Na monta controlada, o touro é mantido separado das vacas; quando uma fêmea é detectada em cio ela é trazida para junto do touro, onde permanece até a cobrição. Com relação à inseminação artificial, de acordo com dados da Embrapa (Centro Nacional de Pecuária de Gado de Corte- CNPGC) somente de 3% a 5% do rebanho bovino de corte utilizam a inseminação artificial. Uma das grandes limitações à sua expansão, está relacionada com o sistema extensivo de exploração da pecuária de corte brasileira. 5.3 Grupamentos raciais criados no Brasil As raças bovinas de interesse para produção de carne, no Brasil, podem ser classificadas do seguinte modo: raças Europeias da subespécie Bos taurus taurus e raças indianas da subespécie Bos taurus indicus. O rebanho de corte brasileiro tem como predominância a utilização de raças originárias da Índia, do gênero Bos indicus (zebu) e originárias da Europa, do gênero Bos taurus (taurinos) e seus cruzamentos. Raças zebuíno-originárias na Índia Representam cerca de 80% dos bovinos criados, têm como característica a rusticidade, destacando-se a adaptação ao calor, umidade e radiação solar dos trópicos, às grandes variações na disponibilidade de alimentos e alta resistência à endo e ectoparasitas. Dentre as representantes deste grupo destacam-se as raças, Nelore, Gir, Guzerá e Sindi. As raças formadas no Brasil são a Indubrasil resultantes do cruzamento entre raças Guzerá e Nelore, e a Tabapuã, como resultado da fusão de animais Mocho nacional com Guzerá e Nelore. Nos EUA, a raça Brahmam, foi formada a partir do cruzamento de animais das raças Gir, Nelore e Guzerá. Raças taurinas São raças de origem do continente europeu, podendo, de acordo com a origem ser subdividas em dois ramos: Taurinos europeus britânicos de Origem Insular Originárias das Ilhas Britânicas, sendo a finalidade principal dessas raças, por muitos séculos, produzir carne para o consumo humano. Estas raças foram selecionadas para velocidade de crescimento, precocidade sexual, fertilidade e qualidade de carne, resultando em raças de tamanho 37

intermediário. No Brasil, as mais criadas são: Aberdeen Angus, Red Angus e Hereford, Devon, Red Poll e Shortorn. Taurinos Europeus de Origem Continental As raças deste ramo foram selecionadas originalmente para tração na Europa Continental. Essa seleção com menor ênfase em outras características de produção provocou o aumento da massa muscular e do peso adulto. As raças continentais são conhecidas pelo elevado peso ao nascimento, grande potencial de crescimento (ganho de peso), alto rendimento de carcaça com menor porcentagem de gordura. As principais raças criadas no Brasil são: De origem francesa: Limousin, Charolês e Blonde d Aquitaine; De origem suíça: Simental e Pardo- 3.4 Capacitação da mão de obra Suíço; De origem italiana: Marchigiana, Piemontês e Chianina. Taurinos Tropicais Adaptados As raças taurinas adaptadas também evoluíram em regiões tropicais. Comparadas com as Europeias, raças desse grupamento têm maior resistência para calor e carrapatos e ambiente com restrição alimentar. Devido à sua maior rusticidade e características de adaptação, as raças adaptadas têm um potencial de crescimento mais baixo e menores exigências de alimento e de manutenção que outras raças taurinas. Para todas as raças taurinas adaptadas, as características de qualidade de carne, incluindo a maciez, estão mais próximas daquelas das raças Européias do que das raças indianas. Raças mais usadas no Brasil: 1. Bonsmara e Senepol. 2. Bonsmara - Africander + Hereford + Shorthorn 3. Senepol - N Dama + Red Poll Raças sintéticas São formadas por duas ou mais raças com grau de sangue fixado, visando manter bons níveis de heterose e adaptabilidade. Exemplos de raças sintéticas no Brasil são: Canchim, Simbrasil, Stabilizer, Beefmaster e Montana. Nos EUA, Brangus, Braford e Santa Gertrudes. No Brasil, o cruzamento entre indivíduos de raças diferentes é uma ferramenta utilizada para combinar o elevado potencial de produção da raça de clima temperado (origem europeia) com a adaptação da raça tropical (origem indiana). O cruzamento entre raças em rebanhos comerciais (ou heterozigose) busca gerar heterose, ou vigor híbrido, para um grupo de características comercialmente importantes, permitindo que a produtividade dos cruzados exceda a produtividade de ambas as raçasbase. Vários programas com esta finalidade são desenvolvidos no Brasil. 38

DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 6 Boas Práticas na Bovinocultura de Corte 6.1 Manejo sanitário O manejo sanitário é um conjunto de atividades regularmente planejadas e direcionadas para a prevenção e manutenção da saúde dos rebanhos. Consiste em vacinações, desverminação e controle de ectoparasitas. As ações de prevenção podem ser classificadas em dois níveis: controle e erradicação, de acordo com o objetivo em questão. O controle visa reduzir a frequência de ocorrência de uma doença já presente na população, enquanto que a erradicação busca eliminar totalmente a doença. O estudo de programas de saúde animal para a prevenção de enfermidades em sistemas de produção de gado de corte em nossas condições diz respeito às vacinações e vermifugações que compõem o calendário sanitário, para evitar o aparecimento de doenças que possam comprometer os resultados dos trabalhos, assim como o combate aos vermes, bernes, moscas, carrapatos e outros tantos que causam inúmeros prejuízos que, muitas vezes, não são contabilizados e, como consequência, baixam os índices de produtividade. No Brasil, existem vários tipos de vacinas para uso em bovinos de corte, sendo algumas contra enfermidades causadas por vírus, bactérias e protozoários. As vacinações devem ser encaradas como parte de um programa de manejo sanitário e devem ser planejadas para o atendimento das necessidades específicas do rebanho. Existem vacinas recomendadas para uso rotineiro e as utilizadas em condições específicas. As vacinas de uso rotineiro são aquelas programadas para controlar as doenças existentes na região onde os animais estão sendo criados. Por outro lado, as utilizadas em condições específicas são aquelas necessárias somente quando for detectada a possibilidade de ocorrência das doenças no local de criação. São adotadas as seguintes vacinações e medidas profiláticas de rotina: Febre aftosa: é feita em todo o rebanho; aplica-se a vacina oleosa, conforme o calendário do órgão de defesa sanitária estadual. Brucelose: aplica-se a vacina (dose única) nas fêmeas por ocasião da desmama. Deve-se fazer teste de soroaglutinação em todos os animais em idade reprodutiva uma vez ao ano. 39

Carbúnculo sintomático e gangrena gasosa: aplica-se a vacina polivalente de seis em seis meses da desmama aos dois anos de idade. Botulismo: proceder a vacinações quando ocorrer surto da doença. Aplicase a vacina, anualmente, em todos os animais com idade acima de um ano. Raiva bovina: vacinar todo o rebanho, nas regiões endêmicas, uma vez por ano. Nas regiões livres, somente quando determinado pelas secretarias de agricultura. Leptospirose: vacinar os animais de 4 a 6 meses de idade, com reforço quatro semanas após. Vacinação em todo o rebanho semestralmente. Tuberculose: fazer o teste de tuberculinização, seguindo orientação do PNCEBT (Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose). Desverminação: Controlar os vermes gastrintestinais, com produtos específicos e na dose recomendada pelo fabricante, do desmame até os dois anos e meio de vida, aplicando vermífugos nos meses de maio, julho e setembro. As vacas prenhes devem ser dosificadas em julho ou agosto e os animais em terminação, antes de entrar na pastagem vedada para engorda ou no confinamento. Controle de ectoparasitos: é adotado o controle estratégico da mosca-doschifres. O berne e o carrapato devem ser controlados quando o nível de infestação exigir. Um aspecto importante para o melhor posicionamento da carne bovina no mercado internacional é a questão sanitária, ainda não plenamente equacionada. A erradicação da febre aftosa é um grande desafio para o Brasil. Dados atualizados pelo MAPA mostram que 90% do rebanho brasileiro encontram-se em áreas livre de febre aftosa. 6.2 Manejo nutricional O clima tropical, com elevada quantidade de iluminação solar e pluviosidade, é ideal para a produtividade vegetal; por isso o Brasil é abundante em pastagens naturais e possui características ideais para pastagens cultivadas. Estas características climáticas proporcionam o desenvolvimento da pecuária brasileira baseada na criação extensiva, isto é, o gado é criado solto em pastagens, alimentando-se apenas de capim, com suplementação de sal mineral. A base de qualquer sistema de produção começa pela eficiente exploração das pastagens. Do nascimento até a terminação, a dieta predominante é a forragem, sendo esta responsável por grande parte do ganho de peso obtido até o abate. A terminação de bovinos no Brasil é realizada quase que exclusivamente a pasto, sendo que 85% dos animais destinados ao abate anualmente são terminados desta forma. O problema da sazonalidade da produção forrageira é conhecido e intensificado pelo fato das forrageiras tropicais, mesmo no período das chuvas, não serem capazes de produzir, por muito tempo, alimento com qualidade que possibilite o atendimento das exigências para crescimento dos animais, em especial aqueles de alto potencial genético. Assim, as gramíneas mais cultivadas, apesar 40

DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA DE CORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO de produzirem grande quantidade de material forrageiro durante o período das águas, apresentam um período muito curto no qual a forragem por elas produzida possui qualidade capaz de possibilitar desempenhos compatíveis com a necessidade requerida para manter sistemas competitivos de alta produção. Uma estratégia adequada de suplementação seria maximizar o uso de forragem através da otimização de sua digestão, mas o suplemento não deverá suprir os nutrientes além dos requisitos animais. Tradicionalmente, suplementos alimentares são fornecidos para animais a pasto durante os meses de inverno e períodos de dormência da planta no verão, quando a qualidade da forragem é baixa. Sob estas condições, a maioria do suplemento é usada para mantença e, frequentemente, proteína é o nutriente mais limitante. Os animais em pastejo na época seca não sofrem somente de carência de proteína, mas também de carência de energia. Apesar de ser de vital importância, a energia é considerada um nutriente de natureza secundária, dandose maior ênfase à correção das deficiências proteicas das pastagens. O fornecimento de suplementação de energia apenas não poderia por si só, eliminar tanto as deficiências energéticas como as proteicas, por não atender completamente esta última. Por outro lado, tanto a deficiência em energia como em proteína podem ser eliminadas apenas pela correção na deficiência proteica. Desta forma, a suplementação de energia poderia ocorrer indiretamente através do fornecimento de proteína. Assim, nos períodos de estacionalidade de produção de forragem, período da seca, ou criações onde os animais são mantidos em pastagens de baixo valor nutricional, o fornecimento de sal proteinado se constitui em uma alternativa de manejo nutricional para suprir a deficiência de proteína para o gado criado de maneira extensiva. Enquanto o fato de se fundamentar em pastagens resulta, por um lado, em vantagem comparativa por viabilizar custos de produção relativamente baixos, por outro, a utilização exclusiva dessa fonte de alimentação tem, neste momento, em que as competitividades por preço e por qualidade de produto impõem mudanças no setor, por apresentar-se bioeconomicamente inviável em muitas situações. Isso é agravado, principalmente, pela forma como essas pastagens são manejadas. Nos sistemas que utilizam a suplementação com mistura de concentrados na seca (semiconfinamento), há necessidade de vedar áreas de pastagem para utilização. Nos sistemas mais intensificados, a recria e/ou a terminação podem ocorrer em pastos com diferentes graus de correção e fertilização dos solos. A correção e a adubação das pastagens aumentam a produção e a qualidade da forragem disponível para os bovinos. Dessa maneira, é possível aumentar a taxa de lotação e o ganho diário de peso vivo, resultando em maiores produções por unidade de área. Aqueles que fazem uso do confinamento de bovinos como técnica para reduzir a idade de abate liberam áreas de pastagens para outras categorias de animais e reduzem a taxa de lotação das pastagens nos períodos críticos (seca), obtendo, dessa maneira, melhor taxa 41