Sistemas de informação em saúde aplicados ao monitoramento da mortalidade materna no estado de Pernambuco, 2000 a 2005

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Transcrição:

Sistemas de informação em saúde aplicados ao monitoramento da mortalidade materna no estado de Pernambuco, 2000 a 2005 Cristine Bonfim Hallana Araújo Rafaella Correia Cátia Lubambo Wilson Fusco Palavras-chave: Mortalidade materna. Sistemas de Informação. Estatísticas Vitais. Resumo A mortalidade materna é um importante indicador de saúde, pois reflete a situação de saúde da mulher em uma dada população, fornece informações sobre o desempenho dos serviços de saúde e as iniqüidades existentes entre os diferentes estratos socioeconômicos. Nesta perspectiva este trabalho teve por objetivo descrever a distribuição espacial da ocorrência da mortalidade materna no estado de Pernambuco. Para tanto foi realizado um estudo descritivo com os casos de óbito materno de residentes no estado de Pernambuco, ocorridos no período de 2000 a 2005. Os dados tiveram como fonte o banco de dados resultante da investigação do óbito materno do Comitê de Estudos e Prevenção de Morte Materna do estado de Pernambuco, os dados dos sistemas de informação sobre nascidos vivos (SINASC) e sobre mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. Os dados disponíveis nos sistemas de informação em saúde, embora subnotificados, possibilitam o monitoramento e o planejamento das ações que reduzam o risco de óbitos maternos, contribuindo para a melhoria das condições de saúde da população materno-infantil. A partir dessas informações é possível apontar alguns importantes elementos para a redução da mortalidade materna, tais como: assistência pré-natal de qualidade; sistema de referência e contra-referência, que vincule o pré-natal ao parto e regule a disponibilidade de leitos nas maternidades. Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008. Pesquisa financiada pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ/MEC). Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ/MEC). Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ/MEC). Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ/MEC). Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ/MEC). 1

Sistemas de informação em saúde aplicados ao monitoramento da mortalidade materna no estado de Pernambuco, 2000 a 2005 Cristine Bonfim Hallana Araújo Rafaella Correia Cátia Lubambo Wilson Fusco Introdução O estudo das informações sobre mortalidade é um importante elemento para conhecer a situação de saúde de uma determinada população, além de ser um componente da dinâmica demográfica. No Brasil, as duas principais fontes de informação sobre mortalidade são as Estatísticas de Registro Civil do IBGE e o Sistema de Informação sobre mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde (IBGE, 2006, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). O SIM foi desenvolvido e implantado no Brasil em 1975. Consiste em um sistema de vigilância epidemiológica de abrangência nacional, que tem como principal objetivo captar dados sobre os óbitos ocorridos no país nos diversos níveis espaciais e fornecer informações sobre mortalidade para o sistema de saúde (CARVALHO, 1997, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). O documento de coleta de dados desse sistema, a Declaração de Óbito (DO), padronizada em todo o território nacional, é impressa, em três vias pré-numeradas seqüencialmente e distribuídas às secretarias estaduais de saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). Problema comum às duas fontes de dados consiste no sub-registro de óbitos. Diferente do que ocorre com os nascimentos, que para os quais ainda existe a possibilidade de recuperação da informação com o registro tardio, o óbito não registrado raramente é recuperado. Estima-se em 13% a proporção de sub-registro para o Brasil. Em Pernambuco o sub-registro era de cerca de 18% no ano de 2006 (IBGE, 2006). De acordo com a RIPSA, as estatísticas de óbito podem ser consideradas de qualidade e com cobertura confiáveis, sendo, portanto, desnecessária qualquer tipo de correção para o seu uso nos seguintes estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal (IBGE, 2006). Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008. Pesquisa financiada pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ/MEC). Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ/MEC). Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ/MEC). Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ/MEC). Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ/MEC). 2

Um importante problema relativo a morte materna no Brasil consiste na identificação dos níveis e tendências da morte materna, devido à subinformação da morte materna nas declarações de óbito e ainda pela existência de sub-registro dos óbito notificados ao Ministério da Saúde, através do Sistema de Informações de Mortalidade (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Visando corrigir a subnotificação das mortes maternas, o Ministério da Saúde vem desde os primeiros anos da década de 90 estimulando a implantação de comitês de morte materna e promovendo pesquisas que levem à identificação de fatores de correção da razão de mortalidade materna. Esses Comitês identificam e estudam óbitos maternos, definindo medidas de intervenção para reduzir este evento, possibilitando o acompanhamento e a avaliação permanente da atenção prestada à saúde das mulheres. A mortalidade materna representa grave problema social. Constitui um dos principais indicadores das condições de vida e de saúde das mulheres (LAURENTI, 2002, ANDRADE et al., 2006). A determinação do Coeficiente de Mortalidade Materna vem se firmando como um índice de extrema importância para a avaliação da qualidade dos serviços de saúde voltados para o atendimento à mulher no ciclo gravídico-puerperal e das condições socioeconômicas de uma determinada região (PAZERO et al., 1998). Além disso, é um importante indicador de saúde, pois reflete a situação de saúde da mulher em uma população, fornece informações sobre o desempenho dos serviços de saúde e as iniqüidades existentes entre os diferentes estratos socioeconômicos (LAURENTI, 2002, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004, BOYACIYAN, 1998, LAURENTI; MELLO JORGE; GOTLIEB, 2004). Há uma correlação negativa entre mortalidade materna e o funcionamento do sistema de saúde, ou seja, uma alta taxa de mortalidade implica que o sistema de saúde não funciona adequadamente (WHO, 2004). O objetivo deste trabalho é descrever a ocorrência e a distribuição da mortalidade materna no estado de Pernambuco, no período de 2000 a 2005. Métodos Trata-se de um descritivo dos óbitos maternos ocorridos no período de 2000 a 2005 no estado de Pernambuco. A fonte de dados foi composta pelo Sistema de informação sobre nascidos vivos do Ministério da Saúde (SINASC/MS), pelo Sistema de informações sobre mortalidade do Ministério da Saúde e pelas fichas de investigação do Comitê de estudos e prevenção da mortalidade materna do estado de Pernambuco. Foram aplicados os conceitos da Classificação Estatística Internacional de Doenças 10ª Revisão (CID 10) para a classificação dos óbitos maternos. Morte Materna (Obstétrica Direta e Obstétrica Indireta); Morte Materna Tardia e Morte Materna Não Obstétrica ou Não relacionada (OMS, 2003). Utilizou-se para as mortes obstétricas diretas os códigos O00 a O08 e O10 a O92, para as mortes obstétricas indiretas os códigos O98 a O99 e para causa desconhecida o código O95. Os dados utilizados foram previamente disponibilizados pela Secretaria de Saúde do estado de Pernambuco, após assinatura do termo de anuência pelo gerente geral de vigilância em saúde da Secretaria de Saúde do estado de Pernambuco. A pesquisa utilizou o banco de dados da SES/PE, não havendo de forma alguma, a divulgação da identificação dos indivíduos, nem tampouco estando estes, sujeitos a qualquer risco de exposição ou dano. O projeto foi executado após o parecer do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco (CAEE 0198.0.172.000-07). 3

Resultados e discussão Entre 2000 e 2005 foram registradas pelo SIM/MS no estado Pernambuco 670 óbitos de mulheres em idade fértil cuja causa são problemas relacionados à gravidez, ao parto e ao puerpério e ao aborto (Figura 1). O coeficiente de mortalidade materna para estado no período estudado foi de 72,27 por 100.000 nascidos vivos (Figura 2). Os coeficientes de mortalidade materna observado para o estado e alguns municípios são superiores aos encontrados em outros municípios do país, porém semelhante ao da Região Nordeste (LAURENTI; MELLO JORGE; GOTLIEB, 2004). Pesquisa realizada em 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal foram analisadas 7.332 mortes de mulheres de 10 a 49 anos, ocorridas no primeiro semestre de 2002, sendo 239 óbitos por causas maternas. O Coeficiente de mortalidade materna foi de 54,3 por 100.000 nascidos vivos, no conjunto de capitais, variando entre 42 por 100.000 nascidos vivos na Região Sul, e 73,2 por 100.000 nascidos vivos na Região Nordeste (LAURENTI; MELLO JORGE; GOTLIEB, 2004). Souza et al. (2007) tendo por objetivo descrever as características da mortalidade materna a partir do relacionamento dos dados existentes entre os sistemas de informação em saúde do Ministério da Saúde sobre nascimentos, óbitos e internamentos, observaram coeficientes de mortalidade materna oficial e ajustada, respectivamente, de 46,4 e 64,9 por 100.000 nascidos vivos. Boyaciyan et al. (1998) revisaram 179.872 atestados de óbito de mulheres entre 10 e 49 anos de idade abrangendo o período de abril de 1993 a dezembro de 1995, sendo identificados 291 casos de morte materna. O resultado desse estudo possibilitou o cálculo do coeficiente de mortalidade para o município de São Paulo (SP) que foi de 50,24 por 100.000 nascidos vivos. Em Ribeirão Preto (SP) foram analisados 72 óbitos maternos ocorridos no município no período de 1991 a 1995, onde identificaram um coeficiente de mortalidade materna de 60,3 por 100.000 nascidos vivos (OBA; TAVARES, 2001). No Rio de Janeiro (RJ) estudo realizado com objetivo de conhecer o perfil da mortalidade materna analisou as Declarações de óbitos de mulheres residentes no município, nos anos 1993 a 1996. Foram registrados 222 óbitos maternos, com coeficiente de mortalidade inicial (1993) de 74,3 por 100.000 nascidos vivos que decresceu para 55,3 por 100.000 nascidos vivos no último ano do estudo (1996). O coeficiente de mortalidade materna encontrado no município do Rio de Janeiro no ano de 1993 é semelhante ao achado no estado de Pernambuco no ano de 2005. Considere-se que essas são mortes que poderiam ser evitadas em sua grande maioria. Estima-se que aproximadamente 95% dos óbitos maternos seriam evitados por fatores ligados ao adequado atendimento e a qualidade dos serviços de saúde prestados a mulher durante a gestação, parto e puerpério (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1994, TANAKA, 1995). No estudo ora apresentado 411 dos casos de óbitos maternos foram considerados como evitáveis. Em Belém aproximadamente 78% dos óbitos maternos foram considerados evitáveis (MOTA, 2005). Considerou-se que 50% dos óbitos investigados na cidade de Uberlândia (MG) como evitáveis foram classificados como redutíveis, por medidas preventivas de planejamento familiar e habilidade profissional na condução dos casos (FIGUEIREDO, 2006). 4

Figura 1 Distribuição dos óbitos maternos segundo municípios do estado de Pernambuco, 2000-2005. Figura 2 Razão de morte materna segundo municípios do estado de Pernambuco, 2000-2005. 5

A idade mínima encontrada foi de 14 anos e a máxima de 48 anos, com idade média de 28 anos e mediana de 27 anos. Resultados semelhantes foram achados por Oba e Tavares (2001) estudando a mortalidade materna na cidade de Ribeirão Preto. Recentemente, pesquisa conduzida por Laurenti, Mello Jorge e Gotlieb (2006) analisando a mortalidade de mulheres em idade fértil (10 a 49 anos de idade) e os óbitos maternos em capitais brasileiras identificaram como a menor idade de óbitos materno 14 anos e maior 45 anos com média de 28 anos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Dos 670 casos de morte materna, 159 (23,73%) ocorreram na faixa etária de 25 a 29 anos de idade (Tabela 1). Boyaciyan et al. (1998) no município de São Paulo (SP), identificaram a faixa etária de 20 a 24 anos de idade como a de maior ocorrência, e 15,3% desses casos foram em decorrência de complicações de aborto. No Rio de Janeiro (RJ) Theme-Filha, Silva e Noronha (1999) verificaram que, em quatro anos de estudo, 41% do óbitos maternos concentraram-se na faixa etária de 20 a 29 anos de idade. Albuquerque et al. (1998) avaliando os óbitos de mulheres em idade fértil (10 a 49 anos) ocorridos na cidade do Recife (PE) durante os anos de 1992 e 1993, constataram que 62% dos óbitos maternos ocorreram em mulheres na faixa etária de 20 a 29 anos de idade. Já Parpinelli et al. (1999) identificaram a faixa etária de 30 a 34 como a que concentrou um maior número de casos e em oito dos 20 casos estudados a principal condição que levou ao óbito foram as complicações decorrentes do aborto. Aproximadamente de 26% das mulheres tinham entre 1 e 3 anos de escolaridade, porém a análise dessa variável foi comprometido devido a proporção de não-informação (23,88%). Mais de metade das mulheres (56,27%) eram solteiras. Para a variável raça/cor 62,09% tinham registrada a categoria parda/morena (Tabela 1). Os dados sociodemográficos são consistentes com a literatura. A baixa escolaridade materna tem se apresentado como um fator de risco obstétrico para a saúde da gestante e do recém-nascido, assim como a idade materna nos extremos da faixa etária reprodutiva (HAIDAR; OLIVEIRA; NASCIMENTO, 2001, THEME-FILHA; SILVA; NORONHA, 1999, OBA; TAVARES, 2001). A maior proporção de mulheres solteiras foi semelhante ao encontrado no trabalho de Albuquerque et al. (1998) na cidade do Recife. 6

Tabela 1 Características sociodemográficas dos óbitos maternos no estado de Pernambuco, 2000 a 2005* Variáveis n % Faixa etária (em anos) 10 a 14 2 0.30 15 a 19 106 15.82 20 a 24 135 20.15 25 a 29 159 23.73 30 a 34 115 17.16 35 a 39 89 13.28 40 a 44 56 8.36 45 a 49s 8 1.19 Escolaridade (em anos de estudo concluído) Nenhuma 103 15.37 De 1 a 3 anos 176 26.27 DE 4 a 7 anos 166 24.78 De 8 a 11 anos 51 7.61 12 e mais 14 2.09 Ignorado 160 23.88 Estado civil Solteira 377 56.27 casada 46 6.87 Viúva 221 32.99 Separada (judicialmente) 8 1.19 União consensual 1 0.15 Ignorado 17 2.54 Raça/cor Branca 160 23.88 Negra 39 5.82 Parda/morena 416 62.09 Indígena 15 2.24 Ignorado 40 5.97 *Total de óbitos maternos ocorridos entre 2000 e 2005. Fonte: Secretaria de Saúde do estado de Pernambuco. A adequada assistência ao pré-natal e ao parto é um elemento fundamental para reduzir a mortalidade materna. Na Tabela 2 são a apresentados os dados referentes a realização do pré-natal e o número de consultas realizadas, entretanto ambas as variáveis apresentam mais de 20% de informação ignorada comprometendo a análise. Recente artigo científico sobre intervenções as benéficas no pré-natal sintetizam as estratégias de intervenção em um tripé que contemplam ações relacionadas à promoção da saúde materna, a prevenção dos riscos e à garantia de suporte nutricional durante a gestação. 7

Tabela 2 Realização de pré-natal e número de consultas dos casos de óbito materno no estado de Pernambuco de 2000 a 2005* Variáveis n % Realização de Pré-natal Sim 387 57.76 Não 110 16.42 Ignorado 173 25.82 Número de consultas de pré-natal Nenhuma 1 0.15 De 1 a 3 136 20.30 De 4 a 6 126 18.81 7 ou mais consultas 50 7.46 Ignorado 357 53.28 Fonte: Secretaria de Saúde do estado de Pernambuco Entende-se que a promoção da saúde materna contempla a recomendação do número ideal e da realização das consultas de pré-natal, o estabelecimento de programas de imunização e ações de diagnóstica e tratamento precoce (CALDERON; CECATTI; VEGA, 2006). Os transtornos hipertensivos representaram a principal causa de mortalidade no estado (Figura 2). Bezerra et al. (2005) afirmam que Os distúrbios hipertensivos são as complicações médicas de maior relevância durante o período gravídico-puerperal. Esses autores analisando 296 óbitos maternos identificaram que 122 (41,2%) estavam relacionados com complicações hipertensivas. As quatro principais causas de morte materna no estado de Pernambuco, entre as obstétricas diretas, são: as síndromes hipertensivas, as hemorragias, as infecções puerperais e as complicações do aborto. É preciso considerar que as causas obstétricas diretas são mais evitáveis que as indiretas, pois dependem da qualidade da assistência durante o ciclo gravídico-puerperal (Figura 3). Das 670 mortes maternas 351 ocorreram no momento do parto. Considere-se que 89,9% dos casos ocorreram no ambiente hospitalar. Cerca de 10% dos óbitos ocorreram no puerpério tardio (de 43 dias a um ano), ou seja, caso não tivesse sido estendido a conceituação da morte materna para até um ano aproximadamente 10% dos casos não teriam sido identificados, contribuindo para a sub-notificação. 8

Figura 3 Proporção de mortes maternas segundo causa básica e ano de ocorrência, Pernambuco, 2000 a 2005 Considerações Finais Os dados disponíveis nos sistemas de informação em saúde, embora subnotificados, possibilitam o monitoramento e o planejamento das ações que reduzam o risco de óbitos maternos, contribuindo para a melhoria das condições de saúde da população maternoinfantil. A partir dessas informações é possível apontar alguns importantes elementos para a redução da mortalidade materna, tais como: assistência pré-natal de qualidade; sistema de referência e contra-referência, que vincule o pré-natal ao parto e regule a disponibilidade de leitos nas maternidades. 9

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