INDICAÇÕES E TEMPO DE PERMANÊNCIA EM INTERNAÇÃO PÓS-CIRÚRGICA EM UM HOSPITAL PÚBLICO DA CIDADE DE SÃO PAULO SP

Documentos relacionados
GESTÃO DE RISCOS EM CENTRO CIRÚRGICO. Léa Pereira de Sousa

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DO PACIENTE IDOSO INTERNADO EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA

RESUMO SEPSE PARA SOCESP INTRODUÇÃO

Lisboa, 25 de Novembro de 2016

FATORES DE RISCO ASSOCIADOS A INFECÇÃO HOSPITALAR EM IDOSOS NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

SURGICAL CENTER ADMISSIONS CLASSIFIED BY SPECIALTY FOR PATIENTS IN EMERGENCY SITUATIONS: A BRIEF OBSERVATIONAL STUDY

CARINA STADINISKI GONÇALVES 1 MARICY MORBIN TORRES 2

Gilmara Noronha Guimarães 1 Rafaela Campos Emídio 2 Rogério Raulino Bernardino Introdução

Insuficiência renal aguda em hospital ensino Acute renal failure in teaching hospital

CASUÍSTICA E MÉTODOS. Vista frontal do Coreto do Instituto Lauro de Souza Lima - FOTO produzida por José Ricardo Franchim, 2000.

Avila ACT 1, Sartori J 2, Bello VA 3

PERFIL DOS PACIENTES ATENDIDOS PELA FISIOTERAPIA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DO HOSPITAL DA PROVIDÊNCIA DE APUCARANA

ANAIS DA 4ª MOSTRA DE TRABALHOS EM SAÚDE PÚBLICA 29 e 30 de novembro de 2010 Unioeste Campus de Cascavel ISSN

ria: Por Que Tratar? Can Dr. Daniel Volquind TSA/SBA

Análise da demanda de assistência de enfermagem aos pacientes internados em uma unidade de Clinica Médica

Melhores Práticas Assistenciais

MANUAL DO PACIENTE Dr. Paulo Vicente

PADI. Programa de Atenção domiciliar ao Idoso

Patricia Santiago Carvalho Grasiela Scavassa Costa Suelen Catarino Sampaio

JEJUM PRÉ-ANESTÉSICO E OPERATÓRIO. Localizador: Data: Vigência: Revisão: Página: HND.ANT.POP /5

Síndrome Coronariana Aguda

Práticas De Segurança No Procedimento Cirúrgico Hospital Estadual De Diadema - HED. Maria Fernandes

Atraso na admissão hospitalar de pacientes com acidente vascular cerebral isquêmico: quais fatores podem interferir?

RESOLUÇÃO CFM Nº 2.172, DE

Análise do Prontuário. Especialização em Terapia Intensiva SOBRATI

PROTOCOLO DE CONTROLE GLICÊMICO INTENSIVO

CARACTERIZAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS REALIZADOS EM IDOSOS COM INFECÇÃO RELACIONADA À SAÚDE EM UM HOSPITAL DE REFERÊNCIA NO TRATAMENTO DO CÂNCER

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE IDOSOS HOSPITALIZADOS EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

CARACTERIZAÇÃO DA MORBIMORTALIDADE DE IDOSOS ATENDIDOS EM UMA UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO

Tópico 10 Segurança do paciente e procedimento invasivo

DISCIPLINA: ENFERMAGEM EM CENTRO CIRÚRGICO E CENTRO DE MATERIAL

INDICADORES DE UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA EM UM HOSPITAL DE GRANDE PORTE DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL 1

CUIDADOS DE ENFERMAGEM NO PÓS-OPERATÓRIO IMEDIATO DE CIRURGIA DE REVASCULARIZAÇÃO DO MIOCARDIO

Anestesia para cirurgia ambulatorial na criança

Ambulatório de Cirurgia Reconstrutora Genital

SEGURANÇA DO PACIENTE: ATUALIZAÇÃO

Ficha de Unidade Curricular

Política de Avaliação Fisioterapêutica dos Pacientes e Continuidade do Cuidado NORMA Nº 001

TX com Doador Vivo -Vantagens

DRG:CASES MARCELO T. CARNIELO

PREVALÊNCIA DE ÓBITOS EM IDOSOS POR DOENÇAS CARDIACAS EM UTI: DECLARAÇÃO DE ÓBITO COMO FERRAMENTA

20º Congresso de Iniciação Científica TRIAGEM NUTRICIONAL DE PACIENTES ADULTOS INTERNADOS EM UM HOSPITAL DO INTERIOR PAULISTA

Recursos Humanos em Centro Cirúrgico Profa.Dra. Rita Burgos

Trombose Associada ao Cancro. Epidemiologia / Dados Nacionais

Palavras-chave: Cirurgia bariátrica, obesidade, custos, SUS.

TOTVS Controle de Infecção Hospitalar Manual Ilustrado População e Paciente. 11.8x. março de Versão: 3.0

GERENCIAMENTO DE LEITOS E GERENCIAMENTO DE LEITOS E PROTOCOLOS. Luiz Soares

COMPLICAÇÕES NEUROLÓGICAS PÓS-CIRURGIA BARIÁTRICA: UMA REVISÃO DE LITERATURA

Enfermagem Cirúrgica. Banca: EBSERH/CESPE-CEBRASPE

CENTRO UNIVERSITÁRIO CHRISTUS CURSO DE ENFERMAGEM V SEMANA DE ENFERMAGEM DA UNICHRISTUS EDITAL 2017

Perfil epidemiológico do CTI e estrutura de atendimento

CIRURGIA BARIÁTRICA Critérios de Indicação. Prof. Ms. Everton Cazzo Assistente Grupo de Cirurgia Bariátrica e Metabólica HC/UNICAMP

EMENTÁRIO CURSO DE ENFERMAGEM 8º PERÍODO

COORDENAÇÃO DO NÚCLEO CURRICULAR FLEXÍVEL PRÁTICAS EDUCATIVAS FICHA DE OBSERVAÇÃO - 1

João Paulo dos Reis Neto

Certificação Joint Commission no Programa de Dor Torácica.

Ficha de Unidade Curricular

Melhores Práticas Assistenciais

Marcos Sekine Enoch Meira João Pimenta

Registro Brasileiros Cardiovasculares. REgistro do pacientes de Alto risco Cardiovascular na prática clínica

PROGRAMA CQH - COMPROMISSO COM A QUALIDADE HOSPITALAR INDICADORES HOSPITAIS SELADOS TAXA DE OCUPAÇÃO HOSPITALAR*

UNIFESP - HOSPITAL SÃO PAULO - HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA

UPA 24h. Unidade de Pronto Atendimento. São objetivos da UPA:

PERFIL DE UMA POPULAÇÃO ESTOMIZADA INTESTINAL PROVISÓRIA E MOTIVOS DA NÃO RECONSTRUÇÃO DO TRÂNSITO INTESTINAL

A IMPORTÂNCIA DA EQUIPE ODONTOLÓGICA NO AMBIENTE HOSPITALAR THE IMPORTANCE OF THE DENTAL TEAM IN THE HOSPITAL ENVIRONMENT

Indicadores Estratégicos

A Importância dos Cuidados Paliativos na Unidade de Terapia Intensiva.

Métodos estatísticos em epidemiologia: algumas observações sobre pesquisa cĺınica

GRUPO DE ORTOGERIATRIA

INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 36, DE 23 NOVEMBRO DE 2016.

PROCEDIMENTO SISTÊMICO

A obstrução colônica aguda é uma condição grave que traz risco de vida, e que requer tratamento cirúrgico imediato.

TEMA 2 internação Mayara Ligia Rasini PROFª Letícia Peres

Transplante Hepático Around the World. Experiência no Brasil. Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Manual de Cirurgia Segura

PLANO DE CURSO 8 PERÍODO ANO:

Profa. Dra. Rita Burgos Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo

20/08 PRÉ CONGRESSO - MANHÃ

Declaração de possíveis conflitos de interesses

UFSM - Universidade Federal de Santa Maria Semana do Servidor Público 2017 e II Simpósio em Gestão Pública Santa Maria/RS De 28/10 a 01/11/2017

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

HOSPITALIZAÇÕES E MORTALIDADE POR ASMA: É POSSÍVEL EVITAR? DR. GUILHERME FREIRE GARCIA ABRA MAIO DE DIA MUNDIAL DA ASMA

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM PERIOPERATÓRIA (SAEP) PROFESSORA: MARIA DA CONCEIÇÃO MUNIZ RIBEIRO.

PROTOCOLO CÓDIGO AZUL E AMARELO

APRESENTAÇÃO DE POSTERS DIA 16/10/2015 (10:15-10:30h)

Unidades de AVC. Carlos Batista. Neurologista Fellow em pesquisa em Neurologia Vascular Hospital de Clínicas de Porto Alegre

COMPLICAÇÕES MAIS COMUNS EM PACIENTES INTERNADOS EM TERAPIAS INTENSIVAS.¹. Joelma Barbosa Moreira², Isabel Cristina Silva Souza³

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CONCURSO DOCENTE, EDITAL Nº 14/2015 PONTOS DAS PROVAS ESCRITA E DIDÁTICA

PÓS-OPERATÓRIO TARDIO DE CIRURGIA GERAL: VISUALIZANDO AS NECESSIDADES DO PACIENTE NO MOMENTO DA ALTA 1

PERFIL NUTRICIONAL E PREVALÊNCIA DE DOENÇAS EM PACIENTES ATENDIDOS NO LABORATÓRIO DE NUTRIÇÃO CLÍNICA DA UNIFRA 1

Rotineiramente são seguidos alguns critérios para inclusão ou exclusão no programa de assistência domiciliar:

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DESCRIÇÃO DO PERFIL DOS PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA BARIÁTRICA

PERFIL NUTRICIONAL DO PACIENTE GERIÁTRICO EM AMBIENTE HOSPITALAR

11. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 1

ANÁLISE DE MORTALIDADE HOSPITALAR EM PACIENTES IDOSOS SUBMETIDOS À CIRURGIA DE REVASCULARIZAÇÃO DO MIOCÁRDIO

LEVANTAMENTO DAS CAUSAS DE MORTE NEONATAL EM UM HOSPITAL DA REGIÃO DO VALE DO IVAÍ PR.

Prática de medicina baseada em evidências em um centro de tratamento intensivo pediátrico

Transcrição:

E-ISSN: 2316-3712 DOI: 10.5585/rgss.v1i1.2 Organização: Comitê Científico Interinstitucional Editor Científico: Chennyfer da Rosa Paino Paim Editora Adjunta: Lara Jansiski Motta Avaliação: Double Blind Review pelo SEER/OJS Revisão: Gramatical, normativa e de formatação INDICAÇÕES E TEMPO DE PERMANÊNCIA EM INTERNAÇÃO PÓS-CIRÚRGICA EM UM HOSPITAL PÚBLICO DA CIDADE DE SÃO PAULO SP INDICATIONS AND TIME OF STAY IN HOSPITALIZATION AFTER SURGERY IN A PUBLIC HOSPITAL IN SÃO PAULO SP Maesterli Silva de Sousa Enfermeira Especialista em Saúde Pública e Programa de Saúde da Família pela Universidade Gama Filho UGF (Brasil) Joana Maria Muniz Enfermeira Especialista em Saúde Pública e Programa de Saúde da Família pela Universidade Gama Filho UGF (Brasil) Samanta Cordeiro Silva Enfermeira pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE) (Brasil) João Victor Fornari Enfermeiro e Nutricionista Mestre em Farmacologia pela Universidade Federal de São Paulo UNIFESP Professor do Departamento de Saúde da Universidade Nove de Julho UNINOVE (Brasil) Anderson Sena Barnabé Biólogo Mestre e Doutor em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo USP Professor do Departamento de Saúde da Universidade Nove de Julho UNINOVE (Brasil) Rogério Barbosa de Deus Médico Mestre e Doutor em Nefrologia pela Universidade Federal de São Paulo UNIFESP (Brasil) Renato Ribeiro Nogueira Ferraz Biólogo Mestre e Doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo UNIFESP Professor do Departamento de Saúde da Universidade Nove de Julho UNINOVE E-mail: renatoferraz@uninove.br (Brasil) 108

Indicações e Tempo de Permanência em Internação Pós-Cirúrgica em Um Hospital Público da Cidade de São Paulo SP INDICAÇÕES E TEMPO DE PERMANÊNCIA EM INTERNAÇÃO PÓS-CIRÚRGICA EM UM HOSPITAL PÚBLICO DA CIDADE DE SÃO PAULO SP RESUMO A internação hospitalar no pós-operatório oferece ao paciente condições de recuperação rápida e pode evitar possíveis complicações decorrentes da cirurgia. Objetivo: Determinar o número de indicações e o tempo de permanência em internação durante o período pós-operatório imediato de pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos diversos. Método: Foram avaliados em um hospital público da região central da cidade de São Paulo - SP, pacientes que se submeteram à cirurgias de diversas especialidades entre janeiro e março de 2011. Resultados: Dos 10 pacientes acompanhados, 8 receberam indicação de internação no período pós-operatório e 2 receberam alta logo após o procedimento cirúrgico. Troca de valva cardíaca, desobstrução intestinal e cirurgia bariátrica foram, nesta sequência, os procedimentos que demandaram maior tempo de internação. Conclusão: A pré-admissão do paciente com necessidades cirúrgicas é muito importante no prognóstico dos mesmos e pode estar intimamente relacionada com a evolução do seu quadro clínico. Pacientes com mais comorbidades tendem a apresentar prognóstico mais reservado, o que per se aumenta o tempo de internação e, consequentemente, os custos e os riscos da prolongada permanência em ambiente hospitalar. Palavras-chave: Hospitalização; Prevalência; Epidemiologia; Cirurgia; Custos. INDICATIONS AND TIME OF STAY IN HOSPITALIZATION AFTER SURGERY IN A PUBLIC HOSPITAL IN SÃO PAULO SP ABSTRACT Introduction: The hospitalization after surgery makes the patient able to recover quickly and avoid possible complications from surgery. Aim: To determine the number of indications and time of stay in hospitalization during the immediate postoperative period of patients undergoing different surgical procedures. Methods: We evaluated in a public hospital in the central city of Sao Paulo - SP, patients who underwent surgeries of various specialties between January and March 2011. Results: Of 10 patients enrolled, eight of them received an indication for hospitalization in the postoperative period. Heart valve replacement, bariatric surgery and intestinal obstruction were, in this order, the procedures that required longer hospitalization. Conclusion: Pre-admission of patients with surgical needs is very important in the prognosis of the same and can be closely related to their clinical evolution. Patients with more comorbidities tend to have worse prognosis, which per se increases the length of stay and, consequently, the costs and risks of prolonged hospitalization. Keywords: Hospitalization; Prevalence; Epidemiology; Surgery; Cost. 109

1 INTRODUÇÃO Maesterli Silva de Sousa, Joana Maria Muniz, Samanta Cordeiro Silva, João Victor Fornari, Anderson Sena Barnabé, Rogério Barbosa de Deus & Renato Ribeiro Nogueira Ferraz Diversas condições clínicas requerem tratamento cirúrgico. Este, de maneira simplificada, divide-se em três tempos principais: diérese, que é retirada dos tecidos lesados; hemostasia, que se constitui no tempo de estancamento das hemorragias; e síntese, que corresponde ao fechamento das cavidades acessadas. Ainda, o ato cirúrgico divide-se em três fases: a pré-operatória, que vai da véspera da cirurgia até o momento em que o paciente é recebido no centro cirúrgico; a transoperatória, que vai desde o momento em que o paciente é recebido no centro cirúrgico até o momento em que é encaminhado para a recuperação anestésica (RA). O chamado período intraoperatório corresponde ao momento do procedimento anestésico-cirúrgico propriamente dito. Por fim, a fase pós-operatória compreende o período existente após a realização do procedimento anestésico-cirúrgico e se divide em três etapas: RA, que vai desde a chegada do paciente até sua alta para a unidade de origem; pós-operatório imediato, que vai desde a alta do paciente da RA até as primeiras 48 horas; pós-operatório tardio, que se inicia à partir de 48 horas após a cirurgia até a alta do paciente. Todos os períodos citados variam bastante quanto ao tempo de permanência, dependendo da complexidade do procedimento cirúrgico realizado 1. O desenvolvimento e a aplicação da cirurgia minimamente invasiva possibilita, dentre outras vantagens, uma rápida recuperação funcional e consequente encurtamento do tempo de hospitalização 2. A indicação do tratamento cirúrgico deve basear-se numa análise abrangente de múltiplos aspectos clínicos do doente. A avaliação desses pacientes no pré e pós-operatório deve ser realizada por uma equipe multidisciplinar 3. Conhecer a prevalência pontual de indicações de internação no período pós-operatório, além do tempo de internação preconizado após cada tipo de procedimento, forneceria às unidade hospitalares um perfil estimado desse quadro e permitiria a criação de estratégias visando a sistematização do atendimento aos pacientes mais necessitados, principalmente com relação ao número de leitos que devem estar disponíveis, bem como com relação ao número de profissionais necessários para, de maneira adequada, prestar os cuidados necessários a esse grupo específico de pacientes. 110

2 OBJETIVO Indicações e Tempo de Permanência em Internação Pós-Cirúrgica em Um Hospital Público da Cidade de São Paulo SP Quantificar as indicações de internação pós-cirúrgica, avaliar o tempo de internação e identificar o desfecho dos pacientes com este tipo de indicação. 3 MÉTODO Trata-se de um estudo retrospectivo, descritivo, de abordagem quantitativa, realizado com pacientes submetidos à cirurgias de diversas especialidades no período de janeiro à março de 2011 em um hospital público da região central da cidade de São Paulo - SP. Foram incluídos neste breve levantamento apenas pacientes com idades entre 18 e 60 anos, que não estavam sendo submetidos à reintervenção cirúrgica durante a mesma internação, que não tivessem sofrido parada cardiorrespiratória intraoperatória, e que não fossem portadores de insuficiência renal dialítica. Da amostra constituída foram observados dados relativos à idade, sexo, peso e altura (para cálculo do IMC - Índice de Massa Corporal), além de informações relativas ao procedimento cirúrgico realizado, tempo de internação no pós-operatório, mortalidade e prescrição médica indicada. A variável idade foi apresentada pelos seus valores médios ± desvio padrão. As variáveis restantes foram apresentadas por suas frequências absolutas e relativas sem a aplicação de testes estatísticos específicos. Não foi divulgada nenhuma informação que pudesse identificar os participantes ou a instituição onde esta pesquisa foi realizada. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do hospital onde foi realizado por obedecer às diretrizes éticas previstas na resolução 196/96 do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa. 4 RESULTADOS No período avaliado foram registrados 33 casos cirúrgicos sendo apenas 10 elegíveis para este estudo, de acordo com os critérios de inclusão previamente estabelecidos. Destes, 50% (5 indivíduos) eram do sexo masculino, com média de idade de 66 ± 14 anos, e 50% (também 5 indivíduos) eram do sexo feminino, com média de idade de 42 ± 15 anos. Quanto à etnia 60% (6 participantes) declararam-se caucasianos, 3 participantes (30% do total) declararam-se pardos e 111

Maesterli Silva de Sousa, Joana Maria Muniz, Samanta Cordeiro Silva, João Victor Fornari, Anderson Sena Barnabé, Rogério Barbosa de Deus & Renato Ribeiro Nogueira Ferraz apenas um participante (representando 10% dos indivíduos) declarou-se negro. Na avaliação geral do IMC, observou-se um valor médio de 27,8 ± 3,2, caracterizando sobrepeso em todos os pacientes selecionados. A Tabela 1 traz as informações sobre o número de dias sob internação observada entre os pacientes estudados. Tabela 1: Número de dias de internação e doenças observadas nos pacientes avaliados. São Paulo, 2012 DOENÇAS ENCONTRADAS % INDIVÍDUOS TEMPO INTERNAÇÃO (DIAS) Apendicite 30% 04 ± 02* Colecistopatia calculosa 20% 04 ± 01 Troca de valva cardíaca 10% 30 Obstrução intestinal 10% 26 Amputação de MIE por TU 10% 07 Cirurgia bariátrica 20% 19 ± 03 *valores expressos em média ± desvio padrão. MIE: membro inferior esquerdo; TU: tumor. Não foram registrados óbitos durante o período de estudo. Quanto aos medicamentos utilizados no pós-operatório, todos os pacientes fizeram uso de antibióticos por via endovenosa, hidratação também endovenosa, além de analgésicos. 5 DISCUSSÃO As infecções representam as complicações mais frequentes do período pós-operatório, sendo responsáveis por elevada mortalidade dos pacientes submetidos à cirurgias. A adoção de medidas preventivas que preconizam o uso adequado e as indicações dos antibióticos profiláticos é imprescindível para minimizar a problemática gerada pela infecção hospitalar 5,6. 112

Indicações e Tempo de Permanência em Internação Pós-Cirúrgica em Um Hospital Público da Cidade de São Paulo SP Antes da internação propriamente dita, o paciente realiza consultas clínicas e/ou especializadas, exames laboratoriais e radiológicos, ou seja, é amplamente avaliado 7,8. Mesmo assim, em muitos casos são frequentes as complicações pós-cirúrgicas. Os fatores de risco que mais predispõem à permanência prolongada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) após procedimentos cirúrgicos já foram identificados e estudados e se associam com uma má evolução do paciente gerando, além do desconforto, aumento dos custos com a internação do mesmo 9. A redução desses custos poderia ocorrer, por exemplo, com abreviação do tempo de internação hospitalar, gerando menor demanda de leitos de UTI 9-11. Embora este não tenha sido o foco principal deste estudo, notou-se que os pacientes que foram submetidos à gastroplastia apresentavam IMC inferior a 30kg/m 2, não sendo considerados obesos mórbidos e, portanto, não atendendo às recomendações para indicação de procedimentos tão complexos como a gastroplastia. O tratamento desses indivíduos poderia ter sido conduzido com orientação dietética e atividades físicas, evitando a cirurgia e as complicações que dela podem decorrer 12, uma vez que cerca de metade dos pacientes submetidos ao procedimento descrito acabam sendo transferidos para UTI. Os analgésicos evitam desconfortos e dores que surgem logo após a diminuição do efeito da anestesia. Os antibióticos diminuem os riscos de infecções que normalmente surgem após tratamentos cirúrgicos. Os dados aqui apresentados revelaram que todos os pacientes submetidos a tratamento cirúrgico, independentemente da especialidade, fizeram uso de analgésicos e antibióticos, estando de acordo com o preconizado para a situação descrita. Com relação às transferências dos pacientes, este estudo mostrou que apenas uma pequena parte da amostra, representada por um único paciente, não apresentou boa evolução clínica e necessitou transferência para a UTI. A maior parte dos pacientes acompanhados permaneceu internada na clínica cirúrgica. Dados publicados por Abelha (2007) 13 descrevem índices semelhantes aos aqui observados, demonstrando que as condições observadas pontualmente na instituição pesquisada corroboram os dados já disponíveis na literatura. Diante da preocupação atual em reduzir custos hospitalares, estudos vêm sendo desenvolvidos com o intuito de avaliar possíveis modificações de condutas médicas que resultem em menores gastos 9. Embora este levantamento tenha sido realizado com uma população bastante reduzida e por um curto período de observação, sua intenção primária foi demonstrar que a quantificação pontual das indicações para internação no período pós-cirúrgico, bem como o tempo de internação e o prognóstico do paciente, são informações que podem ser facilmente coletadas e 113

Maesterli Silva de Sousa, Joana Maria Muniz, Samanta Cordeiro Silva, João Victor Fornari, Anderson Sena Barnabé, Rogério Barbosa de Deus & Renato Ribeiro Nogueira Ferraz tabuladas, e que deveriam ser realizada por todas as instituições hospitalares visando conhecer de maneira mais apurada o paciente cirúrgico, possibilitando assim a criação de mecanismos para sistematizar o atendimento, reduzir o tempo de internação e, consequentemente, os custos de uma permanência prolongada de pacientes sob sua tutela. Sugerimos a realização de novos estudos que arrolem um maior número de pacientes, submetidos a uma maior gama de procedimentos cirúrgicos, acompanhados por um maior intervalo de tempo, e com um melhor controle das variáveis independentes, com o intuito de confirmar em maior escala os dados disponibilizados em nossa curta observação. 6 CONCLUSÃO A pré-admissão do paciente com necessidades cirúrgicas é muito importante no prognóstico dos mesmos e pode estar intimamente relacionada com a evolução do seu quadro clínico. Pacientes com mais comorbidades tendem a apresentar prognóstico mais reservado, o que per se aumenta o tempo de internação. A criação de estratégias visando a sistematização do atendimento aos pacientes mais necessitados, principalmente com relação ao número de leitos que devem estar disponíveis, bem como com relação ao número de profissionais necessários para, de maneira adequada, prestar os cuidados necessários a esse grupo específico de pacientes, deve constituir-se em um foco de busca incessante por parte das instituições de saúde. REFERÊNCIAS 1. Carvalho R, Bianchi ER (org). Enfermagem em centro cirúrgico e recuperação. São Paulo: Manole, 2010. 2. Lima NF, Carvalho AL. Redução do tempo de hospitalização após cirurgia torácica de grande porte: identificação de fatores determinantes. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, 2003; 30(5):359-365. 3. Segal A, Fandino J. Indicação e contra-indicação para realização das operações bariátricas. Revista Brasileira de Psiquiatria, 2002; 24(3):35-38. 114

Indicações e Tempo de Permanência em Internação Pós-Cirúrgica em Um Hospital Público da Cidade de São Paulo SP 4. Rady MY, Ryan T, Starr NJ. Perioperative determinants of morbidity and mortality in elderly patients undergoing cardiac surgery. Crit Care Med, 1998; 26(2):225-235. 5. Vlahovic-Palcevski V, Morovic M, Palcevski G. Antibiotic utilization at the university hospital after introducing an antibiotic policy. Eur J Clin Pharmaco, 2000; 56(1):97-101. 6. Azevedo RC, Ramos FRS. Modos de conhecer e intervir: a constituição do corpo no cuidado de enfermagem no hospital. Texto & Contexto Enferm, 2006; 15(n.esp):55-63. 7. Malagutti W, Bonfim IM (org). Enfermagem em centro cirúrgico: atualidades e perspectivas no ambiente cirúrgico. São Paulo: Martinari, 2008. 8. Abelha FJ et al. Mortality and Length of Stay in a Surgical Intensive Care Unit. Rev Bras Anestesiol, 2006; 56(1):34-45. 9. Olsen GN. Avaliação e tratamento pré e pós-operatório do paciente de cirurgia torácica. In: Fishman AP. Diagnóstico das doenças pulmonares. Barueri: Manole, 1992. p.491-510 10. Manica J et al. Anestesiologia: princípios e técnicas. 3.ed. Porto Alegre: Artmed, 2003. 11. Ministério da Fazenda. Secretaria de Política Econômica. Gasto Social do Governo Central: 2001 e 2002. Brasília, novembro de 2003, 47p. 12. Abelha FJ et al. Quality of life after stay in surgical intensive care unit. BMC Anesthesiol, 2007; 24:7-8. 13. Abelha FJ, Santos CC, Barros H. Quality of life before surgical ICU admission. BMC Surgery, 2007; 7(23):47-54. Data do recebimento do artigo: 02/04/2012 Data do aceite de publicação: 31/05/2012 115