PROGRAMA DE DIABETES. Manual de Orientações aos Profissionais de Educação Física do Programa Academia da Cidade

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Transcrição:

PROGRAMA DE DIABETES Manual de Orientações aos Profissionais de Educação Física do Programa Academia da Cidade

PROGRAMA DE DIABETES Manual de Orientações aos Profissionais de Educação Física do Programa Academia da Cidade Prefeito Municipal Marcio Araujo de Lacerda Secretário Municipal de Saúde Marcelo Gouvêa Teixeira Secretário Municipal Adjunto de Saúde Fabiano Pimenta Júnior Assessora Especial da Secretária Municipal de Saúde Susana Maria Moreira Rates Colaboradores Rafael Machado Mantovani Raquel Vieira Moreira Rony Carlos Las Casas Rodrigues Belo Horizonte 2012

1 Orientações gerais O exercício físico tem um importante papel na prevenção e no controle da resistência à insulina, do pré-diabetes, do diabetes gestacional, do diabetes tipo 2 e das complicações relacionadas ao diabetes. Tanto o exercício aeróbico quanto o anaeróbico melhoram a ação da insulina e podem contribuir no controle dos níveis glicêmicos, dos lípides, da pressão arterial, do risco cardiovascular e na melhora da qualidade de vida. Entretanto, o exercício físico deve ser realizado de forma regular, a fim de que os benefícios sejam duradouros. A maioria das pessoas com diabetes tipo 1 e tipo 2 pode praticar a atividade física com segurança, desde que certas precauções sejam tomadas. Indivíduos com diabetes, sob treinamento físico supervisionado, apresentam maior compromisso, entusiasmo e melhor controle glicêmico que aqueles sem supervisão profissional. A inclusão de um programa de exercícios físicos é de vital importância para a saúde dos pacientes com diabetes. 2 Avaliação pré-exercício Algumas situações podem contraindicar a prática de atividade física, como hipertensão arterial grave e não controlada, neuropatia autonômica grave, neuropatia periférica grave ou história de lesões extensas no(s) pé(s), além da retinopatia proliferativa instável. A idade do diabético, assim como o seu nível de atividade física prévio, devem ser valorizados. Antes de praticar exercícios, os indivíduos com diabetes (principalmente os sedentários) devem passar por uma avaliação médica, que incluirá a análise do controle glicêmico, o uso de medicamentos e a avaliação de limitações físicas e complicações micro e macrovasculares. Além disso, essa avaliação visa a detectar outros fatores de risco, como doenças crônicas associadas ao diabetes (obesidade, dislipidemia, hipertensão, etc). É importante destacar que o médico deve estar atento à possibilidade de cardiopatia is- quêmica oculta, já que o paciente diabético tem maior risco de apresentá-la, principalmente durante a realização de atividade física. De forma complementar, a anamnese do professor de Educação Física 1, antes do início das atividades, é indispensável, de forma a identificar os pacientes de maior risco (anexo I) e verificar se houve avaliação médica prévia, com encaminhamento para atividade física (via formulário padronizado anexo II). Após a anamnese, o professor realizará a antropometria e os testes complementares 2 preliminares ao início da atividade física. 3 Tipo de exercício Os efeitos do exercício físico na ação da insulina variam de acordo com os parâmetros da carga de treinamento da atividade realizada (intensidade, volume, duração, pausa, frequência, etc tabela 1) e com a alimentação (prévia e subsequente). Durante o exercício aeróbico intenso e a atividade anaeróbia, mesmo que de curta duração, há uma maior produção de glicose (pelo aumento das catecolaminas plasmáticas), resultando em hiperglicemia, que pode persistir até por 1 a 2 horas após a atividade física, podendo ser seguidos de hipoglicemias dentro de horas após o término do exercício. Exercícios de baixa a moderada intensidade podem reduzir as glicemias durante (dentro de 20-60 minutos) ou após a atividade. A combinação de exercícios aeróbicos e anaeróbicos parece ser mais efetiva sobre o controle glicêmico que a prática de cada tipo isoladamente. Os adultos podem se submeter a atividades que envolvam todos os grandes grupos musculares, 2 a 3 vezes por semana. É recomendável que os idosos, ou os diabéticos com deficiência física, sejam submetidos às mesmas atividades, se possível. No caso de restrição, deve-se estimular a atividade física conforme 1 PAR-Q; estratificação de risco cardiovascular; história de saúde e de atividade física; escala visual analógica (EVA); percepção subjetiva de esforço (PSE). 2 Avaliação antropométrica, da frequência cardíaca e aferição da pressão arterial; teste de flexibilidade de membro inferior; teste de força explosiva de membro superior; teste aeróbico. 2 3

Tabela 1 Variáveis que influenciam a carga de treinamento e, consequentemente, a ação da insulina. ação muscular posição do seguimento corporal duração do exercício amplitude do movimento trajetória do movimento movimentos acessórios regulagem do equipamento auxílio externo executante número e frequência de pausas frequência de sessões número de exercícios número de séries número de repetições carga sua habilidade/capacidade. De forma prática, os diabéticos adultos devem, idealmente, ser submetidos a pelo menos 150 minutos por semana de atividade física aeróbica de moderada a alta intensidade, distribuídos em pelo menos 3 vezes durante a semana, com intervalo máximo de 2 dias consecutivos entre os treinos aeróbicos. Além da atividade física aeróbica, os diabéticos tipo 2 devem ser encorajados a praticar treinos anaeróbios (exercícios de força submáxima e resistência de força), de intensidade moderada a vigorosa, pelo menos 2-3 dias por semana, desde que não haja contraindicações. O treino de flexibilidade deve ser incluído na planilha de exercícios físicos, mas não deve substituir as outras modalidades sugeridas. 4 Situações especiais Por serem considerados um grupo de risco, os diabéticos usuários de insulina e/ou hipoglicemiantes orais que possam causar hipoglicemia (tabela 2) devem realizar o exame de glicemia capilar imediatamente antes (e, se necessário, durante e depois) do exercício físico. 4.1 Hipoglicemia No grupo de risco, se o valor da glicemia capilar estiver abaixo de 100 mg/dl, deve haver a ingestão de aproximadamente 15g de carboidratos (por exemplo: 1 fruta média, 3 bolachas, 1 fatia de pão de forma, 1/2 pão Tabela 2 Clorpropamida Glibenclamida Gliclazida Glimepirida Glipizida Repaglinida Nateglinida Fonte: ANVISA, 2012. Nomes comerciais dos hipoglicemiantes orais secretagogos de insulina disponíveis no mercado brasileiro Sulfoniluréias Diabecontrol, Diabinese, Glicorp Daonil, Glibeta, Glibendiab, Glicamin, Gliconil, Glimil, Glionil, Glucovance Azukon, Diamicron, Glicaron Amaryl, Amaryl Flex, Amaryl Met, Azulix, Betes, Diabemed, Diamellitis, Gliansor, Glimepibal, Glimepil, Glimeran, Glycopirida, Meritor Minidiab Glinidas Dianorm, Niglin, Novonorm, Posprand, Prandin, Reglinid, Repadiab Starlix, Starform de sal, 1 copo de suco de laranja) antes da realização do exercício físico. A quantidade de carboidratos a ser consumida pode ainda variar conforme a dose de insulina aplicada previamente, a duração e intensidade do exercício (parâmetros da carga do treinamento). Pode ainda haver necessidade de ingestão extra de carboidrato, de acordo com a monitorização glicêmica durante e após a atividade. Em caso de história de hipoglicemia grave (com sintomas neuroglicopênicos e/ou com necessidade de ajuda de outras pessoas para correção glicêmica) durante o dia, qualquer atividade física deve ser evitada nesta data (risco de outra hipoglicemia tão grave quanto à anterior). Se o paciente apresentar sinais/sintomas de hipoglicemia durante o exercício (mal-estar, sudorese fria, náusea, palpitação, tremores, mudança de comportamento, sonolência, perda de consciência), a glicemia capilar deve ser prontamente realizada. Com a suspeita de hipoglicemia, mesmo antes de sua confirmação, deve-se oferecer alimento contendo carboidrato (suco de frutas, pão, biscoito), caso o diabético esteja acordado e capaz de se alimentar. Se não houver melhora, uma bala (ou líquido contendo açúcar) poderá ser oferecida. O usuário deverá então ser orientado a monitorizar com maior frequência a glicemia capilar nas horas seguintes, pois eventos hipoglicêmicos tardios poderão acontecer. 4 5

É desejável que o usuário tenha sempre consigo uma fonte de carboidrato simples (por exemplo, bala, goma, suco com açúcar), para consumi-lo em um eventual episódio de hipoglicemia. Se a hipoglicemia for acompanhada de perda de consciência ou convulsão, o diabético deverá ficar em decúbito lateral não se deve oferecer líquidos ou alimentos (pelo risco de aspiração pulmonar) e uma unidade do SAMU deverá ser acionada imediatamente. Os diabéticos tipo 2 que não fazem uso de insulina ou secretagogos de insulina não necessitam medidas preventivas especiais relacionadas a hipoglicemia, por ser um evento raro. 4.2 Hiperglicemia A hiperglicemia pode ser considerada quando os valores de glicemia capilar são superiores a 250 mg/dl. Geralmente, não há sintomas associados. Quando os diabéticos tipo 1 têm deficiência de insulina por período prolongado (12-48 horas), ainda que parcial (dose inadequada de insulina, ou omissão de doses), e estão cetóticos, a prática de exercícios físicos pode piorar a hiperglicemia e a cetose. Dessa forma, a atividade física não deve ser realizada, na presença de cetose. Na ausência de fitas para dosagem de cetonemia / cetonúria, deve-se valorizar a glicemia capilar e o estado geral do diabético. Deve-se suspender a atividade física programada caso a glicemia capilar esteja acima de 300 mg/dl. Os indivíduos com diabetes tipo 2 com descontrole glicêmico, mesmo com valores de glicemia capilar acima de 300 mg/dl, geralmente não apresentam complicações com a prática de atividade aeróbica, desde que estejam sentindo-se bem. Os diabéticos tipo 1 com valores de glicemia acima de 300 mg/dl e os diabéticos tipo 2 com hiperglicemia e mal-estar deverão ser encaminhados a atendimento médico, com relatório (vide anexo III). Aqueles que já têm orientação médica prévia sobre como lidar com eventos hiperglicêmicos não necessitam ser encaminhados, desde que estejam sentindo-se bem, em condições de aplicar insulina no seu domicílio. Nesses casos, deve-se reforçar as orientações: hidratação oral frequente e aplicação de insulina de ação rápida conforme recomendação médica prévia. O anexo IV traz um fluxograma com as condutas do professor de Educação Física. 4.3 Retinopatia Diabética Na presença de retinopatia diabética proliferativa ou de retinopatia não proliferativa grave, exercícios aeróbios ou anaeróbios de alta intensidade podem ser contraindicados, pelo risco de hemorragia de vítreo ou descolamento de retina. É indispensável a avaliação oftalmológica prévia, ao início do programa de atividades físicas, com um parecer do Oftalmologista sobre a prática de exercícios físicos. 4.4 Neuropatia periférica Os indivíduos com neuropatia periférica podem fazer atividades, como caminhada de intensidade moderada, desde que estejam devidamente calçados. O professor de Educação Física deverá reforçar a necessidade do acompanhamento do diabético pela equipe de saúde, de forma a detectar precocemente possíveis lesões nos pés. Na avaliação física inicial, antes do início do programa de atividades, é recomendável avaliar a condição dos pés do diabético, reforçando a necessidade dos cuidados, inclusive com orientação sobre calçados adequados. As atividades que envolvem sobrecarga nos membros inferiores (por ex.: caminhadas, corridas, levantamento de peso) nos diabéticos com lesões dos pés e/ou com feridas abertas devem ser contraindicadas, pelo risco de se aumentar a pressão no local de ferida e, assim, permitir a disseminação de infecção, ambas altamente indesejáveis no cuidado do pé diabético. 4.5 Neuropatia autonômica A neuropatia autonômica pode aumentar o risco de eventos adversos secundários à prática de exercícios físicos, como hipotensão postural, alteração da termorregulação, hipoglicemia imprevisível (secundária à gastroparesia), entre outros. Além disso, a neuropatia diabética é fortemente associada às doenças cardiovasculares na população diabética. Dessa forma, os indivíduos com neuropatia diabética deverão ser submetidos à investigação cardiológica antes do início do programa de atividade física. 6 7

5 Bibliografia 1. American Diabetes Association. Standards of medical care in diabetes 2011. Diabetes Care 2011;34(Suppl. 1):S11 S61. 2. Robertson K, Adolfsson P, Riddell M, Scheiner G, Hanas R. Exercise in children and adolescents with diabetes. Pediatric Diabetes 2009: 10 (Suppl. 12): 154 168. 3. American Diabetes Association. Exercise and Type 2 Diabetes. The American College of Sports Medicine and the American Diabetes Association: joint position statement. Diabetes Care 2010; 33:e147 e167. Anexo I: Check list para identificação do grupo de risco Antes de iniciar o programa de exercícios para o diabético, o professor de Educação Física deverá completar a ficha individual do usuário da academia com a lista abaixo. Caso haja marcação de algum ponto, o paciente é pertencente a grupo de risco e deverá ser avaliado pela equipe de saúde antes do início das atividades. Se o paciente não souber responder a alguma das questões, solicitar ao médico assistente que responda ao questionário. Tipo de Diabetes Diabetes mellitus tipo 1 Diabetes mellitus tipo 2 usuário de insulina ou medicamentos secretagogos de insulina* * Sulfonilureias: glimepirirda, glicazida, glipizida, clorpropamida, glibenclamida; Glinidas: repaglinida, nateglinida. Acompanhamento Médico Mais de 12 meses, desde a última avaliação médica Mais de 12 meses, desde a última avaliação oftalmológica Comorbidades/Complicações do Diabetes Doença cardiovascular associada Oftalmopatia diabética (segundo relatório do Oftalmologista) Proliferativa Não proliferativa grave Neuropatia periférica Pé diabético Neuropatia autonômica 8 9

Anexo II: Modelo de encaminhamento médico do paciente diabético para a Academia da Cidade ENCAMINHAMENTO MÉDICO DO PACIENTE DIABÉTICO PARA A ACADEMIA DA CIDADE Encaminho o(a) Sr(a). com diagnóstico de diabetes mellitus ao programa Academia da Cidade, para a prática regular de atividade física, sob orientação profissional. Tempo de Diabetes: Classificação do diabetes mellitus Tipo 1 (ou LADA) Tipo 2 Em uso de insulina Não Sim: Em uso de secretagogo de insulina* Não Sim: Sulfoniluréias: glimepirirda, glicazida, glipizida, clorpropamida, glibenclamida; Glinidas: repaglinida, nateglinida. Anexo III: Modelo de encaminhamento do paciente diabético para avaliação médica de urgência ENCAMINHAMENTO DO PACIENTE DIABÉTICO PARA AVALIAÇÃO MÉDICA DE URGÊNCIA Encaminho o(a) Sr(a)., com diagnóstico de diabetes mellitus(dm) para atendimento médico. O mesmo está matriculado na Academia da Cidade, onde faz atividade física regular sob orientação profissional. Apresentou hoje glicemia capilar de mg/dl e, segundo o Manual de Orientações aos Professores de Educação Físicas das Academias da Cidade, deve ser encaminhado para avaliação e conduta médicas. Em uso de insulina Não Sim: Em uso de hipoglicemiante oral Não Sim: Observações: Última HbA1c: % Última fundoscopia ( / / ) Normal Neuropatia Não Sim: Insuficiência coronariana Não Sim: Data: / / Alterada: Professor Academia Restrição a alguma atividade específica Não Sim: Observações: Médico Carimbo / assinatura Centro de Saúde 10 11

Anexo IV: Fluxograma das condutas do Profissional de Educação Física Diabético em uso de insulina ou medicamento secretagogo de insulina Diabético fora do grupo de risco Atividade física programada Realizar glicemia capilar (GC) GC < 70 mg/dl GC entre 70 e 100 mg/dl (assintomático) GC entre 100 e 300 mg/dl GC 300 mg/dl Sintomas de hipoglicemia Ingestão de 15-20 g de CHO Atividade física programada. Sim Não Nova GC (15-20 min após) Encaminhar ao CS com relatório** Ingestão de açúcar GC 100 mg/dl GC > 100 mg/dl Atividade física suspensa Orientações Atividade física programada. Repetir GC no fim da atividade, ou antes, se necessário. Legenda: GC: glicemia capilar; CHO: carboidrato; CS: Centro de Saúde. **Relatório para encaminhamento do paciente com hiperglicemia: ver o modelo no anexo III. Observação: a medida da glicemia capilar não visa ao diagnóstico de diabetes mellitus, e sim à avaliação do risco de complicações relacionadas à atividade física, bem como à construção da autonomia do diabético. 12