CENTRO DE PESQUISA EM CIÊNCIAS DA SAÚDE MESTRADO PROFISSIONAL EM EXERCÍCIO FÍSICO NA PROMOÇÃO DA SAÚDE ERON JOSÉ GASPAR

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Transcrição:

CENTRO DE PESQUISA EM CIÊNCIAS DA SAÚDE MESTRADO PROFISSIONAL EM EXERCÍCIO FÍSICO NA PROMOÇÃO DA SAÚDE ERON JOSÉ GASPAR BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Londrina - Paraná 2014

ERON JOSÉ GASPAR BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Trabalho de Conclusão Final de Curso apresentado à UNOPAR, Unidade Piza, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestrado Profissional em Exercício Físico na Promoção da Saúde. Orientador: Prof. Dr. Dartagnan Pinto Guedes Londrina - Paraná 2014

ERON JOSÉ GASPAR BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Trabalho de Conclusão de Curso aprovado, apresentado à UNOPAR Unidade Piza, Centro de Pesquisa em Ciências da Saúde, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestrado Profissional em Exercício Físico na Promoção da Saúde, conferida pela Banca Examinadora formada pelos professores: Prof. Dr. Dartagnan Pinto Guedes Universidade Norte do Paraná Prof. Dr. Rubens Alexandre da Silva Junior Universidade Norte do Paraná Prof. Dr. Abdallah Achour Junior Universidade Estadual de Londrina Londrina,07 de maio de 2014.

AUTORIZO A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. Dados Internacionais de catalogação-na-publicação Universidade Norte do Paraná Biblioteca Central Setor de Tratamento da Informação G232B Gaspar, Eron José Burnout em profissionais de educação física / Eron José Gas -par. Londrina: [s.n], 2014 vii; 148f. Dissertação (Mestrado). Exercício Físico na Promoção da Saúde. Universidade Norte do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Dartagnan Pinto Guedes 1- Educação física - dissertação de mestrado - UNOPAR 2- Exercício físico 4- Exaustão profissional 5- Saúde ocupacional 6- Estresse laboral I- Guedes, Dartagnan Pinto, orient. II- Univer- sidade Norte do Paraná. CDU 796.012.12

Dedico este trabalho... Aos mais pais Ruy Gaspar (in memoriam) e Lila de Lima Gaspar, se consegui fazer tudo o que fiz, isso se deve a oportunidade de crescer em um ambiente familiar estruturado e de ser orientado no caminho certo nos momentos decisivos da minha vida. Aos meus irmãos Fabiano André Gaspar, Marco Aurélio Gaspar e em especial a minha irmã Ana Luiza Gaspar que sempre esteve envolvida em todos os projetos que realizei na vida. A Joyce Cristina Fonteque Gaspar, minha esposa que é a base da minha vida e sem ela não conseguiria ir a lugar nenhum. Aos meus filhos Caio José Fonteque Gaspar, Iago Henrique Fonteque Gaspar e Igor André Fonteque Gaspar que são as delicias da minha alma.

LISTA DE QUADROS Quadro 1 Selecionadas diferenças pontuais entre processo de burnout e estresse.. 18 Quadro 2 Estudos realizados no Brasil envolvendo burnout em profissionais de educação e saúde... 40 Quadro 3 Estudos localizados na literatura envolvendo burnout em profissionais de educação física... 41

Apresentação Esta publicação foi preparada com vistas a reunir informações quanto ao estresse laboral crônico, o que se denomina de burnout, que possa servir de embasamento necessário a melhor compreensão de tão importante tema relacionado à saúde e à produtividade dos trabalhadores de diferentes segmentos profissionais. Burnout é definido como resposta emocional à situação de estresse crônico em consequência de relações intensas no trabalho, geradas por contato direto e excessivo com receptores dos serviços e/ou frustrações de expectativas por não se alcançar o retorno esperado quanto ao crescimento e à dedicação profissional. Em tese, burnout vem acometendo mais intensamente profissionais dos setores de saúde e ensino. Cada vez mais, estes profissionais, independente da realidade social e cultural em que estão inseridos, são pressionados e requisitados pelos gestores e receptores de seus serviços a apresentar maior qualidade e eficiência em seus afazeres, muitas vezes, sem condições, o que aumenta as dificuldades na execução de tarefas e potencializa o estresse laboral. Especificamente no campo da educação física, o universo laboral de seus profissionais contempla atividades de ensino desde os anos iniciais de escolarização até treino/direção de equipes de esporte de alto rendimento, passando por serviços de prescrição e acompanhamento de exercício físico direcionados à promoção da saúde, à prevenção e ao controle de doenças, o que define essa classe profissional como sendo de elevada vulnerabilidade para burnout. O conteúdo da publicação procura atender dois objetivos principais: (a) compilar informações disponíveis na literatura quanto ao conceito, à classificação, às concepções teóricas, à predisposição, à prevenção, às consequências e aos instrumentos para análise de burnout; e (b) apresentar resultados de levantamento referente à presença de burnout em amostra de profissionais de educação física, com intuito de identificar seus determinantes e compreender possíveis associações com selecionados indicadores demográficos, características laborais e estilo de vida. A expectativa é que esta publicação possa oferecer importantes dados

quanto à saúde e ao estilo de vida dos profissionais de educação física e contribuir para a ampliação de novos conhecimentos na área, tornando-se uma nova opção no auxílio de futuros estudos sobre o tema, além de auxiliar em ações de intervenção que favoreçam a promoção da saúde no ambiente de trabalho.

SUMÁRIO 1. Introdução... 10 2. O profissional de educação física... 12 3. Processo de burnout... 14 4. Burnout e estress: semelhanças e diferenças... 17 5. Concepções teóricas associadas ao burnout... 19 6. Predisposição ao burnout... 21 7. Consequências de burnout... 25 8. Prevenção e controle de burnout... 28 9. Instrumentos para análise de burnout... 31 10. Burnout em profissionais de saúde e educação... 36 11.Burnout e comportamento de risco e proteção para saúde: um estudo epidemiológico em profissionais de educação física 42. 11.1 Seleção da amostra... 44 11.2 Instrumeto de medida 45 11.3 Coleta de dados... 47 11.4 Tratamento estatístico... 48 12. Indicadores demográficos e características laborais de profissionais de educação física da Região Matropolitana de Londrina, Paraná... 50 13. Comportamentos de risco e proteção para saúde de profissionais de educação física da Região Matropolitana de Londrina, Paraná... 55 13.1 Uso de tabaco... 55 13.2 Consumo de bebida alcoólica 58 13.3 Hábitos alimentares... 62 13.4 Prática de atividade física... 67 13.5 Tempo sentado... 75 14. Burnout em profissionais de educação física da Região Matropolitana de Londrina, Paraná... 77

10 15. Considerações finais... 95 16. Referências bibligráficas... 99 17. Apêndices... 117

11 1. Introdução A sociedade moderna vem enfrentando grandes transformações de diferentes ordens e aspectos. No mundo do trabalho, os serviços e as organizações procuram ajustar-se a essas transformações, impondo novas exigências e responsabilidades. A busca por maior eficiência e produtividade tem gerado demandas até pouco tempo atrás não consideradas. Por consequência, e por força das circunstâncias, hoje, independente da área de atuação, o profissional é constantemente solicitado a se ajustar e a se adaptar a esta realidade [4]. Em contrapartida, a tão almejada maximização da capacidade produtiva e de qualidade a que o profissional está exposto, por sua vez, obriga-o a assumir postura excessivamente intensa e irracional. A pressão constante por cumprimentos de metas cada vez mais elevadas, a necessidade de potencializar, ao extremo, o senso de competitividade e a busca por maiores ganhos financeiros, em muitos casos, pode resultar em desequilíbrio físico-emocional com graves repercussões para a saúde, o bem-estar e o próprio trabalho do profissional [13]. Parece não haver dúvidas de que o trabalho constitui elemento de fundamental importância na vida das pessoas, uma vez que a forma pela qual se encara a atividade profissional alicerça também grande espectro de atributos associados à auto realização individual e à posição do indivíduo em todo contexto social. Porém, mesmo reconhecendo-se a importância que o trabalho exerce na vida das pessoas, reconhece-se também que esse mesmo fator pode ser tão opressor e nefasto a ponto de levar à insatisfação e à desmotivação para o exercício profissional, chegando, até mesmo, ao acometimento da saúde psicológica e mental. Existem relatos que, em alguns casos considerados mais severos, diante de situações tão desfavoráveis, determinados profissionais tendem a abandonar a profissão [35]. A identificação de possíveis distúrbios psicofísicos gerados pelo trabalho e a necessidade de intervenção solicitam uma melhor compreensão das causas, instalação, desenvolvimento, consequências e controle dos agentes estressores ocupacionais, e requerem também condições e ambientes apropriados para garantir a esperada produtividade do profissional e, paralelamente, assegurar indicadores favoráveis relacionados à qualidade de vida [60].

12 De maneira sintética, entende-se por saúde ocupacional a promoção da saúde e a prevenção de eventuais distúrbios originados do ambiente de trabalho. Portanto, o conceito de saúde ocupacional abarca intrinsecamente uma abordagem de prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce de agravos à saúde relacionados ao trabalho, além da constatação da existência de casos de doenças profissionais e danos à saúde do profissional [4]. No presente manuscrito deverá ser destacado, especificamente, o trabalho do profissional de educação física, em suas diferentes possibilidades de atuação laboral, atentando-se para a saúde ocupacional e particularmente para o burnout, visto ser este em consequência tanto de um ambiente desfavorável ao exercício profissional como de uma sobrecarga excessiva de tarefas e funções que, por vezes, pode ser confundido com o estresse. Burnout origina-se de um aglomerado de agentes estressores que, de maneira geral, leva o profissional a desempenhar seu trabalho em profundo estado depressivo, sem qualquer prazer, satisfação ou motivação [117]. Logo, identificar e dimensionar a participação de fatores de proteção e de risco predisponentes ao aparecimento e ao desenvolvimento de burnout em profissionais de educação física poderão contribuir, de forma significativa, para ampliar o campo de conhecimento na área, tornando-se uma nova opção no auxílio de futuros estudos sobre o tema e auxiliar em ações de intervenção que promovam a saúde destes profissionais.

13 2. O profissional de educação física No Brasil, o interesse pelos assuntos abordados no campo da educação física e as consequentes mudanças nas formas de trabalho dos profissionais têm aumentado consideravelmente nas últimas décadas. Os estudos disponibilizados na literatura percorrem um amplo espectro temático, incluindo, desde contribuições de natureza epistemológica e filosófica [170], passando pela caracterização profissional e acadêmica da área [180] e culminando com aqueles orientados para a produção de conhecimento empírico sobre as diferentes faces de atuação no mercado de trabalho [85]. Este maior interesse tem sido motivado basicamente pela necessidade de melhor compreensão das distintas possibilidades de atuação do profissional de educação física e pelo reconhecimento de sua importância em uma sociedade que se moderniza e busca melhor qualidade de vida. Em sintonia com esse avanço, em 1998 a educação física foi regulamentada como profissão, e o Ministério do Trabalho criou, mediante a lei 9.606 Diário Oficial da União de 02/09/1998, o Conselho Federal de Educação Física, que tem, como missão disciplinar, a atuação de seus profissionais no mercado de trabalho. O universo laboral do profissional de educação física contempla atividades de ensino desde os anos iniciais de escolarização até treino/direção de equipes de esporte de alto rendimento, passando por serviços de prescrição e acompanhamento de exercício físico direcionados à promoção da saúde, à prevenção e ao controle de doenças. Portanto, os profissionais de educação física não pertencem a uma categorização laboral homogênea. Ao contrário, existem distintas funções e atribuições inerentes ao seu trabalho, com características que os expõem, frequentemente, a diferentes desafios, demandas e recompensas, dependendo, entre outros fatores subjacentes, da formação acadêmica/profissional, da experiência de atuação na profissão, da estabilidade no serviço e do contexto social em que estão inseridos [72]. De fato, o trabalho do profissional de educação física é caracterizado por elevado investimento pessoal nas atividades que desempenha, sendo marcado por um contato muito próximo com os receptores de seus serviços, seja no ambiente escolar, seja no treino de esporte e prática de exercício físico que envolve jovens,

14 adultos e idosos, seja ainda no enfrentamento de situações estressantes durante seus afazeres. Também é comum que esse profissional, além dos aspectos constitutivos e desgastantes do trabalho, tem de sujeitar-se ao pluriemprego como forma de organização profissional. Contudo, mesmo considerando a diversidade de atuação do profissional de educação física, seu trabalho é menos valorizado em comparação com o de outros profissionais de educação e saúde e, por vezes, desacreditado, o que leva alguns profissionais, após anos de trabalho, a mudarem de profissão em busca de uma satisfação social e econômica compatível com suas expectativas e capacidade de atuação no mercado de trabalho. Ainda, existem aqueles que, mesmo tentados a abandonar a profissão, relutam em fazê-lo por diferentes motivos, sobretudo pela concepção do ideal profissional e pela elevada identificação afetiva com a profissão. Nesse caso, passam a sofrer desgaste psicológico e mental bastante acentuado em consequência das discrepâncias entre o querer realizar (ideal profissional) e a efetiva possibilidade de realização (realidade profissional) que, se persistentes, tornam-se um dos principais contribuintes para o aparecimento e desenvolvimento do burnout.

15 3. Processo de burnout O termo burnout tem sua origem em um jargão inglês relacionado a algo que deixou de funcionar por absoluta falta de energia. Inicialmente, por ocasião da Segunda Guerra Mundial, militares e engenheiros mecânicos utilizavam o termo para definir pane geral em turbinas de jatos e em outros tipos de motores. Sua etimologia é uma conjunção dos vocábulos burn e out, que sugerem queima até a exaustão indicando o colapso que sobrevem após a utilização de toda energia disponível. No contexto da saúde, a literatura descreve que burnout foi um termo primeiramente utilizado na década de 1970 nos Estados Unidos, pelo psicólogo clínico familiar Herbert Freudenberger, passando a partir de então a ser disseminado por todo o mundo. Na época, a expressão foi empregada para descrever um sentimento de fracasso e exaustão causado por excessivo desgaste de energia e de recursos no trabalho, identificado em profissionais que lidavam diretamente com pacientes usuários de drogas [55,56]. Relatos apontam que esses profissionais reclamavam frequentemente que já não conseguiam relacionar-se com os pacientes como indivíduos que necessitavam de cuidados especiais, uma vez que estes não se importavam com nada, exceto as drogas. Devido à exaustão, por vezes desejavam nem acordar para não enfrentar o trabalho. Ainda, pela impossibilidade de modificar o status quo sentiam-se incapazes de alcançar seus objetivos com o trabalho. Sentiam-se derrotados e sem ânimo para continuar realizando aquele tipo de trabalho. Apesar de Freudenberger ter sido o pioneiro no uso do conceito burnout no campo da saúde, foi a pesquisadora Christina Maslach, anos depois, que primeiro definiu a síndrome de uma forma mais contundente. Passou-se então a entender burnout como uma forma específica de estresse ocupacional, resultante da exigência excessiva de energia na realização das tarefas laborais, em que o profissional perde o sentido de sua relação com o próprio trabalho. Em geral, manifesta-se mais frequentemente em profissionais envolvidos com algum tipo de trabalho que exige atenção direta, contínua e altamente emocional [113,116]. Portanto, as profissões mais vulneráveis ao burnout são aquelas que solicitam serviços de tratamento, proteção e educação, como é o caso de médicos, enfermeiros,

16 psicológicos, assistentes sociais, bombeiros, policiais, professores, gestores educacionais e, especificamente, profissionais de educação física. O processo de burnout é individual, surge paulatinamente, é cumulativo e progressivo em severidade como resposta crônica aos estressores interpessoais existentes no ambiente de trabalho. Seu aparecimento e evolução podem levar anos, até mesmo décadas; muitas vezes não é percebido por aqueles profissionais que recusam assumir que algo de errado possa estar acontecendo em sua relação com o trabalho [149]. Trata-se de uma síndrome multidimensional que envolve três componentes, passíveis de associação, mas que são independentes: (a) exaustão emocional; (b) despersonalização; e (c) realização profissional [117]. A exaustão emocional caracteriza-se pela fadiga ou carência de energia e entusiasmo, acompanhada por nítido sentimento de esgotamento emocional, devido ao contato frequente com demandas do trabalho. Pode ocorrer em conjunto com sentimentos de frustração e tensão. Neste caso, os profissionais percebem que já não possuem condições de despender mais energia para realizar como antes seu trabalho ou atender os receptores de seus serviços. As manifestações podem ser psíquicas, físicas, ou a combinação de ambas, e resultam em manifestações de irritabilidade, ansiedade e cansaço que o descanso não é capaz de amenizar. A despersonalização leva o profissional a tratar seus receptores de serviço, colegas e a organização como objetos, desvirtuando a relação. Ocorre um endurecimento afetivo, o profissional torna-se menos sensível emocionalmente, tendendo ao cinismo e à dissimulação afetiva. Extrema ansiedade, aumento de irritabilidade, perda de motivação, redução de metas de trabalho, comprometimento nos resultados; além de redução e até perda do idealismo, alienação e conduta voltada para si mesmo são manifestações comuns da despersonalização. Diminuição da realização pessoal associada ao trabalho é identificada pela tendência do profissional em se auto avaliar de forma negativa, perdendo então o sentimento de competência no trabalho, por sentir-se infeliz consigo mesmo e insatisfeito com seu envolvimento profissional. Baixa realização profissional afeta a habilidade do profissional para realizar o trabalho, comprometendo o atendimento de receptores do serviço e dificultando o contato com a organização. Ainda, quanto à definição dos componentes de burnout, é possível assumir que a exaustão emocional representa a dimensão básica e individual do

17 estresse crônico, a despersonalização representa a dimensão de contexto interpessoal e a realização pessoal no trabalho refere-se à dimensão de auto avaliação. De maneira geral, a manifestação de burnout apresenta sinais e sintomas próprios que o diferencia de outras psicalgias, principalmente do estresse e depressão. Neste caso, distinguem-se quatro estágios que permitem identificar a evolução do desfecho [145]. No estágio inicial, a motivação para o trabalho fica comprometida e surge um crescente e gradual desânimo para realizar as tarefas laborais. O profissional deixa de ter prazer naquilo que faz; porém, não consegue identificar exatamente o que possa estar acontecendo. No segundo estágio, o relacionamento com os colegas de trabalho torna-se mais tenso e evidencia-se a perda de qualidade no desempenho profissional. Surgem pensamentos neuróticos de perseguição e boicote da parte dos superiores hierárquicos e colegas de trabalho, o que leva o profissional a pensar na hipótese de mudar de setor, função, ou até mesmo de trabalho, passando a se ausentar com mais frequência do seu trabalho e a solicitar afastamento por motivos médicos absenteísmo. Também, evita ou recusa a participar de decisões e de trabalhar em equipe. No estágio seguinte, as habilidades e as capacidades profissionais tornam-se mais comprometidas e os erros no trabalho tornam-se mais frequentes. Nesse estágio podem surgir doenças psicossomáticas, alergias e picos de pressão arterial, acompanhadas de automedicação e eventual aumento no consumo de tabaco e bebida alcoólica como paliativo para minimizar a angústia e o desprazer no trabalho. Constata-se a despersonalização revelada pela indiferença em relação ao trabalho, seguida do cinismo e sarcasmo. No quarto e último estágio, o profissional aumenta significativamente as chances de recorrer ao uso de drogas lícitas e ilícitas como forma de fuga da realidade; pensamentos de autodestruição e suicídio são enfatizados e a prática laboral torna-se bastante comprometida, levando ao inevitável afastamento do trabalho. Chama-se a atenção para o fato de que os estágios apresentados devem ser considerados apenas como informativos; logo, não representam com segurança uma forma de diagnóstico e manifestação de burnout. O mesmo quadro sintomático pode ter variações dependendo da reação dos profissionais.

18 4. Burnout e estresse: semelhanças e diferenças Ainda que possa não existir uma definição única de burnout, já existe o consenso de que ele seja uma resposta ao estresse laboral crônico. Contudo, burnout não deve ser confundido com estresse, tampouco devem ser tratados como sinônimos. Neste particular, torna-se fundamental estabelecer as delimitações conceituais de ambos. No caso do burnout, estão envolvidas atitudes e condutas negativas associadas especificamente aos receptores do serviço, à organização a que se está vinculado e ao trabalho que realiza. É um processo gradual, de experiência subjetiva, envolve atitudes e sentimentos que acarretam problemas de ordem prática e emocional ao profissional e à organização. Por outro lado, no caso do estresse, por trata-se de um esgotamento pessoal com interferência na vida do indivíduo, e não necessariamente na sua relação com o trabalho, essas atitudes e condutas não estão envolvidas. Logo, burnout é a maneira encontrada pelo profissional de enfrentar, mesmo que de forma inadequada, a cronificação do estresse ocupacional. Portanto, sobrevem quando falham outras estratégias utilizadas para lidar com o estresse [149]. Estresse ocupacional tem sido definido como a presença de desconforto experimentado pelo profissional, que se sente obrigado a realizar mudanças em seu comportamento como resultado de constrangimentos, oportunidades e demandas relacionadas aos objetivos do trabalho. O fato de estar exposto ao estresse ocupacional por longo período sem retorno ao estado de equilíbrio ocasiona avarias nas adaptações emocionais precipitando o aparecimento e o desenvolvimento do burnout. Especial característica que diferencia burnout de estresse é o fato deste ser considerado um constructo polivalente e poder ser utilizado como estímulo, causa, efeito e reação. Portanto, está associado às respostas de estímulos estressores presentes no cotidiano do indivíduo em todas as suas relações com o ambiente, positivas ou negativas (distresse). Burnout, por sua vez, sempre se apresenta negativamente e está intimamente ligado à exposição prolongada de agentes de agressão presentes exclusivamente na rotina e ambiente de trabalho. Entende-se, então, que a negligência em relação ao estresse ocupacional

19 cronificado, não acompanhado e tratado adequadamente, conduz ao burnout. O quadro 1 disponibiliza informações contidas na literatura que podem auxiliar no entendimento de diferenças pontuais entre o processo de burnout e o estresse. Quadro 1 Selecionadas diferenças pontuais entre processo de burnout e estresse. Processo de burnout É uma defesa caracterizada pela desistência As emoções tornam-se embotadas Seu principal dano é emocional A exaustão afeta a motivação e a iniciativa Produz desmoralização Existe perda de ideais e esperança A depressão causada pela mágoa é engendrada pela perda de ideais e esperança Produz sensação de abandono e desesperança Produz paranoia, despersonalização e desligamento Não leva a óbito, mas pode fazer com que uma vida longa não vale a pena ser vivida Estresse Caracteriza-se pelo super envolvimento As emoções tornam-se hiper-reativas Seu principal dano é o físico A exaustão afeta a energia física Produz desintegração Existe perda de combustível e energia A depressão é causada pela necessidade do organismo se proteger e conservar energia Produz sensação de urgência e hiperatividade Produz desordens associadas ao pânico, às fobias e as ansiedades Pode ocasionar morte prematura, e o indivíduo não terá tempo para concluir o que iniciou

20 5. Concepções teóricas associadas ao burnout Em tese, parece não existir modelo único que possa explicar o burnout, em razão de que cada modelo tenta centrar sua atenção em aspectos específicos do desfecho. Portanto, afirmar que burnout é um processo, um fenômeno, uma síndrome, ou uma espécie de doença psíquica, depende basicamente da concepção teórica adotada. Em virtude disso, conhecer as concepções teóricas associadas ao burnout poderá clarificar o campo de atuação e auxiliar na identificação de agentes antecedentes e suas consequências. As concepções teóricas associadas ao burnout podem ser agrupadas em quatro perspectivas: clínica, sociopsicológica, organizacional e sócio-histórica [35]. Na perspectiva clínica, burnout representa um estado de exaustão resultante de trabalho intenso, sem a preocupação devida com a comunidade ou a organização, em que até as próprias necessidades são deixadas de lado. A abordagem é centralizada na etiologia, nos sintomas e na evolução clínica do tratamento. Pouca ênfase se dá aos aspectos sociais; delimita-se o burnout como um estado apresentado pelo profissional, de forma única, e não como um processo gradual e cumulativo. Essa abordagem é fortemente advogada nos estudos pioneiros de Freudenberger, na década de 1970. A abordagem sociopsicológica acrescenta à concepção clínica indicadores sociais e ambientais como elementos igualmente desencadeantes. Atribui ao ambiente de trabalho as características básicas para o burnout, procurando relacionar o desfecho à posição que o profissional ocupa em seu trabalho. Burnout aparece como uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto e excessivo com outros indivíduos, uma vez que cuidar exige tensão emocional constante, atenção permanente e grande responsabilidade profissional. Em síntese, o profissional se envolve afetivamente com seus receptores de serviço, desgasta-se, atinge seu limite, desiste, passa a sofrer os sintomas de burnout. A abordagem sociopsicológica atende os pressupostos apresentados nos estudos de Christina Maslach e sua equipe, e acaba sendo a mais empregada na atualidade. Pela perspectiva organizacional o burnout é caracterizado como uma forma de enfrentamento, ou seja, como resultado da resistência do indivíduo

21 enquanto profissional ao seu desajuste no trabalho. Por essa concepção, burnout se manifesta como reação às necessidades organizacionais em detrimento das necessidades individuais, sendo delimitado pelas discrepâncias entre as necessidades do profissional e as pressões exercidas pelas necessidades da organização. Na perspectiva sócio-histórica oferece-se maior ênfase ao papel da sociedade no contexto relacionado ao burnout. Prioriza-se o caráter capitalista e individualista competitivo da sociedade moderna como prioritário em detrimento dos aspectos individuais e organizacionais. Pondera-se que, o fato das condições sociais, em que predomina a ambição econômica, não canalizarem os interesses do profissional para auxiliar o outro, torna difícil manter o comprometimento de servir aos demais em seu trabalho. Mesmo divergindo da abordagem e concepção teórica quanto à formação etiológica do desfecho, especialistas na área concordam que o aspecto relacional é inerente ao seu desenvolvimento, e a atividade laboral constitui importante papel como facilitadora do burnout. Todavia, eventual identificação da síndrome torna-se de fundamental importância não somente para o grupo de profissionais considerado como propenso e de maior risco, conforme já mencionado, incluindo-se os profissionais de educação física, mas também todos aqueles que desenvolvem suas atividades na área de manutenção da saúde do trabalhador. Nesse sentido, é imprescindível não apenas investir em diagnóstico de uma possível presença de burnout, mas também delinear e colocar em prática estratégias de intervenção direcionadas a sua prevenção e, quando for o caso, ao seu controle, por meio de ações que possam minimizar os prejuízos para saúde física e psíquica do profissional no seu ambiente de trabalho e, consequentemente, em todo contexto social.

22 6. Predisposição ao burnout Especialistas na área têm-se preocupado em identificar possíveis indicadores predisponentes ao aparecimento e ao desenvolvimento de burnout. De maneira geral, assume-se a possibilidade de existirem fatores internos de cunho biológico e psicológico, característicos de cada indivíduo, que podem estar associados ao processo de burnout. Nesse particular, tanto indivíduos identificados com predisposição biológica para uma mais elevada excitabilidade orgânica, depressão e ansiedade, como indivíduos propensos ao perfeccionismo, centralização de atividades e expectativas elevadas tendem a apresentar mais acentuada vulnerabilidade para o processo de burnout [159]. No entanto, chama-se a atenção para o fato de que esses fatores internos, por si sós, não devem ser considerados desencadeantes ou predisponentes ao processo de burnout. Porém, seguramente desempenham papel facilitador ou inibidor da ação dos agentes estressores e do enfrentamento destes pelo profissional. Por outro lado, considera-se a existência de uma combinação de diversos outros fatores reunidos em quatro categorias distintas, que podem induzir os agentes patológicos responsáveis pelo estresse ocupacional, considerados como os principais elementos de risco de burnout. Em síntese, as quatro categorias são representadas por fatores de características pessoais, laborais, organizacionais e sociais [13]. Quanto às características pessoais, podem-se citar aspectos vinculados à idade, ao sexo, ao nível educacional, à personalidade, à motivação e ao idealismo:

23 Idade: Profissionais mais jovens tendem a apresentar maior incidência de burnout; sobretudo, antes dos 30 anos. Pode-se associar este fato à falta de experiência, que acarreta aos mais jovens maior insegurança. O profissional jovem, ao deparar-se com a realidade de seu trabalho, corre o risco de, eventualmente, comprovar que suas expectativas e ilusões de formação não possuem sustentação. Sexo: De uma forma geral, as mulheres podem apresentar índices mais acentuados do processo no componente exaustão emocional; enquanto nos homens esses níveis são maiores no aspecto despersonalização. No entanto, parece que ainda não existe unanimidade quanto a qualquer evidência mais consistente de uma maior incidência de burnout em relação a determinado sexo. Nível Educacional: Evidências disponibilizadas em alguns estudos sugerem que o processo acomete mais frequentemente profissionais que possuem nível educacional mais elevado. Procura-se atribuir essa característica ao maior conhecimento sobre a realidade estrutural social. Personalidade: Tipo emocional, lócus de controle, otimismo versus pessimismo, perfeccionismo, variáveis do self, estratégias e formas de enfrentamento são aspectos individuais relacionados à personalidade que podem potencializar, inibir ou até eliminar os agentes estressores associados ao desencadeamento do processo de burnout. Motivação: Profissionais excessivamente dedicados ao trabalho e que desempenham com elevado comprometimento o trabalho com objetivo de obter reconhecimento na cadeia organizacional (motivação extrínseca) são os que tendem a estar mais propensos ao burnout. Em contrapartida, profissionais que apreciam aquilo que fazem no trabalho e que estão constantemente motivados por conta do prazer que sentem no desempenho de suas funções (motivação intrínseca) reduzem significativamente o risco de desencadear o processo de burnout. Idealismo: Quanto maior a expectativa e investimento na atividade profissional e sua possibilidade de realização, mais elevada é a possibilidade de desenvolvimento do processo de burnout. Via de regra, acometem profissionais que atuam em funções de cunho social e que, por esse motivo, são frequentemente dotados de grande idealismo, uma vez que desejam intensamente auxiliar os usuários que são alvos de seu trabalho. Esse parece ser um dos fatores que mais predispõe e facilita o profissional ao processo. No que se refere às características laborais, apontam-se aspectos

24 relacionados ao tempo de profissão, à sobrecarga de funções, à relação entre profissional e usuário, ao tipo de usuário, à pressão para mais elevada produtividade e à ausência de feedback: Tempo de profissão: Não existe concordância entre os especialistas da área sobre a influência deste aspecto na presença de burnout. Alguns acreditam que o burnout é um processo que vai se instalando ao longo dos anos de trabalho, outros, em contrapartida, sugerem que esta síndrome incide principalmente nos recém chegados no mercado de trabalho, devido a menor experiência profissional e/ou na organização. Sobrecarga: Este aspecto refere-se ao acúmulo de funções e obrigações, sendo apontado como principal desencadeante do processo de burnout. Nesse sentido, chama-se atenção tanto à quantidade quanto à qualidade excessiva de demandas. Relação profissional/usuário: Em razão do caráter relacional intrínseco associado ao burnout, quanto mais próxima a relação entre o profissional e o usuário de seus serviços, maior deverá ser a probabilidade de aparecimento e desenvolvimento do processo. Tipo de usuário: Elementos do papel do usuário que podem afetar o profissional e, por sua vez, favorecer o burnout estão associados ao tipo de problema do usuário, à natureza da relação profissional-usuário, ao papel de controle, à posição e à reação do ocupante do cargo em relação às necessidades do usuário. Neste particular, usuários multiqueixosos, beligerantes, agressivos, disfóricos, depressivos são tidos como especialmente difíceis. O mesmo ocorre no atendimento de usuários pertencentes a grupos de risco. Pressão por produtividade: Ausência de feedback: Constante busca por resultados e metas cada vez mais elevadas, desproporcional à capacidade e habilidade do profissional, repercute negativamente, propiciando burnout. Ausência de retorno ou feedback quanto aos serviços realizados, tanto do usuário que deles usufruiu quanto de colegas e superiores, também é apontado como elemento propiciador de incremento do burnout. Em relação às características organizacionais, destacam-se o ambiente físico, as normas organizacionais e a segurança como principais fatores de risco que podem facilitar ou inibir o aparecimento e o desenvolvimento desse processo:

25 Ambiente físico: Refere-se basicamente às condições do local de trabalho. Define-se como uma das variáveis mais importantes e de possível ajuste nas ações de prevenção e controle do estresse laboral e do burnout. Espaços com temperaturas extremas (calor ou frio), ruídos excessivos, higiene comprometida, entre outros aspectos, interferem na saúde física e psicológica do profissional. Normas organizacionais: Estabelecimento de normas e regras rígidas e inflexíveis que dificultam a criatividade, a autonomia e a liberdade de expressão do profissional diante de suas atividades tendem a favorecer de forma significativa o aparecimento e desenvolvimento do processo. Segurança: Percepção de que se esta realizando o trabalho em um ambiente inseguro, tanto física (risco de lesões e disfunções orgânicas) como emocionalmente (assédios e instabilidade laboral), evidencia-se como facilitadora ao processo. A descrição de aspectos referentes a cada categoria dos facilitadores e desencadeantes do burnout assinala ainda, alguns fatores associados às características sociais. Nesse sentido, aspectos como suporte social (colegas e amigos) e suporte familiar devem ser enfatizados como bastante importantes. Também a cultura e o prestígio de que goza o profissional em seu grupo social definem-se como fatores de destaque na maior ou menor predisposição para o burnout.

26 7. Consequências de burnout O estágio atual de conhecimento das possíveis consequências de burnout sugere que estas mereçam importante registro em razão de sua quantidade, seriedade potencial, domínios afetados e, em alguns casos, pela irreversibilidade de sua agressão [152]. Muitas vezes, as consequências de burnout tornam-se irreversíveis, impedindo o retorno saudável do profissional ao seu ambiente de trabalho. Neste sentido, entende-se aqui o conceito saudável como indicativo de satisfação e prazer no exercício das tarefas laborais, o que influi sobremaneira em todo clima da organização em que está inserido. Por sua característica silenciosa e em razão dos sintomas do burnout permanecerem desconhecidos pela grande maioria dos profissionais, corre-se o risco de não se reconhecer o seu caráter patogênico, atribuindo-se as evidências de manifestação do processo em andamento a outras doenças, como gripes, resfriados e outras infecções, ou à fadiga eventual em resposta natural diante do trabalho temporariamente excessivo. Portanto, monitorar constantemente uma provável presença de burnout, por intermédio de informações confiáveis e instrumentos validados para essa finalidade, constitui-se procedimento a ser considerado na preservação e na promoção da saúde dos trabalhadores. Embora se admita que cada profissional pode expressar-se de modo particular, conforme se deduz da análise de informações disponibilizadas na literatura, em geral, identificam-se as principais consequências induzidas pelo burnout reunidas em quatro diferentes grupos [14] : Consequências de ordem física: fadiga constante e progressiva, distúrbios de sono, dores musculares ou osteomusculares, cefaleias, enxaquecas, perturbações gastrintestinais, imunodeficiência, transtornos cardiovasculares, distúrbios do sistema respiratório, disfunções sexuais e alterações menstruais nas mulheres. Consequências de ordem psíquica: falta de atenção e de concentração, alterações de memória, sentimento de alienação, sentimento de solidão, impaciência, sentimento de insuficiência, baixa auto-estima, labilidade emocional, dificuldade de auto-aceitação, astenia, desânimo, depressão e desconfiança. Consequências de ordem comportamental: negligência de escrúpulos, irritabilidade,

27 agressividade, incapacidade para relaxar, dificuldade na aceitação de mudanças, perda de iniciativa, aumento do consumo de álcool, tabaco e substâncias químicas. Consequências de ordem defensiva: tendência ao isolamento, sentimento de onipotência, perda de interesse pelo trabalho (ou até pelo lazer), absenteísmo, ironia e cinismo. Por outro lado, evidências provenientes de estudos que envolvem delineamento longitudinal apontam o burnout como importante condição predisponente para maior acúmulo de gordura corporal e perfil lipídico-lipoproteico desfavorável. Neste caso, profissionais japoneses expostos por longo tempo ao burnout sendo acompanhados por cinco anos, com avaliações anuais de exames de saúde, demonstraram possuir 90% mais chance de serem obesos e por volta de três vezes mais chances de apresentar hipercolesterolemia, em comparação com seus pares sem indicação de estresse ocupacional crônico [98]. Ademais, estudos prospectivos com participação de profissionais israelenses apontaram que o burnout pode elevar em 84% o risco de desenvolver diabetes tipo II [122] e em 41% a probabilidade de confirmar diagnósticos associados às doenças arterialcoronarianas [171]. Assumindo-se que burnout é um processo que se manifesta de maneira gradual e acumulativo, a frequência e a intensidade das consequências vinculadas apresentam diferentes graus de manifestação. No que se refere à frequência, o menor grau deverá estar presente quando ocorre o aparecimento esporádico dos sintomas, e o maior grau deverá ser detectado quando a presença destes é permanente. Quanto à intensidade, nível baixo denota incidência de sentimentos de irritação, esgotamento, inquietação, frustração, etc., e alto nível denota presença de doenças específicas e somatizações generalizadas. Analisando-se as consequências provenientes do burnout percebe-se que a síndrome debilita acentuadamente a saúde do indivíduo, levando o profissional a um processo de alienação, desumanização e apatia, o que aumenta o absenteísmo, favorece o turn-over (rotatividade de trabalho), diminui a produtividade, faz crescer o risco de acidentes de trabalho e cria situações de acentuado repúdio à profissão [4]. Acresce que, as consequências de burnout não repercutem apenas no campo pessoal-profissional, mas também na organização e na relação com os receptores do serviço. Via de regra, a adoção de atitudes negativas por parte do

28 profissional na relação com os receptores de seus serviços provocará a deterioração da qualidade do seu serviço e de seu papel no mercado de trabalho [149]. O profissional acometido de burnout tem dificuldade em envolver-se por faltarem-lhe carisma e emoção no trato com os receptores de seu serviço [84].

29 8. Prevenção e controle de burnout Para prevenção ou intervenção nos processos relativos ao burnout sugere-se que a informação seja a primeira ação a ser adotada. Identificar os agentes deflagradores, os mediadores e os sintomas que geralmente acompanham a síndrome permite adotar ações de prevenção mais adequadas e com maiores chances de sucesso. Nos casos em que o burnout já esteja instalado, o que se indica de imediato é a disponibilização de situações que facultam aos profissionais envolvidos auto avaliar-se e, dessa forma, constatar por si mesmos a presença de burnout. Com isso, o próprio profissional procurará minimizar ou eliminar os agentes estressores, buscando restabelecer condições saudáveis de trabalho no ambiente ocupacional 60. Ainda, se necessário e dependendo da gravidade e da especificidade de cada caso, a busca por ajuda de especialistas na área da psicoterapia e tratamentos farmacológicos não devem ser descartados. Em tese, para prevenção e controle do burnout devem-se propor, sempre que possível, ações em três níveis: individual, organizacional e interativo (indivíduo e organização). O ideal é que se possam propor ações nos três níveis; contudo, nem sempre isso é possível. Sem empenho e comprometimento efetivo da organização, as propostas acabam por se situar apenas na esfera individual [70]. No plano individual, o primeiro passo é identificar os elementos que favorecem o aparecimento de estresse e as estratégias de enfrentamento que devem ser adotadas. Neste particular, determinar as estratégias que estão sendo eficazes para minimização do estresse e aquelas que se vêm mostrando inúteis, ou até mesmo prejudiciais, passa a ser um procedimento fundamental. Para tanto, algumas recomendações são relevantes: Adotar hábitos de vida mais saudáveis. Preocupar-se com alimentação balanceada e em horários regulares, evitando deixar de realizar as principais refeições ou substituí-las por lanches rápidos. Manter entre 6 e 8 horas diárias de sono. O próprio corpo geralmente dá sinais o quanto de descanso o corpo necessita, considerando-se que varia de indivíduo para indivíduo, mas extremamente necessário a todos. Praticar exercício físico regularmente deve ser fortemente indicado.

30 Utilizar o tempo livre com atividades prazerosas e agradáveis de acordo com a preferência individual. Não ocupar o tempo livre com outro tipo de trabalho, mesmo que necessário. Desenvolver talentos pessoais. Dedicar um tempo para lidar com habilidades que haja eventual interesse em desenvolver, como por exemplo atividades artísticas, dança de salão ou algo que possa trazer satisfação pessoal. Aprender a dizer não a pedidos feitos por outrem. Não se comprometer ou tentar realizar mais que as possibilidades reais. Saber distinguir e respeitar os próprios limites é fundamental. Administrar bem o tempo. Distribuir as atividades diárias de forma compatível com a realidade, levando em consideração não somente as tarefas relativas ao trabalho, mas também as atividades dedicadas às questões e cuidados pessoais e de lazer. Planejar o ambiental. Organizar o ambiente de maneira que traga uma sensação de conforto e bem-estar, com todos os elementos que necessita para o desenvolvimento de suas atividades dispostos de forma prática, sem deixar de lado os componentes estéticos, que lhe proporcionem prazer aos sentidos. Comunicar. Procurar relacionar-se com colegas de trabalho, usuários dos serviços, familiares e amigos, informando-os do que lhes é pertinente de forma clara, precisa, utilizando-se de termos que lhes permitam inteirar-se adequadamente do que necessitam saber. Nem sempre o que deve ser comunicado é agradável; no entanto, distorcer informações, omitir ou simplesmente deixar de fornecê-las em nada irá minimizar as dificuldades. Sempre existe uma forma apropriada para isso, convém buscá-la. Neutralizar os agentes estressores. Uma vez identificadas as situações que provocam o estresse, verificar e avaliar as estratégias que estão sendo utilizadas no sentido de eliminá-las ou minimizá-las. Buscar outros recursos de enfrentamento no caso da percepção da ineficácia das estratégias

31 empregadas. Na eventual impossibilidade de manejo da situação, procurar distanciar-se ou evitar os contextos estressores. Cultivar o relacionamento interpessoal. Dispor de uma rede de amigos é um dos mais saudáveis e relevantes dispositivos de enfrentamento dos momentos de dificuldade. Poder partilhar as inquietações, conflitos, obstáculos, dúvidas, possibilita ampliar a percepção da situação permitindo uma visão mais abrangente e aumentando as chances de resolução, ou, ao menos, a perspectiva de alívio e consolo. Aprender e utilizar técnicas de relaxamento ajudam no controle psicofisiológico dos agentes estressores, permitindo um distanciamento necessário, uma trégua, para recobrar as forças para perceber e analisar mais adequadamente a situação. Frequentar seções de psicoterapia pessoal. Um profissional habilitado e que possua profundo conhecimento sobre a síndrome e possíveis técnicas para seu controle é o mais indicado para auxiliar no enfrentamento de estágios mais evoluídos de burnout. No plano institucional, deve-se, necessariamente, recorrer a especialistas capacitados para desenvolver ações ocupacionais favoráveis à saúde. Estes terão condições de efetuar o diagnóstico de risco, ou seja as manifestações do burnout e, de posse dessas informações, propor estratégias que potencializem os indicadores favoráveis e minimizem ou eliminem os negativos. Para tanto, será necessário contar com apoio incondicional dos gestores e demais integrantes da organização e dispor de recursos para a consecução dos fins pretendidos.

32 9. Instrumento para análise de burnout O instrumento mais utilizado para dimensionar e ordenar os componentes do processo de burnout, independentemente da característica ocupacional do individuo e de sua origem, é o Maslach Burnout Inventory MBI, idealizado por Christina Maslach e Susan Jackson no inicio da década de 1980 [115]. Inicialmente, para sua elaboração partiu-se de dois componentes: exaustão emocional e despersonalização. Na sequência, após estudo experimental que envolveu amostras de uma ampla gama de profissionais de diferentes áreas de atuação, recorreu-se a um terceiro componente: realização profissional [118]. A princípio, o inventário possuía 47 itens que foram administrados em uma amostra que reuniu centenas de sujeitos de várias ocupações profissionais. Inicialmente, emergiram 10 fatores; porém, na sequência, por meio de procedimentos estatísticos a partir de análise fatorial exploratória, foram eliminados 6 deles, juntamente com 25 itens que não possuíam peso fatorial superior a 0,40. Após aplicação do inventário ajustado em outra amostra com perfil e tamanho similares aos da anterior, os mesmos quatro fatores foram confirmados, sendo que somente três deles apresentaram significância empírica. Originalmente, a consistência interna dos três componentes do inventário foi satisfatória, apresentando valores de alfa de Cronbach entre 0,71 e 0,90 e coeficientes testereteste de 0,60 a 0,80 em períodos de até 30 dias. O MBI procura levantar informações recorrendo aos enunciados sobre os sentimentos e pensamentos que assinalam como o profissional vivencia seu trabalho, de acordo com os três componentes conceituais assumidos: exaustão emocional, despersonalização e realização profissional. Pelo inventário o profissional relata, mediante escala de medida do tipo Likert com pontuações entre 0 ( nunca ) e 6 ( diariamente ), com que frequência experimenta cada uma das situações descritas nos enunciados propostos [114]. O MBI é um instrumento utilizado exclusivamente para análise de burnout; não leva em consideração os elementos antecedentes e consequentes de seu processo. Os índices de burnout são dimensionados de acordo com o somatório das pontuações atribuídas aos itens reunidos em cada um dos três componentes. Neste caso, dos 22 itens que compõem o MBI, o componente exaustão emocional é tratado por intermédio de 9 itens com enunciados voltados à diminuição ou perda de

33 recursos emocionais e aos sentimentos de saturação e cansaço emocional em consequência do trabalho. O componente despersonalização é formado por 5 itens que descrevem posições impessoais, falta de sentimentos e insensibilidade na relação com os receptores de seus serviços. O terceiro componente, realização profissional, é composto por 8 itens que procuram indagar sobre sentimentos de competência e eficácia no trabalho, tendência de avaliar o próprio trabalho de forma negativa e experiências de insuficiência profissional. Para análise dos resultados apresentados pelo respondente do MBI, embora não se conheça proposta definitiva quanto aos escores-de-corte para identificar o burnout, escores elevados atribuídos à exaustão emocional e à despersonalização, simultâneos a baixos escores equivalentes à realização profissional (esta subescala é inversa), indicam desencadeamento de burnout [114]. Neste particular, originalmente, foram propostos os critérios: Componentes de Escores Burnout Baixo Intermediário Elevado Exaustão emocional Despersonalização 18 6 19 26 7 12 27 13 Realização profissional 3 3 34 39 4 0 Aqui, deve-se ressaltar a importância do MBI como instrumento tridimensional, ou seja, os três componentes devem ser tratados e considerados em conjunto, a fim de manter sua perspectiva de síndrome. Não se aconselha calcular eventual escore global de burnout, em razão de não estar claro se os três componentes têm igual peso na identificação da síndrome [152]. Atualmente, embora possam existir instrumentos alternativos, estimase que o MBI seja utilizado em cerca de 90% dos estudos empíricos disseminados na literatura sobre burnout [40]. No momento, devido à diversidade de ambientes de trabalho, são disponibilizadas três versões ajustadas às especificidades das áreas de atuação do respondente: uma delas está voltada aos profissionais cuja atividade é primordialmente assistencial (MBI-HSS, de Human Services Survey), outra está direcionada aos profissionais que atuam no contexto educacional (MBI-ES, de Educators Survey), a qual difere da anterior pelos ajustes nos enunciados dos itens em razão de ações direcionadas a clientes e aos alunos. Quanto à terceira versão, deve-se esclarecer que o campo de análise do tema foi estendido para as demais profissões e adaptando-se a versão original para utilização na população