Diagnóstico Diferencial da EM: Red Flags para o diagnóstico da EM. Fernando Elias Borges Neurologista



Documentos relacionados
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DA NEUROMIELITE ÓPTICA (NMO) DORALINA G. BRUM

DOENÇAS DESMIELINIZANTES

Esclerose Múltipla. Amilton Antunes Barreira Departmento de Neurociências Faculdade de Medicina and Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto - USP

XVIII Reunião Clínico - Radiológica Dr. RosalinoDalazen.

NEURITE ÓPTICA - CIS. Mirella Fazzito Ambulatório EM Hospital Brigadeiro

1 SIMPÓSIO DE OFTALMOLOGIA NEUROMIELITE ÓPTICA NA PERSPECTIVA DA NEUROLOGIA

ESCLEROSE MÚLTIPLA. Prof. Fernando Ramos Gonçalves

Imagem da Semana: Ressonância Magnética (RM)

Manifestações clínicas do espectro da neuromielite óptica. Tarso Adoni Departamento de Neurologia Hospital das Clínicas - FMUSP

ESCLEROSE MÚLTIPLA - DO RECURSO AO MÉDICO DE FAMÍLIA ATÉ DIAGNÓSTICO

Imagem da Semana: Ressonância magnética (RM)

Dr Antonio Araujo. Clínica Araujo e Fazzito Neurocirurgião Hospital Sírio-Libanês

Doenças Desmielinizantes NEUROCIRURGIÃO

Plano de curso da disciplina de NEUROLOGIA

A esclerose múltipla é uma das doenças mais comuns do SNC (sistema nervoso central: cérebro e medula espinhal) em adultos jovens.

Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto. Departamento de Ciências Neurológicas Waldir Antonio Maluf Tognola

Residência Médica 2019

Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto

Helena Ferreira da Silva, Paula Vaz Marques, Fátima Coelho, Carlos Dias. VII Reunión de Internistas Noveis Sur de Galicia

Sobre a Esclerose Tuberosa e o Tumor Cerebral SEGA

Radiologia do crânio

Prof. Dr. Harley Francisco de Oliveira

Sessões Clínicas Cefaléia

NEURODENGUE. Marzia Puccioni Sohler, MD, PhD. Laboratório de Líquido Cefalorraquidiano UFRJ

Amiotrofias Espinhais Progressivas

Área acadêmica. Diagnostico por imagem. Estudo por imagem do cranio maio 2018

ACIDENTE VASCULAR ISQUÊMICO. Conceitos Básicos. Gabriel Pereira Braga Neurologista Assistente UNESP

Procedimento x CID Principal

Emergências Neurológicas. Emergências Neurológicas. Emergências Neurológicas. Emergências Neurológicas. Emergências Neurológicas

SÍNDROMES PARANEOPLÁSICAS EM EQUINOS

Acidente Vascular Cerebral. Prof. Gustavo Emídio dos Santos

NEUROCIRURGIA o que é neurocirurgia?

Esclerose Múltipla. Mirella Fazzito

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (ISQUÊMICO) Antônio Germano Viana Medicina S8

Material e Métodos Relatamos o caso de uma paciente do sexo feminino, 14 anos, internada para investigação de doença reumatológica

Semiologia neurológica básica

Biomarcadores em Mielites Inflamatórias

Acidente Vascular Encefálico

XIV Curso Básico de Doenças Hereditárias do Metabolismo

desmielinizantes co esclarecidos.

Doenças do Sistema Nervoso

Tratamento Com freqüência, é possível se prevenir ou controlar as cefaléias tensionais evitando, compreendendo e ajustando o estresse que as ocasiona.

radiologia do TCE

Meduloblastoma. Denise Magalhães

Jose Roberto Fioretto

CLINICOS MONITORIZACOES HOLTER DE 24 HORAS - 2 OU MAIS CANAIS - ANALOGICO S R$ 79,88 R$ 81,52 AMBULATORIAIS

HEMIPARESIA E DÉFICITS NEUROLÓGICOS ASSIMÉTRICOS

DIAGNÓSTICO CLÍNICO DAS NEURO-INFECÇÕES

André Luís Montillo UVA

Diretriz Assistencial. Ataque Isquêmico Transitório

AVC EM IDADE PEDIÁTRICA. Fernando Alves Silva

Formas Imagiológicas Atípicas de PRES em Idade Pediátrica Envolvimento Bulbo-Medular e Múltiplas Hemorragias Nada Posterior e Pouco Reversível!

ICS EDUCATIONAL COURSE

Caso do mês. Viviane Hellmeister Camolese Martins 1º ano de Residência em Patologia

Doenças Adquiridas do Neurônio Motor. Msc. Roberpaulo Anacleto

DESCRIÇÃO DA RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NAS DOENÇAS DESMIELINIZANTES DA COORTE PEDIÁTRICA ACOMPANHADA EM AMBULATÓRIO ESPECIALIZADO NO RIO DE JANEIRO

Prof Elisa Piazza- UNISUL Adaptado de Leandro Diehl

Síndromes medulares. Amilton Antunes Barreira Departamento de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia Médica FMRP - USP

Caso RM. Letícia Frigo Canazaro Dr Ênio Tadashi Setogutti

Branco Azul Amarelo Questão nº Teor da reclamação A maioria dos candidatos argumenta que a alínea onde se refere que Análise

Identifique-se na parte inferior desta capa. Caso se identifique em qualquer outro local deste Caderno, você será excluído do Processo Seletivo.

2ª PARTE CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS REUMATOLOGIA

Complementação de Reumatologia

Vacinação contra Febre Amarela em Santa Catarina. Arieli Schiessl Fialho

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE FISIOTERAPIA PLANO DE ENSINO

Plano de Aula Medula espinal Diagnóstico topográfico

Reabilitação LESÃO MEDULA ESPINAL. Julia Maria D Andréa Greve Professora Associada FMUSP

Imagem da Semana: Tomografia Computadorizada

MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS DAS DOENÇAS SISTÊMICAS. José C. B. Galego

PLANO DE CURSO. CH Teórica: 60h CH Prática: - CH Total: 60h Créditos: 03 Pré-requisito(s): - Período: III Ano:

FRAQUEZA MUSCULAR. Diagnóstico

Radiologia do crânio e face

O PAPEL DA IMAGEM NOS MENINGIOMAS. Dr. Victor Hugo Rocha Marussi Neuroradiologista

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE ESCOLA DE MEDICINA E CIRURGIA

ORGANIZADOR. Página 1 de 8

ANEXO II CONTEÚDO PROGRAMÁTICO EDITAL Nº. 17 DE 24 DE AGOSTO DE 2017

REFERENCIAL DE FISIOTERAPIA - ATUALIZADA 01/01/2016 Adequado à terminologia Unificada da Saúde Suplementar TUSS do Padrão TISS, regulamentado pela ANS

17/08/2018. Disfagia Neurogênica: Acidente Vascular Encefálico

RESSONÂNCIA MAGNÉTICA E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS EM ADULTOS COM DOENÇAS DESMIELINIZANTES MONOFÁSICAS

Abordagem da Criança com Cefaléia. Leticia Nabuco de O. Madeira Maio / 2013

PROTEINOGRAMA DO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO EM AFECÇÕES DEGENERATIVAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL

Espectro clínico. Figura 1 Espectro clínico chikungunya. Infecção. Casos Assintomáticos. Formas. Típicas. Fase Aguda. Fase Subaguda.

Metodologia do Ensino de Ciências Aula 19

COMPRESSÃO MEDULAR. Aline Hauschild Mondardo Laura Mocellin Teixeira Luis Carlos Marrone Carlos Marcelo Severo UNITERMOS KEYWORDS SUMÁRIO

Neuroimagiologia Estrutural no Primeiro Episódio Psicótico

Sessão de Neuro- Oncologia

Síndrome Periódica Associada à Criopirina (CAPS)

Médico Neurocirurgia Geral

parte 1 estratégia básica e introdução à patologia... 27

Anatomia da Medula Vertebral

Espinha Bífida. Dr. Fábio Agertt

Pneumonia intersticial. Ana Paula Sartori

Neuromielite longitudinalmente extensa

Linfoma extranodal - aspectos por imagem dos principais sítios acometidos:

Incidência de doenças genéticas

REFERENCIAL DE FISIOTERAPIA - ATUALIZADA 01/01/2017 Adequado à terminologia Unificada da Saúde Suplementar TUSS do Padrão TISS, regulamentado pela ANS

2º Curso de Verão para Internos de MFR. AVC Hemorrágico. Ana Gouveia Neurologia CHUC

Imagem da Semana: Ressonância magnética (RM)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ LUANA CAROLINE PETTER

Transcrição:

Diagnóstico Diferencial da EM: Red Flags para o diagnóstico da EM Fernando Elias Borges Neurologista

Histórico do diagnóstico de EM 1868 - Jean Marie Charcot Esclerose em Placas 1965 Critérios Clínicos de Schumacher 1983 Critérios de Charles Poser 2001 Critérios de Ian McDonald 2005 Revisão dos Critérios de McDonald 2010 Revisão dos critérios de McDonald

Ressonância Magnética na Esclerose Múltipla Critérios de Barkhof 2005 RNM positiva deve atender três dos quatro seguintes critérios: Uma lesão destacada com gadolínio, ou nove lesões hiperintensas em T2 caso não haja lesão destacada com gadolínio. Uma lesão espinhal = uma lesão em T2 Ao menos uma lesão infratentorial Ao menos uma lesão justacortical Ao menos três lesões periventriculares

2010 critérios modificados Relato de um episódio clínico agudo de evento desmielinizante (ex:mielite transversa) Presença de 1 lesão em duas ou mais regiões de topografia típica de EM ( periventricular, justacortical, infratentorial e medular). Aparecimento de uma nova lesão G+ em RM posterior. Coexistência entre lesões G+ e não contrastada em qualquer tempo de avaliação.

Critérios modificados McDonald 2010 O painel internacional destacou que os critérios de McDonald devem ser aplicados somente naqueles pacientes que se apresentam com CIS típica, sugestiva de EM, ou sintomas consistentes com uma doença inflamatória desmielinizante do SNC, por que sua validação foi limitada a paciente com esta apresentação. ANN NEUROL 2011;69:292-302

Recommended 2016 MAGNIMS MRI criteria to establish disease dissemination in space in multiple sclerosis Dissemination in space can be shown by involvement* of at least two of five areas of the CNS as follows: Three or more periventricular lesions One or more infratentorial lesion One or more spinal cord lesion One or more optic nerve lesion One or more cortical or juxtacortical lesion www.thelancet.com/neurology Vol 15 March 2016

Diagnóstico diferencial

Red flags O termo red flag é usado para indicar que algo na história, exame físico ou investigação clínica sugere não ser correto no diagnóstico de EM.

Lesões osseas na imagem Envolvimento pulmonar Neuropatia de multiplos pares cranianos Neuropatia periférica Trombose venosa cerebral Doenças cardiacas Miopatia Infartos corticais/hemorragias/microhemorragias Retinopatia Calcificações na CT Nível sérico lactato elevado Manifestações hematológicas Infartos lacunares Ulceras em mucosas Amiotrofia Cefaléia e meningismo Sintoma Monofocal persistente Red flags major

Red flags minor Brainstem syndrome Myelopathy alone No optic nerve lesions Onset before age 20 No spinal cord lesions Abrupt onset Clinical large lesions No T1 hypointense lesions (black holes) Onset after age 50 Marked asymmetry of WM lesions

Sinais clínicos atípicos Sinais clínicos atípicos relacionado a síndrome clinica inicial, na investigação de EM: Neurite óptica: Ausência de dor, Exsudação ou hemorragia retiniana Papiledema severo, Envolvimento bilateral, Ausência de recuperação após um mês, Presença de uveíte.

Sinais clínicos atípicos Sinais clínicos atípicos relacionado a síndrome clinica inicial, na investigação de EM: Síndrome medular: Início insidioso/progressivo ou hiperagudo dos sintomas, Mielite transversa completa, dor radicular, Síndrome da artéria espinhal anterior, Arreflexia, síndrome de cauda equina, síndrome de Brown-Sequard completa.

Sinais clínicos atípicos Síndrome do tronco cerebral: Inicio hiperagudo, Topografia de território vascular, Trigeminalgia isolada, Idade acima de 50 anos, Fraqueza ocular flutuante, ou sintomas progressivos (completa oftalmoplegia), Paralisia do terceiro par, Distonia cervical focal ou torcicolo.

Sinais paraclínicos atípicos Alterações liquóricas atípicas para o diagnóstico de EM: Presença de pleocitose acima de 50 celulas. Hiperproteinorraquia elevada acima de 80 mg/dl Ausência de bandas oligoclonais.

Sinais clínicos de alerta para diagnóstico de EM Exame neurológico normal Anormalidades em um local, sem disseminação no espaço Curso progressivo, sem disseminação no tempo Inicio na infância (< 10 anos) ou após os 50 anos Presença de doenças sistêmicas Distúrbios psiquiátricos Sintomas corticais: afasia, epilepsia e demência Hemiparesia aguda RM normal ou atípica Líquor normal Presença de história familiar

Doenças que simulam EM na RM Achados próprios da idade Encefalomielite Disseminada Aguda (ADEM) Vasculites do sistema nervoso central (Behçet, Lupus, Sjögren) Sarcoidose Neoplasia metastática Linfoma do sistema nervoso central CADASIL Doença de Binswanger Infarto migranoso Doença cérebro vascular Leucoencefalopatia multifocal progressiva (LEMP) Encefalopatia mitocondrial Leucoencefalopatias metabólicas Doenças infecciosas do sistema nervoso central

Doenças que simulam disseminação no espaço apenas Pequenas embolias cerebrais Púrpura trombocitopênica Vasculite SNC LEMP Deficiência de vitamina B12 Sarcoidose Síndromes psiquiátricas Síndromes paraneoplásicas

Doenças que simulam disseminação no tempo Tumor Mal formação arterio-venosa Neuropatia óptica de Leber Mal formação de chiari Paraplegia espástica familiar Paraparesia espástica tropical Degeneração espino-cerebelar Siringomielia Migrânea Neuropatia periférica

Critérios Diagnósticos para NMO 2006 Critérios diagnósticos revisados para NMO: neurite óptica, mielite tranversa e pelo menos 2 dos 3 condições de suporte: Lesão medular longitudinalmente extensa, RM de crânio inicial não sugestiva de EM Presença do IgG-NMO Envolvimento do SNC além do nervo óptico e medula espinhal não exclui NMO

Mielite em NMO Curso clinico agudo, com gravidade variável, possível recorrência; geralmente sintomas transversais; Recuperação clínica pode ser incompleta; Neurite óptica pode estar relacionada; Lesão medular extensa e central;

NEUROMIELITE ÓPTICA Comorbidade autoimune; Ac Antiaquaporina 4 positivo (Ac Anti-NMO); Quando presente, lesões encefálicas não são típicas de EM, pode ocorrer lesão diencefálica; Líquor com pleocitose, aumento de proteínas, raramente presença de BO;

Conclusão Quando a clinica e os exames laboratoriais são típicos o diagnóstico torna-se fácil. Os casos de EM e CIS, tornam o diagnóstico diferencial desafiador. Os falso positivos mais comuns são baseados em erros de interpretação de RM. As síndromes psiquiátricas são as maiores mimetizadoras dos sintomas de EM. Em condições incomuns o diagnóstico falso positivo deve ser lembrado.

bibliografia Lancet Neurol 2016; 15: 292 303 J Neurol Neurosurg Psychiatry 2012;83:44e48 BMJ, doi:10.1136/bmj.38771.583796.7c (published 24 March 2006) Mult Scler. 2008 Nov; 14(9): 1157 1174 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/pmc2850590/