RECURSO EXTRAORDINÁRIO 861.815 RIO GRANDE DO SUL RELATORA ADV.(A/S) RECDO.(A/S) PROC.(A/S)(ES) : MIN. CÁRMEN LÚCIA :ANTONIO ADILSON PEREIRA CASTANHO :ZELITA TERESA FACO MANFIO :ANTONIO LUIZ GONÇALVES RIBEIRO MACIEL :GÉLIO DIAS DE BORBA :JOSÉ CARLOS NICOLA :MARIA LOURDES GRESPAN CHAVES :MILTON CARVALHO BONESSO :TELMO MENDES :LOURDES HELENA ROCHA DOS SANTOS E OUTRO(A/S) :UNIÃO :PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL DECISÃO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. PREVIDÊNCIA PRIVADA. IMPOSTO DE RENDA. COISA JULGADA. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO E DAS LEIS NS. 7.713/1988 E 9.250/1995: INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 279 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AUSÊNCIA DE OFENSA CONSTITUCIONAL DIRETA. RECURSO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO. Relatório 1. Recurso extraordinário interposto com base na al. a do inc. III do art. 102 da Constituição da República contra o seguinte julgado do Tribunal Regional Federal da Quarta Região: EMBARGOS À EXECUÇÃO DE SENTENÇA. IMPOSTO DE RENDA. RESGATE RESERVAS MATEMÁTICAS. FUCAE.
INEXISTÊNCIA DE VALORES A EXECUTAR. COISA JULGADA. 1. Hipótese em que as Declarações de Rendimentos comprovam que, no resgate das reservas matemáticas vertidas à FUCAE, os valores resgatados pelos autores na liquidação da referida entidade foram declarados como rendimentos isentos e não tributáveis, não tendo havido incidência do imposto de renda sobre tais valores. 2. Afastada a ocorrência de dupla tributação, não há nada a ser restituído judicialmente. 3. A decisão proferida em embargos à execução de sentença que constata a inexistência de valores a serem restituídos não implica em violação à coisa julgada. 4. Apelo provido. Os embargos de declaração foram parcialmente acolhidos: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ARTIGO 535 DO CPC. CONTRADIÇÃO. OBSCURIDADE. OMISSÃO. PREQUESTIONAMENTO. 1. Os embargos de declaração destinamse a provocar novo pronunciamento judicial de caráter integrativo ou interpretativo emitido pelo órgão prolator da decisão nas hipóteses de omissão, contradição ou obscuridade. 2. Não obstante a ausência de previsão legal, doutrina e jurisprudência também o admitem para a correção de erro material e para fins de prequestionamento, como indicam as Súmulas nºs 282 e 356 do c. STF e a Súmula n.º 98 do e. STJ, desde que, para tanto, a questão constitucional ou legal tenha sido ventilada pela parte no momento processual oportuno e não tenha sido enfrentada no acórdão, ou, ainda, para correção de erro material no julgado. 3. Na hipótese, identificada omissão apontada pela embargante, esta foi devidamente corrigida, sem modificar o julgado. 2. Os Recorrentes alegam contrariados os arts. 5º, incs. XXXV e XXXVI, 93, inc. IX, da Constituição da República e a Súmula n. 339 do Supremo Tribunal Federal. Afirmam ter havido o trânsito em julgado de decisão favorável aos recorrentes, que lhes possibilitou executar quantias que têm a receber da recorrida. De forma descabida e ingressando na rediscussão da matéria já 2
decidida e transitada em julgado, os Ilustres Julgadores a quo determinaram que os recorrentes não teriam quaisquer valores a receber. Concluem que a extinção da execução, da forma como ocorreu, violou o dispositivo constitucional que protege a coisa julgada. Examinados os elementos havidos no processo, DECIDO. 3. Razão jurídica não assiste aos Recorrentes. 4. A alegação de nulidade do acórdão por contrariedade ao art. 93, inc. IX, da Constituição da República não pode prosperar. Embora em sentido contrário à pretensão dos Recorrentes, o acórdão recorrido apresentou suficiente fundamentação. Conforme a jurisprudência do Supremo Tribunal, o que a Constituição exige, no art. 93, IX, é que a decisão judicial seja fundamentada; não, que a fundamentação seja correta, na solução das questões de fato ou de direito da lide: declinadas no julgado as premissas, corretamente assentadas ou não, mas coerentes com o dispositivo do acórdão, está satisfeita a exigência constitucional (RE 140.370, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, RTJ 150/269). 5. Consta do voto condutor do acórdão recorrido: Na ação principal, os autores postularam a restituição do imposto de renda que incidiu sobre o resgate de suas reservas matemáticas pagas pela extinta FUCAE. A decisão transitada em julgado reconheceu aos autores o direito à restituição dos valores indevidamente retidos na fonte a título de imposto de renda quando do pagamento das reservas matemáticas dos autores junto à FUNCAE, por ocasião da extinção da entidade de previdência privada. Ocorre que, compulsando os autos contata-se que, no caso do resgate das reservas matemáticas vertidas à FUCAE, não há valores a 3
restituir a título de imposto de renda, uma vez que os valores resgatados pelos autores na liquidação da referida entidade foram declarados como rendimentos isentos e não tributáveis, não tendo havido incidência do imposto de renda sobre tais valores, como apontou a ora apelante. As Declarações de Rendimentos acostadas aos autos principais (Evento 2 Doc. 106) comprovam tal fato, demonstrando claramente que os valores recebidos da FUCAE foram declarados como rendimentos isentos e não tributáveis. Logo, sobre esses valores não incidiu imposto de renda, pois foram deduzidos da base de cálculo do imposto de renda, afastando, assim, a ocorrência de dupla tributação. Logo, no presente caso, não há nada a ser restituído judicialmente. Por fim, cumpre destacar que a presente decisão não viola a coisa julgada, na medida em que apenas constata a inexistência de valores a serem restituídos, hipótese plenamente viável em sede de embargos à execução de sentença. Dessa forma, verificada a inexistência de valores a executar, merece provimento ao apelo, para extinguir a execução de sentença nº 5029603-41.2011.404.7100 (grifos nossos). 6. A apreciação do pleito recursal demandaria o reexame do conjunto fático-probatório dos autos e a análise da legislação infraconstitucional aplicável à espécie (Código de Processo Civil e as Leis ns 7.713/1988 e 9.250/1995), procedimento inviável em recurso extraordinário. A alegada contrariedade à Constituição da República, se tivesse ocorrido, seria indireta, o que inviabiliza o processamento do recurso extraordinário. Incide a Súmula n. 279 do Supremo Tribunal Federal: EMENTA Agravo regimental no agravo de instrumento. Tributário. IRPF. Complementação de aposentadoria. Entidade de previdência privada. Leis nºs 7.713/88 e 9.250/95. Ofensa reflexa. Precedentes. 1. A afronta aos princípios do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, dos limites da coisa julgada e da prestação jurisdicional, quando depende, para ser reconhecida como tal, da análise de normas infraconstitucionais, configura apenas ofensa indireta ou reflexa à Constituição da República. 2. Esta Corte 4
firmou entendimento no sentido de que a controvérsia acerca da incidência do imposto de renda sobre contribuições recolhidas para planos de previdência privada, conforme disposto nas Leis nºs 7.713/88 e 9.250/95, insere-se no âmbito infraconstitucional. 3. Agravo regimental não provido (AI 834.236-AgR/CE, Relator o Ministro Dias Toffoli, Primeira Turma, DJ 19.12.2012). EMENTA: TRIBUTÁRIO. PREVIDÊNCIA PRIVADA. IMPOSTO DE RENDA. LEIS 7.713/88 E 9.250/95: MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. PRECEDENTES. RECURSO PROTELATÓRIO. MULTA. AGRAVO IMPROVIDO. I - A apreciação do tema constitucional, no caso, depende do prévio exame de normas infraconstitucionais (Leis 7.713/88 e 9.250/95). A afronta à Constituição, se ocorrente, seria indireta. II - Recurso protelatório. Aplicação de multa. III - Agravo regimental improvido (RE 511.883- AgR/PR, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, DJ 25.9.2009). TRIBUTÁRIO. INCIDÊNCIA DE IMPOSTO DE RENDA SOBRE BENEFÍCIO DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR APÓS A LEI 9.250/95. APLICAÇÃO DOS EFEITOS DA AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL TENDO EM VISTA TRATAR-SE DE DIVERGÊNCIA SOLUCIONÁVEL PELA APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO FEDERAL. INEXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL (RE 628.002-RG/SP, Relatora a Ministra Ellen Gracie, Plenário Virtual, DJ 23.11.2010). EMENTA: PRETENSÃO RECURSAL QUE DEMANDARIA O REEXAME DO ACERVO FÁTICO- PROBATÓRIO DOS AUTOS. Caso em que ofensa à Carta da República, se existente, dar-se-ia de forma reflexa ou indireta, não ensejando a abertura da via extraordinária. Incidência, ainda, da Súmula 279 desta colenda Corte. Agravo desprovido (AI 513.038- AgR/RJ, Relator o Ministro Ayres Britto, Primeira Turma, DJ 11.3.2005). 5
7. Ademais, o Supremo Tribunal assentou que a alegação de contrariedade ao art. 5º, incs. XXXV e XXXVI, da Constituição da República, se dependente do exame da legislação infraconstitucional (Código de Processo Civil e as Leis ns 7.713/1988 e 9.250/1995), não viabiliza o recurso extraordinário, pois eventual ofensa constitucional seria indireta: A jurisprudência do Supremo Tribunal firmou-se no sentido de que as alegações de afronta aos princípios da legalidade, do devido processo legal, do contraditório, da ampla defesa, dos limites da coisa julgada e da prestação jurisdicional, quando dependentes de exame de legislação infraconstitucional, configurariam ofensa constitucional indireta (AI 776.282-AgR, de minha relatoria, Primeira Turma, DJe 12.3.2010). Alegação de cerceamento do direito de defesa. Tema relativo à suposta violação aos princípios do contraditório, da ampla defesa, dos limites da coisa julgada e do devido processo legal. Julgamento da causa dependente de prévia análise da adequada aplicação das normas infraconstitucionais. Rejeição da repercussão geral (ARE 748.371- RG/MT, Relator o Ministro Gilmar Mendes, Plenário Virtual, DJe 1º.8.2013). 8. Pelo exposto, nego seguimento ao recurso extraordinário (art. 557, 1º-A, do Código de Processo Civil e art. 21, 1º, do Regimento Interno). Publique-se. Brasília, 9 de fevereiro de 2015. Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora 6