RELATÓRIO DE INTELIGÊNCIA

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Transcrição:

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RESUMO EXECUTIVO A produção de grãos é importante segmento do agronegócio brasileiro devido ao seu papel estratégico nas exportações e no fornecimento de alimentos para a população e para a alimentação animal. As cadeias produtivas de grãos como soja, milho, algodão constituem a base do setor agroindustrial devido ao entrelaçamento que realiza com outras cadeias a montante e a jusante. Embora tenham ocorrido expressivos aumentos de produção e produtividade na agricultura, segmentos que o sucedem não acompanharam a evolução no mesmo ritmo. O segmento do armazenamento e escoamento das safras agrícolas encontra-se atualmente na condição de gargalo, constituindo-se obstáculo para a continuidade do crescimento das safras. Os gargalos se inscrevem na capacidade de armazenagem aquém das necessidades, na inadequação das unidades existentes, na localização inadequada dos armazéns e silos, muitas vezes distantes dos locais de produção. Embora a capacidade estática de armazenamento tenha sido crescente e o sistema granel represente parte importante na capacidade total, ainda existe lacuna entre o volume de produção e capacidade existente. Torna-se importante investimentos no segmento dada sua importância estratégica na viabilização do crescimento da produção e da competitividade do agronegócio brasileiro no mercado mundial. 2

SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 4 PRODUÇÃO DE GRÃOS NO BRASIL... 5 Participação regional na produção de grãos... 7 ETAPAS DA PRODUÇÃO DE GRÃOS... 14 Processo de escoamento e armazenamento... 15 ESTRUTURA DE ARMAZENAGEM NO BRASIL... 16 Capacidade estática de armazenamento... 17 Localização regional da capacidade de armazenamento... 21 Perdas da produção de grãos... 24 ESTRUTURA PRODUTIVA X ARMAZENAMENTO E ESCOAMENTO DA PRODUÇÃO... 27 CONSIDERAÇÕES FINAIS E AÇÕES RECOMENDADAS... 28 FONTES... 30 3

INTRODUÇÃO O agronegócio brasileiro tem se destacado no cenário mundial devido ao seu potencial competitivo e as possibilidades de incremento da produção agrícola e pecuária. Sobressaem-se nesses aspectos o aumento da produtividade e a disponibilidade de fronteiras agrícolas ainda existentes no país. Além disso, o papel do Brasil na produção agrícola salienta-se visto as projeções de crescimento da população mundial, pois a demanda por alimentos correlaciona-se positivamente com a elevação do número de habitantes. Soma-se ao fato, a melhoria de renda de países em desenvolvimento devido à amplitude da elasticidade-renda por alimentos em tais regiões, incluindo-se aí o mercado interno brasileiro. Estima-se que o aumento da demanda por produtos oriundos da agricultura e da pecuária, intensificará o fluxo do comércio interno e do comércio internacional. Ao mesmo tempo, a globalização e o acesso às informações tornarão o mercado cada vez mais exigente quanto a qualidade e as questões ligadas à segurança alimentar, sanidade vegetal e animal. O Brasil destaca-se como um dos principais produtores e exportadores de soja, suco de laranja, fumo, açúcar, café, algodão, entre outros. Produtos voltados para o mercado interno também têm importante peso na economia brasileira a exemplo do milho, feijão e arroz. O desempenho produtivo do agronegócio brasileiro tem despertado a atenção também para outros aspectos menos cômodos, tampouco importantes. Os olhares se voltam para pontos críticos, em especial a logística. Problemas logísticos fazem parte de discussões cotidianas devidos aos gargalos enfrentados. O congestionamento nas estradas, nos portos, pátios de recepção de mercadorias, longas filas de caminhões em períodos de pós-safras, tem sido constante no noticiário brasileiro e mesmo internacional. Se, por um lado, safras recordes trazem conforto para a economia brasileira, por outro, a preocupação com os preços e as deficiências de armazenamento e escoamento as acompanham. Na logística do agronegócio de grãos, o armazenamento e escoamento são pontos cruciais devido ao papel estratégico de apoio entre a produção e a comercialização. São importantes etapas do processo de produção realizadas após a colheita (pós-colheita). 4

Quando conduzidas de forma inadequada acarretam perdas, comprometendo esforços realizados nas fases anteriores. Até o início do processo de abertura econômica em finais da década de 1980, no Brasil, a atividade de armazenagem foi considerada uma atividade complementar ou secundária por não agregar valor aos produtos. De maneira geral, os produtores brasileiros concentraram esforços na produção em razão das políticas implantadas para o setor. Mas, em se tratando de grãos, a armazenagem pode vir a ser importante vantagem competitiva. Os sucessivos aumentos de produção brasileira de grãos não foram acompanhados de investimentos no pós-colheita incorrendo em significativas perdas. As insuficiências e as dificuldades no armazenamento e no escoamento de produtos agrícolas têm se exacerbado na medida em que a produção se deslocou para regiões que não possuem infraestrutura adequada ao mesmo tempo em que o fluxo de comércio tem se intensificado. Em última instância, a falta de investimentos no escoamento e armazenamento pode inviabilizar o crescimento produtivo do setor. Afeta-se, dessa forma, todo o processo de movimentação de safras, desde a colheita, o transporte até o consumo final. A avaliação da atual situação no armazenamento e escoamento de produtos agrícolas torna-se essencial para o direcionamento de investimentos nos segmentos, de modo a otimizar os recursos empregados pelos agricultores, pelo poder público e pelas empresas. A manutenção do papel do agronegócio para a economia brasileira e o lugar de destaque que vem ocupado depende da perfeita sincronia entre os diversos elos das cadeias produtiva, destacando-se o gargalo que ora se apresenta. PRODUÇÃO DE GRÃOS NO BRASIL Os principais grãos produzidos no Brasil são: algodão, amendoim, arroz, feijão, girassol, mamona, milho, soja e sorgo, além das culturas de inverno como a aveia, canola, centeio, cevada, trigo e triticale. Na composição do agronegócio brasileiro, o complexo soja constitui uma das mais importantes pautas das exportações brasileiras. 5

O milho, por sua vez, além de aparecer como item da cesta de alimentos do brasileiro, compõe parte essencial da alimentação de aves e suínos - importantes produtos para as exportações brasileiras. O Brasil é o primeiro exportador mundial de carnes de frango. A alimentação pode representar 70% do custo de produção dessa categoria de aves. Portanto, a competitividade está alicerçada no desempenho produtivo do milho, assim como, da estrutura que forma seu preço no mercado interno e externo. Além da soja e do milho, outros grãos como o feijão, arroz e o trigo constituem a base da alimentação da população brasileira. O correto manejo dos produtos desde seu cultivo até o consumidor final, certamente, favorecerá a qualidade, quantidade e o preço final. A estimativa de produção de grãos para a safra brasileira de 2011/12 é de 165.713.800 toneladas de grãos (excluída a produção de algodão em pluma), segundo levantamento realizado pela CONAB (2012b). Para a safra 2012/13, a previsão indica variação positiva de produção de 7,2%, conforme demonstra a Tabela 1. Produto Safra (toneladas) 2011/12 1012/2013 Caroço de algodão 3.029,30 2.621,00 Amendoim 294,7 267,7 Arroz 11.599,50 11.733,80 Feijão 2.898,60 3.330,50 Girassol 116,20 93,40 Mamona 24,80 80,50 Milho 72.570,20 73.236,90 Soja 66.383,00 82.817,00 Sorgo 2.182,60 2.211,80 Cereais de inverno 6.614,90 5.874,50 6

Total 165.713,80 182.267,10 Tabela 1: Brasil - Produção estimada para a safra de grãos 2011/2012 e 2012/2013 Fonte: Elaborado pela autora com dados da CONAB (2012b). As culturas de soja e de milho representam aproximadamente 84% da produção total de grãos. O principal cereal de inverno é o trigo. A produção nacional de trigo é complementada pelas importações para suprir a demanda interna assim como a de arroz. Participação regional na produção de grãos Conforme os indicadores apresentados pela CONAB (2012b), o principal produtor de grãos no Brasil é o estado do Mato Grosso, seguido do Paraná, do Rio Grande do Sul e Goiás, nessa ordem de importância, conforme se observa no Gráfico 1. % 3,3 12,59 7,13 3,82 24,32 BA MT MS GO 19,05 6,76 MG SP 4,48 7,33 11,21 PR SC RS Outros Gráfico 1: Brasil Distribuição Percentual da Produção de Grãos para as Estimativas de Safra 2012/2013 Fonte: Elaborado pela autora com dados da CONAB (2012b). 7

Em conjunto, esses estados são responsáveis por praticamente 70% da produção brasileira de grãos. Destacando-se a participação relativa dos estados por produto, observa-se o milho tem sua maior produção na região Sul (Gráfico 2). 60 50 40 % 30 1980/81 1990/91 20 2000/01 10 2010/11 Previsão (1) 0 Gráfico 2: Participação Relativa (%) das Regiões Brasileiras na produção de Milho 1980/81 2010/11. Fonte: Elaborado pela autora, com dados da CONAB (2012b). A produção do milho ocorre em todo o território nacional e nos vários estratos de tamanho de propriedade que compõe o país. Existe grande oscilação da produtividade entre as regiões. Nas regiões Sul e Centro-Oeste, a produtividade alcança níveis semelhantes aos de países como os Estados Unidos e Canadá, ao passo que em áreas do Nordeste brasileiro esses níveis são muito baixos, vinculados geralmente à produção para autoconsumo. Destina-se essencialmente ao mercado interno e serve de base para a alimentação humana e para a ração animal. Trata-se de importante insumo para a alimentação de aves e suínos. 8

Verifica-se que, no período selecionado, houve redução da participação relativa das regiões Sul e Sudeste, principais produtores até os anos 2000 concomitante ao aumento de participação da região Centro-Oeste. A soja, por sua vez, é produzida principalmente nas regiões Centro-Oeste e Sul, nessa ordem de importância atualmente. 90 80 70 60 50 % 1980/81 40 1990/91 30 2000/01 20 2010/11 Previsão (1) 10 0 Gráfico 3: Participação Relativa (%) das Regiões Brasileiras na produção de Soja 1980/81 2010/11. Fonte: Elaborado pela autora com dados da CONAB (2012b). Até a década de 1990, as regiões Sul e Centro-Oeste concorriam pela liderança da produção de soja no país. Já nesse período, o Centro-Oeste brasileiro, principalmente o estado de Mato Grosso, desponta como o principal produtor de soja do país, embora a participação da região Sul ainda permaneça importante (Gráfico 3),, de acordo com dados apresentados pela CONAB (2012b). Torna-se importante ressaltar que a característica que diferencia as duas regiões, Sul e Centro-Oeste, é o tamanho dos estabelecimentos produtores do grão. Em pesquisa realizada, Zanon et al. (2010) concluíram que o tamanho médio das propriedades que produziram soja é diferente conforme a região. Na região Sul do Brasil, os estabelecimentos rurais produtores de soja apresentaram tamanho médio inferior à metade do verificado no país. No Centro-Oeste, o tamanho é de cerca seis vezes superior 9

à média nacional e mais de 14 vezes o tamanho médio das propriedades do Sul (Tabela 2). Região Número de estabelecimentos agropecuários Área colhida (ha) Tamanho médio dos estabelecimentos (ha) Brasil 215.977 15.646.939 72,45 Sul 194.913 6.806.245 34,92 Centro-Oeste 13.085 6.556.231 501,05 Tabela 2: Produção de Soja: Brasil, Sul e Centro-Oeste 2006 Fonte: Zanon et al. (2010). O algodão é produzido no Centro-Oeste, principalmente, com participação significativa do Nordeste (Gráfico 4). A produção de algodão em pluma destina-se ao mercado externo. O caroço do algodão é utilizado para ração animal. Outros subprodutos do algodão também são gerados como o línter. 80 70 60 50 40 30 20 10 1980/81 1990/91 2000/01 2010/11 Previsão (1) 0 Gráfico 4: Participação Relativa (%) das Regiões Brasileiras na produção de Algodão 1980/81 2010/11. Fonte: Elaborado pela autora com dados da CONAB (2012b). 10

Analisando-se os dados publicados pela CONAB (2012b), verificam-se dois movimentos na produção de algodão no período considerado. O primeiro diz respeito à redução da participação relativa da região Sul e Sudeste em diferentes momentos. Enquanto a queda foi gradativa para a região Sudeste, no Sul a acentuada diminuição ocorreu na década de 1990. O segundo movimento relaciona-se com o aumento da participação da região Centro-Oeste já na década de 1990 e da recuperação da parcela de produção da região Nordeste no último período (2010/11), conforme pode ser observado no Gráfico 4. Até finais da década de 1980, o estado do Paraná era o principal estado produtor da fibra no país. Mas, a liberalização do mercado brasileiro foi iniciada nesse período. O algodão foi o produto agrícola escolhido para desencadear o processo de abertura comercial do país. Promoveu-se, então, drástica redução de suas alíquotas de importação (MASSUDA, 2003). O algodão produzido no Paraná e na região Sudeste (São Paulo e Minas Gerais) não suportou a concorrência em razão do sistema de produção vigente baseado em pequenas propriedades e na aplicação de técnicas convencionais. Isso explica a migração da produção para a região Centro-Oeste, sob outras bases técnicas e explorada em grandes estabelecimentos. Tal condição abriu a possibilidade de competitividade no mercado internacional. Atualmente, o Centro-Oeste brasileiro constitui o principal produtor do país, mas com participação significativa do Nordeste brasileiro. No que se refere ao feijão, base alimentar da população brasileira, a produção encontrase relativamente bem distribuída no Brasil em termos geográficos. Originária principalmente de pequenas propriedades familiares, representa uma cultura pouco tecnificada. As regiões Nordeste, Sudeste e Sul são responsáveis por parcelas semelhantes da produção, apesar das oscilações apresentadas no período (Gráfico 5) 11

45 40 35 30 25 % 1980/81 20 1990/91 15 2000/01 2010/11 Previsão (1) 10 5 0 Gráfico 5: Participação Relativa (%) das Regiões Brasileiras na produção de Feijão 1980/81 2010/11. Fonte: Elaborado pela autora com dados da CONAB (2012b). O arroz, juntamente com o feijão, constituem o ingrediente básico do cotidiano alimentar do brasileiro. Sua produção concentra-se na região Sul do Brasil cuja participação aumentou no período em detrimento das demais regiões. No início da década de 1980, a participação relativa do Centro-Oeste e Sudeste era significativa (Gráfico 6). Atualmente, o principal produtor é o estado do Rio Grande do Sul. 12

80 70 60 50 40 30 20 10 1980/81 1990/91 2000/01 2010/11 Previsão (1) 0 Gráfico 6: Participação Relativa (%) das Regiões Brasileiras na produção de Arroz 1980/81 2010/11. Fonte: Elaborado pela autora com dados da CONAB (2012b). Importante componente da cesta básica de brasileiros, o trigo é produzido na região Sul (Gráfico 7), especificamente nos estados do Rio Grande do Sul e Paraná. 100 90 80 70 60 50 40 30 1980/81 1990/91 2000/01 2010/11 Previsão (1) 20 10 0 NORDESTE CENTRO-OESTE SUDESTE SUL Gráfico 7: Participação Relativa (%) das Regiões Brasileiras na produção de Trigo 1980/81 2010/11. Fonte: Elaborado pela autora com dados da CONAB (2012b). 13

As importações desse produto superam o volume produzido. O trigo produzido no Brasil não possui boa qualidade comparada ao importado. Por isso, é usado misturado ao trigo adquirido no exterior. ETAPAS DA PRODUÇÃO DE GRÃOS As etapas de produção de grãos ocorrem de maneira similar embora possam apresentar particularidades dependendo do produto, conforme demonstra a Figura 1. Figura 1: Fluxograma das etapas de produção e pré-processamento de milho. Fonte: Pimentel e Fonseca, 2011. A Figura 1 demonstra as etapas de produção e pré-processamento de milho. Após o cultivo realiza-se a colheita e o grão ainda pode apresentar umidade. Inicia-se, então, a fase de pré-processamento. Recebe-se o produto na unidade armazenadora e o produto úmido segue para as operações de pré-limpeza, secagem e limpeza para a retirada de 14

impurezas e umidade. Em seguida, os produtos passam para a armazenagem ou para processamento nas indústrias, para o consumo ou para produção de ração animal. Caso o produto já tenha passado pelo processo de secagem no campo, elimina-se a etapa de secagem, indo diretamente para a limpeza e armazenagem. O produto seco também pode seguir para a armazenagem se não houver possibilidade de se passar pela limpeza. Contudo, a limpeza pode contribuir para a manutenção da qualidade, evitando o ataque de insetos e pragas. Se a infestação já tiver origem no campo, os grãos devem ser submetidos a tratamento. Processo de escoamento e armazenamento O objetivo central da armazenagem é de manter a qualidade do produto que recebe, evitar perdas e estocar o excedente. Além disso, o armazenamento de grãos por parte de governos permite a fixação de preços mínimos e coordenar fomento à produção de produtos que considere importantes para a segurança alimentar e impulsionar políticas agrícolas, como incentivos à produção de determinadas culturas. Caso a produção ocorra em zonas distantes das áreas de consumo, o armazenamento em locais estratégicos facilita o fluxo dos grãos. A armazenagem de grãos pode ser realizada das seguintes formas (AZEVEDO et al., 2008): a) A granel - Na armazenagem a granel, os grãos são guardadas sem embalagem em silos de concreto, de metais ou de alvenaria. Normalmente, possuem forma cilíndrica. Os silos mais modernos possuem sistemas de aeração. b) Convencional - Na armazenagem convencional, os grãos são acondicionados em sacos e depositados em galpões ou armazéns. Geralmente, foram construídos para outras finalidades e adaptados para abrigar grãos, não possuindo as condições ideais para a função. Até o início da década de 1970, quando se iniciou a chamada modernização da agricultura brasileira, o café e culturas para consumo mo mercado interno mantinham-se como produtos agrícolas de maior relevância do setor primário. O café ainda representava o principal produto de exportação brasileira. Essas culturas perderam importância, e a ênfase foi dada para os produtos de uso intensivo em capital como a soja. A rede de armazenamento no Brasil concentrava-se na faixa litorânea e consistia em conservação em sacarias. A armazenagem a granel foi sendo introduzida no país concomitantemente à expansão da soja e do milho. 15

ESTRUTURA DE ARMAZENAGEM NO BRASIL Em 1990, foi criada a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), órgão oficial responsável pelo armazenamento e abastecimento de produtos agropecuários no país. O órgão está vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Entre suas competências cabe-lhe a execução das políticas públicas referentes ao armazenamento da produção agropecuária, coordenação de políticas oficiais de formação, armazenagem, remoção escoamento de estoques reguladores e estratégicos de produtos agropecuários. Encarrega-se também da execução das políticas públicas federais no abastecimento e regulação da oferta de produtos agropecuários no mercado interno, além de outras competências que lhe são atribuídas (CONAB, 2012). No Brasil, os principais grãos armazenados são soja, algodão, milho, trigo, feijão e arroz, sendo os dois primeiros produtos voltados para o mercado externo e os demais, para o mercado interno. Estudos realizados por Nogueira Júnior (2011), Morceli (2012), revelam a situação crônica de déficit da capacidade de armazenamento no país, situados em limites quase sempre inferiores à produção, conforme se observa no Gráfico 8. Verifica-se, no entanto, aumento gradativo da capacidade. Gráfico 8: Brasil - Evolução da Capacidade de Armazenamento e da Produção de Grãos - 2000-2001. Fonte: Nogueira Junior e Tsunechiro (2011). 16

Capacidade estática de armazenamento Entende-se por capacidade estática de armazenagem a quantidade de grãos que cabe dentro de uma unidade armazenadora, de uma só vez, conforme afirma Azevedo et al. (2008). A partir do Decreto nº 3.385, de 03 de julho de 2001, a CONAB passou a recadastrar as unidades armazenadoras no país. O decreto obrigou as empresas jurídicas que prestam serviços a terceiros a prestar informações relativas ao Cadastro Nacional de Unidades Armazenadoras. A partir de 2006, a CONAB institucionalizou que produtos agrícolas beneficiados por qualquer instrumento de comercialização do governo federal devem ser depositados em unidades cadastradas em seus sistema (DECKERS, 2006). Portanto, o incremento da capacidade de armazenagem nos anos posteriores também devem ser vinculados à medida. No Brasil, apesar da maior capacidade se concentrar no sistema de armazenamento a granel, ainda é expressivo o volume de produção que utiliza o sistema convencional (Gráfico 9). No entanto, considerando que em 1995 a estocagem em armazéns convencionais era de 50% conforme dados levantados por Deckers (2006), podemos considerar a modernização do segmento no Brasil. 17

17% Granel Convencional 83% Gráfico 9: Brasil Distribuição da capacidade estática de armazenagem segundo os sistemas de armazenagem no Brasil - % Fonte: Elaborado pela autora com dados da CONAB (2012c). Além dos sistemas de armazenagem, é importante observar a localização das unidades. Região/Estado Convencional Granel Total Q Capac. (t) Q Capac. (t) Q Capac. (t) NORTE 283 925.979 190 2.074.241 473 3.000.220 NORDESTE 690 2.014.415 568 6.795.380 1.258 8.809.795 CENTRO OESTE 1.006 4.431.124 2.995 44.663.410 4.001 49.094.534 SUDESTE 1.946 9.364.963 972 13.387.008 2.918 22.751.971 SUL 2.789 8.253.625 6.077 51.216.287 8.866 59.469.912 BRASIL 6.714 24.990.106 10.802 118.136.326 17.516 143.126.432 18

Tabela 3: Capacidade Estática de Armazenagem Cadastrada 2012 Fonte: Elaborado pela autora com dados da CONAB (2012c). Em termos absolutos, no sistema convencional, o número de unidades de armazenamento no Sul do país supera as demais regiões. Mas, em termos de capacidade é superado pela região Sudeste, indicando que as unidades do Sul são menores, em média (Tabela 3). Seguindo o mesmo comportamento, no sistema a granel, a quantidade de unidades de armazenamento da região Sul é a maior do país, representando mais que o dobro do número de unidades existentes no Centro-Oeste brasileiro. No entanto, a diferença da capacidade de armazenamento entre as duas regiões é pouco significativa se observarmos a quantidade de unidades. O fato aponta para a mesma situação verificada no armazenamento convencional. Indica que as unidades instaladas na região Sul são de menor porte, em média. A situação descrita se vincula à existência de pequenas e médias propriedades rurais no Sul do Brasil. Justifica parcialmente o número de unidades de armazenagem superior às demais regiões brasileiras. Verifica-se que a quantidade total de unidades armazenadoras do Sul representa número maior do que todas as unidades das demais regiões somadas. No que se refere à capacidade de armazenamento, a posição da região Sul não se altera, pois representa a maior capacidade disponível no país. Contudo, é necessário observar que a capacidade de armazenagem está próxima da existente na região Centro-Oeste. As diferenças no porte das unidades armazenadoras evidenciam-se na medida em que se mensura a capacidade média de armazenamento das regionais (Tabela 4). Regiões/Sistemas Convencional Granel Capacidade média Capacidade média Norte 3.272,0 10.917,1 Nordeste 2.919,4 11.963,7 Centro-Oeste 4.404,7 14.912,7 Sudeste 4.812,4 13.772,6 Sul 2.959,3 8.427,9 Brasil 3722,1 10.936,5 Tabela 4: Capacidade Estática Média de Armazenagem Cadastrada por Região 2012 Fonte: Elaborado pela autora com dados da CONAB (2012c). 19

No tocante à capacidade de armazenamento convencional, o Nordeste e o Sul apresentam médias semelhantes, inferiores à media nacional. Nessa modalidade, a região Sudeste possui a maior capacidade média de armazenagem. Quanto ao armazenamento a granel, a maioria das regiões apresenta média superior à brasileira, exceto o Sul. As atuais estimativas e previsões de produção de grãos apontam ainda para a insuficiência da capacidade de armazenagem no país. Representa um déficit de 21% se considerarmos a previsão para a safra de 2012/13 que pode chegar a 182.267.100 toneladas para uma capacidade de armazenagem de 143.126.432 toneladas. (CONAB 2012a,b). A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, sigla em inglês) recomenda que a capacidade de armazenagem se situe em um patamar superior a 20% da produção (apud GALLARDO et al., 2009, MORCELI, 2012).. Como visto anteriormente, há no Brasil predomínio da capacidade estática de armazenagem a granel. Mas, se analisarmos a questão pela ótica do número de unidades, nota-se divergência (Gráfico 10). 38% 62% Granel Convencional Gráfico10: Distribuição % do número de unidades de armazenamento segundo o sistema no Brasil 2012. Fonte: Elaborado pela autora com dados da CONAB (2012c). 20

A participação do número de unidades de sistema convencional atinge 38%, número ainda expressivo se considerada a capacidade de armazenamento anteriormente indicada (17%). Localização regional da capacidade de armazenamento A localização das unidades de armazenagem é importante fator estratégico na logística de escoamento da produção. O transporte de longa distância dos produtos pode levar a perdas para todos os agentes envolvidos no sistema. Por ser uma variável considerável de peso no estudo da estrutura de armazenagem e escoamento da produção, a localização das unidades armazenadoras torna-se estratégica devido ao desencadeamento que acarreta nas operações pós-colheita até o consumidor final. Além disso, a análise do tipo de sistema existentes nos locais também fornece indicativos da adequação à produção. Assim, se a produção se concentra em determinadas regiões, é necessário que esta conte com estrutura para a armazenagem dos grãos e seu conveniente escoamento. Nesse sentido, a julgar pelo volume de produção, a capacidade de armazenamento segue o fluxo produtivo em termos quantitativos regionais. 21

100 90 80 70 60 50 40 30 Convencional % Granel % 20 10 0 Norte Nordeste Centro Oeste Sudeste Sul Granel % Convencional % Gráfico 11: Capacidade estática de armazenagem segundo os sistemas de armazenagem por regiões do Brasil 2012. Fonte: Elaborado pela autora com dados da CONAB (2012c) Observa-se o predomínio do sistema de armazenagem a granel nas regiões Centro-Oeste e Sul, tradicionais produtoras de soja e milho e elevados níveis de produtividade. A distinção entre as duas regiões está no tamanho das propriedades, uma vez que o Centro-Oeste concentra as grandes unidades produtivas. Como comentado anteriormente, a região Sul preserva as pequenas e médias propriedades, mas as cooperativas agroindustriais exercem papel preponderante na comercialização e conservação de grãos. Por outro lado, a região Sudeste apresenta a maior participação do sistema convencional, seguida pela região Norte (Gráfico 11). A análise da localização regional das unidades armazenadoras reforça-se pela sua disposição espacial. No Brasil, somente 13% da capacidade de armazenagem encontra- 22

se nas propriedades rurais. Somando-se à área portuária, praticamente a metade das armazenadoras se encontra na área urbana (Gráfico 12) 36,49% 6,24% 13,63% 43,64% Portuária Urbana Fazenda Rural Gráfico 12: Brasil: Localização da capacidade estática de armazenagem - %- 2012 Fonte: Morceli, 2012 O governo federal criou linhas de crédito de financiamento com o Moderinfra em 2001 e o Pronaf Mais Alimentos em 2008 para a construção a, adequação e manutenção de unidades destinadas à armazenagem, visando aumentar, em cinco anos, a capacidade nas propriedades rurais de 15% para 30%. A atual estrutura reflete as restrições de armazenamento nas propriedades rurais produtoras em razão de políticas adotadas anteriormente. Isso define a característica da armazenagem de grãos no Brasil baseadas no meio urbano. Em território brasileiro, a sequência do processo de armazenagem tem sua base nos terminais e intermediários coletores (armazéns e cooperativas, principalmente) situados no meio urbano que acolhe a produção rural. Nos países onde a armazenagem ocorre nas fazendas a ordem se diferencia. A produção flui do meio rural para os terminais. 23

Comparativamente aos grandes produtores mundiais de grãos, a competitividade brasileira na produção de grãos é comprometida pela baixa presença de armazenamento nas propriedades rurais. Países como a Argentina, Estados Unidos e países da Europa, tradicionais produtores de grãos, possuem capacidade de armazenamento nas propriedades rurais em nível superior à brasileira. Conforme d Arce (2012), em países como a França, a Argentina e os Estados Unidos, a armazenagem nas propriedades rurais representam 30% a 60%. Deckers (2006) ressalta que esse percentual em países como a Argentina, Austrália, Canadá, Estados Unidos e Europa atinge 40%, 35%, 85%, 65% e 50%, respectivamente. Quanto ao número de unidades de armazenamento no que se referea localização, confirma-se a característica acima vista de predomínio na zona urbana (Gráfico 13). No entanto, o número de unidades armazenadoras na zona rural supera aquelas situadas na zona urbana. 20.000 18.000 16.000 14.000 12.000 10.000 8.000 Convencional Granel Total 6.000 4.000 2.000 0 Fazenda Rural Urbano Portuário Total Gráfico 13: Brasil: Localização das unidades de armazenamento 2012 Fonte: Elaborado pela autora com dados de Morceli (2012). Perdas da produção de grãos 24

As perdas na agricultura podem ocorrer na colheita e após a colheita. Na colheita, as perdas originam-se na falta de regulagem, ajuste e manutenção de colheitadeiras, frotas obsoletas, falta de operadores capacitados, velocidade das máquinas e por problemas climáticos. As perdas após a colheita podem acontecer no transporte e na armazenagem. A inadequação das instalações de armazenagem, a falta de qualificação de mão-de-obra que opera os secadores são os principais responsáveis pela perda física e da qualidade dos grãos. As perdas físicas resultam em queda do peso dos estoques devido ao ataque de insetos e da umidade dos grãos (IBGE, 2004). As maiores perdas ocorrem no transporte de longo percurso, visto que 67% das cargas brasileiras são realizadas por rodovias. Estudo de viabilidade econômica mostra que o modal rodoviário é adequado para percuros inferiores a 300 km; o modal ferroviário, para distância entre 300 km a 500 km; e o fluvial para distâncias superiores a 50 km (IBGE, 2004). Silva, Campos e Silveira (2003) constaram que o escoamento da produção agrícola brasileira apresenta a seguinte composição: 63% rodoviária, 22% rodoviária, 12% cabotagem e 3% hidroviária. Os dados da Tabela 5 permitem ter ideia da dimensão de perdas ocorridas na pré e póscolheita de soja e trigo. As maiores perdas ocorrem na etapa pós-colheita. As perdas na pré-colheita podem ter ligação com problemas climáticos, o trigo em especial, explicando os elevados índices nas safras de 2000 e 2002. No pós-colheita as perdas vinculam-se ao transporte e ao armazenamento. Ano/Produto Pré-colheita Pós-colheita* Soja Trigo Soja Trigo 1997 2,13 10,86 7,30 16,10 1998 2,78 0,94 7,40 21,56 1999 2,30 0,83 7,40 19,60 25

2000 3,89 32,20 6,70 29,00 2001 3,99 3,21 6,00 15,33 2002 0,68 18,38 6,50 16,30 2003 2,32-6,70 8,10 Tabela 5: Brasil: Perdas de soja e trigo na pré e pós-colheita 1997-2003. Fonte de dados brutos: Elaborado pela autora com dados do IBGE (2004). *Cálculo realizado com base na O IBGE (2004) ressalta a dificuldade na obtenção de dados para o cálculo das perdas pós-colheita. As dimensões territoriais e a falta de levantamentos sistemáticos impedem dados mais precisos sobre as reais perdas. Mas, destaca que é de consenso que há perdas substanciais de grãos durante o transporte e no armazenamento. No transporte rodoviário, o prejuízo com o derrame de grãos chega a 10 milhões de sacas perdidas por safra. Nesse modal de transporte, as longas distâncias percorridas e o excesso de carga respondem por quebras da ordem de 5% a 10%. Durante a armazenagem as perdas podem chegar a 10%. De acordo com os dados apresentados, as perdas pós-colheita de soja situaram-se em patamares de 6% a 7,4% da produção. Com relação ao trigo, os elevados índices podem ser justificados pelos problemas que podem atingi-lo durante seu ciclo de desenvolvimento. Em suas áreas de produção, problemas climáticos podem afetar o rendimento produtivo assim como a qualidade do grão. Em 2000, a quebra pós-colheita alcançou praticamente um terço da produção. A soja produto de maior relevância econômica do agronegócio brasileiro. Com relação às perdas pós-colheita, as estimativas apontam por elevados índices por conta das más condições das estradas brasileiras, principal modal de transporte de produtos no país, acondicionamento inadequado nas carretas dos caminhões, além dos problemas de armazenamento que ocasionam perdas de natureza qualitativa e quantitativa. Os índices de perdas pós-colheita representam volumes que podem atingir 3,5 milhões de toneladas referentes ao ano de 2003. 26

ESTRUTURA PRODUTIVA X ARMAZENAMENTO E ESCOAMENTO DA PRODUÇÃO O sistema de escoamento de safras passa pelo transporte e pela armazenagem dos produtos agrícolas. As duas fases estão interconectadas pela dependência e de extrema importância para a manutenção da qualidade de grãos. Um sistema de escoamento de safras frágil e inadequado provoca uma série de danos para a sociedade. O produtor não recebe os melhores preços devido à necessidade de venda da produção logo após a colheita. O período pós-colheita de safras provoca grande oferta que, por atuação do mecanismo de oferta e demanda no mercado, força os preços para baixo. Por outro lado, o armazenamento inadequado significa queda da qualidade em razão do ataque de fungos, insetos, roedores e ácaros. Além disso, o manejo de secagem inapropriado pode levar a excesso de umidade dos grãos, induzindo o aparecimento de elementos indesejados e à queda de qualidade. Sucessivos erros de manejo aumentam e potencializam os efeitos que redundam em perdas. Nogueira Junior e Tsuneschiro (2011) denominam de vazio logístico a falta e a inadequação de locais de armazenagem em algumas regiões. Observam que no estado de São Paulo, devido o declínio da cafeicultura, muitos silos e armazéns foram deslocados para os grãos, mas nem sempre adequados para esse fim. O acelerado ritmo de deslocamento da produção de grãos para o Centro-Oeste brasileiro não seguido pela construção de infraestrutura equivalente provocou o vazio logístico. Não é incomum, a veiculação de notícias em que os próprios produtores tomam para si a responsabilidade de manutenção de estradas e mesmo de sua construção para suprir as necessidades de escoamento. Nas medidas tomadas pela CONAB quanto à obrigação das jurídicas em prestar informações relativas ao Cadastro Nacional de Unidades Armazenadoras em 2001 e, em 2006, a institucionalização de que produtos agrícolas beneficiados por qualquer instrumento de comercialização do governo federal devem ser depositados em unidades cadastradas em seus sistema para cadastramento de silos e armazéns, revelaram a situação do segmento no Brasil. Muitas unidades sofreram impedimento conforme indica o Cadastro da CONAB. 27

As unidades armazenadoras com veto não atendem ao padrão de exigências do órgão para manutenção dos grãos. Segundo Nogueira Junior e Tsuneschiro (2011), os critérios de certificação de unidades armazenadoras foram considerados muito rigorosos, levando a revisão destes e a ampliação de prazo para a vigência das determinações. Aquelas consideradas aptas são credenciadas sem impedimento, mas representam apenas pequena parcela conforma se constata na Tabela 6. Região/Situação cadastral Credenciado sem impedimento (apta) Norte 3,14 Nordeste 2,98 Centro-Oeste 3,58 Sudeste 3,97 Sul 5,78 Tabela 6: Capacidade estática de armazenagem apta por regiões 2012 - % Fonte: Elaborado pela autora com dados da CONAB (2012c). São considerados inaptos: Cadastro Efetivado com impedimento, Cadastro Efetivado sem impedimento Credenciado com impedimento, SICAF - impedido e Cadastro Efetivado, SICAF - impedido e Credenciado, Descredenciado (CONAB,2012c). CONSIDERAÇÕES FINAIS E AÇÕES RECOMENDADAS Os fatores críticos do segmento analisado no Brasil situam-se na desproporção do ritmo de crescimento entre produção e capacidade de armazenagem existente, além da inadequação das instalações existentes. Isso decorre da própria evolução histórica de substituição de culturas e políticas agrícolas estabelecidas. O papel secundário outrora desempenhado pela armazenagem passou a ser considerado importante diante da necessidade de se sustentar a competitividade no mercado nacional 28

e internacional. Assinala-se também a questão da qualidade crescente exigida pelo mercado. Diferentemente dos principais produtores de grãos no mundo, a estrutura de armazenamento no Brasil está baseada no meio urbano, sendo pouco significativa a participação de unidades nas fazendas. Uma estrutura baseada nas propriedades rurais é desejável, favorecendo o controle de ordem produtiva, econômico/financeira por parte do produtor assim como da qualidade dos produtos. Diante do contexto, o produtor brasileiro é levado a vender sua colheita em período desfavorável de preços ocasionando todos os problemas de congestionamentos para o escoamento até os portos, pontos de armazenagem intermediárias ou finais. Junta-se ao problema, o fato de a matriz de transportes no Brasil basear-se em rodovias, sistema esse herdado da política de desenvolvimento econômico do Plano de Metas (1956-1960). Essa modalidade não é a mais adequada para um país de dimensões continentais como o Brasil, elevando os custos de movimentação de mercadorias e ocasionando atrasos nas cargas/descargas nos portos, silos e armazéns além de sérios congestionamentos em um sistema viário deficitário. Os médios e pequenos produtores são responsáveis por grande parte da produção de grãos. Muitas vezes, por questão cultural e de políticas agrícolas outrora implantadas, os pequenos produtores têm dificuldades em realizar o correto manejo das culturas. Associados ao processo de armazenamento inadequado ocorrem perdas na qualidade, na quantidade e também nos valores nutricionais, afetando outras cadeias produtivas que utilizam os grãos como a avicultura e a suinocultura. Em última instância, pode prejudicar a saúde humana devido à utilização de grãos na alimentação. Para os pequenos produtores, o acesso às condições de financiamento para a construção de estruturas de armazenagem mostra-se custoso devido às condições financeiras em que a maioria se encontra. Os elevados investimentos que exigem a construção de silos dificultam a modernização desse elo da cadeia produtiva. Entretanto, são estes os que mais se beneficiariam pela posse de sistemas de armazenagem na propriedade, pois representam vantagens na venda dos grãos em épocas de sua conveniência, redução de custos de transporte, obtenção de grãos de qualidade superior uma vez capacitado para o manejo correto. Ou seja, contribui para sua autonomia como produtor. Via de regra, o 29

armazenamento na propriedade ameniza o problema de sazonalidade racionalizando os efeitos da oferta e demanda e as especulações consequentes. O armazenamento representa uma etapa complexa, principalmente para os pequenos produtores devidos ao montante de investimentos necessários e aos aspectos técnicos nele envolvidos. Além dos aspectos de mercado e técnicos, é importante ressaltar a necessidade de educação do produtor que por vezes desconhece ou não possui meios para seguir as boas práticas de manejo nessa etapa da produção. Por outro lado, a análise da capacidade dinâmica de armazenamento pode se constituir importante ferramenta para alocação de investimentos, pois as safras de algumas culturas que ocorrem mais de uma vez por ciclo e parte da produção/estoque são comercializadas. A expansão da produção de grãos no Brasil, o potencial ainda existente de aumento da produtividade e aproveitamento de áreas fronteiriças de cultivo indica a necessidade de investimentos em toda a rede logística, em especial na armazenagem e transportes. FONTES AZEVEDO, Loianny, Faria, OLIVEIRA, T. P. de, PORTO, A. G., SILVA, F. S da. A Capacidade Estática de Armazenamento de Grãos no Brasil. XXVIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Rio de Janeiro, 2008. Disponível em:<http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2008_tn_stp_069_492_11589.pdf>.a cesso em: 12 nov. 2012 CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento. A Conab. Competências. Conab. 2012a. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1066&t=1>. Acesso em:09 nov. 2012. CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento. Indicadores da Agropecuária. 2012b Brasília: Conab. Out/2012, Ano XXI, nº 10. CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento. Capacidade Estática de Armazéns. Conab. 2012c. Disponível em:<http://www.conab.gov.br/detalhe.php?a=1077&t=2>. Acesso em: 12 nov. 2012 D ARCE, Marisa A. B. Regitano. Pós colheita e armazenamento de grãos. Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição. ESALQ/USP. 2012. Disponível em:<http://www.esalq.usp.br/departamentos/lan/pdf/armazenamentodegraos.pdf Acesso em 12/11/2012>. Acesso em: 12 nov. 2012 30

DECKERS, Denise. Situação de Armazenagem no Brasil 2006. Conab. Brasília: Conab. 2006. Disponível em:<http://www.conab.gov.br/olalacms/uploads/arquivos/713c763e53bbfc388225a7fcc 52eb6ae..pdf>. Acesso em: 12 nov. 2012 GALLARDO, A. P. ; STUPELLO, B. ; GOLDBERG, D. J. K. ; CARDOSO, J. S. L. ; PINTO, M. M. O.. Avaliação da capacidade da infra estrutura de armazenagem para os granéis agrícolas produzidos no Centro-Oeste brasileiro. In: XXI Congresso Panamericano de Engenharia Naval, 2009, Montevideo. <Anais do Congresso, 2009. Disponível em http://www.ipen.org.br/downloads/xxi/166_p Gallardo_Alfonso.pdf>. Acesso em:12 nov.2012. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores Agropecuários 1996-2003. Rio de Janeiro: IBGE. 2004. MASSUDA, E. M.. A indústria têxtil brasileira sob o impacto da abertura econômica - 1992-1999. Acta Scientiarum. Human and Social Sciences. Maringá: UEM, v. 28, n.1, p. 121-129, 2006. MASSUDA, E. M. Inovação tecnológica na indústria têxtil de algodão: Os casos das fiações nas cooperativas no Noroeste do Paraná - 1980-1996. Tese (Doutorado na Universidade de São Paulo USP/FFLCH), 2003. ZANON, R. S., SAES, M. S. M., CORRAR, L. J., MACEDO, M. A. Produção de soja no Brasil: principais determinantes do tamanho das propriedades. 48º Congresso SOBER. Campo Grande: jul. 2010. Disponível em: <http://www.sober.org.br/palestra/15/38.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2012 Equipe de Inteligência Competitiva da Knowtec 31