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Transcrição:

Aspectos sociais em projetos de restauração de áreas degradadas Maria Castellano CTR Campinas

Gestão de recursos naturais Os recursos naturais são passíveis de serem utilizados por muitos indivíduos; É preciso garantir a sua disponibilidade para muitos indivíduos, e ao longo do tempo Necessidade de uma gestão que gere os melhores resultados possíveis para a coletividade

Gestão de recursos naturais Discussão teórica: como gerenciá-los, de quem é a responsabilidade? Estado? Mercado? Estes podem (e devem) ser parte da solução, desde que tendo em consideração o capital social das comunidades necessidade de participação social

Participação social na RAD histórico Após anos 70: aumento significativo de recursos para restauração Não se observa um aumento proporcional de áreas efetivamente restauradas Muitos projetos não viraram florestas, ou viraram florestas vazias (Fonte: Casa da Floresta).

Por quê? Os contextos onde se pretende fazer restauração são complexos: recursos naturais, biodiversidade, gente; e todas as interações entre estas partes

Os grupos sociais com os quais vamos trabalhar são diferentes...

Proprietários e/ou produtores e/ou moradores rurais Assentamentos rurais; comunidades tradicionais (caipiras, caiçaras, quilombolas, indígenas); Pequenos produtores; pequenas propriedades cujos donos não são pequenos produtores; grandes propriedades, monoculturas.

Esta diversidade implica em diferenças na lógica produtiva; diferenças quanto ao grau de proximidade com a terra, uso de práticas tradicionais, formas de organização sociais, religiosidade, manifestações culturais, etc.; A diversidade é, portanto, social, econômica, cultural

Idéia recorrente: o produtor rural é muito resistente à RAD - resistência cultural a mato (árvores), gosta do terreno limpo (exposição do solo) - é resistente à legislação: tem medo dos órgãos ambientais; não conhece a legislação - fatores econômicos: tem medo de perder área produtiva; teme os altos custos para modificar o sistema produtivo

Estas ideias têm fundamentos? Como está sendo a abordagem de atores externos para envolver o produtor rural em projetos de RAD? Há espaço para sua participação social nestes projetos?

Níveis de participação

Perguntas... Qual dos níveis na escada da participação estamos utilizando na implementação de nossos projetos? Qual deles gostaríamos de ter para a apropriação da prática da restauração pelos produtores rurais?

Quanto maiores forem: o espaço de diálogo; a participação no estabelecimento das normas do diálogo; a incorporação dos saberes e contribuições de cada ator; o poder de decisão dentro do processo Mais as comunidades terão: sentimento de propriedade e de responsabilidade em relação ao processo; motivação; participação e entusiasmo em relação às fases posteriores de implementação desse processo.

Exemplo Projeto Experimentação em agrossilvicultura e participação social Município de Joanópolis SP viabilizar a sustentabilidade no meio rural provocando mudanças no manejo da propriedade agrícola e incrementando a diversidade nestas propriedades; propõe a elaboração, implantação e manejo de áreas experimentais diversificadas, de maneira participativa;

Metodologia: experimentação participativa considera as necessidades, vontades e saberes da agricultura familiar; projetos trabalhados de maneira integrada diversidade, conservação, produção; tem entre as premissas metodológicas o diálogo entre técnicos e agricultores e a construção coletiva do conhecimento, através da problematização da realidade em seus diversos aspectos

Momentos de formação: : momentos coletivos de formação e visita técnica aos agricultores, definição do grupo de agricultores e agricultoras que iriam participar e dos sistemas produtivos a serem experimentados Momentos relacionados às áreas experimentais: planejamento dos módulos experimentais, operacionalização, manejo e monitoramento das áreas Momentos de utilização das áreas experimentais como áreas demonstrativas: : difusão e divulgação para pessoas e instituições com potencial interesse no tema

Resultados propriedades antes caracterizadas por pastos degradados, plantações de eucalipto mal manejadas e pouca diversidade dez áreas experimentais, focadas nas produções de café, frutíferas, leite e eucalipto três áreas experimentais em Área de Preservação Permanente Ciliares

Resultados Depoimento dos próprios agricultores sobre sua mudança de visão com relação às novas idéias trazidas pelos técnicos

A participação é parte fundamental de um processo educador e formador

Considerações metodológicas Metodologia de trabalho adequada a cada público e a cada contexto local; Valorizar o conhecimento local o que NÃO significa desprezar o conhecimento técnico, mas sim conseguir conciliar, aproveitar e integrar diferentes conhecimentos;

Considerações metodológicas Abordar as questões de forma integrada e complexa (interação entre todas as partes e resultados gerados a partir dessa interação) Sensibilidade, criatividade

Algumas ferramentas Grupos focais, mapas falantes, palestras, experimentação em campo, etc. Publicação: 80 herramientas para el desarrollo participativo (Frans Geilfus, 1997)

Perguntas orientadoras Existem formas de organização social na comunidade onde será proposto o trabalho de RAD? Como elas se dão? Estão relacionadas a grupos religiosos, à organização do trabalho e da produção, a manifestações culturais (grupos musicais, de dança, etc.), aos cuidados familiares (cooperação para cuidar de crianças, idosos, etc.), à saúde?

Perguntas orientadoras Existem lideranças comunitárias; quem são? Existem agentes externos que tenham uma relação de confiança com a comunidade e que possam contribuir com um processo de organização (por exemplo, um extensionista da CATI, um agente de saúde, um padre, etc.)? Existem dificuldades econômico / produtivas? Quais são os principais entraves nesse sentido? Quais as principais potencialidades?

Por fim... Qual é exatamente nosso papel nisso tudo?

Obrigada! Maria Castellano mariaca@ambiente.sp.gov.br mcastellano7@gmail.com