AGRAVO DE INSTRUMENTO 834.122 RIO GRANDE DO SUL RELATOR AGTE.(S) ADV.(A/S) ADV.(A/S) AGDO.(A/S) PROC.(A/S)(ES) : MIN. JOAQUIM BARBOSA :RB IMPRESSÕES SERIGRAFIAS LTDA :GABRIEL DINIZ DA COSTA :NADIA MARIA KOCH ABDO :UNIÃO :PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL DECISÃO: Trata-se de agravo de instrumento contra decisão que inadmitiu recurso extraordinário (art. 102, III, a, da Constituição federal) interposto de acórdão, prolatado por Tribunal Regional Federal, cuja ementa possui o seguinte teor: TRIBUTÁRIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. AGRAVO RETIDO. IMPROVIDO. CONTRIBUIÇÃO PARA O SEBRAE. CONTRIBUIÇÃO DESTINADA AO INCRA. NATUREZA. INTERVENÇÃO NA ATIVIDADE ECONÔMICA. CONTRIBUIÇÃO AO SESC/SENAC. AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR. ART. 267, INC. VI, DO CPC. SALÁRIO- EDUCAÇÃO. CONTRIBUIÇÃO PARA O SAT. TAXA SELIC. LEGALIDADE. 1. Conhecido o agravo retido interposto pela apelante, visto que requerida sua apreciação por esta Corte em sede de apelação, conforme estabelece o artigo 523, 1º, do CPC, e, no mérito, improvido. 2. O adicional destinado ao SEBRAE (Lei nº 8.029/90, na redação dada pela Lei nº 8.154/90) constitui simples majoração das alíquotas previstas no DL nº 2.318/86 (SENAI, SENAC, SESI e SESC). Logo, deve ser recolhido pelos sujeitos passivos que também contribuem para as entidades referidas no Decreto-Lei nº 2.318/86 (SESI, SENAI, SESC e SENAC). 3. A contribuição de 0,2%, destinada ao INCRA, qualifica-se como contribuição interventiva no domínio econômico e social, encontrando sua fonte de legitimidade no art. 149 da Constituição de 1988. Essa contribuição pode ser validamente exigida das empresas comerciais ou industriais, que nessa mesma atividade vicejam. 4. Como a contribuição ao INCRA não possui natureza previdenciária, não foi extinta pelas Leis nºs 7.789/89 e 8.212/91,
sendo plenamente exigível. 5. Não está sendo cobrada da embargante a contribuição destinada ao SESC/SENAC, portanto, há ausência de interesse de agir (art. 267, inc. VI, do CPC). 6. A cobrança do salário-educação não padece de mácula de ilegalidade ou inconstitucionalidade. Súmula nº 732 do STF. 7. O Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento, em 20-03-2003, Rel. Min. Carlos Velloso, do RE Nº 343.446/SC afastou as alegações de inconstitucionalidade da contribuição ao SAT, entendendo respeitados, em sua instituição, os princípios da reserva de lei complementar, da isonomia e da legalidade tributária, pondo fim às discussões a respeito do tema. O Executivo levando em conta a atividade preponderante da empresa, baseado em critérios como insalubridade, tolerância aos agentes agressivos, meios de proteção e o tempo máximo de exposição do empregado a esses agentes, é que se define o grau de risco aplicável a cada empresa, tarefa que o legislador não poderia desempenhar. 8. A taxa SELIC se aplica aos débitos tributários, não existindo vício na sua incidência. (fls. 158) Alega-se violação do disposto nos arts. 5º, II; 59; 84, IV 146, III, a e b; 149; 150, I, e 212, 5º, da Constituição federal e 25 e 34, 5º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Decido. Inicialmente, saliento que o acórdão recorrido foi publicado em data posterior a 03.05.2007, quando já exigível, portanto, a demonstração formal da existência de repercussão geral da questão constitucional invocada na peça recursal (cf. AI 664.567-QO, rel. min. Sepúlveda Pertence). Observo que a parte ora agravante, nas razões do recurso extraordinário, se limita a alegar em preliminar, de forma genérica, que No que concerne a satisfação da repercussão geral, ou relevância jurídica e social da matéria que fundamenta o recurso extraordinário, resta satisfeito tal requisito, uma vez que não há qualquer amparo legal para a incidência das contribuições em discussão, inclusive com violação a diversos dispositivos legais 2
da Constituição Federal do Brasil de 1988. Além disso, tal matéria repercute no interesse social de não se ver a incidência de tributação abusiva e ilegal que encarece e reflete no enriquecimento ilícito da administração pública, daí a sua importância (fls. 67-68). É patente, pois, que não se desenvolveu argumentação suficiente acerca das circunstâncias que poderiam configurar a relevância constitucional - do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico - das questões aventadas na petição de recurso extraordinário. Há, portanto, deficiência formal que o inviabiliza (Súmula 284/STF). Nesse sentido: AI 709.995 (rel. min. Cármen Lúcia, DJe de 24.06.2008); AI 797.515-AgR (rel. min. Joaquim Barbosa, DJe de 28.02.2011); RE 575.983- AgR (rel. min. Ricardo Lewandowski, DJe de 13.05.2011) e RE 650.739- AgR (rel. min. Luiz Fux, DJe de 15.02.2012). No entanto, ainda que superado tal óbice, melhor sorte não teria o recurso. Quanto à contribuição ao INCRA, verifico que não há nas razões do recurso extraordinário a indicação de qual dispositivo constitucional teria sido violado pela sua cobrança. Aplica-se, portanto, o disposto na Súmula 284/STF. Ademais, saliento que esta Corte firmou orientação no sentido de que a exação também abrange as empresas urbanas. Quanto às contribuição para o Seguro de Acidente do Trabalho - SAT e para o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE, saliento que esta Corte decidiu pela constitucionalidade das exações. Confiram-se os seguintes precedentes: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO: SEGURO DE ACIDENTE DO TRABALHO - SAT. Lei 7.787/89, arts. 3º e 4º; Lei 8.212/91, art. 22, II, redação da Lei 9.732/98. Decretos 612/92, 2.173/97 e 3.048/99. C.F., artigo 195, 4º; art. 154, II; art. 5º, II; art. 150, I. I. - Contribuição para o custeio do Seguro de Acidente do Trabalho - SAT: Lei 7.787/89, art. 3º, II; Lei 8.212/91, art. 22, II: alegação no sentido de que são ofensivos ao art. 195, 4º, c/c art. 154, I, da Constituição Federal: improcedência. Desnecessidade de 3
Observância da técnica da competência residual da União, C.F., art. 154, I. Desnecessidade de lei complementar para a instituição da contribuição para o SAT. II. - O art. 3º, II, da Lei 7.787/89, não é ofensivo ao princípio da igualdade, por isso que o art. 4º da mencionada Lei 7.787/89 cuidou de tratar desigualmente aos desiguais. III. - As Leis 7.787/89, art. 3º, II, e 8.212/91, art. 22, II, definem, satisfatoriamente, todos os elementos capazes de fazer nascer a obrigação tributária válida. O fato de a lei deixar para o regulamento a complementação dos conceitos de `atividade preponderante e `grau de risco leve, médio e grave, não implica ofensa ao princípio da legalidade genérica, C.F., art. 5º, II, e da legalidade tributária, C.F., art. 150, I. IV. - Se o regulamento vai além do conteúdo da lei, a questão não é de inconstitucionalidade, mas de ilegalidade, matéria que não integra o contencioso constitucional. V. - Recurso extraordinário não conhecido. (RE 343.446, rel. min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno,DJ de 04.04.2003) CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO: SEBRAE: CONTRIBUIÇÃO DE INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO. LEI 8.029, de 12.4.1990, art. 8º, 3º. Lei 8.154, de 28.12.1990. Lei 10.668, de 14.5.2003. C.F., art. 146, III; art. 149; art. 154, I; art. 195, 4º. I. - As contribuições do art. 149, C.F. - contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse de categorias profissionais ou econômicas - posto estarem sujeitas à lei complementar do art. 146, III, C.F., isto não quer dizer que deverão ser instituídas por lei complementar. A contribuição social do art. 195, 4º, C.F., decorrente de `outras fontes, é que, para a sua instituição, será observada a técnica da competência residual da União: C.F., art. 154, I, ex vi do disposto no art. 195, 4º. A contribuição não é imposto. Por isso, não se exige que a lei complementar defina a sua hipótese de incidência, a base imponível e contribuintes: C.F., art. 146, III, a. Precedentes: RE 138.284-CE, Ministro Carlos Velloso, RTJ 143/313; RE 146.733-SP, Ministro Moreira Alves, RTJ 143/684. 4
II. - A contribuição do SEBRAE - Lei 8.029/90, art. 8º, 3º, redação das Leis 8.154/90 e 10.668/2003 - é contribuição de intervenção no domínio econômico, não obstante a lei a ela se referir como adicional às alíquotas das contribuições sociais gerais relativas às entidades de que trata o art. 1º do D.L. 2.318/86, SESI, SENAI, SESC, SENAC. Não se inclui, portanto, a contribuição do SEBRAE, no rol do art. 240, C.F. III. - Constitucionalidade da contribuição do SEBRAE. Constitucionalidade, portanto, do 3º, do art. 8º, da Lei 8.029/90, com a redação das Leis 8.154/90 e 10.668/2003. IV. - R.E. conhecido, mas improvido. (RE 396.266, rel. min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno, DJ de 27.04.2004) Quanto à contribuição do Salário-Educação, esta Corte, no julgamento do RE 660.933-RG (de minha relatoria), leading case de repercussão geral, reafirmou a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido da constitucionalidade da exação, nos moldes do Decreto-Lei 1.422/1975 e dos Decretos 76.923/1975 e 87.043/1982, seja sob a Constituição federal de 1967 (com a redação dada pela Emenda Constitucional 1/1969), seja sob a Constituição federal de 1988, e no regime da Lei 9.424/1996. Confira-se a ementa do referido julgado: TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO DESTINADA AO CUSTEIO DA EDUCAÇÃO BÁSICA. SALÁRIO-EDUCAÇÃO. COBRANÇA NOS TERMOS DO DL 1.422/1975 E DOS DECRETOS 76.923/1975 E 87.043/1982. CONSTITUCIONALIDADE SEGUNDO AS CARTAS DE 1969 E 1988. PRECEDENTES. Nos termos da Súmula 732/STF. é constitucional a cobrança da contribuição do salário-educação, seja sob a Carta de 1969, seja sob a Constituição Federal de 1988, e no regime da Lei 9.424/1996. A cobrança da exação, nos termos do DL 1.422/1975 e dos Decretos 76.923/1975 e 87.043/1982 é compatível com as Constituições de 1969 e 1988. Precedentes. Repercussão geral da matéria reconhecida e jurisprudência reafirmada, para dar provimento ao recurso extraordinário da União. 5
Por fim, quanto à taxa SELIC, ressalto que esta Corte, ao apreciar o RE 582.461 (rel. min. Gilmar Mendes, DJe de 18.08.2011), leading case de repercussão geral, concluiu pela legitimidade de seu emprego no âmbito tributário. Dessas orientações não divergiu o Tribunal de origem. Do exposto, nego seguimento ao presente agravo. Publique-se. Brasília, 15 de outubro de 2012. Ministro JOAQUIM BARBOSA Relator 6