MINISTÉRIO PÚBLICO DE PERNAMBUCO 3a Procuradoria Cível



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1,1,1,11,1111,11.11111111111111111111111 MPPE Ar Documento: MINISTÉRIO PÚBLICO DE PERNAMBUCO g () OS te Atito: JS6.2o /2 Apelação Cível n 0143543-6 Comarca: Recife Vara: 30a Vara Cível Apelante: Sul América Seguros Saúde S.A. e OUTRO Ministério Público do Estado de Pernambuco e OUTRO Apelado: Ministério Público do Estado de Pernambuco e OUTRO Sul América Seguros Saúde S.A. e OUTRO Desembargador Relator: JOVALDO NUNES GOMES Procuradora de Justiça: MARIA HELENA NUNES LYRA PARECER Cuida-se de Recursos de Apelações, nos autos da Ação Civil Pública sob o n 001.2004.011049-5, promovidos pela Sul América Seguros Saúde S.A. e Ministério Público do Estado de Pernambuco, perante a 30 a Vara Cível, insurgindo-se contra a r. decisum do juízo monocrático (fls. 728/733) que julgou pela procedência parcial dos pedidos formulados na inicial. A Ação Civil Pública foi proposta pelo Ministério Público do Estado de Pernambuco contra a Sul América Seguros S.A., visando o regular cumprimento dos contratos de seguros saúde firmados com os usuários, alegando que por conta da suspensão do atendimento habitual de alguns médicos credenciados à empresa supramencionada, suspendendo, inclusive, serviços como o de anestesiologia, causou grande constrangimento e prejuízo aos usuários do seguro saúde. fls. 774/782. Embargos de Declaração interposto pelo Ministério Público às Em Decisão Interlocutória (fl. 784), o MM Juiz rejeitou os declaratórios argüidos pelo Ministério Público. Em suas Razões de Recurso (fls. 737/769), a Sul América Seguros S.A., aduziu, preliminarmente, a ilegitimidade passiva ad causam da mesma pela ausência do nexo de causalidade e suspensão do atendimento médico, por guia, dos segurados. No mérito, alegou o não descumprimento do Rua Imperador Pedro II, n 473, Santo Antônio, Recife/PE - CEP - 50010-240 - Fone (81) I

contrato com os usuários, pois não suspendeu os serviços secundários. Ainda afirmou que, nem por omissão teria dado causa ao movimento médico. Ao final, pediu pela improcedência dos pedidos da exordial e pela extinção do processo, sem julgamento do mérito. Contra-razões de Recurso às fls. 844/853. Em suas Razões de Recurso (fls. 810/819), o Ministério Público, aduziu a aplicabilidade do art. 42, do Código de Defesa do Consumidor, na questão em comento, bem como a necessidade de substituição da rede referenciada e aplicação de multa. Também, requer a antecipação dos efeitos da O tutela recursal, da seguinte forma: I - que a Sul América Seguros apresente a relação de todos os usuários que requereram o reembolso dos serviços de anestesiologia a partir de 12 de abril de 2004 e aplicação de multas, caso descumpra o comando; II - que seja obrigada a formar uma nova rede de médicos anestesiologistas credenciados; III - que seja condenada a devolver em dobro os valores gastos pelos segurados com o atendimento médico; IV que seja imposta multa diária para cada caso de reembolso integral. Contra-razões de Recurso às fls. 827/842. Com vista nos autos essa Procuradoria Cível passa a opinar. A alegação de ilegitimidade ad causam suscitada pela Sul América não merece respaldo, pois a mesma, através de contrato de adesão com os usuários, obrigou-se a prestar serviços médicos hospitalares, inclusive os de anestesiologia, restando claro a sua responsabilidade pelo cumprimento do que foi acordado no referido contrato e o nexo de causalidade estabelecido entre a Sul América Seguros e os seus usuários segurados. Então, o nexo de causalidade entre a ausência de serviços de anestesiologia ou a má prestação destes e os danos causados aos consumidores, usuários do plano, restou, sem dúvida, comprovado, sendo, neste caso, a responsabilidade objetiva, por parte da apelante. Também, a argüição por parte da Sul América de que a propositura da ação pelo Ministério Público contra a Cooperativa de Anestesiologistas implicaria na ausência de sua responsabilidade não procede, haja vista a sua responsabilidade ser solidária, pois conforme preceitua o art. 7 do Código de Defesa do Consumidor, quando houver mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pelos danos causados. Também, o dispõe o art. 34, do mesmo código, o seguinte: "O fornecedor do produto ou serviço é Rua Imperador Pedro II, n 473, Santo Antônio, Recife/PE CEP 50010-240 Fone (81) 2 3419-7000

solidariamente responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes autônomos". Portanto, improcedem estas preliminares suscitadas. No mérito, a alegação da Sul América de que não descumpriu o contrato com os usuários, pois não suspendeu os serviços secundários, também não procede, posto que os contratos de saúde firmados com os usuários são contratos de adesão padronizados, nos quais os consumidores aderem às condições e cláusulas previstas estabelecidas pela própria seguradora de saúde. Assim, o descumprimento parcial do contrato de adesão afeta diretamente a Cgarantia oferecida pelo fornecedor e aceita pelo usuário. Prescreve o 3 do artigo 54 do Código de Defesa do Consumidor, in verbis: "Art. 54 Contrato de adesão á aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. 3 - Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor (...)" Portanto, o contrato estabelecido entre as partes há de ser considerado como de adesão, a teor da disposição legal acima transcrita, pois, evidentemente, foi impresso unilateralmente pela Sul América Seguros, sendo claro que os associados desta não teriam condições de discutir ou modificar o conteúdo dos termos nele estipulados. Nelson Nery Júnior, com extremo brilhantismo, anota a seguinte ressalva nos negócios efetuados com base em contratos de adesão. Senão vejamos: "A contratação em massa, exigência da economia de escala, deve ser exercida de forma compatível com os princípios Rua Imperador Pedro II, n 473, Santo Antônio, Recife/PE CEP 50010-240 Fone (81) 3 3419-7000

fundamentais da ordem econômica, dentre os quais está a defesa do consumidor (art. 170, V, da Constituição Federal). A rapidez que se deve informar esse tipo de contratação, que implica necessariamente a conclusão do negócio com base em cláusulas gerais preestabelecidas, não deve servir de pretexto para que se incluam, no bojo de um longo formulário de futuro contrato de adesão, cláusulas draconianas consideradas pelo CDC como abusivas. Além desse perigo, está a inevitável imposição, na prática, das cláusulas pelo estipulante, porque o consumidor aderente geralmente não lê os termos do formulário, quer seja por pressa, preguiça, indolência, ignorância ou resignação, em face da dificuldade trazida pela 'letras miúdas". (in Código Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado pelos Autores do Anteprojeto, 5a ed, Forense Universitária, p 457/458). Cumpre salientar que o artigo 196 da Constituição Federal dispõe que a saúde é direito de todos, devendo tal direito ser resguardado com a participação da iniciativa privada, a teor do artigo 199, caput, da Lei Maior. Portanto, os contratos de adesão de prestação de serviços entre a seguradora e seus usuários, torna efetiva a aplicação do CDC, pois tem como objeto principal a proteção de um bem jurídico tutelado constitucionalmente. Ainda, na medida em que, priva-se os usuários dos serviços, qual seja, a utilização da rede referenciada, fica constatado a inexecução parcial do contrato de adesão por parte da Sul América Seguros. Portanto, a Sul América estaria obrigada a reembolsar aos consumidores os valores despendidos de forma integral, até a restauração da rede referenciada, posto que deixou de cumprir uma obrigação contratual, garantindo, assim, a continuidade do contrato firmado, conforme dispõe o art. 20 do CDC: "Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: Rua Imperador Pedro II, n 473, Santo Antônio, Recife/PE - CEP - 50010-240 - Fone (81) 4

I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; 111 - o abatimento proporcional do preço". Ademais, a adoção do sistema de reembolso pelos anestesiologistas acarretou o descumprimento dos contratos firmados pelos Cusuários, prejudicando gravemente os consumidores do seguro saúde, uma vez que esse reembolso não englobou a totalidade dos valores das consultas. Das alegações suscitadas pelo Ministério Público, em suas Razões de Apelação, tem-se que, a obrigação imposta à Sul América Seguros de reembolsar os consumidores integralmente pelas despesas com anestesiologistas deve ser feita em quantia simples, pois não há previsão legal para a devolução em dobro dos valores, nem restou comprovada má-fé por parte da Sul América. Também, não há respaldo legal para a pretensão de substituição da rede referenciada, visto que a contratação desta seguradora é ato voluntário. Por outro lado, o que deve ser feito é garantir ao consumidor o cumprimento das obrigações contratuais firmadas. o Ante o exposto, o parecer é pelo NÃO PROVIMENTO DOS RECURSOS DE APELAÇÕES. Recife, 01 de dezembro de 2006 í. TT MARIA HELENA NUNS LYRA Procuradora de Justiça,6-4e KELINE M GA HÃES Estagiária do MPPE Rua Imperador Pedro II, n 473, Santo Antônio, Recife/PE - CEP - 50010-240 - Fone (81) 5