Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3



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Transcrição:

DIMENSÕES DE SUSTENTABILIDADE NOS PROGRAMAS DE COLETA SELETIVA DE RESÍDUOS SÓLIDOS. Márcio José Celeri Doutorando em Geografia da UNESP/Rio Claro marcioceleri@yahoo.com.br Ana Tereza Cáceres Cortez Docente do departamento de Geografia da UNESP/Rio Claro - atcortez@rc.unesp.br INTRODUÇÃO A palavra sustentabilidade está na ordem do dia! Ao que tudo indica, estamos avançando em direção a uma mudança (quiçá irreversível) de paradigma, migrando de padrões insustentáveis de produção e consumo para um estilo de vida social e ambiental mais justo e saudável. Em nossa forma de enxergar o mundo tem ganhado espaço e viabilidade nos meios midiáticos, inclusive naqueles mais populares. Os ecos da sustentabilidade podem ser sentidos em várias áreas do conhecimento humano, ressoam nos discursos de muitos políticos e de grandes corporações transnacionais, além de estar presente em qualquer texto institucional, dos governos locais à Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com o relatório Cuidando do Planeta Terra (1992), para que uma sociedade possa ser sustentável, é preciso atender a pelo menos nove princípios, que estão inter-relacionados e apóiam-se mutuamente: 1. Respeitar e cuidar da comunidade dos seres vivos; 2. Melhorar a qualidade da vida humana; 3. Conservar a vitalidade e a diversidade do planeta; 4. Minimizar e esgotamento de recursos não-renováveis; 5. Permanecer nos limites da capacidade de suporte da Terra; 6. Modificar atitudes e práticas pessoais; 7. Permitir que as comunidades cuidem de seu próprio meio ambiente; 8. Gerar uma estrutura nacional para a integração de desenvolvimento e conservação; 9. Constituir uma aliança global. Considerando a magnitude da complexidade inerente à implementação do desenvolvimento sustentável, existem variáveis fundamentais ao processo que são ainda desconhecidas ou não mensuradas pelas populações humanas, tais como: quais as 1

necessidades humanas e serem atendidas de fato? Como limitar o consumo excessivo sem paralisar a economia e criar problemas, como, por exemplo, o desemprego? Quais os verdadeiros limites no uso dos recursos naturais? Qual a capacidade de suporte da Terra? Qual a capacidade da natureza para se regenerar? Qual a capacidade das pessoas e das sociedades para se adaptarem a novas realidades e condições ambientais? (JAMES, 1997). A Agenda 21 brasileira preconiza que o envolvimento dos moradores e outros setores da sociedade organizada junto ao governo local é condição indispensável para lidar com os desafios básicos do desenvolvimento, tais como moradia, desemprego, lixo, água e poluição do ar (...). Ao pensar em sustentabilidade, naturalmente vem à mente o seu aspecto ecológico, a sua parcela de relacionada diretamente às questões ambientais (biodiversidade, vegetação, recursos naturais etc.). Entretanto, essa abordagem é apenas um dos eixos que constitui o que se entende como sustentabilidade: um conceito complexo e amplo, que comporta diversas dimensões (social, econômica, política, cultural etc.). Numa primeira análise, determinados aspectos da sustentabilidade restrita à Coleta Seletiva contrariam alguns dos princípios da sustentabilidade mais ampla ou geral. Exemplo disto é a própria geração de resíduos: em curto prazo, é interessante para qualquer sistema de Coleta Seletiva que a sociedade consuma cada vez mais, gerando assim mais resíduos. Desta forma, portanto, haveria mais embalagens e outros materiais possíveis de serem reciclados. Por outro lado, ao considerar a sustentabilidade em longo prazo (como deve ser!), consumo e resíduos excessivos não combinam! Enfocando a abordagem social da Coleta Seletiva, a própria atividade de catação, nos moldes como ela ocorre hoje, definitivamente não é a ideal em termos de sustentabilidade. Por contradições como as descritas acima, é que este artigo parte da idéia de que existam algumas condições para que a Coleta Seletiva funcione de maneira mais sustentável, atendendo à diversidade de dimensões inerentes ao conceito de sustentabilidade, na sua expressão mais ampla. A dimensão ecológica/ambiental Partindo da divisão em cinco dimensões aqui discutidas e focando sob a perspectiva ecológica/ambiental da sustentabilidade, todo e qualquer município, independe de 2

seu tamanho ou localização, deve assumir alguns compromissos com o seu meio ambiente. Dessa óptica destacam-se alguns benefícios ambientas importantes decorrentes da prática da coleta seletiva: Poupa recursos naturais e não renováveis, uma vez que reduz a necessidade de extração de matéria prima virgem; Economiza energia no reprocessamento de materiais, valorizando a reutilização e/ou reciclagem de matérias primas secundárias; Reduz a quantidade de lixo depositado em aterros sanitários, diminuindo os impactos negativos diretos e indiretos desse tipo de deposição. Existem certas condições e fatores que, quando observados auxiliam no atendimento satisfatórios da dimensão ecológica ambiental da sustentabilidade. De acordo com Teixeira (2008) para avaliar esta dimensão, existem certas condições e fatores como observar à recuperação significativa de resíduos, ou seja, impedir que uma grande quantidade de resíduos seja encaminhada para a disposição sem uma prévia triagem dos materiais recicláveis e, desse modo, alcançar níveis significativos de recuperação dos materiais. O mesmo ator conota que nesta dimensão também deve haver a geração de baixos/poucos impactos negativos, pois um bom programa de coleta seletiva deve se preocupar em causar poucos impactos negativos ao longo de suas etapas (da coleta à comercialização dos resíduos) e adotar medidas para minimizar aqueles que não forem possíveis de serem evitados. Cabe ressaltar que, ao gerar baixos impactos pela prática da coleta seletiva, os Programas de Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos (PCSRS) contribuem para a melhoria da saúde dos trabalhadores e dos cidadãos, entretanto a quantidade e o modo como é feita a coleta dos resíduos varia em cada realidade, por isso cada programa deve realizar estudos de identificação dos impactos e buscar alternativas para reduzir os danos ao meio ambiente e potencializar a coleta. A dimensão econômica Estatísticas conhecidas dizem que cada real investido em saneamento básico propicia a economia de cinco reais em atendimento médico. Sendo assim, os aspectos 3

econômicos também devem ser levados em conta, uma vez que um bom PCSRS pode e deve gerar renda digna e bem-estar aos trabalhadores envolvidos. De acordo com Durany (2007) é necessário ainda um olhar cuidadoso para a existência de um sistema informal de catadores, isto é, uma rede de pessoas que atuam de forma autônoma, sem qualquer apoio, na coleta e comercialização de recicláveis oriundos da Coleta Seletiva. Para Celeri (2008) para esta dimensão, portanto, duas condições são consideradas fundamentais. A Geração de renda digna, garante aos trabalhadores um valor mensal aceitável que seja suficiente para saldar as dividas mensais. Neste contexto alguns fatores quando observados, podem contribuir para o aumento dessas possibilidades e oportunidades, como: a venda coletiva de resíduos; a comercialização direta à industria, sem intermediários; o investimento na capacitação para o empreendedorismo; certos mecanismos de subsídios da atividade por parte do Poder Público; a agregação de valor ao produto. De acordo com Celeri (2008), poucos são os PCSRS que conseguem escala suficiente para negociar seu produto direto com as indústrias recicladoras, evitando os atravessadores. Uma alternativa que tem se mostrado bastante viável nestes casos é a venda conjunta dos resíduos, inclusive com experiências já bem conhecidas e em funcionamento. Nesse contexto, de acordo com Teixeira (2008) é importante que o poder público e setores da sociedade estimulem a venda coletiva do material, fomentando iniciativas e organizações de catadores. Por outro lado, a atual logística dos PCSRS implantados mantém as organizações dependentes do poder público, com o agravante de que a renda obtida pelos catadores está muito abaixo da renda média dos brasileiros. Para Celeri (2008) é importante despertar nos catadores o espírito empreendedor. A falta de conhecimento na área contábil, por exemplo, pode trazer conseqüências negativas nas ocasiões de comercialização dos materiais recicláveis coletados. Além disso, a capacitação para o uso de instrumentos financeiros pode auxiliá-los na administração de suas cooperativas, tornando-os efetivamente donos de seu próprio negócio. 4

De acordo com Celeri (2008) a consideração das variáveis e mecanismos econômicos, é a segunda condição deste fator, pois de acordo com Besen (2006), a principal dúvida reside na questão: como saber os reais custos do PCSRS. Alguns pontos como a dificuldade de apropriação dos custos por parte dos órgãos gestores municipais, o acobertamento dos valores pelos técnicos municipais (por considerarem extremamente altos e colocarem em riscos a continuidade dos programas), e a modificação dos sistemas e modelos adotados e o processo de migração dos programas para as parcerias com organizações de catadores, ajudam a explicar o problema. A respeito da viabilidade econômica dos PCSRS, muitos municípios não computam gastos de administração, área e equipamentos para triagem do material, custos de divulgação, bem como os custos relacionados aos rejeitos, dentre outros (James, 2007) A queda do custo dos programas deve-se, em grande parte, às parcerias com as organizações de catadores, pois estas se constituem numa forma de ampliar a oferta de matéria prima para reciclagem do resíduo urbano com menos custo e maior distribuição de renda (LEAL, 2004). Existem experiências documentadas de PCSRS que, quando desenvolvidos em parceria com cooperativas e associações de catadores, conseguiram obter um custo de 100% mais baixo do que aqueles sistemas operados por empresas privadas. Nestes casos, além do ganho econômico, não se pode deixar de lado os ganhos sociais, que sequer entram na conta. Em 2004, o programa municipal de coleta seletiva de Porto Alegre, desenvolvido em parceria com cooperativas e associações de catadores, tinha um custo 100% mais baixo do que o de Curitiba, executado por uma empresa privada contratada, e considerado um modelo no país (CEMPRE INFORMA, 2005). Finalizando esta dimensão convêm destacar que o lado econômico tem que perpassar constantemente entre as boas condições internas e externas de trabalho, tornando completo o acesso aos benefícios trabalhistas e o acesso a bens e serviços sociais (alimentação, saúde e transporte) a todos os envolvidos. RESULTADOS PRELIMINARES 5

Tratar e dispor adequadamente os resíduos sólidos gerados pela sociedade é uma responsabilidade que temos com o ambiente e com a saúde coletiva. No caso dos resíduos sólidos, além deste aspecto temos uma possibilidade concreta de geração de trabalho e renda, que já vem sendo realizada por muitas pessoas. É cada vês maior a importância da recuperação dos resíduos sólidos como atividade econômica. Nesse contexto, os PCSRS exercem um papel fundamental, e a valorização do trabalho dos catadores de resíduos recicláveis pode ser obtida a partir de um modelo de gestão que tenha como principio a Solidariedade. Contudo a sustentabilidade deste programas tem como desafio constante a dependência das prefeituras, na tentativa de estabelecer autonomia e estratégias próprias de viabilização econômica da sua atividade. Ter um resultado financeiro positivo é fundamental, mas outros aspectos também são vistos como valores de grande importância: boas condições de trabalho, atitudes éticas, a educação do trabalhador e o respeito ao meio ambiente são alguns exemplos. É importante lembrar que, para um PCSRS ser considerado bom de verdade, ele precisa atender a alguns requisitos básicos. Obter uma boa eficiência na recuperação dos resíduos é sempre importante, mas garantir que os catadores tenham sua atuação respeitada e valorizada é essencial. E para isto, a sustentabilidade apresenta-se como uma alternativa para se conhecer a eficiência da gestão empregada. BIBLIOGRAFIA CELERI, M. J. Programas de Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos: análise das experiências de São Carlos e Assis. Programa de Pós Graduação em Engenharia Urbana PPGEU mestrado - Universidade Federal de São Carlos, UFSCar. São Carlos, 2008. DURANY, X. G. AVC de sistemas de recogida selectiva de residuos municipales em barrios urbanos densos. L`Espace géographique. Paris, 2007. JAMES, B. Lixo e Reciclagem. São Paulo. Scipione, 1997. LEAL. A. C. et al. Resíduos Sólidos no Pontal do Paranapanema. Presidente Prudente. Antonio Thomaz Junior, 2004. 6

TEIXEIRA, B. A. do N. et al. Coleta Seletiva de Resíduos: práticas e reflexões em busca da sustentabilidade. 1ª Ed. São Carlos, 2008. UNIÃO INTERNACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA. Cuidando do Planeta Terra: Uma estratégia para o futuro da vida. São Paulo: UICN, 1992. 7