Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro Primeira Câmara Cível. Duplo Grau Obrigatório e Apelação Cível nº 0012444-59.1997.8.19.



Documentos relacionados
QUINTA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº Relator: DES. HENRIQUE CARLOS DE ANDRADE FIGUEIRA

Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Vigésima Primeira Câmara Cível

DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº RELATORA: DES

EMENTA CIVIL - DANOS MORAIS - NEGATIVA NA CONCESSÃO DE PASSE LIVRE EM VIAGEM INTERESTADUAL - TRANSPORTE IRREGULAR - INDENIZAÇÃO DEVIDA.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 4ª CÂMARA CÍVEL Relator: Desembargador SIDNEY HARTUNG

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL

RECURSOS IMPROVIDOS.

APELAÇÃO CÍVEL. PROCEDIMENTO ORDINÁRIO. AÇÃO DE COBRANÇA C/C INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA. BENEFICIÁRIO DO

A C Ó R D Ã O VOTO. Apelação Cível nº Página 1 de 4

Dados Básicos. Ementa. Íntegra

ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete do Des. José Di Lorenzo Serpa

A C Ó R D Ã O. Documento Assinado Eletronicamente SANDOVAL OLIVEIRA Relator GABINETE DO DESEMBARGADOR SANDOVAL OLIVEIRA 2

VIGÉSIMA PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SEGUNDA CÂMARA CÍVEL

Relator: Desembargador CELSO LUIZ DE MATOS PERES

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores VICE PRESIDENTE (Presidente sem voto), MARTINS PINTO E ROBERTO SOLIMENE.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL

TRIBUNAL DE JUSTIÇA VIGÉSIMA SÉTIMA CAMARA CIVEL/ CONSUMIDOR JDS RELATOR: DES. JOÃO BATISTA DAMASCENO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL ACÓRDÃO

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Decisão. Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Gabinete da Desembargadora Denise Levy Tredler

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIãO Gabinete do Desembargador Federal Marcelo Navarro

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIãO Gabinete do Desembargador Federal Marcelo Navarro

Tribunal de Contas da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

,4 ff4b. Hal. Poder Judiciário do Estado da Paraíba Tribunal de Justiça Gabinete da Des a Maria das Neves do Egito de A. D.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de. APELAÇÃO CÍVEL SEM REVISÃO n /7-00, da Comarca de

Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Décima Sexta Câmara Cível

Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro 23ª CÂMARA CÍVEL

Poder Judiciário Tribunal Regional Federal da 5ª Região Gabinete do Desembargador Federal Rogério Fialho Moreira

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA

I iiiii uni mil mil uni uni mu mii mi mi

D E C I S Ã O. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 4ª CÂMARA CÍVEL Relator: Desembargador SIDNEY HARTUNG

TRIBUNAL DE JUSTIÇA VIGÉSIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL/CONSUMIDOR

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL RELATOR: DES. MARCOS ALCINO DE AZEVEDO TORRES

DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL

devolutivo. Ao apelado. Transcorrido o prazo, com ou sem contrarrazões, subam ao Eg. Tribunal de Justiça..

QUINTA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO Nº 22290/ CLASSE CNJ COMARCA CAPITAL WANIA APARECIDA OLIVEIRA BRAGA - ME APELADO: BANCO ITAÚ S. A.

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Desembargadores VITO GUGLIELMI (Presidente sem voto), FRANCISCO LOUREIRO E EDUARDO SÁ PINTO SANDEVILLE.

PODER JUDICIÁRIO FEDERAL TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO 9ª REGIÃO

Supremo Tribunal Federal

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

A C Ó R D Ã O Nº (Nº CNJ: ) COMARCA DE PORTO ALEGRE AGRAVANTE LUIS FERNANDO MARTINS OLIVEIRA

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores VITO GUGLIELMI (Presidente) e PAULO ALCIDES. São Paulo, 12 de julho de 2012.

149 º

Nº COMARCA DE NOVO HAMBURGO A C Ó R D Ã O

Nº COMARCA DE PORTO ALEGRE KELLY BORCHARDT GREGORIS CLARO DIGITAL S/A A CÓRDÃO

:: Portal da Justiça Federal da 4ª Região :: EMENTA

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Contestação do trabalhador às folhas 85/89. Reconvenção do trabalhador às folhas 90/98.

V I S T O S, relatados e discutidos estes autos de

Dados Básicos. Ementa. Íntegra

PROCESSO Nº ORIGEM: SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO REQUERENTE: INSS REQUERIDO:

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA GABINETE DO DESEMBARGADOR JOSÉ RICARDO PORTO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de. APELAÇÃO CÍVEL COM REVISÃO n /8-00, da Comarca de

PODER JUDICIÁRIO. Gabinete Desembargador Walter Carlos Lemes AC n DM

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

GOVERNO DO ESTADO DO TOCANTINS SECRETARIA DA FAZENDA CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO-TRIBUTÁRIOTRIBUTÁRIO CONSELHO DE CONTRIBUINTES E RECURSOS FISCAIS

pertencente ao mesmo Grupo Econômico das demais empresas, ante a flagrante existência do requisito

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DÉCIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL

DECISÃO. em processo em trâmite na 3ª Vara de Fazenda Pública da Comarca da Capital,

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIA Porto Velho - Fórum Cível Av Lauro Sodré, 1728, São João Bosco,

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO. Gabinete do Desembargador Federal do Trabalho Davi Furtado Meirelles

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº AGRAVANTE: JAQUELINE MACIEL LOURENÇO DA SILVA

EXMº SR. DR. JUÍZ DE DIREITO DO 12º JUIZADO ESPECIAL CIVEL DO MEIER DA COMARCA DA CAPITAL.

IV - APELACAO CIVEL

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 9ª REGIÃO

agravante SINDICATO DOS PROFESSORES DE ENSINO SUPERIOR DE CURITIBA E REGIÃO METROPOLITANA

Relator Desembargador PEDRO SARAIVA DE ANDRADE LEMOS

TERCEIRA TURMA RECURSAL JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARANÁ

JT REOAC PB Página 1 de 5

Poder Judiciário. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ACÓRDÃO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

PROCESSO: RO

Autor: SINDICATO DOS TRABALHADORES EM HOTÉIS, APART HOTÉIS, MOTÉIS, FLATS, RESTAURANTES, BARES, LANCHONETES E SIMILARES DE SÃO PAULO E REGIÃO,

Apelação Cível e Remessa Ex-Officio nº

ACÓRDÃO. Rio de Janeiro, 15 / 04 / Des. Cristina Tereza Gaulia. Relator

Trata-se de recurso apelatório (fls. 121/131) interposto

PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL AGRAVO INTERNO (AC/RN: ) AGRAVANTE: MUNICÍPIO DE DUQUE DE CAXIAS AGRAVADA: HOCHTIEF DO BRASIL S.A.

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ISRAEL GÓES DOS ANJOS (Presidente sem voto), CARLOS ABRÃO E SERGIO GOMES.

: Município de Cascavel, Prosegur Brasil S.A. Transportadora de Valores e Segurança.

A C Ó R D Ã O Nº COMARCA DE SÃO LEOPOLDO APELANTE O.P.O... T.L.O... D.L.O... F.D.L.O... APELADO APELADO APELADO

A C Ó R D Ã O Nº COMARCA DE CAPÃO DA CANOA P.L.L... N.F.G.M... C.R.S... A.A.S.F... R.G.L... APELANTE APELANTE APELADO APELADO INTERESSADO

CONCLUSÃO. Vistos. Juiz(a) de Direito: Dr(a). Fernando Oliveira Camargo. fls. 1

P O D E R J U D I C I Á R I O

GoVERNO DO EsTADO DO CEARÁ Secretaria da Fazenda Contencioso Administrativo Tributário Conselho De Recursos Tributários 2" Câmara

DESENVOLVIMENTO VÁLIDO E REGULAR DO PROCESSO - QUESTÃO DE ORDEM PÚBLICA - EXTINÇÃO DO FEITO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO - ART. 557, DO CPC.

IV - APELACAO CIVEL

APELAÇÃO CÍVEL Nº

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

APELANTE: EDWALTER CUNHA COUTO APELADO: LOTÉRICA RONDON PLAZA SHOPPING LTDA.

Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região

Gabinete do Des. José Di Lorenzo Serpa

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIA Porto Velho - Fórum Cível Av Lauro Sodré, 1728, São João Bosco,

TRIBUNAL DE JUSTIÇA R E L A T O R D E C I S Ã O

Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Transcrição:

(1) Apelante: Município de São Gonçalo Apelados: Associação dos Moradores e Amigos da Rua Abílio José de Matos e Adjacências e outros Relator: Desembargador Camilo Ribeiro Rulière A C Ó R D Ã O Duplo grau obrigatório de jurisdição e Apelação - Obrigação de Fazer e não Fazer Aterramento irregular - Dano ambiental. Examinando o contexto probatório produzido nos autos, verifica-se que corretamente o Juízo a quo acolheu parcialmente os pleitos autorais, confirmando os efeitos da tutela antecipada deferida, com amparo, principalmente, no laudo técnico realizado pelo Perito Judicial, que constatou que efetivamente o aterramento vem sendo praticado no local pelo primeiro réu, causando flagrante destruição do manguezal reminiscente da região, onde foi verificada uma camada de, pelo menos, dois metros de aterro irregular, com despejo de resíduos tóxicos, lixo hospitalar, entulhos de obras de engenharia civil e lixo domiciliar. Omissão do Poder Público que gerou danos irreparáveis à natureza fauna e flora do local, restando demonstrado, inclusive, que com o lançamento dos detritos, lixo e entulhos, houve variação de níveis de obstrução de logradouros públicos e mudança no traçado de ruas, provocando inundações nas residências das cercanias,

ante a falta de escoamento das águas pluviais decorrente da obstrução dos canais de ligação dos manguezais. Ausência de prova acerca da atuação da ré EMSA no que concerne ao lançamento dos detritos e entulhos Acerto da improcedência do pedido. Inconformismo da Municipalidade que não merece prosperar Taxa judiciária Cabimento da condenação - Mantença da Sentença em reexame necessário Desprovimento da Apelação. Relatados e discutidos estes autos de Duplo Grau Obrigatório de Jurisdição e Apelação Cível originários do Juízo de Direito da 4ª Vara Cível da Comarca de São Gonçalo em que é apelante o Município de São Gonçalo e são apelados Associação dos Moradores e Amigos da Rua Abílio José de Matos e Adjacências e outros. Acordam os Desembargadores que compõem a do Tribunal de Justiça, por unanimidade de votos, em manter a Sentença em reexame necessário e negar provimento à Apelação. Trata-se de Duplo Grau Obrigatório de Jurisdição e de Apelação Cível interposta pelo Município de São Gonçalo, fls. 537/540 (item 00745), alvejando a Sentença em fls. 528/535 (item 00734), que, nos autos da Ação de Obrigação de Fazer e não Fazer proposta por Associação dos Moradores e Amigos da Rua Abílio José de Matos e Adjacências e outros em face de Raul Fernando de Souza, Empresa Sulamérica de Montagem S/A EMSA e do Município de São Gonçalo julgou: a) procedente o pedido formulado em face de Raul Fernando de Souza, tornando definitiva a tutela antecipadamente concedida e condenando-o a remover todo o entulho vazado à beira do mangue maior (situado aos fundos da Estação Retransmissora da Rádio Manchete, com início na Rua Abílio José de Matos) e vazado diretamente no mangue menor (situado ao longo da Rua Magalhães Bastos), devendo retirar do local os tanques de óleo ali repousados, lixos e detritos

diversos, fixando o prazo de trinta dias para o cumprimento integral da obrigação, sob pena de multa diária de R$120,00 (cento e vinte reais); b) procedente o pedido formulado em face do Município de São Gonçalo, condenando-o a efetuar: 1) a limpeza e desobstrução do canal de interligação entre o mangue maior e o mangue menor; 2) limpeza do mangue menor; 3) remoção de todo o entulho existente na Rua Profª. Maria Joaquina, desde seu início na confluência com a Rua Abílio José de Matos até a confluência com a Rua Raul Porto, resgatando o leito original próprio para o tráfego; 4) limpeza da Rua Magalhães Bastos, resgatando o leito do tráfego, sem ofender o braço de mangue ainda existente; 5) limpeza da Rua Orminda da Silveira; 6) remoção dos entulhos vazados ao redor dos imóveis n 3069 da Rua Magalhães Bastos e n 3072 da Rua Orminda da Silveira, pertencentes aos autores Carlos Luiz e Geraldo, retirando o aterro num raio de 10 metros ao redor de cada um desses imóveis, tornando-os acessíveis; c) improcedentes os pedidos formulados em face da Empresa Sulamérica de Montagens S/A EMSA, além de condenar o réu Raul ao pagamento de 50% das despesas processuais e 50% dos honorários advocatícios, fixados em R$5.000,00 (cinco mil reais), considerando a complexidade da causa, a duração do processo e o trabalho desenvolvido pela Defensoria Pública, a serem revertidos em favos do CEJUR- DPGERJ, sendo que os outros 50% dos honorários deverão ser custeados pelo Município de São Gonçalo. Por fim, deixou de condenar a municipalidade em custas judiciais, eis que isenta, condenando-a, entretanto, ao pagamento de 50% da taxa judiciária, visto que nos termos do Enunciado 42 do aviso 57/2010, a isenção estabelecida no artigo 115, caput do Código Tributário do Estado do Rio de Janeiro, beneficia os entes públicos quando agem na posição processual de autores, porém, na qualidade de réus, devem, por força do artigo 111, inciso II do Código Tributário Nacional e do verbete n 145 da Súmula do TJRJ, recolher a taxa judiciária devida ao FETJ, quando sucumbirem na demanda e a parte autora não houver antecipado o recolhimento do tributo. Inconformado o Município réu interpôs o presente Recurso, pugnando pela reforma do julgado no que concerne à condenação ao pagamento da taxa judiciária. Contrarrazões em fls. 544/552 (00755).

Parecer do Ministério Público em fls. 555/556 (00770), pelo conhecimento do Apelo. Manifestação da Procuradoria de Justiça em fls. 779/781 (00779), pelo conhecimento e desprovimento da Apelação. Relatados, decido. Cuida-se de ação através da qual os autores afirmam que o Bairro Boa Vista possui logradouros públicos planificados, havendo corte do traçado da Rodovia BR101, dois manguezais conexos entre si, com ligação direta à Baía da Guanabara, considerados áreas de preservação permanente, que estabelecem limitações administrativas às propriedades ali situadas, além de sustentar tratar-se de local com ambiência ecológica rica, habitat natural do marreco-ererê, e ambiência urbana tipicamente residencial, com grande concentração de moradias familiares, predominantemente de pescadores. Contudo, alegam que o local vem sendo modificado irregularmente, pois o primeiro réu, Raul, é proprietário dos lotes n s 2.868 e 2.869 localizados na Rua Profª. Maria Joaquina, antiga Avenida "2", loteamento Bairro Boa Vista, onde mantém um comércio de ferro-velho com situação geográfica próxima à Rodovia BR101, tendo realizado aterramento clandestino objetivando implantar um acesso direto de seu depósito de ferro-velho para a Rodovia Niterói-Manilha, além de estender o aterramento, gradativamente, aos terrenos das cercanias do seu galpão e áreas públicas, causando verdadeira deformação topográfica e ambiental na localidade. Asseguram que a segunda ré, EMSA, a pedido do primeiro réu, lançou detritos, entulhos de obras de engenharia civil, carga mista contendo lixo hospitalar e residencial e outros rejeitos inorgânicos comprometedores da saúde pública e do ecossistema nativo e fez operar tratores de lâmina para planagem do solo sem qualquer estudo de viabilidade topográfica, causando variações de níveis, obstrução de logradouros públicos, mudança de traçados de ruas, provocando retenções de águas pluviais e inundações em residências.

Prosseguem os demandantes narrando que o aterramento realizado pelo primeiro réu no mangue menor, situado na Rua Magalhães Bastos, fundos do seu depósito de ferro-velho, bloqueou completamente o referido logradouro, interligando-o com a Rua Professora Maria Joaquina, bem como que com auxílio da segunda ré EMSA, o primeiro réu obstruiu o canal de ligação entre o mangue maior, situado ao redor da Estação da Rádio Manchete, e o mangue menor, impedindo a troca da água e renovação de oxigênio do mangue menor. Asseveram que, em decorrência de tal obstrução, o mangue menor vem se extinguindo devido à falta de recirculação da água, porém transborda por ocasiões de fortes chuvas, inundando residências de níveis mais baixos, situadas nas Ruas Passo Fundo e Raul Porto, além de provocar o retomo do esgoto doméstico das residências localizadas na Rua Passo Fundo, que dão fundos para o mangue menor. Garantem, ainda, que o primeiro réu vem intimidando ostensivamente Carlos Luiz e Geraldo, lançando em volta de suas residências entulhos por meio de caminhões identificados com a logomarca da segunda ré EMSA, tomando-as inacessíveis e insalubres, com o fito de adquirir os imóveis dos mencionados autores a preços irrisórios, pois sua situação geográfica próxima à Rodovia BR101 em muito interessa ao primeiro réu. Derradeiramente, sustentam que o Município de São Gonçalo permaneceu inerte, deixando de inibir a prática ilícita dos demais réus, concorrendo, assim, para o agravamento da situação. Examinando o contexto probatório produzido nos autos, corretamente o Juízo a quo acolheu parcialmente os pleitos autorais, confirmando os efeitos da tutela antecipada deferida, com amparo, principalmente, no laudo técnico realizado pelo Perito Judicial, uma vez que o mesmo constatou que efetivamente o aterramento vem sendo praticado no local pelo primeiro réu, causando flagrante destruição do manguezal reminiscente da região, onde foi verificada uma camada de, pelo menos, dois metros de aterro irregular, com despejo de resíduos tóxicos, lixo hospitalar, entulhos de obras de engenharia civil e lixo domiciliar.

Consigne-se, também, que segundo a prova técnica, a omissão do Poder Público gerou danos irreparáveis à natureza fauna e flora do local, restando demonstrado, inclusive, que com o lançamento dos detritos, lixo e entulhos, houve variação de níveis de obstrução de logradouros públicos e mudança no traçado de ruas, provocando inundações nas residências das cercanias, ante a falta de escoamento das águas pluviais decorrente da obstrução dos canais de ligação dos manguezais. Por outro lado, acertadamente, foi julgado improcedente o pedido em relação à ré EMSA, diante da ausência de prova acerca da atuação da referida empresa no que concerne ao lançamento dos detritos e entulhos mencionados na exordial. Portanto mantém-se o mérito da Sentença no duplo grau de jurisdição. Quanto à Apelação, não merece prosperar a irresignação do réuapelante ao pagamento da taxa judiciária. Com efeito, no que tange às despesas processuais, observando-se o artigo 17, inciso IX da Lei Estadual nº 3.350/99 e o Enunciado nº 28 do Fundo Especial do Tribunal de Justiça, o Município deve ser isento do pagamento das custas processuais o que significa dizer que deverá arcar com a taxa judiciária, posto que esta e às custas judiciais formam as despesas processuais, certo que apenas as custas são objeto da isenção, e o apelante não comprovou haver reciprocidade de isenção de taxa entre ele e o Estado do Rio de Janeiro. Assim, mantém a Sentença em reexame necessário, negando provimento à Apelação, na forma do Acórdão. Rio de Janeiro, 10 de março de 2015. Desembargador CAMILO RIBEIRO RULIÈRE Relator