LÉGUA DE BEIÇO : ENTRE AS CASAS E AS REDES SOCIAIS DA FAMÍLIA SENHORIAL E DE SEUS ESCRAVOS (PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO DO RIO GRANDE DO SUL, SÉCULO XIX)



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Transcrição:

LÉGUA DE BEIÇO : ENTRE AS CASAS E AS REDES SOCIAIS DA FAMÍLIA SENHORIAL E DE SEUS ESCRAVOS (PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO DO RIO GRANDE DO SUL, SÉCULO XIX) Letícia Batistella Silveira Guterres 1 Na historiografia sobre a escravidão é indiscutível a necessidade de compreender-se a estrutura de posse de escravos da região analisada. É também quase unânime que essa estrutura de posse de escravos é compreendida através da análise das faixas de plantéis (quando falamos de plantéis estamos nos referindo ao conjunto de escravos pertencente ao mesmo proprietário) e que a partir daí delineie-se o perfil da população escrava das localidades em estudo. A reiteração desta evidência nesses estudos nos reflete a importância em se conhecer dita estrutura, já que seus resultados vêm servindo de argumentos que associam o tamanho do plantel às efetivações e estabilidade dos laços familiares confirmados pelos escravos. Conforme Motta, (...) tem sido recorrente na historiografia a verificação de que as relações familiares estabelecidas no seio da população escrava encontravam, regra geral, melhores condições de efetivação e estabilidade nos plantéis de maior número 2. De fato reconhece-se a essencialidade em delinearem-se as características das populações escravas em análise, sem o qual seria impossível apreender seus movimentos. A questão que se coloca é como fazêlo? Responder a esta questão pressupõe utilizar-se de mecanismos metodológicos que permitam trazer à luz as ações dos escravos e outros sujeitos de suas relações de forma com que estas não pareçam responder coerentemente à estrutura predeterminada, isto é, para que não seja a eles tirado o exercício do processo contínuo de formação da estrutura. Essa prerrogativa é o ponto de partida para demonstrar que os escravos e outros sujeitos de suas relações não reagiam simplesmente ao sistema normativo, mas o transformavam. Parte-se da hipótese de que as estratégias familiares agiram sobre esta estrutura e paisagem agrária, como elementos de um processo aberto e fragmentado, em constante negociação de interesses heterogêneos. Fragmentada em razão dos atores envolvidos serem diferentes, agindo de acordo com seus recursos e valores, e aberta, pois as ações dos agentes seriam guiadas por valores de mundos distintos 3. Dito de outra forma, nosso objetivo é relacionar a estrutura de posse de escravos e dados de demografia ligados à população da paróquia com as estratégias familiares dos sujeitos envolvidos neste processo. A leitura dos registros batismais de Santa Maria da Boca do Monte nos encaminhou para a observação de dados que extrapolavam a quantificação de aspectos ligados exclusivamente à demografia 1 Doutoranda em História Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Bolsista CAPES. leguterres@yahoo.com.br. 2 MOTTA, 2006, p.7. 3 BARTH, Process and form in social life. Vol 1. London: Routlegde & Kegan Paul, 1981.

local. O movimento daquelas pessoas, em atividades que mobilizam vizinhos, compadres, parentes consangüíneos, nos aponta a aspectos mais complexos da conformação dessas estruturas em que estes eram seus principais agenciadores e que, ao atuarem transformavam o próprio sistema de normas. Conforme a assertiva de Levi: (...) nos intervalos entre sistemas normativos estáveis ou em formação, os grupos e as pessoas atuam com uma própria estratégia significativa capaz de deixar marcas duradouras na realidade política, que embora não sejam suficientes para impedir as formas de dominação, conseguem condicioná-las e modificá-las 4. Começamos a vislumbrar através das visitas feitas por párocos às unidades domésticas de determinados sujeitos, a possibilidade de analisar essa estrutura de posse de escravos e seus aspectos demográficos através de um processo generativo. Entendemos que investindo nas estratégias presentes nas sociações familiares podemos chegar a caminhos que nos conduzam a pensar sobre os laços familiares nas interações desses sujeitos. Nisso estava implícita a idéia de que não podemos analisar a vida social como o desenrolar mecânico de uma estrutura fixa de regras infalíveis a serem seguidas 5. A opção de partir dos registros batismais, conectando-os a outras fontes, como inventários, testamentos ou processos-crime, nos apontou caminhos metodológicos que partiam das alianças tecidas do micro em direção ao macro. Dentre os estudiosos, referências da microanálise, Edoardo Grendi 6 nos aponta para um importante caminho para a análise das famílias. O que propõe é uma análise que parta da unidade doméstica, ou seja, de um procedimento micro para chegar à sociedade mais ampla e que tem na comunidade uma forma de agregação sócio-espacial intermediária. Assim, a proposta é partir da unidade doméstica em direção à comunidade (que irá mediar a unidade doméstica à sociedade mais ampla). Conforme Grendi, uma das vantagens analíticas de partir da unidade doméstica é não cair na armadilha de uma tentação evolucionista, estática, já que a unidade doméstica é multifuncional e historicamente mutável. Além disso, o sujeito histórico da unidade doméstica não está isolado da sua característica de sujeito econômico e histórico. Entendê-la unidade doméstica - em sua dinâmica ajuda a compreender tanto a prática sucessória, a estratégia demográfica, quanto o comportamento que envolve as escolhas matrimoniais e uniões consensuais, refletindo a localização social das unidades familiares. A unidade doméstica, portanto, é o ponto de partida da família enquanto grupo doméstico. Nesse sentido, as visitas paroquiais às casas de determinados moradores de Santa Maria nos era apresentado como portas de entrada às unidades domésticas. Em tais visitas buscou-se identificar as 4 LEVI, 2000, p.45. 5 PEDROZA, 2008, p.69. 6 GRENDI, Edoardo. Polanyi dall antropologia econômica alla microanalisi storica.

relações que poderiam estar demonstradas naquelas ocasiões e a partir delas sugerir hipóteses que possibilitem explicar as motivações para a conformação de vínculos de parentesco tanto de membros da família senhorial quanto de seus escravos. A presença constante de outros sujeitos, além do dono da casa, batizando seus escravos nas propriedades visitadas, nos indica à capacidade das famílias em questão de estabelecer relações. As ligações entre membros da parentela senhorial refletidas nas escolhas de apadrinhamento durante as visitas paroquiais nos apontavam às estratégias ligadas a maior disponibilidade de recursos e manutenção de suas posses. O reflexo dessas ligações familiares expressava-se na circulação de escravos entre propriedades de membros de uma mesma parentela senhorial, o que tende a relativizar a idéia de uma estrutura de posse de escravos rígida, mas com maior fluidez, em que esses laços de sociabilidade mostravam-se essenciais para sua inteligibilidade, já que transcendiam os limites da propriedade de um senhor em direção à sua parentela. Sobre a terminologia utilizada neste artigo, destacamos que o termo parentela senhorial se refere aos membros consangüíneos e, uma série de outras relações e dinâmicas sociais em seu seio: (...) numa quase infinita variedade de caminhos, que passam por relações consangüíneas, rituais e afins (PEDROZA, 2008, p.70). Também utilizaremos o termo família senhorial, quando nos referirmos às famílias proprietárias de escravos de Santa Maria. No caso desse estudo, as famílias senhoriais foram o nosso ponto de partida para a análise das redes mais complexas em que se inseriam suas estratégias familiares e dos cativos de sua propriedade. Outro termo aqui utilizado é estratégia, que está associado à importância da rede de relações consangüíneas ou outras alianças como importantes elementos na complexa estratégia das escolhas, das exclusões e das integrações que tornavam o organismo familiar mais elástico (LEVI, 2000, p.96). Essas estratégias estão presentes nas escolhas feitas por membros de determinadas parentelas senhoriais, em um momento da iminência da decadência da escravidão. Sob a lente das estratégias familiares e de redes de amizade, proteção, compadrio e apadrinhamento pretende-se preencher um quadro que os cálculos estritamente econômicos representavam apenas de maneira parcial e distorcida (LEVI, 2000, p.96).

Das unidades domésticas à parentela senhorial Tratando-se de século XIX, as distâncias, embora minimizadas por seus moradores, eram longas para serem percorridas em carretas de bois ou a cavalo. O extenso território que englobava a paróquia, fez com que diversas vezes os párocos se deslocassem às casas de moradia de alguns moradores da região, para efetuar o ritual do batizado. Não era incomum a existência de oratórios particulares por sujeitos de alguma importância social, que não abriam mão em batizar seus rebentos e agregados em suas próprias dependências. As Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia previam em seu Título XII, a possibilidade de administrar-se o Sacramento do Batismo fora da igreja, em qualquer lugar, por qualquer pessoa. Era claro, entretanto, que estes só se dariam em casos de necessidades:...se alguma criança ou adulto estiver em perigo, antes de poder receber o Batismo na Igreja, pode e deve receber fora dela, em qualquer lugar, por efusão, ou aspersão, e por qualquer pessoa... (p.17) Auguste de Saint Hilaire foi um dos primeiros viajantes que se tem notícias que passaram por estas terras, deixando suas impressões. Sua visita à capela de Santa Maria foi no ano de 1821. Poucos anos antes, a localidade já havia servido de acampamento militar, responsável pela demarcação de fronteiras pelas tropas portuguesas, em 1784. Enquanto cidade de matriz lusobrasileira, sua origem também se inseria nas demarcações das tropas portuguesas encarregadas da demarcação das fronteiras entre Portugal e Espanha (BIASOLI, 2010, p.121). O que era um povoado subsistiu ao acampamento, tornando-se em 1804 Oratório; em 1814 Capela Curada; em 1837, Freguesia; em 1857 Vila de Santa Maria e em 17 de maio de 1858 Município. Um ano depois de estabelecido o acampamento militar, em 1785, Santa Maria tinha 200 almas, tendo sido realizado, no ano de 1798, o primeiro batizado na capela do Acampamento (BELÉM, 2000, p.33). Até 1858, quando ocorreu sua emancipação, a região era formada por uma área mais extensa do que os atuais limites do município e englobava os atuais municípios de Silveira Martins, parte de Itaara, São Pedro do Sul e a própria Santa Maria. Trata-se da região da Depressão central riograndense.

A paisagem comentada pelo viajante denunciava o palco por onde as atividades produtivas eram realizadas. Os campos, predominantes ao sul do território, conduziram à criação de gado, enquanto que nas áreas florestais predominou a agricultura de alimentos, voltada para o consumo próprio. Como observa Luis Augusto Farinatti, essas terras foram sendo ocupadas por muitos daqueles que não haviam se tornado grandes criadores de gado 7. Em meados, do século XIX, a vila associava a criação de gado, produção de alimentos e pequeno comércio regional. Conforme Lixinski 8, a base de sua economia estava vinculada fundamentalmente a produção de alimentos, havendo, porém atividades ligadas à pecuária, que não constituíam o eixo principal da economia local. Além de aspectos ligados à paisagem, alguns viajantes oferecem detalhes com relação às condições das estradas e terrenos. Quando o viajante italiano Ambauer iniciou sua viagem ao interior da Província de São Pedro mencionou detalhes das condições de estradas e terrenos passando pela Capital, vindo pelo rio Jacui em visitas a São Jerônimo, Rio Pardo, Cachoeira até chegar em Santa Maria. À época, Santa Maria tinha duas ruas e algumas casas esparsas. Por volta da década de 1860, o viajante calculava que a estrada percorrida de Cachoeira à Santa Maria tinha cerca de vinte e quatro léguas, desacreditado das informações dos habitantes dessas localidades, que afirmavam que para esta viagem seriam somente 20 léguas. Distâncias incertas, caminhos difíceis de percorrer, feitos de terrenos que não eram planos, acompanhados por sangas e lagoas, que atrasavam viagens previamente planejadas e faziam o viajante ter de conseguir abrigo em casa de algum morador. Essas distâncias e caminhos pareciam ser mais sentidos pelos viajantes do que propriamente pelos habitantes da Vila. A população da vila não arcava com maiores problemas, já que grande parte das necessidades alimentícias dos habitantes era resolvida através das cerca de 40 casas de comércio que já se faziam notar no ano de 1859 9. À época, Santa Maria contava com uma população de pouco mais de 5.000 pessoas. 7 FARINATTI, Luis Augusto Ebling. Sobre as cinzas da mata virgem: lavradores nacionais na Província do Rio Grande do Sul (Santa Maria, 1845-1880) Dissertação de Mestrado do curso de Pós-Graduação em História do Brasil da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 1999, p. 27. Nesta dissertação, o autor apresenta o trabalho cativo disseminado para além da grande lavoura. 8 LIXINSKI, Gláucia Giovana Lixinski de Lima. De Sacramento à Boca do Monte: a formação patrimonial de famílias de elite na Província de São Pedro (Santa Maria, RS, século XIX). Dissertação de Mestrado do curso de Pós-Graduação em História da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2009, p. 63. 9 WITTER, op.cit, p.26.

Os dados dos censos do Rio Grande do Sul, de 1801 a 1950 10 mostram que a população cativa do município de Santa Maria, em 1859, somava 19% da população total, ou seja, embora proporcionalmente representasse um dos menores números de populações escravas na Província rio-grandense 11, acabava por manter a média entre os municípios menos urbanizados e que não possuíam charqueadas 12. Em relação ao ano de 1872, houve um crescimento em 24 % de escravos no município; de 966 escravos em 1859 para 1.194 em 1872. Esse aumento do número de escravos em um contexto posterior ao fim do tráfico internacional de escravos, em 1850, demonstra a reprodução endógena cumprindo um importante papel na estabilidade e ampliação dos plantéis. Daí a existência nos inventários post-mortem de 75% do total de cativos terem até 35 anos, o que reflete na concentração de escravos em faixa etária jovem e produtiva (LIXINSKI, p.160). Conforme Lixinski (2009, p.159), dos 253 inventários por ela catalogados, entre os anos de 1858 e 1888, 52% deles possuíam escravos, ou seja, 131. Destes, 69% apresentavam até cinco cativos, 20%, de seis à dez e 11% destes eram proprietários de mais de dez cativos. A média de posse de cativos entre os anos de 1858-1889 era de sete escravos, número este que, durante os anos de 1870-1888 passa a ser de quatro escravos. Esses números revelam importantes dados sobre a estrutura de posse de escravos na região, entretanto, quando propomos um movimento de análise que parta das famílias em direção às parentelas senhorias eles podem ser repensados. 10 De Província de São Pedro a Estado do Rio Grande do Sul censos do RS: 1803 a 1950. Porto Alegre: FEE, 1981. 11 Conforme, Lixinski, op.cit, p. 39: No ano de 1859 o percentual de escravos em Santa Maria era de 19% sobre o total da população. Comparando com os percentuais da população escrava com outras regiões da Província verificamos que na região Missioneira - São Borja apresentava 14%, Uruguaiana 22%, Cruz Alta 13% sobre o total da população. Enquanto em Pelotas, Jaguarão e Rio Grande, a população escrava compunha respectivamente 27%, 28% e 18% do total, regiões estas ligadas as charqueadas e a atividade urbanas 11. Se compararmos com a região da Campanha tem-se Alegrete com 23% 11, Bagé com 25%, Itaqui com 15% 11. Estes números indicam que, Santa Maria aproxima seu percentual das regiões de Cruz Alta, Rio Grande, Itaqui, São Borja. Devemos considerar que estes números apontam regiões pouco urbanizadas e/ou sem charqueadas, onde a mão de obra escrava aparece em menor proporção que em áreas tradicionalmente vistas como de excelência do trabalho escravo sulino. Contudo, embora estejamos tratando aqui de uma área que não está entre as primeiras da província em termos de população escrava, nem de longe estes 19% de habitantes cativos pode ser desprezado. 12 FARINATTI, op. cit, 1999, p. 31-32.

Foram inúmeras as visitas feitas pelos párocos em unidades domésticas ao longo dos oitocentos, o que, em tese, nos viabiliza um estudo de diferentes famílias senhoriais e suas estruturas de posse de escravos. As que destacamos neste estudo, entretanto, são aquelas que melhores disponibilidades tivemos de acesso, ou seja, as que mais informações foram possíveis de coletar em fontes de naturezas diversas. Uma das questões que devemos ponderar é de que a maior proporção dos inventariados em Santa Maria entre os anos de 1858 e 1889, conforme já demonstrado por Lixinski concentravam-se entre lavradores/pastores, pequenos e médios criadores; somando 158 indivíduos (que representavam 62% detentores de 36% de todo o rebanho). A maior parcela dos indivíduos se concentrava nesses grupos. Apesar de possuidores de uma parcela minoritária do rebanho eram socialmente muito representativos. Isso reafirma que a região de Santa Maria era um local onde a atividade pecuária desenvolveu-se em pequena escala (LIXINSKI, 2009, p.72). Durante o período desta análise, 31% dos inventários, ou seja, 78 dentre os inventariados da população de Santa Maria não possuía nenhuma cabeça de gado; 36% não tinham escravos e 10% não possuíam terras próprias. Já, dentro do grupo dos grandes criadores, todos eram proprietários de terras e 15% não tinham escravos (LIXINSKI, p.72). A seguir, apresento a análise de uma das parentelas senhoriais brevemente analisadas e que nos ajudam no exercício de análise das estruturas de posse de escravos e das possibilidades da conformação de laços familiares nela vizualizada. As visitas paroquiais e a estrutura de posse de escravos O primeiro assento de batismo assinado pelo vigário Antonio Gomes Coelho do Valle foi no dia 28 de agosto de 1853. Naquela ocasião batizou Maria, de um ano de idade, filha legítima do casal de libertos João e Eufrazia. Maria era livre, mas a história de vida de seus pais, ligada à escravidão, também é notada quando da escolha dos seus padrinhos, libertos como os pais de Maria e possivelmente parceiros de uma experiência pregressa de cativeiro, que se fez perdurar através do apadrinhamento. Maria teve seu nome, possivelmente em homenagem à madrinha, parceira de cativeiro de seus pais. O padrinho foi Francisco. Não consta no registro de seu batismo informações sobre a possível existência de uma relação entre os padrinhos. O segundo batismo confirmado na freguesia pelo então vigário colado de Santa Maria, Gomes do Valle, aconteceu no dia 11 de outubro de 1853, na fazenda de um dos mais célebres

sujeitos de Santa Maria: Francisco José Pinto (LIXINSKI, 2009). Ele era neto do maior criador/proprietário da segunda metade dos oitocentos em Santa Maria e fazia parte do que Fábio Kuhn definia como uma elite social, pois detentor de três atributos essenciais para sua determinação: riqueza, status e poder: Antonio José Pinto. (LIXINSKI APUD KUHN, p.174). A trajetória da família Pinto já era por nós conhecida através do trabalho de Gláucia Lixinski (2009), que analisou o perfil da elite de criadores/proprietários desta região. Deteve-se na trajetória dessa família por identificar nela a formação de um dos mais significativos patrimônios materiais da localidade. O primogênito da família, Francisco José Pinto, foi o primeiro a ter sua fazenda visitada pelo pároco, no ano de 1850. Com o seu falecimento, oito anos após a primeira visita, o seu patrimônio foi dividido entre a sua esposa, Dona Maria da Natividade e seus onze filhos. Francisco José pertencia ao topo da hierarquia social e econômica de meados do século XIX em Santa Maria (LIXINSKI, p.86). Francisco era neto de Antonio Pinto, que fazia parte, junto a outras famílias, da primeira onda migratória ocorrida em meados da década de 1730, à Vila de Viamão. No caso da família Pinto isto ocorreu no ano de 1830. Antonio Pinto...tinha suas origens familiares na colônia de Sacramento, filho de Manoel Pinto Santiago, Capitão de Infantaria na Colônia de Sacramento, e de sua mulher, D. Luiza Escócia Rodrigues (LIXINSKI APUD KUHN, Fábio, Gente de fronteira...2006, p.107). Quando Constantino faleceu, em 1833, deixou sete filhos e um patrimônio que contava com 17.652 cabeças de gado, distribuídas nas vilas de Cachoeira, na capela de Santa Maria e em São Francisco de Borja; além de 52 escravos e outros bens que somavam 193:448$728 réis (LIXINSKI, 2009, P.110). Apesar de casas de moradia em diferentes localidades, residia junto a sua família em uma chácara, em local chamado Rincão da Serraria, onde tinha meia légua de campo e uma casa coberta de telha, em Cachoeira. Abaixo os filhos de Constantino:

CONSTANTINO JOSE PINTO RICARDA GOMES DOS SANTOS 1. FRANCISCO JOSE PINTO JOAQUINA PEREIRA DA NATIVIDADE 2. DONA MARIA CONSTANTINA DE OLIVEIRA JOAQUIM CORREIA DE OLIVEIRA 3. DONA JOAQUINA MARIA DE OLIVEIRA CAPITÃO OLIVERIO ANTONIO DE ATAIDE 4. CORONEL TRISTÃO JOSÉ PINTO MARIA DA GLÓRIA BARRETO 5. DONA FRANCISCA MARIA DE OLIVEIRA MANOEL DE ALMEIDA BARBOZA 6. JOSÉ CONSTANTINO PINTO DOMINCIANA OLIVEIRA PINTO DE MORAES 7. CLARIMUNDO JOSÉ PINTO MARIA HELENA DA FONTOURA PINTO Francisco José Pinto, José Constantino Pinto, Clarimundo José Pinto e Olivério Antonio de Ataide foram os membros da família Pinto que tiveram suas casas visitadas em diferentes momentos pelo pároco Antonio Gomes do Valle e que, por isso, servirão para o exercício de análise proposto acima. Com essa finalidade, buscamos o maior número de informações sobre esses sujeitos, em especial no que diz respeito às relações que tinham entre si e seus escravos. Nas visitas paroquiais visualizam-se diversos sujeitos que levam seus escravos para serem batizados ou que eventualmente tornam-se padrinhos. Procuramos, nesse sentido, compreender quais as relações que estes sujeitos mantinham entre si e como estas interferiam nos laços familiares que seus escravos vieram a conformar. Grande parte das informações sobre a família Pinto já havia sido muito bem informada por Lixinski (2009), o que nos ajudou a seguir a análise promovendo outras questões. A autora já havia demonstrado que os quatro membros da família Pinto que referimos acima estavam na lista de criadores da região detentores de mais de 2.000 reses de criar 13. Através desta lista era possível deduzir que a mais extensa das propriedades era a de Francisco José Pinto, com três léguas de campo (13.068 hectares). Também era dele o maior número de escravos destinados àquela ocupação, que contabilizou doze escravos e um filho capataz. O total do seu rebanho bovino também superava os demais, somando 5.000 reses de criar. Francisco José Pinto vivia na Fazenda Pinheiros, que ficava na capela de Santa Maria. Tal fazenda foi recebida por herança de seu pai, 13 Na Relação de 1858 estão relacionados os nomes de 90 criadores da Vila de Santa Maria e trazem as seguintes informações: a relação jurídica com a terra onde tem seu rebanho, a extensão de suas terras, o número de reses de gado bovino, eqüino, ovino e muar que possuía; o número de trabalhadores regulares (se escravos, peões livres, capatazes, etc) que exerciam atividade de manutenção em cada propriedade.

sendo Francisco, dentre seus outros irmãos, o que recebeu maior valor em terras entre os herdeiros: 8:000$000 réis. Conforme Lixinski, a fazenda Pinheiros foi avaliada por 26:000$000 réis, sendo parte dela herdada por Francisco José (8:000$000) e o restante, equivalente a 18:000$000 réis permaneceu com a viúva e mãe Dona Ricarda em sua meação ( LIKINSKI, 2009, p.122-123). José Constantino Pinto foi visitado pelo mesmo vigário no ano de 1857. Naquela ocasião, José possuía uma légua e meia de campo (6.534 hectares), e, depois de seu irmão Francisco era o que mais escravos utilizava para esse trabalho, somando seis, além de dois peões livres. Também, ao contrário de seu irmão Francisco que delegava a um de seus filhos a tarefa de administrador, José era quem o fazia. Seu rebanho era de 2.400 animais bovinos. Além de Francisco e José, o caçula dos irmãos, Clarimundo José Pinto foi, dentre todos, aquele que recebeu a terceira visita do pároco. Ele era detentor de uma légua e meia de campo onde empregava três escravos, um peão livre e um capataz, contando com estes para o manuseio de 2.000 reses de criar. O último componente da família Pinto que teve sua propriedade visitada pelo vigário da paróquia foi Olivério Antonio de Ataíde, genro dos irmãos acima mencionados, casado com Dona Maria Joaquina de Oliveira. Olivério tinha uma légua e meia de campo, seis escravos, um filho capataz e 2.000 reses. Em parte da propriedade declarada no documento estava a que sua esposa havia recebido de sua mãe, por doação em terça de 1 légua de campo que compreenderá o Rincão denominado Luiz Marques na forma de escritura pública. A dita doação veio acompanhada da promessa feita e cumprida de que não vendesse a dita parte de campo. (LIXINSKI, 2009, p.119). O que as informações até aqui revelam é que esses quatro sujeitos acima mencionados faziam parte de uma mesma parentela de criadores que eram detentores de 62% do rebanho bovino da região e de 76% dos escravos quando relacionados aos oito criadores com mais de 2.000 reses. (KULZER, P.64). Resta saber o que nos revelam as visitas paroquiais. Para tanto, o gráfico abaixo pretende demonstrar, através dessas visitas paroquiais, o movimento dos escravos entre as propriedades dos membros desta parentela e de outros sujeitos de sua relação. Conforme poderá se ver, trata-se de quatro grandes quadros representados em cores distintas, que ilustram as propriedades visitadas pelo pároco. No centro e cruzando estas propriedades estão outros quadros em branco, que demonstram os batismos realizados em cada uma destas propriedades. As flechas indicam o movimento dos escravos, quando estão apadrinhando ou sendo batizados em outras propriedades, que não aquelas de seu senhor.

Francisco José Pinto Escravos: Florinda Andreza Marta Benta Gregório Catharina escravos Pad. Mad. Florinda Adão Ana Balbina Clarimundo José Pinto Visitas paroquiais Julia Ataides de Oliveira escravos Pad. Mad. Marta Francisco (?) Esmeria (?) José Constantino Pinto Escravos: Rafael Lucia Benedita Noé Catharina Geronimo Magdalena Raquel João José Pinto Margarida Antonio dos Santos(?) Faustina (?) Bazilio Jacinto Andreza Escravo: Bazilio Clarimundo José Pinto Escravos: escravos Pad. Mad. Atanazio Zeferino de Deos (?) Rita escravos Pad. Mad. Crescendio Noé Ana Gomes (forra) Olivério Antonio de Ataídes Filha: Geronimo Tomaz Filho: Clarimundo José Escravo: Bazilio Rafael Tomaz Jose Fernandes (?) Felix Santos (?) Rita de Oliveira Pinto (?) Nazaria Conceição (?) Gaspar Abel Zeferina Silva (?) Raquel Bazilio Andrreza Lucia Felix Santos (?) Ana Gomes dos Santos(?) Benedita Abel Floriana Elisabete (?) Julia Ataides de Oliveira Escravos: Margarida Atanazio Abel Teodoro José Pinto Escrava: Andreza Felipe José Pinto Escravo: Jacinto Tristão José Pinto Escravo: adão Domingos da Rocha e Souza Escravo: Gaspar Ricarda Gomes dos Santos Escrava: Ana Manoel de Almeida Barboza Escrava: Magdalena Balbina Manoel Gonçalves Chaves Escrava: Rita

Evidentemente que as visitas paroquiais à fazenda de Francisco não nos fornecem a totalidade de seus escravos. Mas, por outro lado, são portas de entrada àquela propriedade, e sua inteligibilidade através de sua parentela. Apontam-nos tanto para vínculos conformados por seus escravos, como veremos adiante, como os laços de sociabilidade mantidos por seus senhores. A mobilidade dos cativos pertencentes ao plantel de Francisco é verificável no trânsito pelas propriedades dos seus irmãos, Clarimundo e de José Constantino Pinto, o que nos sugere uma estrutura de posse de escravos mais fluida do que os dados dos inventários (sozinhos) demonstram. Nas visitas paroquiais que resultaram no batizado de escravos, os pertencentes à família Pinto foram encontrados sendo batizados nas propriedades dos diferentes componentes da família: os escravos de Francisco foram encontrados sendo batizados na propriedade de seu irmão José. Na propriedade de Clarimundo, batizou-se escravos de José e do Capitão Oliverio, seu genro, demonstrando os espaços que estes escravos costumavam ter acesso. As visitas do pároco à fazenda de Francisco ocorreram em diferentes momentos do ciclo de vida daquela família: no ano de 1850, 1853, 1858 e 1865. No primeiro ano, a escrava Florinda, filha natural de Benta é batizada. Três anos depois, observamos dois batizados: um deles de mais um dos filhos de Benta. Nota-se que na ocasião do batizado de seu segundo filho, Benta estava casada com Gregório, os quais eram escravos de Francisco José Pinto. O outro batizado foi da filha de Magdalena, escrava de Manoel Almeida Barboza. Cinco anos depois, quando o mesmo pároco voltou àquela propriedade, a situação da família havia se alterado, já que Francisco havia falecido. Naquela ocasião foi batizada Margarida, escrava de Olivério Antonio de Ataídes. A última visita se deu em exatos sete anos após a morte de Francisco e naquele dia foram batizadas duas crianças de estatutos jurídicos distintos: Bernardino, livre e Bazílio, escravo. De posse dessas informações pergunta-se: quem eram os sujeitos cujos escravos eram batizados na fazenda de Francisco José Pinto? Qual a relação que tinham com Francisco? Por que estavam batizando seus escravos em sua propriedade? A presença desses sujeitos nos indica a capacidade de Francisco de estabelecer relações. Após identificá-los e saber seu vínculo com Francisco, em seguida nos preocupamos em entender as

motivações que mobilizavam o desenvolvimento desta sua capacidade e, por fim, a formulação de hipóteses que nos indicassem caminhos de interpretação. Três foram os sujeitos que identificamos batizando seus escravos na propriedade de Francisco em distintas ocasiões: Manoel Almeida Barboza, em 1853; o capitão Olivério Antonio de Ataíde, em 1858; e João José Pinto, em 1865. O primeiro deles, Manoel Almeida Barboza, era genro de Francisco. Havia sido casado com uma de suas irmãs, Dona Francisca Maria de Oliveira. O segundo é o Capitão Olivério Antonio de Ataídes, também genro de Francisco, casado com outra de suas irmãs, Dona Maria Joaquina de Oliveira. O terceiro e último sujeito a apadrinhar escravos na residência de Francisco o fez no ano de 1865, ou seja, sete anos após seu falecimento. João José Pinto era filho de Francisco. João, era possivelmente o filho que antes do falecimento de Francisco era administrador de sua Fazenda e herdeiro da propriedade que antes administrava a serviço de seu pai. Foi ele quem seguiu a atividade exercida pelo pai, conforme demonstra o inventário de sua esposa, Dona Ricarda Barboza Pinto, do ano de 1871, em que constavam 1.500 reses bovinas e 12 escravos (LIXINSKI, P.180). Os dados até aqui não apontam para eventos atípicos: parece ter sido comum nas diferentes paragens do Brasil a existência de oratórios particulares, onde se celebravam batizados. Nem tampouco era contraditório às normas da Igreja o batismo fora da sede. As Constituições, como vimos, permitiam a celebração desses rituais nessas condições. Porém, o que não devemos deixar de notar é o vínculo familiar existente entre aqueles sujeitos. Fácil de imaginar que as suas propriedades, anteriormente traçadas vizinhavam, já que fruto do processo de transmissão (divisão) de patrimônio herdada de seus pais, e que, portanto, poderia facilitar a circulação dessas propriedades intrafamiliares. As ligações endogâmicas refletidas nesses momentos de visita paroquial também podem estar indicando para estratégias ligadas a maior disponibilidade de recursos e manutenção das posses familiares. Essa hipótese pode ser experimentada quando partimos à análise dos apadrinhamentos. Nesse sentido, analisar as escolhas dos padrinhos dos escravos de diferentes senhores (todos parentes e possíveis vizinhos) pode refletir a sua possibilidade de interferência nestas escolhas, encaminhando-nos a perceber se há algum padrão semelhante em tais escolhas para apadrinhamento

de escravos de senhores de uma mesma parentela e quais os possíveis interesses econômicos e sociais que supõem a obtenção de algum privilégio. A primeira escrava de Francisco que foi batizada foi Florinda e teve como padrinhos: Adão e Ana. O primeiro era escravo de Tristão José Pinto, (irmão de Francisco) e Ana, escrava de Ricarda Gomes dos Santos (mãe de Francisco José Pinto). Catharina, também escrava de Francisco, foi batizada três anos após a sua irmã e em dita ocasião observamos que sua mãe, Benta, já estava casada com Gregório, escravo do mesmo senhor. Catharina teve como padrinhos Geronimo e Magdalena; o primeiro escravo do irmão de Francisco, Clarimundo José Pinto e Magdalena, escrava de Manoel de Almeida Barboza, genro de Francisco. No mesmo dia em que Catharina foi batizada, Balbina, liberta em pia, filha de Magdalena (madrinha de Catharina), escrava de Manoel de Almeida Barboza, também o foi e teve por padrinhos: Clarimundo Jose Pinto, irmão de Francisco e Julia Ataides de Oliveira (possivelmente filha do capitão Olivério e sua mulher). No dia 6 de julho do ano de 1858, Francisco José Pinto já era falecido, porém em sua casa foi batizada Margarida, filha legítima de João e Cecília, todos escravos do capitão Oliverio Antonio de Ataídes, cunhado do finado Francisco. Padrinhos: Felix Antonio dos Santos e Faustina, escrava de Alves de Miranda. Estes sujeitos, infelizmente, pela dificuldade de decifrar o nome no registro de batismo nos impossibilitou de localizar alguma ligação a Francisco e sua família. Oito anos depois o pároco retoma a visita paroquial, agora, em casa dos herdeiros de Francisco e eis que encontramos o casal Gregório e Benta, antes escravos de Francisco, batizando Bazilio, agora escravos de João José Pinto, seu filho. Eis novamente a manutenção às escolhas do casal aos padrinhos de seus filhos: Jacinto, escravo do órfão Felipe Jose Pinto (filho de Francisco) e Andreza, escrava de Teodoro José Pinto, também filho de Francisco José Pinto. Na mesma ocasião foi batizado Bernardino, filho livre e legítimo de Jose Maria e de Maria do Carmo. Os padrinhos foram: Jacinto, escravo do órfão Felipe Jose Pinto e Andreza, escrava de Teodoro José Pinto. Este casal poderia trabalhar como peões livres em uma dessas fazendas. Como vimos anteriormente, a família Pinto mantinha administradores e peões para auxiliar no trabalho da pecuária. Outra possibilidade plausível é de serem estes sujeitos antigos escravos, que, agora

desempenhavam atividades remuneradas em uma destas fazendas. Daí a proximidade com seus antigos companheiros de cativeiro, confirmadas na escolha para padrinhos de seus filhos. Ao contrário de seu irmão Francisco, José Constantino Pinto teve sua Fazenda visitada uma única vez no ano de 1857, onde realizou-se o batizado de Marta, escrava de Francisco José Pinto. Curioso observar que se tratava de mais uma das filhas do casal de escravos Benta e Gregório. Esta última era uma das que não constava na Relação de 1858, possivelmente por sua tenra idade. Infelizmente, ainda não identificamos a relação de Inocência Clara de Oliveira (pelo sobrenome das filhas de Francisco, podemos sugerir que Inocência fosse da família, talvez filha de uma das irmãs de Francisco) 14 que era proprietária dos escravos escolhidos como padrinhos de Marta. Mas, o que queremos chamar a atenção aqui é na referida mobilidade destes cativos pelas propriedades da parentela senhorial. Pensamos que o fato do casal Gregório e Benta batizarem sua filha Marta em casa do irmão de seu senhor, indica a circularidade destes por estas fazendas, espaços da parentela senhorial, prestando serviços temporários, de acordo com a maior ou menor necessidade daquela parentela. Além disso, destacamos as estratégias no interior do grupo da família senhorial presentes nestes movimentos e refletida nas próprias escolhas do apadrinhamento cativo e, em última instância da família escrava. Clarimundo José Pinto, irmão caçula de Francisco e José teve sua casa visitada pelo pároco em dois momentos: anos de 1863 e ano de 1866. Nestas duas situações foram realizados seis batizados. No primeiro ano foram batizados quatro escravos e um sujeito livre e no ano de 1866 houve apenas o batizado de uma liberta. Nesta ocasião, Clarimundo já havia falecido. Ao analisar os apadrinhamentos realizados naqueles momentos verificamos semelhanças aos outros dois membros da família Pinto anteriormente verificados: a primeira se refere às ligações endogâmicas entre os membros da família Pinto, onde se observa genros ou irmãos, com seus respectivos escravos circulando intrapropriedades. O segundo ponto de semelhança que observamos foi o que se refere às estratégias ligadas às escolhas dos padrinhos, que em sua grande maioria faziam parte da parentela senhorial, ou seja, reforçava estes laços de endogamia. À laços de endogamia ou ligações endogâmicas estou me referindo às reiterações na conformação dos laços 14 As filhas de Francisco José Pinto eram: Luiza Joaquina de Oliveira, Brígida Joaquina de Oliveira, Maria Joaquina de Oliveira, Maria Francisca de Oliveira, Thereza Maria de Oliveira, Manoela Maria de Oliveira. (LIXINSKI, P.175,176,177,178.

aqui analisados no interior de um mesmo grupo ou parentela. Neste caso, todos os membros com alguma afinidade consangüínea com a família Pinto. Na primeira visitação, só houve um batizado em que o escravo era de propriedade do dono da casa. Era Tomaz, filho natural de Germana, crioula. Os padrinhos foram Felix Antonio dos Santos e Nazaria Maria da Conceição. Os outros escravos batizados tinham proprietários diversos: um deles, irmão de Clarimundo, José Constantino Pinto. Rafael, seu escravo natural, era filho de Victoriana, cabra. Seus padrinhos foram José Evaristo Fernandes e Rita de Oliverio Pinto (o sobrenome indica que exista um parentesco com a família Pinto). O Major Olivério, genro de Clarimundo batizou seu escravo Atanazio, filho natural de Efigenia, crioula. Os padrinhos foram Zeferino de Deos e Rita, escrava de Manoel Gonçalves Chaves. Manoel Gonçalves Chaves mantinha uma relação de proximidade com o Major Olivério Atonio de Ataides. Quando Manoel faleceu, no ano de 1869, foi Olivério quem serviu como inventariante e testamenteiro de seus bens, ainda que naquela ocasião sua esposa, Maria Candida Cabral, ainda fosse viva. A relação de proximidade que Olivério tinha com Manoel Gonçalves Chaves se refletiu na escolha da madrinha (Rita) de seu escravo, Atanazio, batizado na propriedade de seu genro, Clarimundo. Domingos da Rocha e Souza naquela mesma ocasião levou a pia Gaspar, filho natural da crioula Thomazia. Padrinhos foram: Abel, pardo, escravo do Major Oliverio Antonio de Ataíde e Zeferina Pereira da Silva. Também foi batizada Tomazia Maria, livre e filha natural de Maria Francisca da Conceição. Padrinhos: Felisberto, escravo de Jose Alexandre de Souza (casado com uma das filhas de Francisco Pinto, Luiza Joaquina de Oliveira) e Luiza Pinto, possível neta de Clarimundo ou da família Pinto. Três anos após a primeira visita, o pároco retornou àquela residência, que não mais contava com Clarimundo, que havia falecido, sendo, portanto, de posse de seus herdeiros. Na ocasião, foi batizada apenas Amélia, parda e liberta, por carta de liberdade, possivelmente vinculada a morte de seu senhor. Sua mãe era Rita, escrava de Manoel de Chaves (genro de Clarimundo Pinto). Seus padrinhos foram Heliodorio Pedro de Ataíde e Eulália da Fontoura Pinto, o que revela a continuidade de escolhas relacionadas a sujeitos com alianças consangüíneas com o seu senhor,

mesmo que através de um padrão diferenciado: os sujeitos escolhidos são homens livres (e não escravos) ligados à parentela senhorial. Três anos após a visita paroquial e o batizado de seu escravo Thomaz, filho da crioula Germana, Clarimundo falece e através da abertura de seu inventário percebemos que estes escravos permaneciam de sua posse. O último dos membros da família Pinto que recebeu o pároco foi o capitão Olivério. Houve dois momentos de visita do pároco: um no ano de 1855, onde ocorreram 2 batizados; e outra em 1860, com mais 2 batizados. Nos dois primeiros, o casal de escravos batizados pertencia a Olivério e a Francisco José Pinto. Crescendio, filho da crioula Florinda teve como padrinho Noé, escravo de Francisco José Pinto e madrinha, a parda forra Ana Gomes. Raquel, batizada na mesma ocasião era filha do mesmo casal de escravos já referido Gregório e Benta, de propriedade de Francisco José Pinto. Os padrinhos de Raquel foram os escravos Bazilio e Andreza; o primeiro, de Clarimundo José Pinto e a segunda, de Francisco José Pinto. O que se observa, novamente, são escolhas ligadas a uma endogamia familiar e a manutenção de certos padrões: os padrinhos são prioritariamente escravos de senhores ligados à parentela de seu senhor. Neste caso, todos os padrinhos, são escravos dos genros de Olivério. Nos batizados realizados na mesma propriedade, cinco anos depois, identificamos que nenhum dos escravos batizados pertencia ao dono da casa, mas eram de propriedade de José Constantino Pinto, seu genro e vizinho. Lucia, escrava da crioula Victoriana teve como padrinhos Felix Antonio dos Santos e Ana Gomes dos Santos, enquanto Benedita, filha de Francisca teve como padrinhos o escravo Abel, de Oliverio Antonio de Ataíde e madrinha Floriana Elisabete. As escolhas de apadrinhamento entre escravos da família Pinto (de seus membros até aqui exposta) mantiveram estratégia similar no sentido de manterem-se escolhas dos escravos da propriedade no interior da parentela senhorial. O que se coloca como questão é quais os possíveis ganhos nestas escolhas, ou seja, quais os privilégios tidos a esta família em fortalecer a manutenção destes laços em seu próprio grupo familiar?

Podemos aqui considerar vários aspectos. O primeiro deles é considerar que estes membros da família Pinto tinham suas atividades produtivas relacionadas à pecuária, que como já vimos, não era o carro chefe daquela economia. Devemos acrescentar que quando nos referimos aqui aos membros da família Pinto, não estamos referindo todos os seus componentes, mas somente aqueles que tiveram suas propriedades visitadas pelo pároco e que, casualmente representam (dentre todos os demais irmãos Pinto já elencados), aqueles que investiram na continuidade das atividades pecuárias herdada por Constantino, o pai. Outra questão importante se relaciona ao contexto sulino da década de 1860, cujo momento foi de crise da pecuária sulina, caracterizado pela queda do preço do gado na década de 1860 que tornou insustentável a manutenção de escravos com valor cada vez mais altos após o fim do tráfico internacional (FARINATTI, 2007, p.322). A falta de escravos teria resultado na utilização maior de peões livres, mais acessíveis aos proprietários. Na década seguinte, em 1870, a crise da economia charqueadora teria sido motivo de venda de escravos por pecuaristas para a região do sudeste brasileiro (PERUSSATO, 2010, p.52). Ainda que, para Santa Maria não tenhamos verificado uma diminuição dos escravos no geral, (mas o contrário), entendemos que esta crise pode ter sido sentida por pecuaristas, que viam a necessidade de assegurar o número de escravos desempenhados nestas atividades mais escassamente do que em períodos anteriores. Neste sentido, fortalecer alianças com membros de sua família, que passavam pela mesma dificuldade, teria sido uma estratégia articulada ou de reciprocidade entre membros de um mesmo grupo (LEVI, 2000, P.159). A reciprocidade identificada por Levi, em seu estudo da comunidade de Santena, demonstra que o preço das terras era alterado por elementos que para além do mercado estavam ligados à parentela, a vizinhança, a amizade. Neste caso, evidências de reciprocidade interferiam nas escolhas dos padrinhos dos escravos desta parentela e na estrutura de posse de escravos. Desta maneira, os ganhos nas escolhas destes laços se mostrariam, por exemplo, nos usos intercalados de escravos trabalhando ora na propriedade de um ora de outro. Isto é uma leitura possível ao verificarmos o trânsito destes escravos entre estas propriedades, batizando seus filhos e escolhendo para padrinhos membros desta parentela, alimentando, desta forma, o círculo de relações endogâmicas verificadas nos vínculos de consangüinidade, que neste caso pareciam orientar a perpetuação das riquezas internas ao grupo.

Nos laços conformados pelo apadrinhamento de seus escravos ficavam evidentes as circularidades destes membros da família senhorial e de sua escravaria. As escolhas do apadrinhamento dos escravos que compunham esta parentela é outro indicativo da solidariedade mantida por escravos destas outras fazendas, de um lado, e de outro, o reforço senhorial destas alianças entre seus pares. Bibliografia BARTH, Process and form in social life. Vol 1. London: Routlegde & Kegan Paul, 1981.. O guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2000. BELINAZO, Terezinha. A população da paróquia de Santa Maria da Boca do Monte (1844-1882). Santa Maria: UFSM Dissertação de Mestrado, 1981. BIASOLI, Vitor Otávio F. O Catolicismo ultramontano e a conquista de Santa Maria da Boca do Monte (Rio Grande do Sul - 1870/1920). São Paulo: USP, 2005. (Tese de doutorado). BURGUÈRE A. & LEBRUN, F. As mil e uma famílias da Europa. In: BURGUIÈRE, A. et alli. História da Família. 3 vol. Lisboa: Terramar, 1986. DREYS, N. Notícia descritiva da Província do Rio Grande de São Pedro do Sul. Introdução e notas de Augusto Meyer. PortoAlegre, Instituto Estadual do Livro, 1961, p.185. In: MARCHIORI E NOAL FILHO. Santa Maria: Relatos e impressões de viagem. Santa Maria: UFSM, 1997. FARIA, Sheila de Castro. A Colônia em Movimento: fortuna e família no cotidiano colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. FARINATTI, Luis Augusto Ebling. Sobre as cinzas da mata virgem: lavradores nacionais na Província do Rio Grande do Sul (Santa Maria, 1845-1880)- Dissertação de Mestrado, 1999..Confins Merdionais: famílias de elite e sociedade agrária na fronteira sul do Brasil (1825-1865). Rio de Janeiro, 2007. 421 f. Tese (Doutorado em História) Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Rio de Janeiro. FLORES, Ana Paula Marquesini. Descanse em paz: testamentos e cemitério extramuros na Santa Maria de 1850 à 1900. Dissertação de Mestrado do curso de Pós-Graduação em História do Brasil da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2006. FRAGOSO, João. Alternativas metodológicas para a história econômica e social: micro-história italiana, Fredrick Barth e a história econômica colonial. In: ALMEIDA, Carla Maria Carvalho & OLIVEIRA, Mônica Ribeiro (orgs). Nomes e números: alternativas metodológicas para a história econômica e social. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2006, p.27-48.

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