O AUTISMO INFANTIL E A ENFERMAGEM: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA



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Transcrição:

1 FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FACS CURSO: ENFERMAGEM O AUTISMO INFANTIL E A ENFERMAGEM: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA WILSON CLAUDINO DOS SANTOS JÚNIOR Brasília/DF, Maio de 2007.

WILSON CLAUDINO DOS SANTOS JÚNIOR O AUTISMO INFANTIL E A ENFERMAGEM: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Monografia elaborada para preenchimento de pré-requisito necessário à conclusão do curso de Enfermagem do UniCEUB - Centro Universitário de Brasília. Orientadora: MSC. Josiane Maria de Oliveira Brasília/DF, Maio de 2007.

WILSON CLAUDINO DOS SANTOS JÚNIOR O AUTISMO INFANTIL E A ENFERMAGEM: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Monografia elaborada para preenchimento de pré-requisito necessário à conclusão do curso de Enfermagem do UniCEUB - Centro Universitário de Brasília. Brasília, de maio de 2007. Banca examinadora Prof. MSC. Josiane Maria de Oliveira Orientadora

DEDICATÓRIA Aos meus pais, meus irmãos e minha noiva.

AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a Deus, pois sem sua ajuda nada seria possível; a minha família, pela confiança e apoio; a Fernanda minha noiva, pela compreensão e dedicação; aos meus colegas de classe pela amizade e trabalho que realizamos juntos; a professora Teresa Cristina, pelas valiosas sugestões e atenção dedicada; a professora Josiane por orientar este estudo e conduzir seu desenvolvimento, com muita sabedoria e paciência.

Embora me seja difícil comunicar-me ou compreender as sutilezas sociais, na realidade, tenho algumas vantagens em comparação com os que tu chamas de normais. Tenho dificuldade em me comunicar, mas não costumo enganar. Minha vida como autista pode ser tão feliz e satisfatória como a tua vida normal. Nessas vidas, podemos vir a nos encontrar e a partilhar muitas experiências. Autor desconhecido

RESUMO Autismo é uma inadequacidade no desenvolvimento que se manifesta de forma grave, durante toda a vida. É incapacitante, aparece antes dos trinta meses de idade e acomete cerca de cinco entre cada 10 mil nascidos, é quatro vezes mais comum entre meninos do que em meninas, está presente em todo o mundo e em famílias de toda a configuração racial, étnica e social. Busquei um entendimento sobre o autismo e suas características, bem como, investigar as formas de assistência de enfermagem que estão dispostas na atualidade. Esse estudo trata-se de uma revisão bibliográfica, onde foi analisado em fontes impressas como livros e periódicos, bem como fontes magnéticas como fonte de dados cientificas, independente do ano de publicação. Infelizmente, existem poucas bibliografias, estudos e cuidados específicos de Enfermagem para os pacientes com autismo.

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 9 1.1 JUSTIFICATIVA 10 1.2 OBJETIVOS 10 2 METODOLOGIA 11 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICO 12 3.1 HISTÓRIA DO AUTISMO 12 3.2 HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA EM ENFERMAGEM 15 3.3 EVOLUÇÃO DAS ESTRATÉGIAS DE ATENÇÃO AO PORTADOR DE AUTISMO NO BRASIL 16 3.4 VISÃO ATUAL 17 3.5 EPIDEMIOLOGIA 18 3.6 OS DÉFICITS NO AUTISMO: COGNITIVOS OU AFETIVOS 19 3.6.1 A TEORIA AFETIVA 19 3.6.2 A TEORIA COGNITIVA 19 3.7 CARACTERÍSTICAS 20 3.7.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS 20 3.7.2 REPERTÓRIO DE ATIVIDADES E INTERESSES RESTRITOS 20 3.7.3 EVOLUÇÃO E COMPLICAÇÃO 21 3.7.4 ASPECTOS GENÉTICOS 21 3.7.5 COMPROMETIMENTOS NA INTERAÇÃO SOCIAL 22 3.8 TRATAMENTO 23 3.8.1 TRATAMENTO MEDICAMENTOSO 23 3.8.2 ELETROENCEFALOGRAFIA 23 3.8.3 TRATAMENTO PARA EPILEPSIA 24 3.8.4 TERAPIA COMPORTAMENTAL 24 3.8.5 TERAPIA FAMILIAR 24

3.8.6 O AMBIENTE TERAPÊUTICO 25 3.9 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A PACIENTE COM TRANSTORNOS DE APARECIMENTO NA PRIMEIRA OU SEGUNDA INFÂNCIA 25 3.9.1 RETARDO MENTAL 26 3.9.2 TRANSTORNO AUTISTA 26 3.9.3 COMUNICAÇÃO VERBAL ALTERADA 27 3.9.4 RISCO PARA AUTO-MUTILAÇÃO 27 3.9.5 INTERAÇÃO SOCIAL ALTERADA 28 4 CONCLUSÃO 29 5 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 30

9 1 INTRODUÇÃO O termo autismo foi usado pela primeira vez por Bleuler e definia um dos sintomas da esquizofrenia adulta. Ele definiu a barreira do autismo como um interesse acentuado na vida interior em detrimento do mundo exterior, o que poderia resultar na criação de um mundo fechado, próprio e impenetrável. (BLEULER, 1911 apud CAVALCANTE et.al., 2002). A síndrome do autismo infantil foi descrita inicialmente por Kanner, ele acreditava que se tratava de um distúrbio do contato afetivo. Tinha como destaque a falta de contato e desenvolvimento social e apresentava-se desde o inicio da vida das crianças, pois elas se comportavam de forma estranha e não se adaptavam ao meio em que viviam. (KANNER, 1943 apud GAUDERER, 1997). As características clinicas desta doença manifestam-se antes dos 30 meses de idade; há um desvio do desenvolvimento social; incapacidade do desenvolvimento da linguagem; comportamentos e rotinas de forma estranha e ritualística. Os elementos mais comuns da falta de desenvolvimento social é a ausência de reciprocidade e dificuldade de criar vínculos. (KANNER, 1943 apud GAUDERER, 1997). Essas crianças, no geral, não encaram as pessoas quando querem alguma coisa ou quando alguém se dirige a elas. O autista infantil tem um rosto inexpressivo, dificultando a apreensão de suas emoções; mas a característica mais marcante é a ausência de variação na expressão de suas emoções em função das emoções dos outros. Kanner continua descrevendo o quadro como sendo uma "psicose", afirmando que todos os exames clínicos e laboratoriais foram incapazes de fornecer dados consistentes no que se relacionava à sua etiologia, diferenciandoo dos quadros deficitários sensoriais, como a afasia congênita, e dos quadros ligados às oligofrenias, e, novamente, considerava uma psicose. (KANNER, 1956 apud GAUDERER, 1993). As primeiras contradições da concepção, surgem a partir de Ritvo, que relacionava o autismo a um déficit cognitivo e, com isso, considerava não uma

10 psicose e sim um distúrbio do desenvolvimento. (RITVO, 1976 apud B ASSUMPCAO e CRISTINA, 2000). Reforçando a idéia do déficit cognitivo, o autismo tem sido, nos últimos anos, enfocado sob uma ótica desenvolvimentista, sendo relacionado a deficiência mental, uma vez que cerca de 70% a 86% dos autistas são deficientes mentais. (BURAK, 1970 apud B ASSUMPCAO e CRISTINA, 2000). Também observa-se que a evolução do cuidado de enfermagem, dispensado às crianças autistas, reflete o fato dessas ações terem sido ou não eficazes em atingir os objetivos estabelecidos. Por essa razão, o processo de enfermagem torna necessária a reavaliação do plano de cuidado. Assim, é importante que o enfermeiro esteja atento para qualquer mudança verificada no quadro clínico do paciente, monitorando todas as alterações ocorridas para, a partir daí, criar planos e intervenções de enfermagem visando o desenvolvimento do indivíduo. (TOWNSEND, 2000). 1.1 Justificativa Este estudo surgiu a partir da observação da experiência vivenciada no estágio supervisionado do curso de graduação em Enfermagem, na área de psiquiatria, em que observei um portador de autismo, que estava apresentando um resultado muito positivo, tendo a atuação da equipe de Enfermagem uma grande participação. Assim, instigou-me para necessidade de se investigar mais sobre o assunto com o intuito de aprofundar meus conhecimentos sobre o Autismo que é tão raramente encontrado na literatura, tornando-se ainda mais desafiador. 1.2 Objetivos Buscar um entendimento sobre o autismo e suas características. Investigar as formas de assistência de Enfermagem ao autista, dispostas na literatura vigente.

11 2 METODOLOGIA Trata-se de um estudo bibliográfico que analisa as fontes impressas, como: livros e periódicos, bem como fontes magnéticas como banco de dados científicos, independente do ano de publicação. Para busca nas fontes de dados magnéticos foi utilizado como descritores: autismo, assistência de enfermagem ao autista, assistência ao autista. A análise das informações abstraídas foi de forma qualitativa.

12 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICO 3.1 História do Autismo O autismo infantil apresenta várias dificuldades e muitas controvérsias, pois engloba uma gama variada de doenças com diferentes quadros clínicos. É uma síndrome comportamental com etiologias diferentes, na qual o processo de desenvolvimento infantil encontra-se profundamente distorcido. (BLEULER, 1911 apud CAVALCANTE et.al, 2002). O termo autismo foi usado pela primeira vez Bleuler e definia um dos sintomas da esquizofrenia adulta. Ele descreveu a barreira do autismo como um interesse acentuado na vida interior em detrimento do mundo exterior, o que poderia resultar, segundo ele, na criação de um mundo fechado, próprio e impenetrável. (BLEULER, 1911 apud CAVALCANTE et.al, 2002). Kanner (1943 apud Assumpção, 2000), descreveu o autismo sob o nome de Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo, em razão de características singulares, como obsessividade, estereopatias e ecolalia, e o relacionava com fenômenos da esquizofrenia infantil. Especulações a respeito da gênese do autismo surgiram com a tese inicial de Kanner de que crianças autistas sofriam de uma inabilidade inata de se relacionarem emocionalmente com outras pessoas, por não sentirem interesse nelas. Isso também é observado da transcrição de texto do mesmo autor abaixo: "Nós devemos, então, assumir que estas crianças tenham vindo ao mundo com uma inabilidade inata de formar o usual, biologicamente determinado, contato afetivo com outras pessoas, da mesma forma que outras crianças vêm ao mundo com deficiências físicas ou intelectuais inatas.(assumpção, 2000, p. 250). Em trabalho de datado de 1956, o autor supracitado continua descrevendo o quadro como uma "psicose", afirmando que todos os exames clínicos e laboratoriais foram incapazes de fornecer dados consistentes no que se relacionava à sua etiologia, diferenciando-o dos quadros deficitários sensoriais, como a afasia congênita, e dos quadros ligados às oligofrenias, novamente considerando-o uma verdadeira psicose. (ASSUMPÇÃO, 2000).

13 Mahker (1963 apud Schwartzman, 1995) utilizou o termo Psicose Simbiótica, pois atribuía a causa da doença pela falta de contato mãe/filho. Na Psicose simbiótica, ao invés de se relacionarem de forma distante, as crianças tendem a se grudar de forma feroz na mãe, sendo um comportamento diferente do autismo clássico. Esse termo não descreve uma entidade específica, pois a criança autista clássica pode apresentar comportamento de grude com a mãe e em outros momentos ela pode estar totalmente indiferente. A síndrome segundo Kanner (1943, apud Assumpção, 2000) é aceita como um padrão psicopatológico e com uma possibilidade diagnóstica inequívoca, sendo estabelecida as seguintes considerações: a. O Autismo infantil precoce é uma síndrome bem definida, passível de ser observada com pequenas dificuldades no curso dos dois primeiros anos de vida da criança; b. Sua natureza básica é intimamente ligada com a Esquizofrenia infantil; c. O Autismo infantil poderia ser uma manifestação precoce da Esquizofrenia Infantil. Kanner, também, em meados dos anos setenta descreveu e acompanhou a evolução dos conceitos sobre autismo, nos seguintes termos: a. Acreditava que o autismo devesse ser separado da esquizofrenia infantil, embora estivesse intimamente ligado a ela; b. Colocou o Autismo Infantil como sendo uma psicose, informando, entretanto, que exames físicos e laboratoriais falharam em fornecer dados precisos; c. Considerava importante verificar o autismo como um sintoma primário, o que fazia com que sua síndrome pudesse ser diferenciada dos demais quadros como afasia sensorial congênita ou demência de Heller;

14 d. Define o Autismo Infantil como sendo uma síndrome, com história, inicio e curso clínico totalmente distinto da esquizofrenia infantil, e com um grau de isolamento que foi considerado como a principal manifestação para o estabelecimento de um prognóstico; e. Mesmo com todas as discussões e controvérsia continua considerando o Autismo infantil como problema psicológico, enfatizando a necessidade de estudos para que se possa compreender mais sobre o assunto.(cavalcante et. al., 2002). Segundo Gauderer (1993), em 1966, o Grupo para o Avanço da Psiquiatria (GAP, 1990), define psicoses da primeira infância. Na primeira infância é colocado o Autismo Infantil precoce, que é considerado um problema primário que têm que ser diferenciado das formas secundárias seguidas de dano cerebral ou retardo mental. Com isso, passa a ter uma forma mais clara de psicose na infância. De acordo com Frances (1981), são organizados critérios diagnósticos caracterizados por retratação ou fracasso frente à realidade; dificuldades no relacionamento com pessoas; sério retardo intelectual, com ilhotas de normalidade ou habilidades especiais; dificuldade na fala ou manutenção da fala já aprendida; respostas anormais com estímulos sensoriais (sons); distúrbio do movimento; resistência psicológica a mudanças. De acordo com Schwartzman (1994), no inicio dos anos 70, Kanner analisou as diferenças na evolução dos casos observados trinta anos antes, questionando sobre o porquê das diferenças verificadas nessa evolução e propôs que as explorações bioquímicas poderiam abrir novas perspectivas no estudo do Autismo Infantil. Mesmo assim, até o final de seus trabalhos, continuou enquadrando o Autismo Infantil dentro do grupo das psicoses infantis. Segundo o Manual de diagnóstico e estatística de distúrbio DSM-III-R/ APA, 1989, dentro de uma abordagem eminentemente descritiva, considerando fundamentais sinais e sintomas comportamentais, coloca o Autismo infantil dentro

15 dos distúrbios globais de desenvolvimento das habilidades de comunicação verbal e não verbal e da atividade imaginativa. (GAUDERER, 1997). O diagnóstico e subclassificações do autismo estiveram sob o amplo rótulo de esquizofrenia infantil por muitas décadas. Já havia nos anos 70 um reconhecimento de que seria necessário fazer distinção entre as severas desordens mentais, surgidas na infância, e as psicoses cujo aparecimento se faz mais tarde. Considerando que uma série de anormalidades no processo de desenvolvimento pode estar presente desde cedo na vida da criança e que evidência dessa desordem deve ser aparente nos primeiros 36 meses de vida de acordo com o DSM-IV/APA (1994), o termo transtornos invasivos do desenvolvimento tem sido adotado, desde a década de 80. (ASSUMPÇÃO, 2000). Diferentes sistemas diagnósticos (DSM-IV/APA, 1994; CID-10/WHO, 1992) têm baseado seus critérios em problemas apresentados em três domínios (tríade de prejuízos), tais quais observados por Kanner (1943), que são: prejuízo qualitativo na interação social; prejuízo qualitativo na comunicação verbal e não-verbal, e no brinquedo imaginativo; e, comportamento e interesses restritivos e repetitivos. (ASSUMPCAO, 2000). 3.2 História da Psiquiatria em Enfermagem Até o século XVIII, os doentes mentais eram vistos como seres malignos; as pessoas tinham medo e por isso, os mantinham isolados e acorrentados, tratando-os como animais. O enfoque principal da assistência deixou de ser físico e começaram a ser desenvolvidas teorias psiquiátricas e psicológicas. Mesmo com muitas mudanças, a assistência de enfermagem continuou centrada em vigilância, restrição e assistência nos tratamentos. (TEIXEIRA et.al, 2001). Em 1952 ocorreu uma revolução na assistência psiquiátrica e surgiu uma esperança para os doentes mentais, como: passou a ser positiva a visão de tratamento do doente; os doentes crônicos melhoravam de forma satisfatória; abriu a possibilidade de tratar os doentes em suas casas; foram criados ambulatórios; e a estrutura hospitalar foi mudada. Nessa época a enfermagem começou a sofrer

16 alterações; o enfoque que era voltado para cuidados físicos, vigilância e contenção, passou a ser voltado para as relações interpessoais e, com isso, surgiu uma nova era de humanização da assistência ao doente mental, com a participação da enfermagem de forma mais eficaz e positiva. (TEIXEIRA et.al, 2001). Hoje em dia na Reforma Psiquiátrica, os instrumentos materiais mais evidentes são os NAPS e CAPS; hospitais-dia, enfermarias e ambulatórios em hospitais gerais. Já os instrumentos não-materiais do trabalho, seus métodos, suas bases teóricas, são utilizados no trabalho dos enfermeiros que se inserem num contexto histórico de trabalho em saúde e, nesse processo, demonstra-se também qual é a finalidade para a qual esses instrumentos estão relacionados. É importante refletir sobre a finalidade do processo de trabalho dos enfermeiros de saúde mental, no contexto da Reforma Psiquiátrica, que orienta a utilização dos atuais instrumentos de trabalho nesse processo.(rocha, 2005). 3.3 Evolução das Estratégias de Atenção ao Portador de Autismo no Brasil Os primeiros atendimentos as pessoas com autismo no Brasil foi no ano de 1954 pela iniciativa privada. As iniciativas por parte do governo avançaram, com a elaboração de normas e diretrizes para que estas pessoas fizessem parte da sociedade e esse assunto veio fazer parte dos programas em 1960, com a lei de diretrizes e bases 4.020/61. (GAUDERER, 1993). De acordo com Gauderer (1997) mesmo com toda essa evolução, na prática as coisas não funcionavam da mesma forma, pois as escolas não tinham estrutura para receber essas pessoas e os serviços de saúde não estavam preparados para assisti-las e, além disso, existiam barreiras para a livre circulação delas em ambiente público. Os familiares, indignados com o preconceito, organizaram-se e formaram Associações de Pais e amigos, com o intuito de conseguir força perante o poder público. Nessa época, as instituições destinavam a atenção a portadores de doença mental, e como a criança autista carrega vários distúrbios de comportamento e na comunicação, fez com que aquelas instituições não atendessem a esses pacientes.

17 Em 1980, na cidade de São Paulo, nasceu a primeira associação de Pais amigos do autista e, depois disso, varias outras associações foram criadas. Com o tempo, o movimento foi crescendo e em 1989 foi realizado o I Congresso Brasileiro de Autismo, em Brasília, que reuniu 1300 pessoas para a discussão científica do caso, e, naquela oportunidade, foi difícil encontrar profissionais especialistas na área. Hoje, porém, o grupo é composto por vários profissionais especializados nessa área. (GAUDERER, 1997). 3.4 Visão Atual Hoje em dia, o autismo é uma síndrome comportamental com etiologias múltiplas e curso de um distúrbio de desenvolvimento. É caracterizado por um déficit na interação social visualizado pela inabilidade de relacionar-se com outras pessoas (LEBOYER, 1985). O autismo é uma condição crônica, com início sempre na infância, em geral até o final do terceiro ano de vida, que afeta meninos em uma proporção de quatro a seis para cada menina, e com prevalência de, pelo menos, 4:10.000. (SCHWARTZMAN, 1994) Os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, também denominados transtornos globais, constituem um grupo caracterizado por alterações presentes desde idades precoces e que se manifestam nas áreas da comunicação, comportamento e relação interpessoal. Essas alterações são constatadas quando há atraso em relação ao esperado para uma determinada idade ou estágio de desenvolvimento da criança. (DSM-IV, 2000). Compondo tal grupo temos: o transtorno autístico, o transtorno de Asperger, a síndrome de Reto, o transtorno desintegrativo infantil e transtornos invasivos do desenvolvimento não especificados de outra forma. Entre eles, o autismo é o mais complexo. As crianças autistas apresentam uma forma atípica de se desenvolver, mantendo sempre uma expressão facial de distanciamento, o que dá a seus interlocutores a sensação de que estão interagindo com alguém que pertence a um outro mundo. (DSM-IV, 2000).

18 "Estas crianças desenvolvem uma carapaça, uma concha, que as protege do mundo exterior e também atua como uma barreira de acesso ao mundo. (ASSUMPÇÃO, 2000, p. 3). Além dessas características, o autista apresenta movimentos repetitivos e estereotipados, como o torcer as mãos ou os dedos e uma inflexibilidade em relação a alterações nas rotinas. O autismo também é o mais preponderante entre esses transtornos e parece estar aumentando em freqüência nos estudos epidemiológicos recentes. (TUSTIW, 1981). 3.5 Epidemiologia Sua epidemiologia corresponde a aproximadamente 1 a 5 casos em cada 10.000 crianças, numa proporção de 2 a 3 homens para 1 mulher. Observa-se assim uma predominância do sexo masculino, embora quando analisamos as etiologias prováveis, não encontremos grande número de patologias vinculadas especificamente ao cromossomo X, o que justificaria essa diversidade. Refere-se ainda que quando diferentes faixas de QI são examinadas, tem-se um predomínio ainda maior de indivíduos do sexo masculino, chegando-se a razões de 15:1, contrariamente a quando são avaliadas populações com QI superior a 50. (DSM-IV, 2000). A idade usual de atendimento, caracterizando de forma clara a dificuldade no diagnóstico precoce, confirma o descrito por Baron-Cohen (1992 apud ASSUMPÇÃO, 2000) que a idade média para a detecção do quadro é ao redor dos 3 anos, embora o autor sugira que o diagnóstico já possa ser bem estabelecido ao redor dos 18 meses de idade. Estudos realizados com grandes amostras de portadores das chamadas psicoses infantis referem uma distribuição bimodal, com um grupo de crianças apresentando graves problemas já nos primeiros anos de vida, enquanto o outro apresenta essas dificuldades somente após um período de desenvolvimento aparentemente normal.

19 3.6 Os Déficits no Autismo: Cognitivos ou Afetivos 3.6.1 A Teoria Afetiva A teoria afetiva é uma proposta do déficit social do autismo, originalmente proposta por Kanner (1943), sendo estas: crianças autistas têm falhas constitucionais de componentes de ação e reação necessários para desenvolvimento das relações pessoais com outras pessoas; as relações pessoais são necessárias para a contribuição do mundo próprio e com os outras pessoas; os déficits das crianças autistas na participação social têm dois resultados especialmente importantes (déficit relativo no reconhecimento de outras pessoas como portadoras de sentimentos próprios, pensamentos, desejos, intenções e déficit severo na capacidade para abstrair, sentir e pensar simbolicamente); grande parte das inabilidades de cognição e linguagem das crianças autistas pode refletir déficits que têm íntima relação com o desenvolvimento afetivo e social. (BOSA, 2000). 3.6.2 A teoria Cognitiva Como ponto central, essa visão também considera que a dificuldade central da criança autista, é a impossibilidade que possui para compreender estados mentais de outras pessoas. Essa habilidade tem sido chamada por esses autores de Teoria da Mente porque envolve o conceito da existência de estados mentais que são utilizados para explicar ou prever o comportamento de outras pessoas. (ASSUMPCAO, 2000). A base dessa visão poderia ser resumida da seguinte maneira: as crenças sobre conceitos referentes ao mundo físico podem ser chamadas de representações primárias e as crenças sobre o estado mental das pessoas (como, por exemplo, seus desejos) são representações. Podem, então, ser chamadas de representações secundárias ou meta-representações. A teoria cognitiva sugere que o autismo é causado por um déficit cognitivo central e à incapacidade para meta-representação, que é obrigatório em padrões simbólicos. (ASSUMPCAO, 2000).

20 3.7 Características 3.7.1 Características Gerais Maior será a possibilidade de características associadas, quanto mais nova for a criança e são caracterizados como: anormalidade no desenvolvimento de habilidades no nível de inteligência; anormalidades como caretas, os braços batendo, coordenação do corpo muito pobre e movimentos do corpo de forma engraçada; respostas bizarras aos impulsos sensoriais como ignorar a dor; anormalidade no humor como risada irônica; e comportamento automutilante como morder as mãos. ( DSM-IV-2000). O início desses acontecimentos é relatado pêlos pais antes dos trinta meses de idade mas pode ser difícil de estabelecer a idade que se inicia estes acontecimentos. ( DSM-IV-2000). Em algumas crianças, há um período de desenvolvimento normal, seguido por um desinteresse em habilidades sociais e cognitivas, e desenvolvimento de trações característicos do distúrbio, mas são casos bastante raros. (GAUDERER 1997). 3.7.2 Repertório de Atividades e Interesses Restritos De acordo com Bosa (2000) podem ser notadas reações de resistência nas crianças mais novas por alterações no ambiente em que ela será acostumada, como, podendo gritar de desespero quando sua cadeira na mesa de refeições é mudada de posição. Esses indivíduos têm forte vínculo e interesses por objetos de rotação, podendo ficar por horas em frente ao mesmo. Em crianças mais velhas incluem a repetição de frases e de palavras e tarefas que envolvem a memória a longo prazo e podem ser significativas como a lembrança de músicas ouvidas anos antes e são repetidas a todo o momento. É comum esteriopatias motoras, incluindo bater de palmas, correr sempre de um lado

21 para o outro e vai vem de todo o corpo. A criança mais velha costuma seguir sempre o mesmo caminho para um parque mesmo com outro caminho mais curto. (AMY, 2001). Segundo Tustiw (1981), uma criança com o distúrbio insiste em arrumar sempre o mesmo número de brinquedos no mesmo lugar e isso varias vezes ao dia e, até mesmo, imitar os personagens de televisão por ter uma limitação na atividade imaginativa. 3.7.3 Evolução e Complicação As manifestações do distúrbio permanecem por toda a vida. Algumas crianças melhoram nas habilidades sociais e de linguagem. Já na puberdade, as funções cognitivas podem decair ou melhorar, mas uma não depende da outra. (GAUDERER, 1997). São poucas as crianças que conseguem levar uma vida independente e com sinais mínimos do distúrbio, mas podendo haver inconveniências sociais. A maioria permanece com os sinais para o resto da vida, levando assim, uma vida totalmente isolada. O desenvolvimento de ataques epilépticos é a maior complicação do distúrbio e a maioria que desenvolve ataques epilépticos têm um QI abaixo de 50 e até a vida adulta, cerca de 25% ou mais desenvolvem um ou mais episódios convulsivos, e esses ataques têm o seu início na adolescência. É comum, na adolescência alguns indivíduos apresentarem sinais de depressão em resposta a percepção parcial da doença, mas isso só em indivíduos que têm um ótimo grau de habilidades. (GAUDERER, 1993). 3.7.4 Aspectos Genéticos A concentração familiar de casos de Autismo Infantil é mais comum entre irmãos de crianças afetadas. A concentração familiar de outras condições e/ou características em famílias de autistas é a presença de uma série de alterações discretas, porém possivelmente relacionadas com o autismo infantil em parentes próximos de indivíduos afetados. (BOSA, 2000).

22 Segundo o autor supracitado há evidência de que em famílias que o primeiro filho apresente Autismo, em função de todas as dificuldades inerentes ao quadro, o casal opte por não ter mais filhos. A evidente predominância de meninos afetados sugere uma condição dominante ligada ao cromossomo X ou Y segundo estudos realizados através do mapeamento de genes na tentativa de estabelecer sua identidade e em que cromossomo se localizava a doença. Entre os casos de Etiologia não conhecida, há evidências no sentindo de uma maior probabilidade de irmãos de autistas serem também afetados quando comparado com a população em geral. Tanto os irmãos quanto os pais têm maior propensão para apresentar prejuízos cognitivos e sociais que são mais discretos, porém semelhantes aos observados no autismo. (BOSA, 2001). 3.7.5 Comprometimentos na Interação Social De acordo com Amy (2001), o comprometimento na comunicação inclui as habilidades verbais e não verbais, e em alguns casos, a linguagem pode estar ausente. Quando se desenvolve a fala, a grande maioria tem um déficit na estrutura gramatical e inversão de pronomes (por exemplo, o uso do você quando o eu é pretendido), inabilidade para nomear objetos, pronuncias estranhas, onde só quem consegue entender são as pessoas que estão acostumadas com a criança. Mesmo quando não há anormalidades na linguagem, a comunicação é prejudicada dependendo da circunstância, como alterar um objeto de lugar. O comprometimento na atividade imaginativa inclui a ausência de fantasias com brinquedos ou ausência da representação dos adultos ou a atividade imaginativa pode ser mínima, dependendo dos casos, e repetitiva. O comprometimento na interação social dos autistas é caracterizado pelo não desenvolvimento nas relações interpessoais, pela falta de interesse com as pessoas e a receptividade. (GAUDERER, 1997). Na primeira infância são manifestadas pela falta de aconchego, falta de contato visual, falta de contato físico com outras pessoas e com isso, os pais pensam que a criança é surda, por desenvolver estes sintomas, mesmo sendo

23 raramente associada à indiferença social. Na maioria dos casos, essas crianças têm um desenvolvimento social normal e com o passar dos anos, a criança pode desenvolver um nível de desinteresse social por outras pessoas. Aqueles menos deficientes, podem alcançar um nível em que eles podem se envolver normalmente com outras pessoas com brincadeiras, tendo a ajuda das outras crianças como um fator relevante para a interação social. (GAUDERER, 1997). 3.8 Tratamento 3.8.1 Tratamento Medicamentoso No autismo algumas medicações tais como neurolépticos (haloperidol, clorpromazina, tioridazina) oferecem uma melhora na agitação psicomotora e nos comportamentos descontrolados de crianças autistas. Estas medicações não revertem a falta de responsividade (sensibilidade) social e comunicação, características do autismo, mas podem facilitar a permanência dessas crianças em casa, aos cuidados da família. Fatores como o estresse familiar, a capacidade de fala da criança e a irritabilidade foram ótimos potenciais discriminadores para diferenciar a opção dos pais pela medicação de seus filhos, mas não a gravidade da sintomatologia. As variáveis que demonstraram maior poder preditivo para a opção dos pais pela medicação relacionam-se à capacidade para manejar a criança com transtorno autista. (SCHWARTZMAN, 1994). 3.8.2 Eletroencefalografia De acordo com Schwartzman (1994), este exame Eletroencefalografia (EEG) é uma das primeiras investigações neurofisiológicas realizadas no portador de autismo. Sabe-se que a muitos anos, há um elevado índice de anormalidades elétricas e de epilepsia nos casos de autismo, e estes fatos foram utilizados como argumentos a favor de uma base biológica para esta condição. Segundo o autor supracitado, a conclusão é a de que, quanto mais comprometida a criança autista, maior a probabilidade de apresentar indícios de disfunção cerebral, entre as quais alterações do EEG e epilepsia. As anormalidades descritas incluem ondas pontiagudas focais ou generalizadas e ondas lentas.

24 3.8.3 Tratamento para Epilepsia Segundo Schwartzman (1995), é freqüente e estimado em cerca de 2% a 30% dos casos. Crises generalizadas motoras são as mais identificadas com mais facilidade. As manifestações convulsivas podem iniciar em qualquer idade, mas na grande maioria, inicia-se durante a adolescência. É importante colocar a dificuldade que existe em se reconhecer este tipo de crise, uma vez que as manifestações podem se confundir com sintomas habitualmente presentes, nos casos de autismo, mesmo sem epilepsia. De acordo com o autor supracitado, os medicamentos para a epilepsia deverão ser usados de forma habitual, com anticonvulsivantes e na escolha dessas medicações, deve-se evitar aquelas que possa determinar pioras no comportamento, como é o caso dos Barbitúricos. É importante a necessidade de estar atento para a ocorrência deste tipo de manifestação, a fim de que o paciente possa se beneficiar do tratamento mais adequado. 3.8.4 Terapia Comportamental Segundo Teixeira (2001) a terapia comportamental foi usada na tentativa de tirar o autista de seu isolamento, de lidar com suas dificuldades, distorções no desenvolvimento e suas habilidades de comunicação. Esse tipo de terapia tem sua base nos princípios da análise experimental do comportamento. Esses estudos analisam o meio ambiente, enfatizando o papel crítico das condições antecedentes e conseqüências ao comportamento, para que o Autista venha aprender. O ensino de habilidades de comunicação têm merecido atenção especial, com o uso de estratégias diversas, estimulando tanto o comportamento verbal/oral como modos alternativos de comunicação, seja através de linguagem de sinais, uso de símbolos, objetos, fotografias, entre outros. (TEIXEIRA et.al, 2001). 3.8.5 Terapia Familiar

25 Esse tipo de tratamento é fundamental para o paciente autista, e é realizado pelo psicólogo, assistente social e principalmente, pela família. Trata-se de uma forma terapêutica indispensável para o tratamento desses indivíduos, porque visa a estruturação da família para recebê-lo em conjunto com a equipe multiprofissional, desenvolver técnicas adequadas para sua socialização. Quando essa terapia não é realizada, a socialização do indivíduo é prejudicada para a sua inserção familiar e social. (ROCHA, 2005). 3.8.6 O Ambiente Terapêutico Segundo Teixeira (2001), o ambiente onde as pessoas com doença mental são tratadas é um fator importante para sua melhora ou impedir o seu agravo. É de competência do Enfermeiro a criação e condução de um ambiente terapêutico, pois são eles que passam 24 horas do lado do paciente. Os objetivos principais do ambiente terapêutico são: ajudar o paciente a desenvolver o senso de auto-estima e o seu valor; estimular sua capacidade de relacionar-se com os outros; ajudá-lo a confiar nas pessoas; ajudá-lo a voltar a comunidade com mais maturidade e preparado para o trabalho e para a vida. Uma das características importantes em um ambiente de tratamento são: a) Satisfazer as necessidades físicas do paciente como roupas apropriadas; b) Respeitar o paciente como indivíduo que possui direitos. Exemplo: horário de ver sua família; c) Oferecer momentos de liberdade de escolha, segundo a capacidade do paciente; d) Dar ênfase à interação social entre paciente e a equipe multiprofissional e) Fornecer sempre um ambiente agradável para o paciente. 3.9 Assistência de Enfermagem a Paciente com Transtornos de Aparecimento na Primeira ou Segunda Infância

26 De acordo com Teixeira et.al, (2001), as crianças são levadas para tratamento psiquiatra não pelo distúrbio mas sim pelo sentimento de incapacidade que os pais têm perante a situação. 3.9.1 Retardo Mental De acordo com Teixeira (2001), retardo mental é o termo que descreve a condição onde tem um atraso no desenvolvimento intelectual do indivíduo nos seus primeiros anos de vida. O diagnóstico é feito quando a criança atinge a idade escolar, porém a existência de alguns aspectos físicos que são característicos em alguns indivíduos torna desnecessário que a criança chegue a idade escolar para que o diagnóstico seja feito. A assistência de Enfermagem para esses indivíduos são: estimular a independência, respeitando as limitações de cada um; trabalhar com o paciente a não agressividade, colocando limites e dando orientações; e respeitar sempre o indivíduo. 3.9.2 Transtorno Autista Segundo Teixeira (2001) Autismo é identificado no primeiro ano de vida ou até três anos de idade, e é mais comum em meninos do que em meninas. Estas crianças vivem o seu próprio mundo e com isso elas não conseguem se relacionar com pessoas incluindo sua própria família. A linguagem desses indivíduos é pobre apesar de uma minoria conseguir desenvolver bem as palavras. A maioria dessas crianças se apega a objetos e ficam com raiva quando o ambiente onde vivem sofre algum tipo de alteração como, a chegada de uma pessoa desconhecida ou mudança de objetos e com isso eles assumem um comportamento autodestrutivo, como querer bater em quem estiver por perto ou quebrar as coisas ao seu redor. De acordo com o autor supracitado, podem correr de um lado para o outro ou girar em torno de si mesmos, sempre a uma grande velocidade e sem objetivo de agir dessa forma. Tendem a eleger alimentos, objetos como seus favoritos e quando não estimulados, limitam-se sempre a mesma rotina, fechando-se para algo novo. A grande maioria gosta muito de música, ficando horas ouvindo a mesma música ou pequenos trechos das músicas. Alguns recusam afagos, pois ficam incomodados. A

27 causa do transtorno autista não é conhecida, embora algumas das pesquisas existentes indiquem que acontece uma falha na função cerebral e que provavelmente este seja um fator que o ocasione. A assistência de Enfermagem para estes indivíduos são: a) Desestimular a auto-agressão, desviando sua atenção para outras coisas ou objetos. b) Demonstrar carinho através do toque mesmo não havendo o retorno do mesmo. c) Observar, estimular e estar atento ao que o indivíduo disser. d) Ensinar e estimular o auto cuidado como higiene pessoal. e) Desestimular movimentos repetitivos. f) Colocar limites, explicando sempre o porquê dos mesmos. g) Estimular a socialização através de atividades em grupo. h) Estimular nos horizontes para que o indivíduo não venha se limitar sempre a mesma coisa. 3.9.3 Comunicação Verbal Alterada De acordo com Townsend (2000), a comunicação verbal alterada está relacionada com a alteração do desenvolvimento. O enfermeiro deve estar atento em prever e satisfazer as necessidades do paciente até serem estabelecidos padrões satisfatórios de comunicação. A família tem a função de estimular e praticar novas habilidades diariamente com essa criança, para que aprenda palavras e consiga se comunicar. É essencial que a pessoa que está cuidando do indivíduo identifique gestos ou sinais não verbais que ele costume usar para transmitir as necessidades e sempre usar linguagem simples para explicar quais os comportamentos são aceitáveis e quais não são. 3.9.4 Risco para Auto-Mutilação Segundo Townsend (2000) o Enfermeiro ou quem está cuidando da criança, deve protegê-la quando ocorrer o comportamento de automutilação e sempre tentar

28 intervir por meios de atividades de diversão quando o nível de ansiedade aumentar. A segurança do paciente autista é uma intervenção prioritária da Enfermagem. 3.9.5 Interação Social Alterada O enfermeiro deve designar um número limitado de prestadores de cuidados e assegurar que sejam dados calor humano, dar reforço positivo ao contato olho no olho, pois é essencial para a capacidade da criança em estabelecer relações interpessoais e sempre estimular essa interação com o indivíduo autista. (TOWNSEND, 2000),

29 4 CONCLUSÃO O autista de hoje não é o mesmo do mundo antigo, porque esse nome moderno, criado por Kanner, recorta e cria um novo discurso que o situa e lhe dar lugar no mundo atual. Aparece ao mundo um novo autista, que prolifera, vai à mídia, aos filmes, totalmente diferente daquele que não aparecia para o mundo, e isso significa muito para a sociedade de hoje. O autista, não deixará de sofrer os efeitos desse mundo moderno em que está situado. Sofre os efeitos desse mundo social, carrega a dificuldade de linguagem e da circulação social, mesmo assim, ele acaba de forma surpreendente se equilibrando. Aos poucos, autistas e seus familiares vão conquistando seus espaços. Pais e profissionais da saúde transformam suas indignações, sua dor, seu sofrimento e suas dificuldades em luta pela dignidade das vidas dessas pessoas, pelo respeito à cidadania, e na busca de alternativas de atendimento especializado, garantindo assim seus direitos. Infelizmente ainda são poucas as bibliografias, estudos e cuidados específicos de enfermagem ao paciente autista, mesmo sendo a enfermagem que está ao lado dessas pessoas vinte e quatro horas por dia, prestando-lhes todo o cuidado necessário. Cabe aos enfermeiros que se interessam e gostam dessa área pesquisar mais sobre o assunto, elaborar estudos com o intuito de se criar cuidados e intervenções específicos de enfermagem para estas pessoas.

30 5 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMY, Marie Dominique. Enfrentando o autismo: a criança autista, seus pais e a relação terapêutica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. 205p ASSUMPCAO JR, Francisco B; PIMENTEL, Ana Cristina M. Autismo infantil. Disponível em < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s1516-44462000000600010&lng=pt&nrm=iso >. Acesso em: 19 Maio 2007. BOSA, Cleonice; CALLIAS, Maria. Autism: a brief review of different approaches. Disponível em < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0102-79722000000100017&lng=es&nrm=iso >. Acesso em: 19 Mayo 2007. BOSA, Cleonice Alves. As Relações entre Autismo, Comportamento Social e Função Executiva. Disponível em < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0102-79722001000200004&lng=pt&nrm=iso >. Acesso em: 20 Maio 2007. CAVALCANTE, Ana Elizabeth, Rocha, Paulina Schimidtbauer. Autismo: Construções e desconstruções. São Paulo : Casa do Psicólogo, 2002, 2 ed. 195p LEBOYER, Marion. Autismo Infantil: fatos e modelos. Campinas : Papirus, 1985. 192p ROCHA, Ruth Mylius. Enfermagem em saúde mental. 2.ed., atual. e ampl. Rio de Janeiro : Senac Nacional, 2005. 192p SCHWARTZMAN, José Salomão et.al. Autismo Infantil. São Paulo: Memnon, 1995. 285 p. SCHWARTZMAN, José Salomão. Autismo Infantil. Brasilia: Corde. 1994. 56p. TOWNSEND, Mary c. Enfermagem Psiquiátrica: conceitos de cuidados. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, 3.ed. 835p. TUSTIW, Frances. Estados Autísticos em crianças. Rio de Janeiro: Imago, 1981. 333p. TEIXEIRA, M. B., MELLO, I.M., GRANDO, L. H., FRAIMAN, D.P. Manual de Enfermagem Psiquiátrica 1ª Reimpressão. 154p.