ANÁLISE DO PODER DE MERCADO NA INDÚSTRIA DE MINERAÇÃO DE PEDRA BRITADA DA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO



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Transcrição:

ANÁLISE DO PODER DE MERCADO NA INDÚSTRIA DE MINERAÇÃO DE PEDRA BRITADA DA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO RESUMO A indúsria de pedra briada, em função das caracerísicas de seu mercado, como a reduzida possibilidade de subsiuição, significaivas barreiras à enrada, produção e comercialização regionais (devido ao alo cuso de ranspore), apresena ala possibilidade de exisência e exercício do poder de mercado. Porano, ese esudo em como objeivo analisar o poder de mercado na indúsria de mineração de pedra briada da Região Meropoliana de São Paulo, baseando-se na meodologia proposa pela Nova Organização Indusrial Empírica. Os resulados obidos permiem classificar o seor como um oligopólio em equilíbrio do ipo Courno-Nash. Pode-se concluir, pelo elevado valor do parâmero de condua (0,74), que as firmas exercem um poder de mercado relaivamene alo e podem cobrar preços cerca de 30% maiores que seu cuso marginal sem que sua posição no mercado seja prejudicada. Como esá na base da cadeia produiva do seor de consrução civil, a práica de preços não compeiivos pode razer implicações prejudiciais para a sociedade como um odo. PALAVRAS-CHAVE: poder de mercado, NEIO, pedra briada, RMSP. ABSTRACT Because of reduced subsiuion possibiliy, significan barriers o enry, and regional producion and marke (due o he high ransporaion cos), he crushed sone indusry has high probabiliy of he exisence and exercise of marke power. The objecive of his paper was o analyze he crushed sone indusry s marke power in he Meropolian Area of São Paulo, Brazil. The mehodological approach was based on he New Empirical Indusrial Organizaion (NEIO). The economeric resuls indicaed ha he marke is characerized by Courno-Nash behavior. The high value of he conduc parameer (0.74) evidenced ha firms have a relaively high marke power and can raise prices abou 30% higher han heir marginal cos. Given is expanding imporance in he consrucion s producive chain, he pracice of non-compeiive prices could ge damaging implicaions on he welfare of he sociey. KEY WORDS: marke power, NEIO, crushed sone, MASP. CLASSIFICAÇÃO JEL: D43, L13. Área da ANPEC: 8 Economia Indusrial e da Tecnologia. 1. INTRODUÇÃO A pedra briada (ou bria), junamene com a areia e o cascalho, faz pare do segmeno do seor mineral que produz maéria-prima brua ou beneficiada (agregados) para a uilização na consrução civil. Além de ser um insumo essencial da produção de concreo, a bria ambém é empregada em obras de saneameno, pavimenação, lasro de ferrovias, encorameno e drenagem. Segundo o Deparameno Nacional de Produção Mineral (DNPM, 2008), em 2007, 66% do consumo de pedra briada desinou-se à consrução civil, 15% à consrução/manuenção de esradas, 4% à pavimenação asfálica, 3,5% à fabricação 1

de arefaos de cimeno e pré-moldados e 11,5% a ouros usos, como lasro de ferrovia e conenção. No Brasil, a produção de pedra briada é a segunda maior enre as subsâncias minerais, ficando arás apenas do ferro. O esado de São Paulo é o principal produor e consumidor, concenrando cerca de 43% da produção brua e 45% do consumo. Minas Gerais, Rio de Janeiro, Sana Caarina e Rio Grande do Sul ambém se desacam em ermos de quanidades produzidas e consumidas (DNPM, 2008). A bria é um ipo de pedra exraída de áreas ricas em granio e calcário e as jazidas se diferenciam enre si pela proporção desses dois maeriais. Do processo produivo resulam diferenes ipos de bria (bria graduada, bica corrida, bria 1, bria 2, bria 3, bria 4, pedrisco miso, pedrisco limpo, pó de pedra e areia arificial), cuja uilização (concreo, pavimenação ec.) varia conforme seu amanho (em milímeros); a produção de cada ipo pode ser ajusada no curo prazo pelas pedreiras (OLIVEIRA e al., 2008). A possibilidade de uilização de ouro recurso, seja indusrializado ou naural, em subsiuição à pedra briada, é quase nula, ainda que evenualmene possa ser subsiuída em aplicações específicas no seor (o cascalho e as escórias siderúrgicas são exemplos de produos subsiuos, além da possibilidade de uilização de esruuras meálicas ao invés de concreo). Além disso, por ser um produo homogêneo e abundane no Brasil, possui pouco valor agregado e apresena baixo preço de venda em relação ao volume produzido (DNPM, 2008; OLIVEIRA e al., 2008). Além de ser um produo com baixo valor adicionado, a produção de pedra briada não envolve grandes cusos em ermos de maéria-prima e mão-de-obra. Todavia, a enrada de empresas no seor apresena ceras dificuldades. A principal barreira é o alo invesimeno inicial que deve ser realizado para adquirir uma pedreira e a maquinaria. A exração de bria é uma aividade capial-inensiva e os cusos fixos envolvidos são elevados. Há ainda barreiras legais ou regulaórias. Conforme Oliveira e al. (2008), para a exploração das minas é preciso ober um íulo minerário sobre as jazidas juno ao Minisério de Minas e Energia e um parecer favorável no relaório de impaco ambienal realizado pela Secrearia do Meio Ambiene. O elevado valor do free de ranspore, que responde por aproximadamene dois erços do preço final do produo, faz com que a produção seja realizada próxima aos mercados consumidores, que são os grandes cenros urbanos. A Região Meropoliana de São Paulo 1 é a maior consumidora de bria do País e concenra cerca de 40% das minas que produzem rochas briadas no esado de São Paulo. Segundo Poleo (2006), nessa região, que é um dos maiores aglomerados urbanos do mundo, o seor de pedra briada assume grande imporância na medida em que a escala de produção e consumo demanda enormes quanidades do produo para seu abasecimeno. De acordo com informações do SINDIPEDRAS (2008), o sisema produivo de pedra briada da RMSP é composo por 34 pedreiras que respondem por mais da meade da produção do esado. A área de influência das firmas varia em orno de apenas 30 a 40 quilômeros e a região não precisa imporar bria de ouras localidades. Ainda que exisam alguns fluxos inerregiões, no cômpuo geral da ofera e da demanda, os fluxos oriundos das ouras regiões são quase inexpressivos. Pode-se admiir, porano, que a RMSP forma um mercado disino dos demais, que produz a quanidade necessária para aender à demanda local. Conforme dados de paricipação nas vendas das empresas que auam na RMSP, apresenados por Oliveira e al. (2008), a concenração do seor não é elevada. A parcela de 1 Siuada no Sudese do esado de São Paulo, a RMSP é composa por 39 municípios e corresponde a 3,24% do erriório esadual. Sua população, conforme o Censo Demográfico 2000, é de aproximadamene 18 milhões de habianes (48% da população esadual e 10% da nacional). 2

mercado das quaro maiores firmas é de aproximadamene 25% e, exceo pela principal empresa, cujo marke-share varia em orno de 11%, as demais êm paricipações semelhanes, que variam enre 2,5% e 5%. No enano, os dados sugerem poucas mudanças no posicionameno das empresas. Os auores desacam que, ao conrário de ouros seores que compõem a cadeia produiva da consrução civil, a concenração do mercado de bria não em se modificado significaivamene ao longo dos anos. No ano de 2002, a Secrearia de Direio Econômico (SDE) recebeu denúncia de um suposo carel envolvendo empresas produoras de bria na RMSP. Foi insaurado um processo adminisraivo para invesigar a denúncia e, em 2004, a SDE concluiu que 18 empresas e o Sindicao da Indúsria de Mineração de Pedra Briada do Esado de São Paulo (SINDIPEDRAS) deveriam ser condenados por práica de carel. Poseriormene, em 2005, o Conselho Adminisraivo de Defesa Econômica (CADE) mulou as firmas invesigadas conforme o grau de envolvimeno de cada uma na adminisração do carel (CADE, 2007). Oliveira e al. (2008) repeiram o exercício economérico no qual a SDE se baseou para emiir seu parecer, uilizando dados de uma das empresas condenadas 2. Os auores concluíram que não houve efeios sobre o mercado suficienes para caracerizar práica de conluio, além do fao de que, para o período esudado (janeiro de 1995 a dezembro de 2004), houve queda do mark-up da referida firma, o que evidenciaria uma condua mais compeiiva. Tal conclusão foi baseada em eses economéricos de quebra esruural nas séries de preços de pedra briada e na esimação de modelos VAR (Vecor Auoregressive Model), que indicaram que não houve aceleração dos preços praicados pela empresa em esudo no período de suposa carelização. Enreano, não exisem ouros esudos que raem especificamene do ema poder de mercado para a indúsria brasileira de pedras briadas. Como desaca Kulaif (2001), analisar esse seor apresena muias dificuldades, na medida em que, mesmo para especialisas da produção mineral, ele é considerado um segmeno aípico, com dados esaísicos escassos e poucos rabalhos publicados. A essencialidade do produo, a dificuldade de subsiuição e as barreiras à enrada, são paricularidades do seor que sugerem baixa elasicidade-preço da demanda, pouca rivalidade enre as firmas e, conseqüenemene, possibilidade de exisência e exercício do poder de mercado. Além disso, por esar na base da cadeia produiva do seor de consrução civil, a pedra briada, ao sofrer elevações de preços devido às imperfeições de mercado, impõe cusos maiores à indúsria, afeando o cuso de vida das famílias e o nível dos salários e, ou, emprego da economia (NEVES; SILVA, 2007). Nesse conexo, dada a imporância da bria como insumo da consrução civil e as caracerísicas do mercado, ese esudo procura avaliar se as firmas que compõem a indúsria de mineração de pedra briada da RMSP possuem poder de mercado. A análise, baseada no insrumenal eórico proposo pela Nova Organização Indusrial Empírica (New Empirical Indusrial Organizaion NEIO), permiirá um maior enendimeno da esruura de mercado do seor em relação ao parecer emiido pela SDE e ao esudo de Oliveira e al. (2008), uma vez que serão esimadas funções de demanda e ofera de bria para a RMSP e, a parir delas, calculado o grau de poder de mercado das firmas que lá auam. Ademais, os resulados poderão subsidiar fuuras pesquisas no conexo do sisema brasileiro de defesa da concorrência. Além desa inrodução, o rabalho esá dividido em ouras quaro seções. Na segunda, é apresenado um breve hisórico sobre a evolução dos esudos em Organização Indusrial; na erceira, a meodologia, que coném os modelos eórico e analíico; na quara, os resulados obidos; e, na quina, as principais conclusões. 2 O exercício economérico consa no parecer do Processo Adminisraivo 080 12.002127/02-14 da SDE e a empresa em quesão é a EMBU S/A, que na época represenava cerca de 10% do mercado relevane. 3

2. EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS EM ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL Aé o inicio da década de 1980, o paradigma Esruura-Condua-Desempenho (ECD) foi a principal referência eórica para as pesquisas empíricas em Organização Indusrial. A hipóese cenral do modelo, conforme Marin (1993), é que há uma relação esável e causal enre a esruura da indúsria, a condua das firmas e o desempenho do mercado. A idenificação do poder de mercado nas análises baseadas no paradigma ECD consisia em comparar o preço com o cuso marginal das firmas de um deerminado seor, ou seja, calcular o Índice de Lerner. Como, em geral, é difícil ober esimaivas de cusos marginais, uilizava-se nos esudos, como proxy, cusos variáveis, baseados em informações conábeis. A parir daí, os modelos empíricos desenvolvidos procuravam esabelecer relações enre a parcela de mercado da firma e grau de concenração da indúsria com o poder de mercado. Nesse senido, quano maior o marke-share e, ou, a concenração, maior o grau médio de poder de mercado do seor e, consequenemene, os lucros das empresas 3. Mas os esudos baseados na abordagem ECD são criicados por uma série de moivos. Cusos variáveis só podem ser uilizados em subsiuição aos cusos marginais em indúsrias que operam em condições de concorrência perfeia. Por não levar em cona as elasicidades, incenivos aos produores e possibilidade de enrada, as medidas de concenração não refleem adequadamene o grau de poder de mercado de um seor. O uso de dados conábeis não é adequado, na medida em que envolvem definições diferenes de cuso, capial, depreciação, gasos com propaganda e pesquisa/desenvolvimeno. A relação posiiva enre concenração de mercado e lucros pode ser espúria, já que lucros mais alos podem ser resulado de maior eficiência (BORENSTEIN e al., 1999; CARLTON, PERLOFF, 2005; DEODHAR, PANDEY; 2006; LEE, 2007). Diane das muias críicas, o paradigma ECD perdeu força como modelo de análise do poder de mercado e, a parir da década de 1980, a abordagem conhecida como Nova Organização Indusrial Empírica (NEIO) começou a ganhar erreno na lieraura de Organização Indusrial, com os rabalhos de Bresnahan (1982), Lau (1982) e Bresnahan (1989), enre ouros. Nos modelos da NEIO não são uilizados dados conábeis, a nível de firmas, mas esaísicas de preço e quanidade de equilíbrio de mercado. Além disso, assume-se que as medidas de cuso marginal não são observáveis. A abordagem da NEIO envolve a consrução de modelos economéricos esruurais, baseados na eoria microeconômica de maximização de lucros, que possibiliam inferências a respeio de como as firmas se comporariam sob diferenes esruuras de mercado. O grau de poder de mercado é idenificado com base na condua das firmas (LEE, 2007). De modo mais específico, pare-se de uma função de demanda e de uma função de cuso marginal e, pela igualdade enre receia marginal e cuso marginal (condição de maximização de lucro de primeira ordem), obém-se a relação de ofera e, poseriormene, o grau de poder de mercado. O modelo apresenado a seguir, que fundamena eoricamene ese rabalho, é uma adapação Bresnahan (1982), baseado em Deodhar e Sheldon (1995). Nele assume-se cusos marginais consanes e, dessa forma, são eviados problemas de idenificação no modelo. Ouros esudos que uilizaram essa meodologia foram os de Hairli e al. (2003), Hairli (2004) e Deodhar e Pandey (2006). 3 O Índice de Lerner é expresso por L = ( P CMa) P. Para uma análise da associação enre o Índice de Lerner, a parcela de mercado das firmas, a concenração de mercado e os lucros, veja Marin (1993), capíulo 5. 4

3. METODOLOGIA 3.1. Modelo eórico A demanda de mercado, numa indúsria na qual n firmas produzem um produo homogêneo q, q,..., q ), pode ser represenada pela seguine função implícia: Q = ( 1 2 n q( P, Z ), (1) em que Q é a quanidade oal demandada; P, o preço do produo; e Z, um veor de variáveis exógenas que afeam a demanda, como a renda, o preço de bens subsiuos e, ou, complemenares. Por sua vez, o cuso marginal ( CMa ) agregado da indúsria é dado por: CMa = c Q, W ), (2) ( em que W é um veor de variáveis exógenas do lado da ofera que deslocam a função cuso, como, por exemplo, o preço dos insumos. Assumindo que as firmas são omadoras de preços, a condição de equilíbrio de mercado será dada por: P = p( Q, Z ) = CMa = c( Q, W ). (3) Pela equação (3), pode-se inferir que, se a indúsria é perfeiamene compeiiva, sua receia marginal ( RMa ) será igual ao cuso marginal. Definindo a receia oal (RT) como RT = P Q = P ( Q, Z ) Q, a condição de equilíbrio pode ser reescria como P RMa ( λ ) = P + λq = CMa ( Q, W ) (4) Q na qual λ, chamado de parâmero comporamenal, represena o grau de poder de mercado, definido como a diferença enre o preço de mercado e o cuso marginal da indúsria. De acordo com Bresnahan (1982), λ = 0 indica concorrência perfeia, ao passo que λ = 1 refere-se ao um carel perfeio ou monopólio; valores inermediários do parâmero esão relacionados a soluções de oligopólio, como por exemplo λ = 1 n caraceriza o equilíbrio de Courno-Nash. O parâmero λ ambém pode ser inerpreado como uma variação conjecural. Segundo Marin (1993), esse ermo é uilizado para descrever a mudança percenual no produo de odas as demais firmas do mercado, que a empresa i espera que ocorra, em resposa a 1% de variação em sua própria produção. A parir de um duopólio simples pode-se demonsrar a ligação enre λ e o conceio de variação conjecural. Supondo que a firma 1 produz unidades do bem em quesão e e e espera que a firma 2 produza q 2, o produo oal será Q = q + 1 q2. A condição de maximização de lucro da firma 1 será expressa por: max π 1 = P( Q) q1 C1( q1) (5) em que P (Q) é a função de demanda inversa e C 1 ( q 1 ) a função de cuso oal da firma 1. Diferenciando a equação (5) em relação a, a condição de primeira ordem será q 1 P q2 P ( Q) + 1 + q1 = CMa1( q1) (6) Q q1 em que CMa 1 ( q 1 ) é o cuso marginal da firma 1; q2, o nível de produo de equilíbrio de e ; e q, a variação conjecural. q 2 2 q 1 q 1 5

Supondo novamene uma indúsria com n firmas e que odas elas sejam siméricas, ou seja, possuem esruuras de cusos idênicas, e que produzem o mesmo monane de produo, a equação (6) pode ser generalizada para o mercado como um odo e reescria como: P 1+ ( n 1) v P ( Q) + = CMa Q n (7) em que v é a variação conjunural da firma i em relação à cada uma de suas rivais. Assumindo que a equação (7) é idênica à (4), em-se que o parâmero λ é: 1+ ( n 1)v λ = n. (8) Se as firmas comporam-se como em compeição perfeia, λ = 0 e a equação (7) se reduz à condição usual de P ( Q) = CMa ; se houver um comporameno colusivo (carel perfeio), λ = 1 e a maximização de lucros é semelhane à de um monopolisa; por fim, caso o comporameno das firmas seja do ipo Courno-Nash, λ = 1 n. O valor de v será igual a 1/( n 1), 1 ou 0, p ara cada um desses rês ipos de condua, respecivamene. 3.2. Modelo analíico A análise do poder de mercado conforme o modelo eórico descrio aneriormene pode ser dividida em duas eapas: na primeira esima-se a função de demanda e a relação de ofera e, na segunda, calcula-se o parâmero λ, a parir dos coeficienes esimados. O desenvolvimeno economérico das eapas é apresenado a seguir. No modelo desenvolvido para a indúsria de mineração de pedra briada da Região Meropoliana de São Paulo, a equação de demanda foi expressa como: Q = β 0 + β1p + β 2PC + β 3Y + ε (9) em que Q é a quanidade de pedra briada vendida na Região Meropoliana de São Paulo; P, o preço de pedra briada; PC, o preço do cimeno, que é um bem complemenar; Y, a renda; 0,..., β 3 β, os parâmeros a serem esimados; e ε o ermo de erro aleaório. O cuso marginal agregado foi definido como função do preço dos principais insumos uilizados na produção de pedra briada: CMa = α 0 + α1w (10) em que W represenam as variáveis que deslocam a função de cusos, como os gasos com mão-de-obra, insumos e despesas de manuenção e α 0 e α 1 os parâmeros a serem esimados. Subsiuindo-se a equação (10) na condição de maximização de lucro, equação (4), obém-se a relação de ofera: P = α 0 + α1w + α 2 Q + µ (11) P em que P, W, Q e α i foram definidos previamene; α 2 = λ ; e µ é o ermo de Q erro aleaório. 6

A parir das equações da demanda e da relação de ofera, para ober o valor do parâmero λ uiliza-se a especificação de α 2. Deriva-se a equação (9) com relação à Q P 1 para ober =. Segue-se que λ = β 1 α 2. Q β1 Deve-se aenar que a modelagem economérica da equação de demanda e relação de ofera envolve a especificação de um modelo com variáveis endógenas que ambém paricipam como explicaivas, que é o caso da quanidade e do preço. Nesse caso, a aplicação do méodo de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) a cada equação individualmene resulará em esimavas inconsisenes, a menos que se possa provar que P, na equação (9), se disribui independenemene de ε e que Q, em (11), se disribui independenemene de µ. Se houver simulaneidade, uma alernaiva para ober esimadores consisenes e eficienes é uilizar o méodo de Mínimos Quadrados em Dois Eságios (MQ2E) (JUDGE e al.,1988) 4. Como o parâmero comporamenal é obido da muliplicação de dois coeficienes, não é possível fazer inferências direas a respeio da exisência de poder de mercado, uma vez que não há uma esimaiva do desvio padrão de λ. Porano, para ober a variância de λ pode-se realizar um boosrap, que é, segundo Judge e al. (1988), um méodo não paramérico de inferência esaísica baseado em reamosragem de dados. No procedimeno, são realizadas ierações para as equações (9) e (11) e em cada uma delas o λ é reesimado, obendo-se, com esse expediene, uma esimaiva da variância. 3.2.1. Dados uilizados As variáveis endógenas uilizadas para esimar as equações da demanda e da relação de ofera, preço e quanidade, foram obidas por meio do SINDIPEDRAS (2008): i) Q volume de bria comercializado na RMSP, em oneladas; ii) P preço da pedra briada, em R$/oneladas. As variáveis exógenas inseridas na equação de demanda foram: iii) PC preço do cimeno porland (CP-32) no esado de São Paulo, em R$/saco de 50 Kg, disponibilizado pelo Insiuo Brasileiro de Geografia e Esaísica (IBGE, 2009); iv ) Y número de empregados (emprego formal) no seor de consrução civil do esado de São Paulo, obido juno ao Sindicao da Consrução Civil de Grandes Esruuras no Esado de São Paulo (SINDUSCON-SP, 2009). Conforme o SindusCon-SP (2009), o emprego é uma represenação basane fidedigna do nível de aividade do seor de consrução civil e, dessa forma, foi uilizado nese esudo como proxy da renda. O veor de variáveis exógenas que deslocam a função de cuso foi represenado pelos gasos com mão-de-obra e óleo diesel: v ) W1 oal de salários reais pagos no seor de fabricação de produos minerais não meálicos (índice, média de 2003=100), calculado pela Federação das Indúsrias do Esado de São Paulo (FIESP, 2009); vi) W 2 preço do óleo diesel no esado de São Paulo, em R$/liro, disponibilizado pela Agência Nacional do Peróleo (ANP, 2009). 4 Há na lieraura um ese de simulaneidade, que é uma versão do ese de erro de especificação de Hausman. Por meio dele, é possível verificar se um regressor (endógeno) esá correlacionado com o ermo de erro. Mais dealhes podem ser obidos em Judge e al (1988). 7

De acordo com especialisas do seor, esses são os principais iens do cuso de produção das empresas. Ouros dois imporanes componenes do cuso são os gasos com explosivos e manuenção das máquinas uilizadas no processo produivo. Todavia, não foram obidos dados esaísicos que pudessem represenar ais despesas. Todos os dados se referem ao período de janeiro de 2002 a dezembro de 2008. Os preços foram deflacionados uilizando o Índice Geral de Preços Disponibilidade Inerna (IGP-DI, base dezembro de 2008), disponibilizado pela Fundação Geúlio Vargas (FGV, 2009). 4. RESULTADOS Para a análise do grau de poder de mercado da indúsria de mineração de pedra briada da Região Meropoliana de São Paulo, inicialmene foram esimadas a função de demanda e a relação de ofera (equações 9 e 11, respecivamene) por meio do méodo de MQ2E, já que o ese de erro de especificação de Hausman indicou simulaneidade 5. As equações foram esimadas uilizando a mariz de Whie para a correção da heerocedasicidade e, ano na demanda quano na ofera, foi idenificada e corrigida auocorrelação de primeira ordem. Além disso, o ese RESET (Regression Specificaion Error Tes) mosrou que a especificação linear das variáveis foi saisfaória para capar o relacionameno enre elas. A Tabela 1 coném os resulados para a esimaiva da demanda. A variável preço ( P ) foi definida como endógena e insrumenalizada pelas variáveis exógenas da equação ( PC e Y ) e pela quanidade e preço defa sados ( Q 1 e P 1, r especivamene). Tabela 1 Esimaiva da demanda de pedra briada na RMSP, no período de janeiro de 2002 a dezembro de 2008, Q como variável dependene Coeficiene Esaísica P-valor Inercepo 913.792,900* 1,712 0,091 P -55.926,440** -2,202 0,031 PC -37. 648,790* -1,693 0,095 Y 9,260*** 4,522 0,000 ε P 0,58 ε C 0,35 ε Y 1,75 Insrumenos PC, Y, Q 1, P 1 Es. Durbin-Wason 2,00 sc R 2 0,77 Es. F 52,52*** R 2 Ajus. 0,76 Es. F (RESET) -0,446 ns Noa: ε P, ε C e ε Y referem-se, respecivamene, a elasicidade-preço direa, preço cruzada e renda; (***), (**) e (*) indica significaivo a 1%, 5% e 10% e ( ns ) não significaivo; ( sc ) ausência de correlação serial. Fone: Dados da pesquisa. 5 Foi realizada a versão do ese de Hausman descria em Pindyck e Rubinfeld (1991), p. 303-305. A hipóese nula do ese é ausência de simulaneidade. O valor esimado foi -34360,67, esaisicamene significaivo a 5%, indicando a rejeição da hipóese da hipóese nula. 8

Os coeficienes esimados foram individualmene significaivos conforme os níveis convencionais de confiança (1%, 5% ou 10%). Todos os sinais esão de acordo com a expecaiva eórica. Um aumeno de R$1/ no preço da pedra briada reduz a quanidade demandada na RMSP em aproximadamene 56 mil oneladas. Por ouro lado, o acréscimo de R$1 no preço do saco de cimeno porland levaria a uma queda de 37 mil oneladas no consumo de bria, confirmando a complemenaridade enre bria e cimeno, uilizados em conjuno na produção de concreo. Por fim, a cada empregado conraado no seor de consrução, a demanda por bria aumenaria em 9 oneladas, o que evidencia a relação posiiva enre o consumo de pedra briada e o nível de aividade da consrução civil. A análise da elasicidade-preço da demanda indica que um aumeno de 10% no preço da pedra briada diminuiria a quanidade demandada em cerca de 5,7%. A inelasicidade faz senido, na medida em que, além de ser um insumo essencial para a consrução civil, a possibilidade de subsiuição de bria é basane reduzida. Como argumenam Zeidan (2005) e Schmid e Lima (2006), que ambém analisaram mercados de produos com nenhum ou poucos subsiuos (cimeno e aço, respecivamene), a baixa elasicidade aumena a probabilidade de que as firmas do seor possam exercer o poder de mercado. A relação de ofera esimada esá apresena da na Tabela 2. A variável endógena foi a quanidade ( ) e, como insrumenos, foram uilizados, além da própria quanidade e do preço defasados ( Q e P ), as variáveis exógenas salário e preço do óleo diesel ( W1 e W 2 ) 6. Q 1 1 Tabela 2 Esimaiva da relação de ofera de pedra briada no RMSP, no período de janeiro de 2002 a dezembro de 2008, P como variável dependene Coeficiene Esaísica P-valor Inercepo -20.9964** -2.021 0.047 W1-0.033991 ns -0.575 0.567 W2 8.344083* 1.891 0.062 Q 0.000013*** 4.341 0.000 Insrumenos W1, W 2, Q 1, P 1 Es. Durbin-Wason 2,15 sc R 2 0,59 Es. F 45,50*** R 2 Ajus. 0,56 Es. F (RESET) 0,663 ns Noa: (***), (**) e (*) indica significaivo a 1%, 5% e 10% e ( ns ) não significaivo; ( sc ) ausência de correlação serial. Fone: Dados da pesquisa. À exceção da variável W1 (salário), as demais apresenaram o sinal esperado e foram esaisicamene significaivas (a 1%, 5% ou 10% de significância). Pelos resulados, pode-se afirmar que se houver um acréscimo do preço do óleo diesel de R$1/l, seria necessário um aumeno de aproximadamene R$8/ no preço da bria para que as pedreiras manivessem sua produção consane. O sinal posiivo da variável quanidade indica que as 6 Além das variáveis W1 e W2, foi realizada uma esimação da relação de ofera incluindo a arifa de energia elérica (R$/MWh). Essa variável represena cerca de 6% do cuso de produção das pedreiras, ficando arás dos gasos com explosivos e manuenção do maquinário. No enano, os resulados não foram saisfaórios, dado o baixo valor do R 2 (0,45) e da não significância da referida variável, que ambém não apresenou o sinal esperado. 9

firmas somene aumenam sua quanidade oferada de bria mediane um reajuse posiivo no preço. O baixo valor do coeficiene esimado para a variável Q indica que a ofera é basane sensível a aumenos no preço, o que pode ser explicado pela possibilidade de mudança na quanidade produzida em curo período de empo. Segundo especialisas do seor que auam na RMSP, a produção de bria esá direamene relacionada à capacidade de produção horária de seus equipamenos. Assim, para que se enha uma maior produção, é necessário que se obenha melhor desempenho da configuração e esruura auais. A firma pode facilmene dobrar as horas rabalh adas e, dessa forma dobrar sua produção. Porém, se a empresa já possui a escala de horas complea e não possui dias livres para produção, a ampliação esruural é ineviável. Embora a compra de novos equipamenos, além de dispendiosa, possa demorar, exise a possibilidade do aluguel, que é mais rápida e pode ser uilizada apenas em períodos de grande demanda. A parir das esimaivas da demanda e da relação de ofera pôde-se ober o parâmero que represena o grau de poder de mercado. Conforme especificado no modelo analíico, λ = β 1 α 2. Como β = 1-55.926,44 e α = 0,000013 2, em-se que λ 0, 74. Assim como a expecaiva eórica, o valor de λ esá compreendido no inervalo enre 0 e 1 e sugere que a indúsria de mineração de pedra briada da Região Meropoliana de São Paulo esá disane da siuação de concorrência perfeia, porém não se pode afirmar que se compora como num carel. Para fazer inferências sobre a exisência de poder de mercado, foram realizados eses de hipóese com o parâmero λ ; foi uilizada uma esimaiva do desvio padrão de λ, obida por meio de um boosrap. No procedimeno foram realizadas 1000 ierações para as equações (9) e (11) e calculado um λ em cada uma delas, ob endo-se, com esse expediene, uma esimaiva da variânci a. Na Tabela 3 são apresenados o desvio-padrão calcula do, bem como os eses de hipóese do parâmero comporamenal. Tabela 3 Esimaiva do desvio-padrão de λ por boosrap e ese de hipóese do comporameno das firmas indúsria de mineração de pedra briada da RMSP Esaísica λ Desv-pad. Compeição Perfeia Colusão Courno-Nash (H o : λ = 0, H a : λ > 0 ) (H o : λ = 1, H a : λ < 0 ) (H o : λ = 0, 5, H a : λ 0, 5) 0,74 0,0077 65,7370 RH0-64,7148 RH0 0,5111 Noa: ( RH0 ) Rejeia-se a hipóese nula a 1% de significância. Fone: Dados da pesquisa. Pelos resulados da Tabela 3, pode-se afirmar que ano a hipóese de concorrência perfeia quano a de carel foram rejeiadas a 1% de significância. O mais adequado, pelo ese de λ = 0, 5, seria incluir a indúsria de mineração de pedra briada da RMSP na siuação conhecida como equilíbrio de Courno-Nash. Segundo Seen e Salvanes (1999), um parâmero λ inermediário, como o que foi obido nese esudo, indica um considerável poder de mercado e alo mark-up. De fao, o índice de Lerner calculado indica que as firmas do seor cobram preços, em média, 30% superiores ao cuso marginal 7. As especificidades da produção e do mercado de bria corroboram o resulado obido para o parâmero comporamenal. Como argumenam Neves e Silva (2007), o desenvolvimeno de uma área aé o inicio da exploração requer grande capacidade 7 No conexo do modelo em esudo, o índice de Lerner é represenado por P L = λ Q Q P = λ ε P 10

financeira própria, ou acesso a linhas de financiameno, devido à presença de cusos irrecuperáveis. Dessa forma, o mercado ende à oligopolização devido às barreiras à enrada. Além disso, o fao de a pedra briada ser uma commodiy e sua elasicidade-preço ser baixa, não suscia guerras de preços enre as firmas, nem invesimenos em diferenciação ou diversificação de produos, aumenando as perdas poenciais aos consumidores advindas do exercício do poder de mercado. A relaiva esabilidade do seor de consrução civil no período esudado poderia ser aponada como mais uma caracerísica faciliadora do exercício do poder de mercado. O referido seor depende da indúsria de pedra briada para o desenvolvimeno de suas aividades, dada a essencialidade do insumo e a dificuldade de subsiuí-lo. Assim, a regularidade de pedidos e sua elevada freqüência em épocas de expansão da consrução civil faciliam a formação de acordos enre as firmas e cobrança de preços mais alos. Todavia, como discue Oliveira e al. (2008), exisem alguns elemenos que dificulam o exercício do poder de mercado no seor de pedra briada. Por um lado, os compradores do produo são, em sua maioria, grandes consruoras, concreeiras e empreieiras, empresas que em um poder de barganha maior; por ouro, o seor apresena alo grau de informalidade, o que aumena a concorrência enre as firmas. A desconsideração da informalidade, uma limiação dese esudo, pode er feio com que a elasicidade-preço da demanda enha sido subesimada e, por conseqüência, superesimado o poder de mercado. 6. CONCLUSÃO A pedra briada faz pare de uma cadeia produiva ampla. Traa-se de um insumo essencial para uma variedade de aplicações em edificações residenciais, consrução e manuenção de esradas de rodagem, aeroporos, barragens, obras de saneameno e fundações ec. Devido às suas caracerísicas de commodiy, reduzida possibilidade de subsiuição, mercado com caracerísicas regionais em função do alo cuso de ranspore e com significaivas barreiras à enrada, o seor apresena ala possibilidade de exisência e exercício do poder de mercado. Diane dessa realidade, ese esudo eve como objeivo analisar o poder de mercado na indúsria de mineração de pedra briada da RMSP. Os resulados obidos com a esimação das curvas de ofera e demanda confirmaram a expecaiva de baixa-elasicidade preço da demanda, que é mais um elemeno faciliador do exercício do poder de mercado, e permiiram classificar o seor como um oligopólio em equilíbrio do ipo Courno-Nash. Pôde-se concluir, pelo elevado valor do parâmero de condua (0,74), que as firmas exercem um poder de mercado relaivamene alo e podem cobrar preços cerca de 30% maiores que seu cuso marginal sem que sua posição no mercado seja prejudicada. Acredia-se que al resulado poderia fundamenar políicas públicas no âmbio do Sisema Brasileiro de Defesa do Consumidor que visem maior concorrência nessa indúsria. Embora a uilização da meodologia da NEIO não permia direamene confirmar ou refuar a exisência do carel pelo qual algumas empresas do seor foram condenadas, os resulados do arigo levam à conclusão de que uma imporane precondição para a práica de fixação coordenada preços, qual seja, o alo poder de mercado das firmas, é uma caracerísica inerene ao seor no período esudado. Embora as conclusões possam ser er sofrido cero prejuízo devido ao elevado índice de informalidade exisene no seor, elas são corroboradas pelas especificidades do mercado de bria desacadas ao longo do rabalho. O possível exercício do poder de mercado pelas firmas nessa indúsria poderia ser prejudicial à sociedade como um odo quando se considera políicas do Governo Federal, como o Programa de Aceleração do Crescimeno, que envolve obras com elevada demanda de pedra briada, como a 11

consrução, duplicação e recuperação de esradas e ferrovias e a ampliação de poros e aeroporos. Além disso, o Brasil apresena uma grande demanda reprimida por agregados devido ao elevado défici habiacional, o que aumena a ineficiência gerada pela práica de preços acima do cuso marginal. Sugere-se, para novos esudos, a uilização de modelos dinâmicos da NEIO, que possibiliam capar o diferencial de poder de mercado relacionado ao curo e longo prazo, bem como o cálculo da perda de bem esar ou perda moneária (Deadweigh Welfare Loss DWL) que a sociedade sofre em função do exercício do poder de mercado de uma firma ou indúsria. REFERÊNCIAS ANP Agência Nacional do Peróleo, Gás Naural e Biocombusíveis. Levanameno de preços. Disponível em: hp://www.anp.gov.br/preco/prc/resumo_mensal_index.asp. Acesso em 13/012008. BORENSTEIN, S.; BUSHNELL, J.; KNITTEL, C. R. Marke Power in Elecriciy Markes: Beyond Concenraion Measures. Energy Journal, v. 20, n. 4, p. 65-88, 1999. BRESNAHAN, T. F. The Oligopoly Soluion Concep is Idenified. Economic Leers, v. 10, n. 1-2, p. 87-92, 1982. BRESNAHAN, T. F. Empirical sudies of indusries wih marke power. In: SCHMALENSEE, R.; WILLING, R. (Orgs.). Handbook of Indusrial Organizaion, vol. 2. Norh-Holland, 1989, p. 1011-1057. CADE Conselho Adminisraivo de Defesa Econômica. Guia práico do CADE: a defesa da concorrência no Brasil. 3 ed. São Paulo: CIEE, 2007. 112p. CARLTON, D. W; PERLOFF, J. M. Modern Indusrial Organizaion. 4 ed. Upper Saddle River: Pearson, 2005. 822p. DEODHAR, S. Y.; PANDEY, V. Degree of Insan Compeiion: Esimaion of Marke Power in India's Insan Coffee Marke. Indian Insiue of Managemen Ahmedabab India. Working Paper n 2006-10-02, Índia, 2006. Disponível em: h p://www.iimahd.erne.in/publicaions/daa/2006-10-02_sdeodhar.pdf. Acesso em: 10/01/2009. DEODHAR, S.Y.; SHELDON, I. M. Is Foreign Trade (Im)perfecly Compeiive? An Analysis of he German Marke for Banana Impors. Journal of Agriculural Economics, v. 46, n. 3, p. 336-348, 1995. DNPM Deparameno Nacional de Produção Mineral. Sumário Mineral 2008. Disponível em: hp://www.dnpm.gov.br/asses/galeriadocumeno/sumariomineral2008/agregados.pdf. Acesso em: 19/01/2009. FIESP Federação das Indúsrias do Esado de São Paulo. Indicador de Nível de Aividade INA. Disponível em: hp://www.fiesp.com.br/economia/levanameno- conjunura.aspx. Acesso em 13/01/2009. 12

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