Origem: PRT da 15ª Região São José dos Campos/SP Órgão Oficiante: Dr. Alexandre Salgado Dourado Martins Interessado 1: Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Motéis, Bares, Restaurantes e Similares de São José dos Campos e Região SINTHOTEIS/SJC Interessado 2: Churrascaria Gaúcha Romani Ltda. Assuntos: Liberdade e Organização Sindical 08.01.03 EMENTA: RECURSO. HOMOLOGAÇÃO DAS RESCISÕES CONTRATUAIS EM SINDICATO DISTINTO DO QUE REPRESENTA A CATEGORIA PROFISSIONAL. Não configurada conduta antissindical da denunciada, pois o próprio sindicato denunciante foi responsável pela homologação das rescisões contratuais em sindicato diverso, face à sua recusa em promover as homologações, fundada na ausência de recolhimento da contribuição assistencial. Matéria afeta à legitimidade concorrente da entidade sindical recorrente. Recurso conhecido e não provido. Promoção de arquivamento que se homologa. I RELATÓRIO Trata-se de recurso administrativo (fls. 20/24), interposto pelo Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Motéis, Bares, Restaurantes e Similares de São José dos Campos e Região, contra decisão de arquivamento liminar da Representação 000476.2012.15.002/5-41, em que Órgão oficiante não vislumbrou hipótese de intervenção do Ministério Público do Trabalho, ponderando que os direitos supostamente violados possuem natureza eminentemente patrimonial e individual, atingindo um número pequeno de trabalhadores. Além disso, asseverou que é atribuição do próprio denunciante promover medidas necessárias para impedir que as rescisões contratuais sejam homologadas em sindicato distinto daquele que representa a categoria profissional. Sustenta o recorrente, em síntese, que a prática ilegal de homologação das rescisões contratuais em outra cidade vem sendo adotada 1
frequentemente com todos os trabalhadores dispensados, tornando-se evidente a violação de direitos individuais homogêneos, o que estaria a ensejar a atuação do Ministério Público do Trabalho. Contrarrazões apresentadas às fls. 26/29. Foi mantida a promoção de arquivamento liminar (fls. 56/59), enfatizando-se que se trata de disputa de representação sindical que deve ser sanada pelo próprio sindicado denunciante. É o breve relatório. II ADMISSIBILIDADE Recurso administrativo e contrarrazões apresentadas dentro dos prazos previstos no artigo 5º, 1º e 3º, da Resolução CSMPT nº 69/2007. Portanto, deles conheço. III - VOTO O Procurador Alexandre Salgado Dourado Martins promoveu o arquivamento liminar da representação, indeferindo o pedido de instauração de inquérito civil, por entender não estarem presentes fatos que autorizem a intervenção qualificada do Ministério Público do Trabalho, haja vista tratar-se de suposta violação de direitos eminentemente patrimoniais e individuais, sendo do próprio sindicato denunciante a atribuição para promover medidas necessárias para impedir que as rescisões contratuais sejam homologadas em sindicato diverso daquele em que se enquadra a categoria profissional. (fls. 15/17). Em suas razões recursais (fls. 20/24), o sindicato denunciante alega, em síntese, que: a denunciada, ao realizar a homologação dos contratos rescindidos em sindicato diverso estaria afrontando diretamente os direitos dos trabalhadores, além de atentar contra a organização sindical e do trabalho; que há imposição de deslocamento dos trabalhadores para outros municípios a fim de que 2
se realize a homologação da rescisão; que os fatos configuram conduta antissindical, devendo ser investigados pelo MPT. Às fls. 26/29, a Churrascaria Gaúcha Romani II Ltda. apresentou contrarrazões, em que relata situação diversa da alegada pelo sindicato denunciante. De acordo com a denunciada, os empregados da empresa estariam fazendo as homologações dos contratos rescindidos em sindicato diverso da categoria porque o denunciante teria se negado a realizar as homologações dos empregados, em face do atraso ou falta de pagamento da contribuição assistencial. Segundo a denunciada, o sindicato denunciante só passou a homologar as rescisões dos empregados da empresa após a assinatura de um termo de confissão de dívida de contribuição assistencial (fls. 36/37). Além disso, aponta que a cláusula 52 da CCT (fls. 30/54) é abusiva, ao prever que os empregados só podem apresentar cartas de oposição à contribuição assistencial pessoalmente. O Membro oficiante manteve a decisão de indeferimento da instauração de inquérito civil (fls. 56/59), vislumbrando que o verdadeiro objetivo do Sindicato denunciante é que o Ministério Público do Trabalho promova a cobrança das contribuições assistenciais, na medida em que a denunciada, ao submeter as rescisões à entidade sindical diversa, conseguiu uma saída à não homologação pelo Sindicato das rescisões dos trabalhadores que não recolhiam a contribuição assistencial. Compulsando os autos, verifico a plausibilidade das ponderações trazidas em sede de contrarrazões, bem assim dos argumentos apresentados pelo douto Procurador oficiante. Nesse esteio, verifica-se que o termo de rescisão da empregada Neide Aparecida dos Santos Reis apenas foi homologado em 14/09/2012 (fls. 38/39), após a assinatura do acordo em que a empresa reconhece a dívida referente às contribuições assistenciais. Além disso, a entidade sindical assinou TAC nos autos da Representação 000158.2012.15.002/9-41 autuado em razão de representação efetivada pela Gerência Regional do Trabalho quanto à recusa injustificada de homologação das rescisões contratuais (anexado à contracapa 3
destes autos)-, em que se comprometeu a realizar a homologação da rescisão contratual de qualquer trabalhador, independentemente da regularidade no recolhimento das contribuições assistenciais pela empresa. É importante ressaltar, de igual maneira, que a questão sobre a homologação de rescisão por sindicato diverso da categoria foi judicializada através da reclamatória trabalhista 000253-91.2011.5.15.0023, entendendo o douto juízo, no caso examinado, que não houve vício de consentimento ou prejuízo da reclamante na homologação da rescisão contratual perante o Sindicato dos Empregados em Edifícios de Taubaté e Região. Assim, entendo por não configurada conduta antissindical da denunciada, pelo contrário, o que se verifica é que o próprio denunciante foi responsável pela homologação das rescisões contratuais em sindicato diverso da categoria. Ademais, ainda que assim não fosse, também não há como discordar do Membro oficiante, sob outro aspecto, porquanto se acaso houver violação de direitos dos trabalhadores que o sindicato recorrente afirma representar, a própria entidade sindical possui legitimidade para intentar o remédio jurídico adequado perante a Justiça do Trabalho, haja vista que pode atuar como substituto processual da categoria profissional, a teor do inciso III do art. 8º da Constituição Federal, que assegura essa legitimidade de forma ampla e irrestrita, segundo já sedimentado na jurisprudência do Excelso Supremo Tribunal Federal. É prescindível a atuação do Ministério Público no presente caso, a teor de reiterados precedentes da Câmara de Coordenação e Revisão, dentre eles o decidido nos processos PGT/CCR nº 4941/2010, relatora Lucinea Alves Ocampos, e PGT/CCR nº 1848/2011, relatora Vera Regina Della Pozza Reis. Diante do exposto, entendo que o apelo não deve prosperar, não restando campo para atuação do Ministério Público do Trabalho no feito em tela, devendo ser mantido o indeferimento de instauração de inquérito civil. 4
III CONCLUSÃO À vista do exposto, conheço do recurso e nego-lhe provimento. Em consequência, homologo a promoção de arquivamento da Representação 000476.2012.15.002/5-41. Brasília, em 10 de dezembro de 2012. Antonio Luiz Teixeira Mendes Membro da CCR - Relator 5