CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Origem: PRT 9ª Região Interessado 1: Sigiloso Interessados 2: Município de Curitiba (Secretaria Municipal de Saúde) e Cotrans Locação de Veículos Ltda. Assunto: Meio Ambiente de Trabalho 01.01 Procurador oficiante: Alberto Emiliano de Oliveira Neto MEIO AMBIENTE DE TRABALHO Ausência de diligências suficientes que autorizem o encerramento das investigações. Pela não homologação da promoção de arquivamento. RELATÓRIO Trata-se de procedimento administrativo instaurado com gênese em denúncia sigilosa em face do município de Curitiba e da empresa Cotrans Locação de Veículos Ltda., noticiando supostas irregularidades no meio ambiente de trabalho (ausência de sala de descanso destinada a motoristas de ambulâncias). O ilustre Órgão ministerial oficiante promoveu o arquivamento do procedimento sob os seguintes fundamentos (fl. 08-v), verbis: 1
Respeitado entendimento contrário, não vislumbro lesão a direitos metaindividuais capaz de ser combatida mediante a propositura de ação civil pública. Deve-se destacar, primeiramente, que compete ao Ministério Público do Trabalho, dentre outras atribuições, promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção de interesses individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos. Não há menção, contudo, a legitimidade para tutelar direitos meramente individuais em juízo, como é caso noticiado na presente representação. Especificamente representação faz menção a dois trabalhadores que não teriam acesso a sala de descanso. Igualmente, considerando-se as novas diretrizes fixadas pelo Planejamento Estratégico do Ministério Público do Trabalho, avalio o caso a partir do Precedente nº17 do Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho, segundo o qual a atuação do Ministério Público deve ser orientada pela conveniência social. Já em tramitação perante esta CCR/MPT, o presente feito foi convertido em diligência, conforme despacho às fls. 13/15, lançado por esta Relatora, objetivando a remessa a esta Câmara da pasta espelho em que se encontrava a denúncia original a fim de viabilizar a análise revisional. Atendida a diligência supra, conforme pasta espelho anexada à contracapa do presente procedimento. certidão à fl. 25. Autos reencaminhados a esta Relatora, conforme É o relatório. 2
VOTO-FUNDAMENTAÇÃO Examinando o feito, o ilustre colega promotor do indeferimento em tela, embasa-no ao argumento de que a matéria, como posta, não imprime a necessária repercussão social a justificar a atuação do Ministério Público do Trabalho. Discordo, respeitosamente, de tal conclusão, uma vez que se constata, do exame dos presentes autos, que o digno Procurador neles oficiante procedeu ao encerramento sumário do feito, sem o devido aprofundamento investigatório apto a suportar o entendimento de que a repercussão social das lesões aqui denunciadas não se mostra significativamente suficiente a caracterizar conduta com consequências que reclamem a pronta atuação deste Parquet trabalhista. A ausência, nestes autos, de ação persecutória do Ministério Público do Trabalho, no que respeita à dimensão das lesões denunciadas faz incompleta a necessária instrução investigatória. Consta dos autos a informação que os trabalhadores, motoristas de ambulância da prefeitura de Curitiba, não possuem local adequado destinado a descanso, tendo que repousar no interior dos veículos. 3
Considerando as normas derivadas dos arts. 69 e 71 da Consolidação das Leis do Trabalho, afora eventual existência de Convenções Coletivas ou Acordos Coletivos de Trabalho e as cautelas previstas na NR nº32 do Ministério do Trabalho e Emprego, a qual normatiza as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde em geral, dentre estes os motoristas de ambulância, entendo que a usufruição de intervalo intrajornada no interior de ambulâncias revela-se inadequada, haja vista os riscos a que expostos os obreiros e a não efetividade das regras legais acerca de intervalos intrajornada. Ora, recentemente o Colendo Tribunal Superior do Trabalho posicionou-se no sentido de que as atividades desenvolvidas por motoristas de ambulância fazem jus a percepção de adicional de insalubridade, já que desempenhadas em ambiente exposto a doenças infectocontagiosas. Nesse sentido, o seguinte julgado: REEXAME NECESSÁRIO E RECURSO ORDINÁRIO EM AÇÃO RESCISÓRIA. (..) II - VIOLAÇÃO LITERAL DE LEI. ARTIGO 195, 2º, DA CLT. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. PROVA PERICIAL. SÚMULA Nº 410 DO TST. INCIDÊNCIA. Conquanto o art. 195, 2º, da CLT estabeleça que a caracterização da insalubridade demanda a realização de perícia, a obrigatoriedade da prova técnica não é absoluta, podendo ser dispensada desde que presentes outros elementos que demonstrem a efetiva exposição. O Anexo 14 da Norma Regulamentar nº 15 da Portaria nº 4
3.214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego dispõe acerca das atividades insalubres por exposição a agentes biológicos, dentre elas, consta o -trabalho ou operações, em contato permanente com [...] pacientes, em isolamento por doenças infecto-contagiosas, bem como objetos de seu uso, não previamente esterelizados-. No caso em exame, o Réu laborava como motorista de ambulância, atividade que, embora não esteja literalmente descrita no citado Anexo 14 da NR-15, sugere forte plausibilidade da exposição do trabalhador aos agentes biológicos, de modo que se poderia cogitar a dispensa da prova técnica e do apego a outros elementos de convicção dos autos. (grifos nossos) O Regional, na decisão rescindenda, soberano no exame das provas, decidiu pela desnecessidade da perícia, de tal sorte que, para se concluir em sentido diverso, como pretende o Município Recorrente, indispensável o reexame de fatos e provas do processo matriz, procedimento defeso em ação rescisória com fundamento no inciso V do art. 485 do CPC, consoante exegese da Súmula nº 410 do TST. Reexame necessário e recurso ordinário não providos. (RXOF e ROAR - 83700-90.2007.5.22.0000, Relator Ministro: Emmanoel Pereira, Data de Julgamento: 13/03/2012, Subseção II Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: 16/03/2012) destacados apenas os trechos atinentes à matéria versada nos presentes autos. Com efeito, muito embora a denúncia sigilosa relate como atingidos apenas 02 trabalhadores, in casu, a irregularidade apontada diz respeito ao meio ambiente de trabalho, matéria e meta de prioridade no atendimento pelo MPT, que pode estar atingindo a outros trabalhadores do mesmo setor. Assim, não vejo, pois, como concordar com o arquivamento proposto pelo digno colega Oficiante, fazendo-se necessária 5
a colheita de outros elementos de informação acerca da atual situação com que opera a denunciada, para que se possa concluir pelo cabimento ou não do encerramento da tarefa persecutória ao encargo do MPT. CONCLUSÃO Pelo exposto, voto pela NÃO- HOMOLOGAÇÃO da proposta de arquivamento às fls. 08-v, determinando o retorno dos autos à origem para regular processamento. Deixo, no entanto, de aplicar o inciso II, do 4º, do art. 10 da Resolução CSMPT nº69/07, devendo a designação atender às práticas da Regional. Brasília, 23 de março de 2012. VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora-Geral do Trabalho Coordenadora da CCR/MPT Relatora ffpam 6