XVIII CONGRESSO DE DIREITO TRIBUTÁRIO EM QUESTÃO - EDIÇÃO 2019 28 a 30 de junho de 2019 Hotel Serra Azul - Gramado, RS Presidente de Honra - Paulo de Barros Carvalho Professor Homenageado - Prof. Desembargador Francisco José Moesch
Falar sobre a histórica e necessária Reforma Tributária no Brasil, ao ensejo do XVIII Congresso Brasileiro de Direito Tributário em Questão, é também oportunidade que se apresenta para uma homenagem ao Presidente de Honra, Dr. Paulo de Barros Carvalho pela sua contribuição técnica e jurídica à Fundação Escola Superior de Direito Tributário FESDT, e aos eventos realizados para valorização da cultura jurídica tributária nacional. Destaca-se de tributação a expressão discriminação de rendas, deixando de lado a verdadeira reforma tributária, que deve incluir a repartição das receitas tributárias entre os sujeitos ativos da obrigação tributária, mas também incluir o outro polo da relação, ou seja, o sujeito passivo, em favor de quem a Constituição de 88, definiu um típico estatuto do contribuinte.
O estudo da reforma deve incluir e valorizar todos os elementos desse arcabouço, especialmente, as chamadas cláusulas pétreas, que dificultam uma reforma que possa modificar normas protetoras do sujeito passivo, promulgadas pela Carta Maior ou aos princípios gerais e tributários, que legitimam a transferência do patrimônio do contribuinte para o Estado, via tributação, sem as cautelas devidas. Surge verdadeiro princípio de vasos comunicantes, entre a reforma tributária historicamente desejada e a reforma do sistema constitucional tributário, uma vez que aquela há de tangenciar princípios constitucionais gerais e tributários que compõem o sistema, quase sempre com vínculo de cláusulas pétreas.
Gomes Canotilho estuda a Constituição como um conjunto de princípios de sentido, reciprocamente relacionados, interdependentes e complementares, apontando global e tendencialmente para a unidade axiológico-normativa do sistema constitucional, que é aberto porque tem uma estrutura dialógica, uma vez que as normas constitucionais captam a mudança da realidade e estão abertas às concepções cambiantes da verdade e da justiça. Essas normas ora tomam a forma de princípios, ora de regras, portanto, nessa concepção, a Constituição Jurídica é um sistema normativo, desde quando todas as suas disposições, mesmo princípios, são normas.[1] O sistema constitucional tributário é a fonte direta das normasprincípio, estuário dos direitos e garantias do contribuinte. [1] José Joaquim Gomes Canotilho, Direito Constitucional, 4ª edição. Editora: Livraria Almedina. p. 117 e ss..
1. Competência tributária da entidade intraestatal arts. 145, 147, 148, 149, 153, 154, 155 e 156 2. Legalidade art. 150, I 2.1. irretroatividade art. 150, III, a 2.2. anualidade - 2º do art. 165 2.3. anterioridade art. 150, III, b 2.3.1. espera nonagésimal art. 150, III, c 2.4. tipicidade art. 145, I a III e 146, III 2.5. eficácia da lei complementar - art. 146 3. Isonomia art. 150, II 3.1. capacidade contributiva art. 145, 1º 4. Proibição de efeito tributário confiscatório art. 150, IV 5. Garantia da unidade econômica e social arts. 150, V, 151, I e II, 152 6. Imunidade art. 150, VI. (citação p. 338 do livro XV Congresso Nacional de Estudos Tributários Cf. Edvaldo Brito. Limites da revisão constitucional. ).
A reforma tributária prevista na Proposta de Emenda Constitucional 45/2019 traz uma importante alteração nos tributos incidentes sobre o consumo, com a criação do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), que substituiria cinco tributos: três federais - IPI, PIS e CONFINS; um estadual ICMS; e um municipal - ISS. A PEC 45/19 foi fruto de um estudo realizado pelo Centro de Cidadania Fiscal (CCIF), que teve como principal objetivo enfrentar o complexo sistema tributário brasileiro, especialmente no que diz respeito aos tributos incidentes sobre a circulação de bens e serviços. A unificação dos cinco tributos que incidem sobre o consumo em um único imposto surge como solução para simplificar a tributação e a gestão fiscal por parte das empresas, bem como para diminuir o impacto que a guerra fiscal entre os estados e os municípios gera no desenvolvimento econômico do país.
Entre as principais características do IBS, é possível destacar: - O novo imposto será de competência da União, que deverá realizar a repartição da receita tributária entre os três entes federativos; - A arrecadação e a distribuição da receita entre os entes serão realizadas por um Comitê Gestor Nacional, com representantes de todos os entes; - A instituição do IBS deverá ocorrer por meio de Lei Complementar; - O novo tributo será composto de três alíquotas: federal, estadual e municipal, sendo que cada ente poderá definir a própria alíquota;
- Nas operações interestaduais o imposto passará a ser devido no destino, sendo aplicável a alíquota singular dos estados e municípios do destino; - Não haverá possibilidade de concessão de benefício fiscal no IBS, que deverá ser informado pela neutralidade; - As desigualdades regionais deverão ser combatidas pela União; - O novo imposto trará o fim da seletividade do IPI e do ICMS, tendo em vista a previsão de aplicação da mesma alíquota para todos os produtos, sejam eles essenciais ou supérfluos; - Haverá a possibilidade de instituição de impostos seletivos pela União para desestimular o consumo de determinados bens, serviços e direitos.
A proposta de reforma traz, ainda, duas regras de transição. A primeira, relativamente à substituição dos tributos IPI, ICMS, ISS, PIS e CONFINS pelo IBS, deverá ocorrer em 10 anos, sendo que nos primeiros 2 anos seria cobrada uma alíquota de 1%, a ser reduzida da COFINS, de forma a evitar aumento da carga tributária. Nos seguintes 8 anos, haverá uma redução progressiva de todos os tributos e um aumento do IBS na mesma proporção. Já a segunda regra de transição diz respeito à repartição de receitas do IBS entre estados e municípios, que deverá ser realizada em 50 anos, de forma gradual, sendo que nos 20 primeiros anos será mantida a receita atual, corrigida pela inflação, com a parcela referente ao crescimento do PIB tributada pelo destino. Nos 30 anos seguintes, a tributação de todo o IBS será encaminhada gradualmente para o destino.
Como se verifica, a proposta de emenda à Constituição pretende simplificar o sistema brasileiro de tributação de bens e serviços, através de uma legislação uniforme e cobrança centralizada, bem como eliminar a guerra fiscal entre estado e municípios, ao mesmo tempo em que mantém a autonomia dos entes federativos, que poderão administrar as próprias alíquotas do IBS. Ainda que a proposta tenha sido fruto de longo estudo e esteja em conformidade com o padrão mundial de tributação do consumo, é possível encontrar na doutrina inúmeras críticas ao novo sistema de tributação proposto. Será necessário nos debruçarmos sobre o assunto para que se possa definir a sua pertinência e até mesmo a necessidade de eventual ajuste.
Logo, importante repisar, qualquer reforma tributária não pode modificar, para prejudicar direitos e garantias individuais integrantes do núcleo irreformável da Constituição. Somente o Poder Tributário, com origem exclusiva no Poder Constituinte, tem competência para modificar esse núcleo de normas protetoras do contribuinte.
Existem outros princípios, que não estão alinhados no sistema constitucional tributário, mas integrantes do núcleo de direitos e garantias individuais, que protegem o sujeito passivo na relação jurídica tributária. São eles verdadeiras limitações aos procedimentos administrativo e judicial de incidência da norma que regula a relação jurídica tributária.
1. Autoridade competente art. 5º, LIII 2. Devido processo legal art. 5º, LIV 3. Contraditório e ampla defesa art. 5º, LV 4. Proibição de provas obtidas por meios ilícitos art. 5º, LVI 5. Direito a advogado e a permanecer calado art. 5º, LXIII 6. Inexistência de prisão civil por dívida art. 5º, LXVII 7. Razoável duração do processo art. 5º, LXXVIII (p. 339-340 da obra XV Congresso Nacional de Estudos Tributários).
MUITO OBRIGADO! Desembargador FRANCISCO JOSÉ MOESCH moesch@tjrs.jus.br Tribunal de Justiça do RS: Av. Borges de Medeiros, nº 1565, Gabinete 440, Porto Alegre/RS (51) 3210. 6210