Câncer de pulmão precoce: Cuidados Perioperatórios

Documentos relacionados
ESTADIAMENTO E PRÉOPERATORIO OS STEPS DO PACIENTE CIRÚRGICO

ESTADIAMENTO OS STEPS DO PACIENTE CIRÚRGICO

CASO CLÍNICO cirúrgico com câncer de pulmão

NÓDULO PULMONAR SOLITÁRIO

16/04/2015. Insuficiência Cardíaca e DPOC. Roberto Stirbulov FCM da Santa Casa de SP

IIIa-N2: Papel para Cirurgião no Tratamento Multidisciplinar

Avaliação Pré-Operatória: Visão do Pneumologista. Luciana Tamiê Kato Morinaga Pneumologista

Analgesia Pós-Operatória em Cirurgia de Grande Porte e Desfechos

CASOS CLÍNICOS IMUNOTERAPIA SUCESSOS E INSUCESSOS

CRITÉRIOS E EXAMES COMPLEMENTARES PARA REALIZAÇÃO DE ANESTESIA PARA EXAMES DIAGNÓSTICOS

FDG PET no Câncer de Pulmão: Influências das doenças granulomatosas

José R. Jardim Escola Paulista de Medcina

Importância do Estadiamento. Cirurgia Cabeça e Pescoço - HMCP Cirurgia Torácica - HMCP. J. L. Aquino

Atividade dos Inibidores de Checkpoints Imunológicos nas Metástases Cerebrais

14/08/2019 CURSO INTENSIVO DE FUNÇÃO PULMONAR 8:20 08:30 Abertura 8:30 08:55 Fisiologia pulmonar e a qualidade dos testes de função pulmonar 8:55

É um nódulo pulmonar?

Câncer de Endométrio Hereditário

Estratificação de risco cardiovascular no perioperatório

Abordagem dos Nódulos Pulmonares em Vidro Fosco e dos Nódulos Sub-sólidos

Marcos Sekine Enoch Meira João Pimenta

Câncer de Pulmão Tratamento cirúrgico atual Indicações e Técnicas

Estadiamento do câncer de pulmão. Disciplina de Cirurgia Torácica UNIFESP +

Manejo de Lesão Cerebral Metastática Única. Eduardo Weltman Hospital Israelita Albert Einstein Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Fábio José Haddad. Departamento de Cirurgia Torácica Hospital do Câncer A. C. Camargo. Hospital Sírio-Libanês Cirurgião Torácico

manejo do nódulo pulmonar subsólido Dr. Mauro Esteves -

Programa Oficial Preliminar

Câncer de Pulmão. Tratamento Cirúrgico DR. RAFAEL PANOSSO CADORE

Como o conhecimento da inflamação e dos biomarcadores podem nos auxiliar no manejo da asma?

USG intra-op necessária mesmo com boa Tomografia e Ressonância?

Declaração de possíveis conflitos de interesses

Hospital São Paulo SPDM Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina Hospital Universitário da UNIFESP Sistema de Gestão da Qualidade

PESQUIZA DE CÁNCER DE PULMÓN POR TOMOGRAFIA DE BAJA DENSIDAD

I PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E ATUALIZAÇÃO EM ANESTESIOLOGIA E DOR DA SARGS ANESTESIA PEDIÁTRICA: PODEMOS REDUZIR A MORBIMORTALIDADE?

Trabalho de biologia

Residência Médica 2018

DIRETRIZES DE UTILIZAÇÃO DO PET CT ONCOLÓGICO NO PLANSERV.

Radioterapia estereotática extracraniana (SBRT) nos tumores iniciais de pulmão: INDICAÇÕES E RESULTADOS

Recomendações Portuguesas para o tratamento da infeção por VIH-1 e VIH

Rastreamento para Câncer de Pulmão

Projeto de qualificação

Estadiamento do Mediastino. PET-CT vs. Mediastinoscopia vs. EBUS

Câncer de Pulmão. Dra. Rosamaria Cúgola Ventura Mestrado em Física Médica 24/06/2016

Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC)

Serviço de Cirurgia Torácica RELATÓRIO DE ACTIVIDADES

QUINTA-FEIRA - 1º DE OUTUBRO

Detecção precoce de cardiotoxicidade no doente oncológico deve ser efectuada sistematicamente? Andreia Magalhães Hospital de Santa Maria

Manejo do Derrame Pleural Maligno. Roberta Sales Pneumologia - InCor/HC- FMUSP Comissão de Pleura da SBPT

Altair da Silva Costa Júnior

SISTEMA CARDIOVASCULAR

16º Fórum de Fisioterapia em Cardiologia Auditório 12

NOVAS ESTRATÉGIAS DE RADIOTERAPIA NO TUMOR ESTADIO III DE PULMÃO. PAULO LÁZARO DE MORAES Abril 2013

Reirradiação após recidiva de tumor em cabeça e pescoço : Indicações e Resultados. Priscila Guimarães Cardoso R3 - Radioterapia

09/07/2014. DPOC Doença inflamatória sistêmica. Manejo das doenças cardiovasculares difere no paciente com DPOC?

Programa Oficial. 04/08/ Sábado. Curso Intensivo de Doenças Intersticiais. Hospital da Clínicas da UFG

Algoritmo de condutas para tratamento de câncer de pâncreas

Valéria Mika Massunaga Enfermeira do setor da Radioterapia do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein

Enfisema. Enfisema. Enfisema. Redução Volumétrica. Tratamento Broncoscópico. DPOC Mecanismo / Consequencias. Tratamento: Opções vs Distribuição

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo COMISSÃO DE CULTURA E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA - CCEX COMISSÃO DE ENSINO INSTITUTO DO CORAÇÃO

Terapias Anti-inflamatórias são opções para o tratamento tanto da hiperglicemia como da Aterosclerose

ONCOLOGIA PROGRAMA 22/24 NOVEMBRO 18 CONDUZIR O PROGRESSO, ESTABELECER PRIORIDADES PRELIMINAR 19 CRÉDITOS CATEGORIA. 1 ESMO - MORA ACREDITAÇÃO

Sumário 1. OBJETIVO... 3

TRANSFUSÃO DE HEMÁCIAS. Gil C. De Santis Hemocentro de Ribeirão Preto

José Rodrigues Pereira Médico Pneumologista Hospital São José. Rastreamento do Câncer de Pulmão: Como e quando realizar

Papel dos Betabloqueadores e Estatinas

Imunoterapia em Outras Neoplasias Torácicas. Carolina Kawamura Haddad Oncologia Clínica

Venho por meio deste , encaminhar a candidatura da chapa encabeçada por mim como Coordenador da Comissão de Tabagismo.

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANSMISSIVEIS. Doenças Renais Parte 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

15º FÓRUM DE FISIOTERAPIA EM CARDIOLOGIA AUDITÓRIO 10

Guia de Serviços Atualizado em 04/04/2019

RESIDÊNCIA MÉDICA SUPLEMENTAR 2015 PRÉ-REQUISITO (R1) / CLÍNICA MÉDICA PROVA DISCURSIVA

CENÁRIO DO CÂNCER DE PULMÃO NO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA

Vigilância das Doenças Crônicas Não

Síndromes Coronarianas Agudas. Mariana Pereira Ribeiro

Case Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Estudos Oncológicos por Tomografia Computorizada Siemens AG 2013 All rights reserved. Answers for life.

TABAGISMO: Abordagem de Fumantes com Doenças Crônicas Relacionadas ao Tabaco (DRT)

Fisiopatologia Tabagismo e DPOC

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doença Cardiovascular Parte 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

RCG 376. prevendo o desfecho

27/04/2016. Diagnóstico e Tratamento da Tromboembolia Pulmonar (TEP) Aguda. Métodos de Diagnóstico na TEP. Efeito da TC no diagnóstico da TEP

SCA Estratificação de Risco Teste de exercício

Classificação dos fenótipos na asma da criança. Cassio Ibiapina Pneumologista Pediatrico Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG,

Recomendações Portuguesas para o tratamento da infeção por VIH-1 e VIH

Síndrome Overlap: diagnóstico e tratamento. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS)

TUMORES NEUROENDÓCRINOS PULMONARES. RENATA D ALPINO PEIXOTO Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Núcleos Clínico-Cirúrgicos InCor

Humberto Brito R3 CCP

ENFERMAGEM ATENÇÃO BÁSICA E SAÚDE DA FAMÍLIA. Parte 26. Profª. Lívia Bahia

CNC- CANINDÉ DIA MUNDIAL DO RIM Tema: Saúde da Mulher: Cuide de seus RINS.

FATORES PREDITIVOS PARA FALHA BIOQUÍMICA APÓS RADIOTERAPIA DE RESGATE EM CÂNCER DE PRÓSTATA, PÓS- PROSTATECTOMIA RADICAL

Atenção Básica: organização do trabalho na perspectiva da longitudinalidade e da coordenação do cuidado

QUARTAS JORNADAS DE PATOLOGIA PULMONAR CRÓNICA ORDEM DOS MÉDICOS - PORTO 9 A 10 FEVEREIRO 2017 PROGRAMA FINAL

14 de setembro de 2012 sexta-feira

Quais as mudanças na revisão do GOLD Fernando Lundgren GOLD HOF SBPT

XXI CONGRESSO CEARENSE DE CARDIOLOGIA PROGRAMAÇÃO PRELIMINAR. 07 de agosto de 2015

M.V. Natália Oyafuso Da Cruz Pet Care Centro Oncológico SP

Vigilância das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) no Brasil

MENSAGEM ESPIROMETRIA ASPECTOS CONTROVERSOS NA INTERPRETAÇÃO CLÍNICA DA ESPIROMETRIA SBPT FUNÇÃO PULMONAR 2007

1969: Miocardiopatia - IECAC

Transcrição:

Câncer de pulmão precoce: Cuidados Perioperatórios Gustavo Faibischew Prado Pneumologista do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz Professor Colaborador do Departamento de Cardiopneumologia da FMUSP Rio, 27 de Abril de 2019

DECLARAÇÃO DE CONFLITO DE INTERESSE Conforme a RDC 96/2008 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, declaro potenciais conflitos de interesse: Participação de cursos e simpósios: Boehringer-Ingelheim, AstraZeneca, Bristol Meyers Squibb Consultoria científica / Palestras: Boehringer-Ingelheim, AstraZeneca, Pfizer, Supera, Bristol Meyers Squibb, Merck Pesquisa Clínica: Boehringer-Ingelheim, Merck KGaA, Bristol Meyers Squibb, Janssen Atividades Associativas: Coordenador da Comissão de Câncer da SBPT Coordenador da Comissão de Ensino da SPPT

CASO CLÍNICO Adenocarcinoma acinar T4 (NS) N0M0 vs. MTPS: T1cN0M0 + T1bN0M0 Homem, 70 anos Tosse Crônica e dispneia mmrc 2 HAS e DM2 controlados Tabagista 50am.

PERGUNTAS MOTIVADORAS Como avaliar? Sequência racional Orientações gerais

PILARES Segurança / Redundância: (Re) checar diagnóstico oncológico (Re) checar estadiamento Educação / Orientação do paciente: Sobre o diagnóstico / Proposta terapêutica Sobre as doenças de base Sobre as estratégias de redução de risco Cuidados perioperatórios: Avaliação de riscos Orientações

PILAR 1: Segurança/ Redundância Segurança / Redundância: (Re) checar diagnóstico oncológico: Timing e extensão (Re) checar estadiamento: Prognóstico e Definição Diagnóstico / Prognóstico Proposta de Tratamento

FLUXOGRAMA ICESP (ADAPTADO, ESTS2014) Estadiamento Geral TC / PET-TC CINTILO ÓSSEA E RM SNC SE QUEIXA OU EIII-IV Imagem suspeita para EIV? NÃO SIM BIÓPSIA EIV? NÃO SIM ESTADIAR O MEDIASTINO (PRÓX ALGORITMO) EIV

FLUXOGRAMA ICESP (ADAPTADO, ESTS2014) Estadiamento Mediastinal TC / PET-TC N2,3? + - ct1 perif N0 EBUS (+EUS?) N2,3? SIM NÃO + - EBUS (+EUS?) N2,3? EC III: QTneo? QRDT-IO? Mediastinoscopia / VATS* N2,3? - + + - Cirurgia

Doença precoce = Paciente cirúrgico? Cuidados perioperatórios: Avaliação de riscos Orientações Doença Precoce PACIENTE IDEAL Ressecável Operável

PILAR 2: Educação / Orientação Educação / Orientação do paciente: Sobre o diagnóstico / Proposta terapêutica Sobre as doenças de base (DPOC, DCV etc) Sobre as estratégias de redução de risco Compreensão Decisão Compartilhada Autonomia & Adesão

AVALIAÇÃO DE RISCO CIRÚRGICO PERFIL DO PACIENTE TÍPICO História tabágica + (80% H, 65% M) DPOC (50%) Cardiopatias (13-26%) Pacientes idosos (mediana 66 anos) Risco após avaliação pré-operatória deve considerar: Presença de doença cardiovascular Extensão da cirurgia vs. Repercussões funcionais Ann Cardiothorac Surg. 2014 Mar; 3(2): 221. Lung Cancer. 2015 Nov; 90(2): 121 127 GBD, The Lancet, Vol. 388, No. 10053, Oct 2016

AVALIAÇÃO DE RISCO CIRÚRGICO AVALIAÇÃO CLÍNICA História Risco cardiovascular: ICo, IC e arritmias Tratamento das condições pré-existentes DPOC: Otimização Clínica: Tratamento conforme guidelines Tabagismo Cessação independente do intervalo até a cirurgia. Reabilitação/Treinamento Físico pré-operatorio Redução significativa de Complicações e LOS Licker M et al. J Thorac Surg. 2017;12:323:33-15 Pehlivan E et al. Ann Thorac Cardiovasc Surg 2011;17:461-8

AVALIAÇÃO DE RISCO CIRÚRGICO Cessação do Tabagismo no Perioperatório Safety Committee of Japanese Society of Anesthesiologists. A guideline for perioperative smoking cessation. J Anesth (2017) 31:297 303

AVALIAÇÃO DE RISCO CIRÚRGICO Exercício Físico Preoperatório Licker M et al. J Thorac Surg. 2017;12:323:33-15 Pehlivan E et al. Ann Thorac Cardiovasc Surg 2011;17:461-8

AVALIAÇÃO DE RISCO CIRÚRGICO Exercício Físico Preoperatório LOS -3 dias CPOp 48% < Steffens D, et al. Br J Sports Med 2018;0:1 9.

AVALIAÇÃO DE RISCO CIRÚRGICO Exercício Físico Preoperatório Desafios no cenário assistencial Disponibilidade Timing Sinergia Alternativas? Orientação de atividade física

AVALIAÇÃO DE RISCO CIRÚRGICO AVALIAÇÃO CARDIOVASCULAR (SBC, 2011) Score ThRCRI: Doença arterial coronariana ou IC (1,5 ponto) Doença cerebrovascular (1,5 ponto) Creatinina pré-operatória > 2,0 mg/dl (1 ponto) Pneumonectonia (1,5 ponto) I e II (0-1 variável; risco 0,9%) Seguir fluxograma de avaliação pulmonar III (duas variáveis; risco 7,0%) Considerar monitorização pós-operatória Negativo IV ( 3 variáveis; risco 11,0%) Considerar teste funcional de isquemia Positivo Tratar DAC Thomas DC et al. Ann Thorac Surg. 2017 Aug;104(2):389-394

MENSAGENS CHAVES AVALIAÇÃO PNEUMOLÓGICA (BTS, ERS, ACCP) VEF1> 1,5L, 80% (Lobectomia) VEF1> 2,0L (Pneumonectomia) DLCO> 80% CIRURGIA VEF1 ou DLCO <80% PPOs <60% > 60% TCPE VO2max 15-20mL/Kg.min -1 (baixo risco) VO2max 10-15mL/Kg.min -1 (risco intermediário) Avaliar VE/VCO2, AT, PuO2, ressecção VO2max < 10mL/Kg.min -1 (alto risco) Tratamentos Alternativos

SUMÁRIO DO PAPEL DO CLÍNICO NO PRÉ-OP Segurança / Redundância: (Re) checar diagnóstico / estadiamento Educação / Orientação do paciente: Entendimento / Decisão Compartilhada / Adesão Cuidados perioperatórios: Avaliação da tolerabilidade (ACV&RESP) Cessação do Tabagismo & Atividade Física Retorno Pós-Operatório Analgesia Controle comorbidades & Sequelas Seguimento (vigilância e survivorship)

CONCLUSÕES

OBRIGADO Gustavo Faibischew Prado gustavo.prado@usp.br "Le doute n'est pas une état bien agréable, mais l'assurance est un état ridicule" Voltaire