Benefícios sociais da política de incentivos à cultura de mamão no Estado do Ceará



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Transcrição:

Benefícios sociais da políica de incenivos à culura de mamão no Esado do Ceará Heliana Mary da ilva Quinino 1 Ahmad aeed Khan 2 Parícia Verônica Pinheiro ales Lima 3 Resumo: Ese esudo analisa o benefício social gerado pelos incenivos governamenais do Ceará aos produores de mamão do esado, no período de 2001 a 2006, considerando como base eórica uma abordagem do excedene econômico de Marshall e os modelos de equações simulâneas. Os resulados aponaram que a ofera de mamão no Ceará em elasicidade-preço ala. Enreano, apesar do comporameno decrescene dos preços, houve aumeno médio significaivo da ofera. A redução nos preços e o paralelo aumeno na ofera foram responsáveis por uma elevação no bem-esar social da população. O excedene econômico oalizou um valor agregado de R$ 3.163.045,00 e per capia de R$ 0,39. Iso revela a imporância de ações voladas para a redução nos cusos de produção como forma de esimular o desenvolvimeno da fruiculura no esado. O benefício social por meio da geração de empregos oalizou R$ 4.690.041,00, sendo R$ 2.814.025,00 correspondenes a empregos indireos, e R$ 1.876.016,00 a empregos direos. Os produores perceberam um incremeno em suas receias médias per capias de 167,05% e agregadas, de 282,74%. Conclui-se que os diversos programas de fomeno à fruiculura projearam o mercado de mamão cearense, gerando uma endência crescene da produção e número de empregos. Palavras-chave: Excedene econômico de Marshall; equações simulâneas; fruiculura. 1 Mesre em Economia Rural, Professora da Universidade Federal do Piauí. E-mail: iana_quinino@yahoo.com.br 2 Eng. Agrônomo Ph.D. Prof Tiular do Depº de Economia Agrícola da Universidade Federal do Ceará. E-mail: saeed@ufc.br 3 Douora em Economia. Professora do Deparameno de Economia Agrícola da Universidade Federal do Ceará. Bolsisa CNPq. E-mail: pvpslima@ufc.br

110 Benefícios sociais da políica de incenivos à culura de mamão no esado do Ceará Absrac: This sudy analyzes social benefis creaed by Ceará governmen incenives o papaya producers from 2001 o 2006. As heoreical basis, i was considered an approach of he economic surplus of Marshall and simulaneous equaions model. Resuls indicae ha he supply price-elasiciy of papaya is very high. In spie of he decrease in quoes, here was a boos in he average amoun supplied. The reducion in prices and increases in quaniy are responsible for he rise in he sociey welfare. The aggregae value of oal and per capia social benefis were of 3,163,045.00 reais and 39 cens of real, respecively. I shows he imporance of acions aken by he governmen o reduce he cos of producion in order o simulae he developmen of frui crops a Ceara sae. The oal social benefis of 4,690,042.00 reais were obained by creaing direc job opporuniies of 1,876,016.00 reais and indirec employmens of 2,814,025.00 reais. The producers received a boos in heir average per capia income and oal revenue of 167.05 percen and 282.74 percen, respecively. As a resul, i is possible o conclude ha many programs relaed o promoe frui producion in Ceará have showed a boosing rend in producion of papaya and in number of employmens creaed. Key-words: Economic surplus of Marshall; simulaneous equaions; frui crop. Classificação JEL: Q 180. 1. Inrodução A imporância das políicas públicas para o desenvolvimeno do seor agrícola é revelada aravés do desempenho dos diversos mercados de produos derivados desse seor. Nese senido, o comporameno da ofera, demanda e preços de mercado funcionam como indicadores dos efeios muliplicadores das políicas implemenadas. Basicamene, as direrizes das inervenções governamenais na agriculura visam à doação de mecanização, invesimenos, irrigação, reinameno, assisência écnica e financeira por meio de crédio dos bancos oficiais aos produores. Essas iniciaivas aplicadas com eficácia e eficiência viabilizam a cadeia produiva e agregam valor ao produo, fomenando a capacidade compeiiva, possibiliando ao seor fazer frene ao cenário mercadológico mundial, além de promover a ampliação de bem-esar para o conexo da sociedade. No esado do Ceará, o seor agrícola é um promoor do desenvolvimeno econômico rural, principalmene no que se refere à geração de renda. A agriculura ocupa 30,8% da população economicamene aiva. O seor da agriculura e da agroindúsria represena 71% das exporações cearenses e 20% do PIB Esadual (DE, 2006, p. 39).

Heliana Mary da ilva Quinino, Ahmad aeed Khan e Parícia Verônica Pinheiro ales Lima 111 Enreano, a produção agrícola radicional é de alo risco, baixo nível écnico, pouco produiva e predominanemene de subsisência, dependene de chuvas que geralmene são irregulares. Grande pare da produção é realizada por pequenos produores, de um modo geral, mais vulneráveis aos riscos. Além disso, de acordo com o Insiuo de Pesquisa e Esraégia Econômica do Ceará (IPECE), 93% do erriório cearense localiza-se na região semiárida do Nordese. Em geral, seus solos apresenam-se com pouca profundidade, deficiências hídricas, pedregosidade e, principalmene, suscepíveis à erosão. Nese conexo, a ariculação de ações para melhorar a esruura produiva, a compeiividade, para garanir a susenabilidade do abasecimeno e o aproveiameno de poencialidades locais, jusifica a implemenação de políicas governamenais. Observa-se que há alguns anos, invesimenos públicos, federais e esaduais, vêm sendo implemenados nese senido no Ceará (DE, 2006, p. 7). Como consequência dessas políicas, a fruiculura vem se desacando no cenário econômico cearense, conribuindo sobremaneira para o PIB e inegração comercial do Esado. O respaldo dessa aividade esá essencialmene na geração de emprego e renda em regiões hisoricamene casigadas pela fala desses recursos. Dados de eagri (2005) aponam que, em 2004, as aividades com a fruiculura empregaram 44.312 rabalhadores, sendo 17.771 empregos direos. Em 2005, os empregos direos expandiram-se em 19,16%, subindo para 21.177. A área culivada passou de 18.044 hecares em 1999 para 37.761 em 2005, ampliando em 19.717 hecares a área planada de fruas. Em 2006, área planada alcançou 43.226 hecares. Para a viabilização da cadeia produiva de fruas, o Esado elegeu o esímulo ao culivo de seis fruas, consideradas de maior poencial em ermos de agriculura irrigada e compeiividade: abacaxi, banana, mamão, manga, melão e uva. Dessas seis fruas beneficiadas, a banana, o melão e o mamão desponam, nessa ordem, com os melhores indicadores de área irrigada, produção e emprego em 2004. Enreano, em ermos de comercialização, verifica-se que no mesmo ano, os maiores indicadores de exporação são, em ordem, o melão e o abacaxi, ficando o mamão em úlimo lugar no ranking, o que caraceriza que a maior parcela da produção cearense de mamão é volada para o abasecimeno do mercado inerno, cerca de 98,5% 4. Conforme Barreo e al. (2002, p. 8), 99,5% do consumo é aendido pela produção do esado. É válido ressalar que, considerano as exporações oais de fruas do Ceará, pare desas é composa pela produção de ouros esados. 4 A maior pare da produção de mamão do esado é do grupo Formosa, uma vez que, [...] nas condições locais, os genóipos do grupo olo (havaí/papaya) manifesam deficiências imporanes como a eserilidade de verão, carpeloidia e baixa produiviade (BARRETO e al., (a), 2002, p. 8).

112 Benefícios sociais da políica de incenivos à culura de mamão no esado do Ceará De acordo com o Agrianual, ano de 2005, o Ceará é o quaro maior produor nacional de mamão. egundo eagri (2006) o esado eve, em 2005, uma área colhida de 1.498 hecares e uma produção de 63.276 oneladas. Em conraparida, em 2000, a área colhida havia sido de 1.182 hecares e a produção, de 39.428 oneladas, o que revela a conribuição posiiva das ações de invesimenos voladas à irrigação nese período. Consideram-se, aqui, as hipóeses de que implemenar medidas de promoção do desenvolvimeno da agriculura significa, sobreudo, promover a ampliação de bem-esar desde o meio rural aé os cenros urbanos; e que o esímulo implemenado no seor primário, em geral, é ransferido à sociedade. Diane diso, a proposa do presene esudo foi promover uma análise do benefício social das políicas de incenivo aos produores de mamão do Ceará no período 2001-2006. Especificamene, esimou-se o benefício social bruo agregado e per capia gerado pela políica de incenivo aos produores de mamão e os benefícios sociais bruos associados à geração de empregos. Esa análise se jusifica uma vez que a invesigação dos efeios sociais das ações esraégicas se maerializa como uma fone de informação pública, bem como um apoio suplemenar ao esforço de avaliação do desempenho da auação políica no seor de fruiculura. 2. Políicas públicas voladas à fruiculura Nesa seção, são apresenadas as principais iniciaivas federais e esaduais voladas para o desenvolvimeno da fruiculura e, consequenemene, do mamão, no esado do Ceará e cujos benefícios são avaliados nese esudo. 2.1 Políicas públicas federais e esaduais para o desenvolvimeno da fruiculura O Nordese em papel relevane no desempenho da fruiculura do Brasil. Concomianemene, a fruiculura é uma aividade inensa que conribui, sobremaneira, para a economia da região. As fruas ropicais são principalmene produzidas nas áreas semiáridas, abrindo uma possibilidade de desenvolvimeno para esas economias hisoricamene fragilizadas. A relevância do esímulo a esse seor produivo é a possibilidade de absorção de mão de obra e geração de emprego e renda nessas regiões. Nesses pariculares, o apoio governamenal represena um papel crucial com iniciaivas de incenivo à fruiculura irrigada, endo em visa as vanagens comparaivas locais de disponibilidade de mão de obra, clima, localização em relação aos principais mercados consumidores.

Heliana Mary da ilva Quinino, Ahmad aeed Khan e Parícia Verônica Pinheiro ales Lima 113 O incenivo governamenal à fruiculura brasileira se baseia em esraégias de apoio à produção, por meio de sisemas de crédio ao produor e da modernização dos serviços gerais, comercialização e das aividades inerenes à fruiculura. Os objeivos básicos são o incremeno da infraesruura do seor e o fomeno à compeiividade. Com eses propósios foram adoadas medidas como: 1. o Programa de Apoio e Desenvolvimeno da Fruiculura Irrigada do Nordese (1997). Foi implemenado com o objeivo de promover a inserção compeiiva do Brasil no mercado inernacional de fruas frescas, aravés do esímulo desa aividade nas regiões semiáridas dos esados nordesinos. Esa esraégia conribuiu, sobreudo, para a geração de emprego e renda nesas áreas; 2. a Companhia Nordesina de Fruas foi criada com o objeivo de ampliar a movimenação financeira para ese seor da economia regional aravés, principalmene, da capação de recursos federais e esaduais para a promoção de invesimenos em infraesruura e a consequene expansão da fruiculura no semiárido; 3. o Programa de Desenvolvimeno da Fruiculura (Prodefrua) Resolução CMN/ BACEN nº 3.095, de 25/06/2003, em como finalidade conceder crédio aos produores de frua do País inseridos no programa de crédio rural, em odo erriório nacional. Ese programa passou a abranger os programas originalmene lançados como Programa de Desenvolvimeno da Viiviniculura (Prodevinho), Programa de Apoio ao Desenvolvimeno da Cacauiculura (Procacau), Programa de Desenvolvimeno da Cajuculura (Procaju) e Programa de Apoio à Fruiculura (Profrua). O maior objeivo do Prodefrua é promover a produção de espécies de fruas com poenciais mercadológicos inerno e exerno; 4. o Programa de Desenvolvimeno da Fruiculura (Profrua) é um programa esruurane e uma das esraégias prioriárias do Minisério da Agriculura, Pecuária e Abasecimeno (Mapa). O objeivo do Profrua é a consolidação dos padrões de qualidade e compeiividade da fruiculura brasileira, mediane as exigências inernacionais de mercado. Ese Programa é composo de diversas esraégias voladas para o aendimeno dos diversos segmenos da fruiculura brasileira; 5. a Produção Inegrada de Fruas (PIF) é uma esraégia europeia da década de 1980, ariculada no Brasil a parir de 1998. O objeivo da PIF é desenvolver méodos, processos, normas, sanções e meodologias de manejo da produção inegrada de fruas no Brasil, respeiando as normas esabelecidas inernacionalmene pela Organização Inernacional de Conrole Biológico (OILB), com visas à obenção de padrões de produção ambienalmene correos e ao aumeno da compeiividade inernacional e da qualidade das fruas brasileiras.

114 Benefícios sociais da políica de incenivos à culura de mamão no esado do Ceará 6. a esraégia de Desenvolvimeno, Produção, Disribuição de Maerial Propagaivo de Frueiras, Organização e Capaciação de Viveirisas, em como objeivos a criação e manuenção de pomares e de frueiras como fone de maerial genéico de micropropagação e macropropagação; produção de mudas para e com associações de viveirisas esraegicamene selecionados; criação de uma infraesruura mínima de reprodução macro e micropropagada; reinameno de viveirisas em ações écnicas e comerciais; faciliação do aendimeno da demanda por meio da execução de ações ecnológicas nas próprias regiões. No Ceará, em coexisência com as esraégias ciadas, podem ser ciadas iniciaivas como o Projeo de Fruas do Ceará cujo objeivo principal é a inensificação da produção de fruas com poencial compeiivo (abacaxi, banana, mamão, melão, manga e uva). Os invesimenos do Projeo Fruas do Ceará baseiam-se em ações de apóio écnico na formação de sisema de cerificação de fruas para exporação; delimiação e manuenção da área livre de moscas das fruas. Essas esraégias esimularam a ampliação da produção, a área irrigada para o culivo de fruas, a demanda do seor por mão de obra e as exporações. O foralecimeno do seor de fruas do Ceará foi reforçado, ambém, com esraégias de invesimeno em infraesruura como: 1. os canais de abasecimeno de água Casanhão e o Canal da Inegração que ampliaram em 40% a disponibilidade de água para a agriculura irrigada; 2. a criação do Insiuo Agropólos do Ceará, em 2002, como uma insiuição de caráer privado, qualificado para presação de serviços, aravés de conrao de gesão, em que foram zoneadas as regiões com maiores poencialidades para a agriculura irrigada; 3. os projeos de irrigação esruurados pelo DNOC (Deparameno Nacional de Obras Conra as ecas) em parceria com o governo do esado; 4. os poros de Mucuripe e Pecém localizados a cerca de 350km das principais áreas produoras - o Poro do Pecém é aualmene o maior poro exporador de fruas do País, em uma esruura moderna, com capacidade para receber navios de grande calado; 5. o Cenro de Formação Tecnológica (Cenec), com 43 unidades espalhadas pelo inerior do esado, formando profissionais e presando serviços aos produores e exporadores. egundo DE (2006), a Políica de Desenvolvimeno do Agronegócio é apoiada, denre ouras, pelas ações de Promoção do Agronegócio da Agriculura Irrigada, Desenvolvimeno Agroindusrial e de Aração de Invesimeno na fruiculura compeiiva.

Heliana Mary da ilva Quinino, Ahmad aeed Khan e Parícia Verônica Pinheiro ales Lima 115 Por fim, merece menção a Políica eleiva de Aração de Invesimenos (Fundo de Desenvolvimeno Indusrial FDI) 5 que conempla diversos segmenos. No seor rural, o segmeno produivo indusrial da agroindúsria é privilegiado pelas ações dessa esraégia, que são: financiameno de equipamenos de irrigação, embalagens de vidro a vácuo, de polieileno e PET, insalação de irrigação, insalação de raameno hidroérmico, casas de vegeação (mudas, rosas, culivos proegidos, secagem de fruas, desidraação), defensivos orgânicos, raores e implemenos (pulverizadores, planadeiras mecânicas, grade mecânica, ec.), semenes e mudas, câmaras frias e de climaização (fruas e horaliças), equipamenos para a indúsria de alimenos (equipamenos de concenração, envase, exração, esufas, aço inox) e insumos para fabricação de alimenos, como adiivos (coranes, conservanes, espessanes). 2.2. O Desenvolvimeno da fruiculura do Ceará pós-políica de fruas egundo a eagri (2006), como consequência das políicas implemenadas, houve incremenos na geração de emprego e renda em regiões hisoricamene casigadas pela fala desses recursos. Ese esudo considera o ano de 2001 como o ano de referência do período ex pos ao Projeo Fruas do Ceará. Assim, em 2005, segundo Ximenes (2006), o culivo de fruas ocupava uma área superior a 29 mil hecares, um aumeno de cerca de 58% desde 2000. Em ermos de produção, no mesmo período, o aumeno foi de 85% - passou de 484 mil para 896 mil oneladas. Projeou-se para 2006, um crescimeno de 22%. O valor bruo da produção em 2005 cresceu 259,8% nos úlimos seis anos, salou de R$ 92.510 milhões em 1999 para R$ 332.860 milhões em 2005. Para 2006, projeou-se o valor de R$ 474.469 milhões. O maior desaque da fruiculura do esado se dá em ermos de exporação. Em 2005, o Ceará foi o quino maior exporador de fruas do País e o quaro maior do Nordese. Na balança comercial cearense, a fruiculura foi o iem que mais cresceu relaivamene aos demais iens exporados, com um acréscimo de 79,7%. No que diz respeio ao mamão, o Brasil ocupa a primeira posição na produção mundial desa frua há pelo menos 10 anos. A produção brasileira do mamão aconece em odos os esados do erriório, enreano, o volume produzido concenra-se na região Nordese do País. No Nordese, os principais esados produores são, por ordem, a Bahia, com 783.600 oneladas em 2002 e 16.930 hecares de área colhida, a Paraíba, com 65.253 oneladas e 1.394 hecares, e o Ceará, com 53.744 oneladas e 1.693 hecares. 5 Dealhameno exraído de Políica de Desenvolvimeno Econômico. Governo do Ceará, 2004, p. 55-70.

116 Benefícios sociais da políica de incenivos à culura de mamão no esado do Ceará O Ceará é o erceiro maior produor de mamão do Nordese e o quaro do Brasil. A culura do mamão ocupou, em 2004, uma área oal de 1.691 ha, dos quais 1.008 ha correspondem a áreas irrigadas. Assim, o mamão, sozinho, represena 3,64% de oda área irrigada do seor de fruas do esado. A culura do mamão gerou 2.120 mil empregos em 2004. Dese oal, 848 corresponderam a empregos direos. Desde os incenivos à fruiculura, a produção esadual aumenou 57,12% de 1999 para 2006, passando de 40.271 para 63.276 oneladas, respecivamene, o que rouxe benefícios sociais à população. 3. Aspecos eóricos da análise de benefício social oal (BT) Com frequência, uma abordagem de avaliação de benefício social é feia, basicamene, por meio da análise de excedene econômico gerado pela implemenação ou não de um deerminado projeo (CRUZ, 1982 apud OUA, 1988). As principais premissas presenes no conceio de excedene econômico de Marshall dizem que a área oal sob a curva de demanda à esquerda de uma dada quanidade represena a uilidade oal desa quanidade e que a curva de ofera reflee os cusos de oporunidade dos recursos variáveis uilizados para produzir cada quanidade. ob a óica da abordagem do excedene econômico de Marshall, alguns auores basearam seus esudos, buscando adapá-los, de uma forma ou de oura, aos seus ineresses de pesquisa. Na lieraura inernacional é possível ciar vários auores: Griliches (1958) esimou os benefícios para a sociedade com a descobera do milho híbrido. A sua análise considerou um deslocameno paralelo e para baixo da curva de ofera, bem como, esimaivas de reornos para uma ofera perfeiamene elásica e para uma ofera perfeiamene inelásica. A demanda foi considerada com elasicidade uniária. Peerson (1967) analisou o reorno social bruo da pesquisa com aves. Adoou as curvas de ofera e demanda radicionais, considerando para a curva de ofera um deslocameno proporcional. chmiz e eckler (1970) avaliaram os ganhos comerciais da agriculura mecanizada para o caso da colhedeira de omae. Uilizaram curvas de demanda e ofera lineares e um deslocameno paralelo da ofera. Akino e Hayami (1975) esimaram os benefícios sociais da pesquisa em melhorameno de arroz no Japão. Consideraram curvas de demanda e ofera com elasicidades consanes e um deslocameno pivoal da curva de ofera. Consideraram, ainda, os efeios da políica de imporação de arroz. Herford e chmiz (1977) avaliaram um modelo semelhane ao de Peerson. No enano, admiiram serem lineares a demanda e a ofera, analisando um deslocameno paralelo para esa úlima.

Heliana Mary da ilva Quinino, Ahmad aeed Khan e Parícia Verônica Pinheiro ales Lima 117 Hayami e Herd (1978) esimaram os benefícios sociais da pesquisa do arroz nas Filipinas. Admiiram curvas de demanda e ofera com elasicidades consanes e um deslocameno pivoal da ofera. Eses auores consideraram no modelo o auoconsumo dos produores. Lindner e Jarre (1978) observaram uma análise de benefícios sociais em ermos do deslocameno da curva de ofera para esimar o excedene econômico decorrene de uma inovação ecnológica na agriculura. Consideraram quaro formas de deslocameno da curva: convergene, paralelo, divergene pivoal e divergene proporcional. Demonsraram que os benefícios sociais são influenciados pela naureza do deslocameno da curva de ofera. Rose (1980) observou que os benefícios bruos de pesquisa enconrados por Lindner e Jarre (1978) iveram seus valores subesimados. A auora sugeriu equações alernaivas para a obenção dos preços e quanidades fuuras. Na lieraura brasileira, vários esudos baseados no modelo de Lindner e Jarre (1978) foram realizados para calcular os benefícios sociais. Denre eles, pode-se desacar: Ayer e chuh (1974), que esimaram os impacos econômicos dos invesimenos empregados na pesquisa de algodão no esado de ão Paulo. Abordaram curvas de ofera e demanda não lineares e um deslocameno pivoal da ofera. Moneiro (1975) avaliou a pesquisa e exensão agrícola na culura do cacau brasileiro no período de 1923 a 1975. Esimou somene o excedene do produor, uma vez que o cacau é um produo essencialmene de exporação e, porano, o excedene do consumidor se dá em nível exerno. Fonseca (1976) esimou o benefício social dos invesimenos em pesquisa cafeeira no esado de ão Paulo no período de 1930 e 1970. Uilizou-se de procedimenos radicionais de cálculos do excedene econômico. anana (1987) esimou os reornos sociais gerados com a adoção ecnológica na culura do feijão caupi no Nordese. Considerou curvas de ofera e demanda lineares com base no modelo de Lindner & Jarrea (1978) e um deslocameno divergene-proporcional da curva de ofera. Khan e ouza (1991) avaliaram os impacos sócio-econômicos dos invesimenos em pesquisa na culura de mandioca no Nordese, considerando o auoconsumo do produo. Uilizaram o modelo de Lindner & Jarre(1978), com curvas de ofera e demanda lineares, considerando um deslocameno divergene-proporcional da curva de ofera. anana e Khan (1992) avaliaram os efeios do desfloresameno da região produora de casanha no esado do Pará. Esimaram os cusos sociais imposos por esse desfloresameno. Concluíram que a parcela maior do cuso foi a dos consumidores e que o desfloresameno levou esa aividade à exausão. Ferreira (1993) esimou o benefício social dos invesimenos em pesquisa e assisência écnica na culura cafeeira no esado de Minas Gerais nas décadas de 1970 e 1980. Uilizou-se dos conceios de excedene do consumidor e do produor.

118 Benefícios sociais da políica de incenivos à culura de mamão no esado do Ceará ilva e Khan (1994) avaliaram os impacos sociais da subsiuição de milho pela raspa de mandioca em ração suína no esado do Ceará. Uilizou-se do modelo de Lindner e Jarre modificado por Rose (1980), o qual supõe curvas lineares de demanda e ofera. Os auores admiiram deslocamenos proporcional, paralelo e convergene da curva de ofera. Bacha (1995) analisou o benefício social dos incenivos fiscais à aividade de refloresameno no Brasil. Desenvolveu um modelo de cálculo com base no modelo de anana e Khan (1992). Considerou deslocamenos pivoal e paralelo da curva de ofera. Consaou que os cusos envolvidos com os incenivos superaram o benefício social. Abdallah e Bacha (1999) analisaram o benefício/cuso do programa de incenivos fiscais à aividade pesqueira no Brasil. Admiiram o modelo de Rose (1980) com deslocamenos pivoal e paralelo da curva de ofera. Conaaram que os benefícios sociais superaram os cusos incorridos no programa em quesão. Nese esudo foi uilizado o modelo de Rose, levando em consideração curvas de ofera e demanda lineares e deslocamenos paralelo e pivoal da curva de ofera para esimar o benefício social dos incenivos governamenais aos produores de mamão do esado do Ceará. 4. Meodologia 4.1. Área de esudo e fone dos dados O esudo foi realizado no esado do Ceará que, segundo Ipece (2004) ocupa 1,74% do erriório nacional e 9,57% de oda a exensão da Região Nordese com uma superfície de 148.825 km 2. Cerca de 93% do oal de sua superfície esá localizada na zona semiárida do Nordese, onde a ocorrência de chuvas é basane concenrada e irregular. Para a concepção de seus objeivos, o presene esudo uilizou uma série hisórica de dados anuais secundários, considerados para o período de 1973 a 2006. As informações sobre as variáveis foram obidas na ecrearia de Desenvolvimeno Agrário (DA), no sie do Insiuo de Pesquisa Econômica e Aplicada, isema Ipeadaa (2006), e na Fundação Insiuo Brasileiro de Geografia e Esaísica (IBGE). Os valores nominais do PIB per capia e dos preços dos produos foram corrigidos pelo índice do IGP-DI FGV, a preços de mercado de abril de 2006. A definição e operacionalização das variáveis uilizadas no modelo são descrias como se segue: a) As séries das variáveis quanidade demandada e de oferada de mamão (Q D e Q ) foram consideradas a parir de seus valores agregados de produção no Ceará uma vez que quase a oalidade desas referem-se ao mercado esadual (cerca de 98,5% em 2006). Não houve, assim, preocupação com a

Heliana Mary da ilva Quinino, Ahmad aeed Khan e Parícia Verônica Pinheiro ales Lima 119 dedução dos monanes exporados, sendo os mesmos inexisenes ou irrisórios durane o período analisado. b) A série da variável preço do mamão (P ) foi consruída a parir da média ponderada dos preços e quanidades das variedades de mamões produzidas e comercializadas no esado (papaya e formosa). As séries das variáveis preço do abacaxi (PA ) e preço do melão (PML ) foram consruídas a parir da média ponderada dos preços e quanidades das respecivas variedades produzidas e comercializadas no esado. Para as análises das elasicidades cruzadas, o criério da inclusão do preço do abacaxi na função de demanda foi a sua composição de nurienes semelhane a do mamão: rico em viamina A, B, C, cálcio, magnésio, poássio, além de auxiliar na digesão. Já a inclusão do preço do melão na função de ofera eve como pré-requisios: (i) a proficuidade de roação de culuras, considerando que a alernância de culivos em uma mesma área apresena diversas vanagens em relação à monoculura, além de ser uma esraégia para o manejo inegrado de pragas, doenças e planas invasoras e uilização mais adequada dos agroóxicos e dos nurienes (EMBRAPA, 2006, p. 7); (ii) o melão é uma das seis fruas que compõe a prioridade do Projeo Fruas do Ceará. (iii) há uma relaiva equivalência enre as ecnologias das duas culuras 6. c) A variável PIB per capia do Ceará foi consruída a parir de dados do PIB agregado e da população residene no esado para servir como variável proxy da renda (RD ) dos consumidores de mamão. d) A variável dummy (D ) foi consruída considerando zero para os anos ex ane aos incenivos do governo à fruiculura do Ceará e um para os anos ex pos aos incenivos aludidos a parir de 2001. e) A variável salário mínimo (M ) foi consiuída anualmene a parir das médias ariméicas simples de seus valores mensais. Foi considerada na esimação da equação de ofera como variável proxy do cuso da produção de mamão. 6 A faixa de emperaura para vegeação esá com média anual em orno de 25ºC; sob alas emperauras o meloeiro possibilia, ao longo do ano, duas a rês safras. O ideal anual de chuvas esá em 1.200 mm, bem disribuídas ao longo do ano; défici hídrico deve ser corrigido com irrigação arificial. Adapa-se a solo de exura média, com ph enre 6,0 a 7,5. Tem uma produividade média de 30/ha e sua colheia inicia-se enre 60 e 65 dias após o planio. Para o mamão, a faixa de emperaura para vegeação esá com média anual em orno de 25ºC; é enconrado durane odo o ano. O ideal anual de chuvas esá em 1.200 mm, bem disribuídas ao longo do ano; défici hídrico deve ser corrigido com irrigação arificial. Adapa-se a solo de exura média, com ph enre 5,5 a 6,5. Tem uma produividade média de 34/ha e sua colheia inicia-se enre 10 e 15 meses após o planio.

120 Benefícios sociais da políica de incenivos à culura de mamão no esado do Ceará 4.2. Méodos de análise 4.2.1. Análise do benefício social Considerando o modelo de ROE (1980), o benefício social resulane de um deslocameno da curva de ofera pode ser medido aravés do cálculo das áreas geoméricas da Figura 1. P Figura 1. Deslocameno da curva de ofera e análise geomérica do benefício social OAex-ane OAex-pos P 0 B 0 P 1 A 0 Y B 2 X B 1 DA A 1 0 Q 0 Q 1 Q 2 Q Fone: Abdallah, 1998. De acordo com Rose (1980, apud Abdallah e Bacha, 1999, p. 118), o aumeno do excedene econômico será medido somando B 0 B 1 B 2 B 0 (X) com A 0 B 0 B 2 A 1 A 0 (Y). A parir do valor da mudança no cuso uniário resulane do deslocameno da ofera, dado por B 0 B 2, o benefício social é dado por: BT = X + Y (1) Para o cálculo das áreas de X e Y, oma-se o pono de coordenadas (Q 2, P 0) na Figura (1) e esima-se a elasicidade-preço da ofera ( ): Q 2 Q 0 Q 2 B B 0 2 P 0 (2)

Heliana Mary da ilva Quinino, Ahmad aeed Khan e Parícia Verônica Pinheiro ales Lima 121 Considerando o deslocameno da curva de ofera como sendo a mudança proporcional do cuso uniário, K 7 : K B B 0 2 P 0 ubsiuindo equação (3) na equação (2), em-se: Q 0 Q 1 1 Q 2 K K 0 Q 2 (3) (4) Da equação (3), em-se: KP B B 0 0 2 (5) A parir diso, deriva-se as equações das áreas de X e Y e, porano, a equação do benefício social oal (BT). A área de Y foi derivada omando-se a área do reângulo Y Q ( P A ) 0, 5Q ( P A ) 0, 5Q ( B A ) (6) 0 0 1 0 0 0 0 2 1 Denominando-se B0 B2 H H P0 B2 e B2 P0 H. ubsiuindo B 2 e H na expressão algébrica da área de Y em-se: Y 0, 5Q 0 ( KP 0 A 0 A 1 ) (7) A parir da Figura 1 verifica-se que a área de X pode ser represenada pela área geomérica do riângulo com base dada pelo segmeno B0B2 KP0 e sua alura dada por (Q 1 Q 0 ). Assim, a expressão algébrica da área de X é dada por: X 0, 5KP0 ( Q1 Q 0 ) (8) 4.2.1.1. Benefício social oal para um deslocameno paralelo e pivoal da curva de ofera Nese caso, a mudança da origem influencia a área de Y(A 0 B 0 B 2 A 1 A 0 ). Com respeio aos cálculos aneriores, para uma mudança paralela, A 0 A 1 é igual a (KP 0 ). Assim, A A KP 0 1 0 (9) 7 K é dado em valor escalar.

122 Benefícios sociais da políica de incenivos à culura de mamão no esado do Ceará ubsiuindo a equação (9) na equação (7) em-se a expressão (da parcela Y) do benefício social oal (BT) para um deslocameno paralelo da curva de ofera. omando-se esa equação a (8) obém-se a expressão do BT: BTparalelo X Y 0, 5 KP0 ( Q1 Q 0 ) (10) No caso do deslocameno pivoal da curva de ofera: A 0 = A 1 (11) ubsiuindo (11) na equação (7) e somando a esa a equação (8) obém-se a expressão do BT para um deslocameno pivoal BTpivoal X Y 0, 5 KP0Q1 (12) eguindo Lindner e Jarre (1978) e Rose (1980) será obido o pono de equilíbrio (B 1 ) após a inervenção governamenal da seguine maneira: K P1 P0 1 D K Q1 Q 0 1 D D (13) (14) ubsiuindo a equação (14) nas equações (10) e (12) e considerando que D ( K ) / ( ) W, em-se o BT para uma mudança paralela e pivoal da curva de ofera: BT X Y 0, 5KP Q ( 2W ) (15) paralelo 0 0 D BT X Y 0, 5KP Q ( 1W ) (16) pivoal endo: 0 0 D BT= Benefício social oal bruo, em R$; K= Deslocador da curva de ofera e medidor da redução proporcional dos cusos; P 0 = Preço de equilíbrio de mercado no ano imediaamene anerior aos incenivos governamenais, em R$/kg; Q 0 = Quanidade de equilíbrio de mercado no ano imediaamene anerior aos incenivos governamenais, em kg;

Heliana Mary da ilva Quinino, Ahmad aeed Khan e Parícia Verônica Pinheiro ales Lima 123 W= Relação enre o produo do deslocador da curva de ofera e a soma das elasicidades-preço da ofera e da demanda, em valor absoluo; D = Elasicidade-preço da demanda de mamão, em valor absoluo; = Elasicidade-preço da ofera de mamão. Como ciam Abdallah e Bacha (1999), para a esimaiva de K, é necessária uma esimaiva da ofera de mamão anes e depois dos incenivos governamenais, respecivamene OA ex-ane e OA ex-pos, com respeio a P 0. A ofera assim considerada gera a quanidade Q 2 demonsrada na Figura 1. Para se ober o benefício social oal gerado pela políica governamenal, muliplicou-se o benefício social per capia obido, pela população residene no esado do Ceará no ano de 2006. 4.3. Modelo economérico de equações simulâneas Nese esudo as funções de demanda e ofera são definidas, respecivamene, por: D Q f( PA, RD, P ) (17) Q f( PML, D, M, P ) (18) Para aender aos objeivos de esimar as elasicidades, os modelos economéricos das funções (17) e (18) foram escrios na forma log-linear, para a qual o modelo é linear nos valores escalares dos parâmeros 0, 1, 2, 3, 1, 2, 3, 4 e da variável D, e linear nos logarimos das variáveis Q D, PA, RD, P, Q, PML M, respecivamene. Equação de Demanda: D lnq ln PA ln RD ln P 0 1 2 3 (19) Equação de Ofera: lnq ln ln PML ln D ln M ln P 0 1 2 3 4 (20) Logo, o Equilíbrio de Mercado: lnq D lnq (21)

124 Benefícios sociais da políica de incenivos à culura de mamão no esado do Ceará Onde: lnq D = Logarimo naural da quanidade demandada per capia de mamão no mercado do Ceará (em onelada), no ano ; lnq = Logarimo naural da quanidade oferada per capia de mamão no mercado do Ceará (em onelada), no ano ; lnp = Logarimo da média ponderada corrigida dos preços dos diversos ipos de mamão no mercado cearense (R$/Kg), no ano ; lnrd = Logarimo naural da renda real per capia do esado do Ceará (R$), no ano ; lnpa = Logarimo naural da média ponderada corrigida do preço do abacaxi no mercado cearense (R$/kg), no ano ; lnpml = Logarimo naural da média ponderada corrigida do preço do melão no mercado cearense (R$/kg), no ano ; D = Variável dummy, no ano ; D = 0 para os anos ex ane ao incenivo do governo à fruiculura do Ceará, D = 1 para os anos ex pos ao incenivo; lnm = Logarimo naural da média anual do salário mínimo Real (R$), no ano ; e = Termos de perurbação esocásica; 0, 1, 2, 3, 1, 2, 3, 4 = Parâmeros a serem esimados. egundo as condições de ordem e de poso o modelo foi considerado compleo e idenificado, o processo para a esimaiva do sisema e das equações esruurais é possível, podendo ser feio pelo Méodo dos Mínimos Quadrados de Dois Eságios. Calculando-se a esperança maemáica da equação esimada de ofera, obém-se a equação da ofera per capia média condicional 8 do mamão cearense ex ane ao incenivo governamenal, dada por: E(ln Q ln PML, ln M, ln P, D 0) ln PML 0 1 2 ln M 4 ln P (22) Para o cálculo da média condicional da ofera per capia do mamão cearense ex pos ao incenivo governamenal foi uilizada: E(ln Q ln PML, ln M, ln P, D 1) 0 3 1 ln PML ln M ln P 2 4 (23) 8 Condicional às variáveis explicaivas do modelo.

Heliana Mary da ilva Quinino, Ahmad aeed Khan e Parícia Verônica Pinheiro ales Lima 125 5. Resulados e discussão 5.1. Análise da equação esimada de demanda de mamão para o esado do Ceará As variáveis explicaivas uilizadas para esimar a equação de demanda per capia do mamão cearense (Q D ) foram preço médio ponderado real do abacaxi (PA ), renda real per capia do esado (RD ) e o preço médio ponderado real esimado do mamão ( P ). Os resulados dos coeficienes esimados são apresenados na Tabela 1. Tabela 1. Equação de demanda do mamão para o Ceará, de 1973 a 2006 Variável Dependene: ln Q D Variável Coeficiene Erro padrão Esaísica Valor de P. 0-11,31087 0,769134-14,70599 0,0000 lnpa 0,519704 0,151452 3,431475 0,0018 lnrd 3,171599 0,662593 4,786648 0,0000 ln P -1,901246 0,277073-6,861882 0,0000 R quadrado 0,876385 R quadrado ajusado 0,864024 Erro padrão da regressão 0,528538 Esaísica F 70,89639 Esaísica Durbin-Wason 1,161898 Prob(Esaísica F) 0,000000 Fone: Elaboração própria. Dos resulados apresenados na Tabela 1, a parir do p-value, os coeficienes esimados das variáveis logarimizadas, 1 do preço do abacaxi, 2 da renda e 3 do preço de mercado do mamão podem ser considerados esaisicamene diferenes de zero a um nível de significância de 1%. O sinal do coeficiene do logarimo naural do preço do abacaxi é condizene com o previso e indica que o abacaxi é uma frua subsiua do mamão, de modo que, quano maior for PA, maior será a quanidade demandada de mamão (Q D ). O valor desse coeficiene indica ainda que se o preço do abacaxi PA aumenar em 10%, a procura por mamão (Q D ) aumenará, em média 5,19%, ceeris paribus. O sinal do coeficiene do logarimo naural da renda corresponde ao esperado e indica o efeio posiivo que esa exerce sobre a demanda do mamão, aponando que o mamão é um bem normal, uma vez que um incremeno de 10% na renda per capia da população cearense expandirá em média 31,71% a procura per capia de mamão, ceeris paribus. O sinal negaivo do logarimo naural do preço do mamão confirma a hipóese da Lei Geral da Procura. Observa-se que a demanda per capia do mamão

126 Benefícios sociais da políica de incenivos à culura de mamão no esado do Ceará é elásica em relação ao seu preço, assim, uma redução de 10% no preço desa frua induzirá um aumeno médio de 19,01% na quanidade demandada de mamão, ceeris paribus. Com o valor do coeficiene de deerminação ajusado verifica-se que 86,40% da variação média na quanidade do mamão é explicada pela variação conjuna das variáveis PA, RD e P presenes no modelo. É necessário ressalar que os eses apropriados mosraram que o modelo possui variância residual consane, ausência de mulicolinearidade e sem evidência de presença de auocorrelação serial. 9 5.2. Análise da equação esimada de ofera de mamão no Ceará As variáveis explicaivas uilizadas para esimar a equação de ofera per capia do mamão cearense (Q ) foram preço médio ponderado real do melão (PML ), salário médio mínimo (M ), preço médio ponderado real esimado do mamão ( P ), e a variável dummy (D ) para capar o efeio ex pos aos incenivos do governo à fruiculura do esado do Ceará sobre o mercado do mamão, para a qual se omou o ano 2001 como referência ao início do período pós-programas. Os resulados da equação esimada são apresenados na Tabela 2. Tabela 2. Equação de ofera de mamão no esado do Ceará, de 1973 a 2006 Variável Dependene: ln Q Variável Coeficiene Erro padrão Esaísica Valor de P. 0 6,401721 3,583335 1,786526 0,0845 lnpml -3,540927 1,358253-2,606971 0,0143 lnm -1,769599 0,714977-2,475041 0,0194 D 3,903086 1,065684 3,662517 0,0010 ln P 5,195809 2,602551 1,996429 0,0554 R quadrado 0,907101 R quadrado ajusado 0,894287 Erro padrão da regressão 0,466023 Esaísica F 70,79184 Esaísica Durbin-Wason 1,482183 Prob(Esaísica F) 0,000000 Fone: Elaboração própria. 9 O ese para verificação de heerocedasicidade permiiu concluir pela ausência desa a um nível de significância de 5% uma vez que a esaísica. Obs*quare foi de 10,84 com p-value igual a 0,093. Problemas de mulicolinearidade foram verificados por meio de mariz de correlação na qual não foi consaada nenhuma correlação significaiva enre as variáveis. Por fim, a esaísica Durbin-Wason igual a 1,1618 não permiiu concluir sobre a presença de auocorrelação.

Heliana Mary da ilva Quinino, Ahmad aeed Khan e Parícia Verônica Pinheiro ales Lima 127 Na Tabela 2, comparando-se os valores absoluos dos s esimados e os respecivos erros-padrão, verifica-se que odos os coeficienes das variáveis podem ser considerados esaisicamene diferenes de zero, a um nível de significância de 1% ( coeficiene de D ), 5% (coeficienes de lnpml, lnm ) e 10% (coeficiene de ln P ). O sinal negaivo do coeficiene de lnpml é consisene com o previso. Indica que o melão é uma culura compeiiva em relação à do mamão em produção. O coeficiene da variável logada salário mínimo possui o sinal negaivo esperado e, porano, a relação inversa enre quanidade oferada de um produo e seu cuso de produção. O sinal posiivo da variável dummy é coerene com o esperado e revela que a ofera do mamão sofreu um deslocameno para a direa (ou seja, um aumeno) no período ex pos à políica de incenivo à fruiculura. O coeficiene do logarímo naural do preço do mamão em o sinal posiivo, confirmando a Teoria Econômica: quano maior for o preço do mamão, maior será a quanidade oferada desa frua no mercado. A ofera per capia do mamão se revelou elásica, de modo que um aumeno de 10% no preço da frua provoca o incremeno médio de 51,95% na sua quanidade oferada, ceeris paribus. Observando o valor do Coeficiene de Deerminação Ajusado verifica-se que 89,42% da variação média na quanidade oferada do mamão é explicada pela variação conjuna das variáveis PA, RD e P presenes no modelo. Os resíduos na equação de ofera, da Tabela 2, possuem variâncias consanes e não êm evidência da presença de auocorrelação serial. 10 5.2.1. Oferas esimadas para os períodos anes (1973/2000) e depois (2001/2006) da políica de incenivos A média condicional da ofera per capia ex ane ao esímulo governamenal, obida a parir do modelo apresenado na Tabela 2 foi dada por: E(ln Q ln PML, ln M, ln P, D 0) 6, 40 3, 54 ln PML 1, 77 ln M 5, 20 ln P (24) Exraídos os anilogs anuais, ransformando a unidade de medida de onelada para quilo e reirando-se a média ariméica dos 28 anos que definem o período de 1973 a 2000, foi possível ober o valor absoluo da média condicional da ofera per capia ex an ao esímulo governamenal: E(ln Q ln PML, ln M, ln P, D 0) 1, 16 Kg (25) 10 O ese para verificação de heerocedasicidade permiiu concluir pela ausência desa a um nível de significância de 5% uma vez que a esaísica. Obs*quare foi de 9,27 com p-value igual a 0,233. A esaísica Durbin-Wason igual a 1,4821 não permiiu concluir sobre a presença de auocorrelação.

128 Benefícios sociais da políica de incenivos à culura de mamão no esado do Ceará A média condicional da ofera per capia de mamão cearense ex pos à inervenção governamenal: E(ln Q ln PML, ln M, ln P, D 1) 6, 403, 54 ln PML 1, 77 ln M 5, 20 ln P 3, 90D (26) Exraídos os anilogs anuais, ransformando a unidade de medida de onelada para quilo e reirando-se a média ariméica dos seis anos que definem o período de 2001 a 2006, foi possível ober o valor absoluo da média condicional da ofera per capia ex pos ao esímulo governamenal: E(ln Q ln PML, ln M, ln P, D 1) 7, 81 Kg (27) Analisando-se os ermos do inercepo das equações de ofera per capia do mamão, esimada anes e após os incenivos à culura, equações (24) e (26) respecivamene, observa-se que houve um deslocameno para a direia da curva de ofera per capia do mamão no período de 2001 a 2006. Iso pode ser comprovado pela variação de 573,28% nos valores médios da quanidade oferada per capia condicional do mamão no Ceará. Iso revela uma ampliação da capacidade produiva do esado. A esimação dos preços anuais de equilíbrio de mamão no Ceará caiu nos anos consequenes ao incenivo do governo à fruiculura: diminuiu, em média, R$ 0,65/kg, indicando, porano, um ganho para o consumidor. 5.2.2. Esimaivas da receia com a comercialização de mamão no Ceará As esimaivas das receias anuais per capias e agregadas, obidas pelos produores com a comercialização do mamão enconram-se na Tabela 3. Pode-se noar um aumeno de R$ 1,82/kg na receia média per capia obida pelo produor com a comercialização do mamão no esado do Ceará após a implemenação da políica de incenivo à fruiculura. A receia média oal gerada nos seis anos que delimiam o período pós-políica supera em 384,66% a média da receia auferida durane os 28 anos aneriores aos programas, o que confirma um aumeno no excedene econômico para os produores. Tabela 3. Esimaivas anuais das receias dos produores com a comercialização de mamão no Ceará, de 1973 a 2000 e de 2001 a 2006. (R$/kg) Especificação Período ex ane (1973 a 2000) Período ex pos (2001 a 2006) Toal agregado 153.121.339,17 126.215.122,61 Média agregada 5.468.619,26 21.035.853,77 Toal per capia 23,88 16,03 Média per capia 0,85 2,67 Fone: Elaboração própria.

Heliana Mary da ilva Quinino, Ahmad aeed Khan e Parícia Verônica Pinheiro ales Lima 129 5.3. Análise do benefício social dos incenivos governamenais concedidos aos produores de mamão do esado do Ceará 5.3.1. Cálculo do benefício social oal bruo A parir da função de ofera esimada por meio do modelo esimado (equação 25), calculou-se a quanidade oferada de mamão ao nível P 0 para o ano de 2006, dada por Q 2 ( 2006). Considerou-se o preço fixo do ano de 2000 como P 0. Assim, ln Q 10, 30 3, 54 ln PML 1, 77 ln M 3, 90D 5, 20 ln P 2 ( 2006) ( 2006) ( 2006) ( 2006) ( 2006) Exraído o anilog de Q 2 ( 2006), pôde-se calcular o valor escalar de K. De posse de K, do preço observado em 2000 [P 0 (2000) ], da quanidade de ofera observada em 2000 [Q 0 (2000) ] e das elasicidades-preço da demanda e da ofera - D e respecivamene, obiveram-se os valores de P 1 e Q 1 por meio das equações 13 e 14. Em seguida, calculou-se o benefício social per capia gerado no período de 2001 a 2006, de acordo com as equações 10 e 12. A Tabela 4 fornece os valores de Q 2 ( 2006), K, P 1, Q 1 e os B per capia e B oal para os deslocamenos paralelo e pivoal da curva de ofera de mamão a parir da políica de incenivo à fruiculura cearense. Tabela 4. Benefício ocial Toal (BT) esimado para o deslocameno paralelo e pivoal da curva de ofera de mamão, de 2001 para 2006 Q 2 ( 2006) K P 1 Q População/CE 1 2006 Deslocameno Padrão B per capia Benefícios ociais B Toal Deslocameno Pivoal B per capia B Toal 21,04 0,153 0,37 6,8 8.176.820 0,39 3.163.045,86 0,22 1.776.805,12 Fone: Resulados da pesquisa. O benefício social gerado pela políica de incenivo à fruiculura, considerada a parir do ano 2001 aé 2006, oalizou um valor de R$ 3.163.045,86 para um deslocameno paralelo da curva de ofera de mamão. Em ermos per capia, o benefício foi de R$ 0,39. O deslocameno paralelo implica uma redução proporcional nos cusos médios de produção da frua no período ex pos. Considerando um deslocameno pivoal da curva, o benefício social é de R$ 1.776.805,12, enquano que o benefício por pessoa é de R$ 0,22. O deslocameno pivoal da curva de ofera de mamão implica que os cusos médios se maniveram consanes no período pós-incenivo.

130 Benefícios sociais da políica de incenivos à culura de mamão no esado do Ceará O benefício gerado a parir da ampliação da ofera e da respeciva queda nos cusos médios de produção supera em 178,02% o benefício para o qual a ampliação na ofera maném esses cusos inalerados. 5.3.2. Benefício social por meio da geração de empregos na culura do mamão Nos úlimos seis anos, a média de empregos direos gerados aravés da culura de mamão no esado do Ceará é de 0,84homem/hecare/ano. A área planada de mamão oalizou 1.517 hecares em 2006, gerando aproximadamene de 1.274 empregos direos. A Tabela 5 apresena o valor e o número de empregos direos, indireos e oais gerados pela aividade no período de 2001 a 2006. Tabela 5. Número e valor de empregos gerados pela culura do mamão no esado do Ceará no período de 2001 a 2006 Ano Empregos(*) unidade Valor da Mão de Obra(**) R$ Direos Indireos Toais Direos Indireos Toais 2001 1.386 2079 3.465 371.392,56 557.088,84 928.481,40 2002 1.515 2273 3.788 371.629,50 557.444,25 929.073,75 2003 718 1077 1.795 189.006,32 283.509,48 472.515,80 2004 848 1272 2.120 219.097,76 328.646,64 547.744,40 2005 1.023 1535 2.558 294.132,96 441.199,44 735.332,40 2006 1.273 1910 3.183 430.757,74 646.136,61 1.076.894,35 TOTAI 6.763 10.145 16.908 1.876.016,84 2.814.025,26 4.690.042,10 Fone: (*) informações fornecidas pela EAGRI. (**) Elaboração própria. OB.: O numero de empregos indireos é cerca de 150% o número de empregos direos. O valor da mão de obra foi obido aravés da muliplicação do número de empregos pelas médias anuais reais do salário mínimo vigene em cada período. A parir dos dados da Tabela 5, verifica-se que, nos anos de 2003 e 2004, o número de empregos sofreu uma queda considerável. De acordo com Ximenes (2006), esa queda esá associada a um aaque de pragas e à consequene redução da área culivada da frua. Aualmene, os écnicos da DA junamene com pesquisadores da Embrapa e écnicos da eagri-bahia esudam uma ecnologia específica como forma de coner a vulnerabilidade das planações de mamão no esado. Ao longo dos seis anos pós-políica de incenivos, o valor da mão de obra somou R$ 4.690.042,10, desse oal, 40% correspondem aos empregos direos e, 60%, aos empregos indireos.

Heliana Mary da ilva Quinino, Ahmad aeed Khan e Parícia Verônica Pinheiro ales Lima 131 6. Conclusões e sugesões A parir dos objeivos de avaliação do benefício social gerado pelos incenivos governamenais aos produores de mamão do Ceará proposos por ese esudo, e com base nos resulados nele obidos, foi possível concluir que, no esado, o mamão é um bem normal e que sua demanda é elásica em relação ao seu preço. Verificou-se, ambém, que o consumo do abacaxi no esado é concorrene ao do mamão. A quanidade oferada de mamão no Ceará ambém em uma elasicidade-preço ala, enreano, mais sensível aos preços que a quanidade demandada da frua. Por ouro lado, em ermos de produção, a culura do melão caracerizou-se compeiiva, sendo, porano, uma alernaiva aos produores de mamão. O comporameno dos preços apresenou-se descendene ao longo do empo, sendo que em um maior grau no período ex pos aos incenivos. Enreano, observou-se que a queda nos preços não afeou de forma negaiva a ofera per capia do mamão no esado como preza a Lei da Ofera. Aconeceu exaamene o inverso, houve um esímulo médio alamene subsancial, da ordem de 573,27%. Iso sugere que o aumeno na ofera foi esimulado exogenamene por esraégias de invesimeno produivo com indução de redução nos cusos de produção do mamão. A redução nos preços e o aumeno na ofera do produo foram responsáveis por uma elevação no bem-esar social por meio de um aumeno no excedene ano do consumidor quano do produor. O excedene econômico considerado a parir da redução nos cusos médios anuais (deslocameno paralelo da ofera) superou em 78,02% o excedene econômico avaliado a parir de cusos médios anuais consanes (deslocameno pivoal da ofera). Iso revela a imporância de ações voladas à redução nos cusos de produção como forma de esimular o desenvolvimeno da fruiculura no esado do Ceará. A expressiva magniude do benefício social resulane da inervenção governamenal juno aos produores revela a viabilidade desa frua como faor de desenvolvimeno econômico. Nesa nova condição de bem-esar social verifica-se que: (i) o aumeno no excedene econômico do consumidor é consequência de um efeio preço, viso que, com os preços mais baixos, os consumidores passaram a demandar maiores quanidades de mamão; (ii) o aumeno no excedene do produor é resulane da significaiva ampliação da ofera nos seis anos que delimiaram o período pós-incenivo. Adicionalmene, os mesmos perceberam um incremeno em suas receias médias per capias de 167,05% e agregadas de 282,74% com a comercialização do mamão.