PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA GABINETE DO DESEMBARGADOR JOSÉ RICARDO PORTO DECISÃO MONOCRÁTICA REMESSA NECESSÁRIA N. 011.2010.000052-7/001 CABACEIRAS. Relator : Des. José Ricardo Porto. Promovente : Aelliton Elvis Doso. Advogado : Márcio Maciel Bandeira. Promovido : O Município de Cabaceiras, rep. por seu Prefeito. Advogado : José Osenaldo de Castro. Remetente : Juízo de Direito da Comarca de Cabaceiras. REMESSA NECESSÁRIA. AÇÃO POPULAR. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE PREJUÍZO AO ERÁRIO. SENTENÇA. IMPROCEDÊNCIA. DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO OBRIGATÓRIO. PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. SEGUIMENTO NEGADO. - "(...) Para que o ato seja sindicável mediante ação popular, deve ele ser, a um só tempo, nulo ou anulável e lesivo ao patrimônio público, no qual se inclui "os bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico". Com efeito, mostra-se inviável deduzir em ação popular pretensão com finalidade de mera desconstituiç'ão de ato por nulidade ou anulabilidade, sendo indispensável a asserção de lesão ou ameaça de lesão ao patrimônio público. (...)" (RESP 4456531RS, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, Julgado em 15/10/2009, DJE 26/10/2009) VISTOS. Aelliton Elvis Doso interpôs Ação Popular contra o Município de Cabaceiras, representado por seu Prefeito, alegando, em suma, que o demandado cometera uma ilegalidade ao cobrar ingressos para um show da banda aviões do forró, realizado durante um evento local, denominado "V Cabaceiras Mostra Cultural", a despeito de ter recebido verbas do Ministério do Turismo para o seu custeio. Em seguida, aduz que houve locupletamento do valor destinado à festividade, devendo a autoridade responsável ser responsabilizada. Finalmente requereu a procedência da ação, a fim de que seja determinada a nuli ade da cobrança de ingressos para eventos públicos patrocinados pela Prefeitura e por verbas fe rais, corrigindo a ilegalidade do ato, com a devolução dessas últimas, que seriam destinadas à lização das apresentações culturais. Na contestação, o promovido alegou que não se apontou qual o patrimônio público municipal foi lesionado em razão da cobrança dos ingressos das pessoas que assistiram à
apresentação da banda Aviões do Forró. Ademais, a arrecadação proporcionou receita que ajudou a minimizar os gastos havidos na realização do próprio acontecimento. Às fls. 59/62, o magistrado julgou improcedente o pedido, diante da falta de provas, remetendo os autos para apreciação do duplo grau de jurisdição. Não houve recurso voluntário, conforme certidão de fls. 65v. Instado a se manifestar, o Ministério Público emitiu parecer, fls. 71/72, opinando pelo desprovimento da remessa. É o relatório. DECIDO A sentença merece ser confirmada. Com efeito, a Ação Popular é garantia de nível constitucional, artigo S., inciso LXXIII, que visa à proteção do patrimônio público, da moralidade administrativa e do meio ambiente, sendo a disciplina infraconstitucional regulada pela Lei n. 4.717, de 29/06/1965. tema: Vejamos o que reza o citado dispositivo da Constituição Federal, quanto ao "qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência" Assim, deve ficar demonstrado a ato lesivo ao patrimônio público, à moralidade administrativa, ao meio ambiente ou ao patrimônio histórico e cultural. Na espécie, o pressuposto da lesividade do ato não restou caracterizado, fato 111 que inviabiliza a pretensão do autor popular, como bem asseverou o magistrado singular:... a lesividade do ato é "pressuposto vital, necessário, imprescindível, cuja presença se delineia uma condição insubstituível para o exercício da ação popular"(péricles Frade, Lesividade e ilegalidade como pressuposto da ação popular constitucional, Revista de Processo, São Paulo, vol. 42, p. 267). (...) a pretensão dos autores com a presente Ação Popular não merece guarida, uma vez que todas as provas carreiam para a inexistência dos supostos prejuízos ao Erário(.) ão se pode, portanto, falar em prejuízo, já que não demonstrado nos autos sua efetiva ocorrência. Denota-se, pois, que o ato impugnado através da ação popular, além de viciado, deve causar efetivo prejuízo à entidade titular do patrimônio público, já que esta ação, como já foi observado, destina-se à proteção do patrimônio não do próprio autor, mas das entidades públicas e as a ela equiparadas descritas no art. 1. da Lei n. 4.717/65. 2
O Superior Tribunal de Justiça tem jurisprudência firmada no sentido de que a procedência da ação popular pressupõe a demonstração da existência da lesividade e da ilegalidade do ato. Vejamos alguns arestos: PROCESSUAL CIVIL AÇÃO POPULAR REQUISITOS AUSÊNCIA DE LESIVIDADE LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA APURAÇÃO DE DANOS. 1. A orientação do STJ é reiterada no sentido de que a procedência da ação popular pressupõe nítida configuração da existência dos requisitos da ilegalidade e da lesividade. 2. Fere a sistemática processual civil decisão em ação popular que posterga a comprovação da inexistência de lesividade ao patrimônio público para a fase de liquidação de sentença, porquanto tal fase, nos termos do art. 603 do Código de Processo Civil, serve à apuração do quantum debeatur não individuado na condenação. 3. A realização dos procedimentos previstos nos arts. 603 e seguintes (capítulo VI, Título I.1; Livro) do Código de Processo Civil pressupõe prévia condenação, sendo, portanto, procedimento incompatível com a extinção da ação sem julgamento do mérito, nos termos do art. 267, IV, do CPC. 4. Recurso especial conhecido e provido'. (destaque nosso) RECURSO ESPECIAL. AÇÃO POPULAR. ANULAÇÃO DE TESTAMENTO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. AFASTAMENTO DA MULTA IMPOSTA. SÚMULA N 98. (...) 2. Para que o ato seja sindicável mediante ação popular, deve ele ser, a um só tempo, nulo ou anulável e lesivo ao patrimônio público, no qual se inclui "os bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico". Com efeito, mostra-se inviável deduzir em ação popular pretensão com finalidade de mera desconstituiçã o de ato por nulidade ou anulabilidade, sendo indispensável a asserção de lesão ou ameaça de lesão ao patrimônio público. (...) 6. Recurso especial parcialmente conhecido e, na extensão, provido." (Resp 4456531RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 15/10/2009, DJe 26/10/2009) "(..) Ausência de comprovação de prejuízo para a Administração em razão do contrato de gestão firmado. 5. A Ação Popular exige, para sua procedência, o binômio ilicitude e lesividade. 6. Recurso especial improvido. 2 Nesse sentido, também segue decisão do nosso egrégio Tribunal: REMESSA OFICIAL. AÇÃO POPULAR. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO PREJUÍZO AO ERÁRIO. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO OBRIGATÓRIO. PREJUÍZO AO PATRIMÔNIO DA EDILIDADE. NECESSIDADE. PRECEDENTES DO STJ. SEGUIMENTO NEGADO. - Para que o ato seja sindicável mediante ação popular, deve ele ser, a um só tempo, nulo ou anulável e lesivo ao patrimônio público, no qual se inclui os bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico. Com efeito, mostra-se inviável deduzir em ação popular pretensão com finalidade de mera desconstituição de ato por nulidade ou anulabilidade, sendo indispensável a asserção de lesão ou ameaça de lesão ao patrimônio 1 REsp 121431 / SP, Rel.: Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Segunda Turma, D.J.: 15/02/2005. 2 REsp 952.8991DF, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 03/06/2008, DJe 23/06/2008. 3
público. RESP 445653/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, Julgado em 15/10/2009, DJE 26/10/2009. 3 Na hipótese, inexistiu o aporte de verbas federais para a realização da mostra cultural, sendo imprópria a pretensão de condenação à devolução desses valores. Desse modo, por tudo que foi exposto, na forma do art. 557, caput, do Código de Processo Civil, nego seguimento à remessa. Corrija-se a autuação, fazendo constar como remetente o juízo de direito da Comarca de Cabaceiras. P.I. Providências necessárias. João Pessoa 05 de julho de 2012. J07 - R- JOS Des. José Riéa\rdfllPorto Relator 'Remessa Oficial n. 200.2001.043962-4/001, 3.a Câmara Cível, Rel.: Des. Márcio Murilo da Cunha Ramos, D.J. : 03/12/2009. 4
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