Poder Judiciário do Estado da Paraíba Tribunal de Justiça Gabinete da Desembargadora Maria das Neves do E gito de A. D. Ferreira

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1 AG no / Poder Judiciário do Estado da Paraíba Tribunal de Justiça Gabinete da Desembargadora Maria das Neves do E gito de A. D. Ferreira DECISÃO AGRAVO DE INSTRUMENTO No /001 - CAPITAL RELATOR: Juiz Marcos William de Oliveira, convocado, em substituição à Desembargadora Maria das Neves do Egito de A. D. Ferreira AGRAVANTE: Município de João Pessoa, representado por seu Prefeito ADVOGADO: André Leandro de Carvalho Lemes AGRAVADA: Maria de Fátima Lira de Carvalho DEFENSORA: Terezinha Alves Andrade Moura AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO ORDINÁRIA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. DEMANDANTE PORTADORA DE DIABETES TIPO 2. DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE. FORNECIMENTO DE MEDICAÇÃO. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA A PESSOAS CARENTES. OBRIGAÇÃO DO ESTADO. INTELIGÊNCIA DO ART. 196 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, SEGUIMENTO NEGADO. - "A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redu ção do risco de doen ça e de outros agravos e ao acesso universal e i gualitário às ações e serviços para sua promoção, prote ção e recuperação." (art. 196 da Constituição Federal de 1988). - Art. 557 do CPC: "O relator ne gará seguimento a recurso manifestamente, inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal ou de Tribunal Superior". am Ok Or. Marcos N) Juiz Convocado

2 AG no /001 2 Vistos etc. O MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA interpôs o presente agravo de instrumento, inconformado com a decisão do Juízo de Direito da ia *Vara da Fazenda Pública da Capital, que deferiu pedido liminar nos autos da ação de obrigação de fazer com pedido de antecipação de tutela ajuizada por MARIA DE FÁTIMA LIRA DE CARVALHO, para que sejam fornecidos à agravada os medicamentos Janumet e Ocuvite Lutemo. O agravante alega que já fornece os medicamentos de sua competência. Fez menção à cláusula da reserva do possível, no sentido de que nenhum serviço pode ser criado sem a correspondente fonte de custeio. Diz também que o Poder Judiciário não pode intervir no juízo de conveniência e oportunidade da Administração Pública, sob pena de caracterizar 'afronta ao princípio da separação dos poderes. Por fim, aduz a inexistência de elementos que autorizem a concessão da tutela antecipada, ante a ausência de perícia médica a demonstrar que a medicação requerida é necessária ao tratamento da patologia da qual a agravada é portadora. Pedido de efeito suspensivo indeferido (fls. 78/83). fls. 87. Não foram apresentadas contrarrazões, conforme certidão de 410 Instada a manifestar-se, a Procuradoria de Justiça, às fls. 89/92, ofertou parecer, opinando pelo desprovimento do recurso. É o relatório. DECIDO. Os autos historiam que a autora/ agravada é "DIABÉTICA TIPO 2 e necessita do uso mensal de JANUMET +50/850 (2 CAIXAS/30 COMPRIMIDOS) E OCUVITE LUTEIN (1 CAIXA/30 COMPRIMIDOS), conforme declaração médica anexa (docs. 04/05) e por ser indispensável o uso desses medicamentos para aumentar a chance de cura da patologia de alta gravidade e mortalidade (declaração anexa)". (sic, fls. 17). Diante de tais considerações, constato que estão configurados verossimilhança das alegações e o perigo de dano irreparável ou de difíci N. Marcos William de Oliveira Juiz Convocado /

3 AG no /001 3 reparação, elementos que autorizam a concessão da medida antecipatória da tutela, deferida em primeiro grau. O perigo de dano irreparável ou de difícil reparação é inerente à própria natureza da prestação - fornecimento de remédios para tratamento de saúde, de modo que são desnecessárias maiores digressões a respeito. Quanto à verossimilhança das alegações, a determinação de fornecimento de medicação por parte do Poder Público deriva de preceitos constitucionais. A saúde pública é de responsabilidade solidária da União, dos Estados e dos Municípios. Assim, qualquer um deles poderá ser acionado judicialmente na garantia do direito à vida e à saúde, como no caso vertente, em que a agravada busca o fornecimento de remédios necessários ao tratamento da mazela de que é portadora. Essa é a conclusão a que se chega da leitura do art. 196 da Constituição Federal, in verbis: Art A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. O agravante tem, portanto, a obrigação de fornecer os medicamentos necessários, de forma gratuita, aos carentes,.que não têm condições financeiras de arcar com o tratamento adequado. Se não o faz, ofende a disposição constante da norma supracitada, gerando o direito de buscar no Judiciário o seu recebimento, pois, como um direito de segunda geração, não se exige a inércia do Estado, mas uma atividade positiva, a fim de garantir sua efetivação. Desse modo, resta configurada a necessidade de a promovente/agravada ter seu pleito atendido, pois é garantido de forma constitucional e infraconstitucional e, portanto, não há como ser negada tal pretensão de exigir o cumprimento da referida prestação pelo Município de João Pessoa. Não se trata, aqui, de violação à separação dos poderes, pois o Judiciário não está adentrando no mérito administrativo da questão, atingindo a conveniência e a oportunidade da Administração, uma vez que, tratando-se e direito social, a saúde pública deve assegurar o mínimo existencial aos cidadãos. 1'6 Dr. Marcos Miam de Juiz Convocado \

4 AG no /001 4 Não se pode olvidar, também, que as regras constitucionais não são meros ideais, mas normas programáticas e, como tais, devem ser postas em prática por meio de programas que reflitam os anseios da Carta Magna. O Poder Judiciário pode intervir na formulação das políticas públicas para assegurar a garantia do mínimo existencial, a menor porção necessária para manter-se a dignidade da pessoa humana através das prestações estatais. Igualmente, não prevalece a alegação da reserva do possível. É certo que a viabilização dos direitos sociais, por meio da execução de políticas públicas, está condicionada à existência de recursos materiais disponíveis para tanto, sendo que o Município, apesar de obrigado a cumprir as normas assecuratórias de prestações sociais, poderá escusar-se da obrigação em virtude de impossibilidades materiais devidamente comprovadas. Mas este não é o caso. Primeiro, porque o agravante não se desincumbiu desse anus probaná, apenas afirmando a falta de recursos. Segundo, porque, apesar da efetivação dos direitos sociais estar vinculada à reserva do possível, a parcela mínima necessária à garantia da dignidade humana jamais poderá ser postergada, cabendo ao Judiciário, mediante provocação, corrigir eventuais distorções que atentem contra a razoabilidade e a proporcionalidade. O Superior Tribunal de Justiça, inclusive com base em precedentes do Supremo Tribunal Federal, decidiu sobre o assunto, nos seguintes termos: CONSTITUCIONAL. RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA OBJETIVANDO O FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO (RILUZOL/RILUTEK) POR ENTE PÚBLICO À PESSOA PORTADORA DE DOENÇA GRAVE: ESCLEROSE LATERAL AMIOTROFICA - ELA. PROTEÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS. DIREITO À VIDA (ART. 5 0, CAPUT, CF/88) E DIREITO À SAÚDE (ARTS. 6 E 196, CF/88). ILEGALIDADE DA AUTORIDADE COATORA NA EXIGÊNCIA DE CUMPRIMENTO DE FORMALIDADE BUROCRÁTICA. [...] 2 - É dever do Estado assegurar a todos os cidadãos, indistintamente, o direito à saúde, que é fundamental e está consagrado na Constituição da República nos artigos 6 e Diante da negativa/omissão do Estado em prestar atendimento à população carente, que não possui meios para a compra de medicamentos necessários à sua sobrevivência, a jurisprudência vem se fortalecendo n sentido de emitir preceitos pelos quais os necessitad podem alcançar o benefício almejado (STF, AG n Dr. Marcos WiIliam de01 Jutz Convocado

5 AG no / /RS, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 11/05/99; STJ, REsp no /PR, Rel. Min. José Delgado, DJ 26/06/2000) Por fim, destaco que, conforme o art. 557 do CPC, "o relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal ou de Tribunal Superior". Assim, mantenho a decisão recorrida e, por força do art. 557 do CPC, nego seguimento ao recurso. Intimações necessárias. Cumpra-se. João Pessoa/PB, 4 d janeiro de Juiz MAR A DE OLIVEIRA or 1 MS 11183/PR; Recurso Ordinário em Mandado de Segurança. 1999/ , Rel. Min. José Delgado.

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