Análise de estabilidade em problemas de três corpos utilizando o MEGNO

Documentos relacionados
na Órbita Terrestre: um Estudo do Caos Thales Agricola Instituto de Física UFRJ

O PROBLEMA DE DOIS CORPOS

Influência do Torque de Gradiente de Gravidade nas Regiões de Circulação do Movimento Rotacional de Veículos Espaciais

Comparação de Desempenho entre o Método dos Elementos de Contorno com Integração Direta e o Método dos Elementos Finitos em problemas de Poisson

Diogo Pinheiro Fernandes Pedrosa

Trajetórias espaciais

Solução de Problemas de Valores Iniciais de Equações Diferenciais Ordinárias

Curso Astronomia Básica. O sistema solar. Marcelo Moura. Abril Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais

Caos. Apresentado na disciplina Mecânica Cássica (PGF 5005) IFUSP. Iberê L. Caldas

DINÂMICA DO SISTEMA SOLAR

Posicionamento com GNSS em Cenários de Multi-Constelação

Controle de um Oscilador com Memória de Forma

ESTUDO DO DOMÍNIO E CURVATURA DA FAMÍLIA DE CURVAS OVAIS DE CASSINI

Introdução à Física Computacional 1S/2018

Observatório Nacional

Considerações sobre a Condição Inicial na Construção do Diagrama de Bifurcação para o Mapa Logístico

EVOLUÇÃO DO MOVIMENTO ROTACIONAL LIVRE DE TORQUES EXTERNOS NAS REGIÕES DE LIBRAÇÃO E CIRCULAÇÃO

Geração de aproximações de diferenças finitas em malhas não-uniformes para as EDPs de Laplace e Helmholtz

EAC-082: Geodésia Física. Aula 2: Introdução à Teoria do Potencial

FUNDAMENTOS DE CONTROLE - EEL 7531

2. Órbitas e Navegação de Satélites

com Formulação Mista de Mínimos Quadrados

Sistemas de coordenadas e elementos orbitais

Gravitação Newtoniana e o Sistema Planetário

Análise Numérica para Um Problema de Difusão Termoelástica em Domínios Não-Cilíndricos

Sistemas caóticos simples

Um modelo do Método dos Volumes Finitos com malha não estruturada

étodos uméricos AJUSTE DE FUNÇÕES Prof. Erivelton Geraldo Nepomuceno PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

3 SPH. 3.1 Introdução

Métodos de Runge-Kutta

O Sistema Massa-Mola

CÁLCULO DA DISTÂNCIA AO PONTO L2 DE LAGRANGE: A POSIÇÃO DO TELESCÓPIO JWST NO ESPAÇO.

REFORMULAÇÃO DA LEI DOS PERÍODOS A PARTIR DOS PRINCÍPIOS NEWTONIANOS

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. 1- Gravitação Física II

Funções Vetoriais. Copyright Cengage Learning. Todos os direitos reservados.

4.1 INTRODUÇÃO Geodésia Celeste - Objetivo científico e operacional Métodos geométricos e dinâmicos

Exterior. Interior. C = Conjunção O = Oposição Q = Quadratura Oc. = Ocidental (W) Or. = Oriental (E) S = Superior I = Inferior ME = Máxima Elongação

AS LEIS DE KEPLER A LEI DA GRAVITAÇÃO UNIVERSAL

Solução Numérica de Equações Diferenciais Parciais Implícitas de Primeira Ordem

Andréa Maria Pedrosa Valli

Introdução às Equações Diferenciais e Ordinárias

PLANO DE ATIVIDADE ACADÊMICA NOME

Gravitação IME. Lista de Exercícios 3

Órbitas dos Satélites GNSS

Física 1 Mecânica. Instituto de Física - UFRJ

II- Mapas Bidimensionais. Referência: Chaos, K. Alligood, T. D. Sauer, J. A. Yorke; Springer (1997).

Geodésia II. Gabriel Oliveira Jerez Prof. Dra. Daniele Barroca Marra Alves

FORMULARIO DE INSCRIPCIÓN Y PRESENTACIÓN DE RESÚMENES

Resolução Computacional de Problemas de Probabilidade

Análise do ponto de equilíbrio no modelo Lotka- Volterra

Gravitação Universal. Física_9 EF. Profa. Kelly Pascoalino

Maurício Clarisse Petroceli Loures

Departamento de Matemática, FEG- UNESP s:

Dinâmica: Algumas Forças Especiais Parte 1

Departamento de Astronomia - Instituto de Física Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Explorando Analiticamente o Modelo de Rede Neural de Wilson-Cowan

5 Análise Dinâmica da Estabilidade

PGF Mecânica Clássica Prof. Iberê L. Caldas

Queda transiente de uma partícula esférica num fluido viscoso: Transformação da equação íntegro-diferencial em uma equação diferencial

Guia de Atividades usando o método de Euler para encontrar a solução de uma Equação Diferencial Ordinária

ESTUDO COMPARATIVO DE ALGUNS MODELOS ATMOSFÉRICOS ANALÍTICOS UTILIZADOS EM DINÂMICA DE SATÉLITES ARTIFICIAIS

Estimativa de Parte Relevante da Fronteira da Região de Estabilidade usando Função Energia Generalizada

ADL A Representação Geral no Espaço de Estados

a) (2 valores) Mostre que o módulo da velocidade de um satélite numa órbita circular em torno da Terra é dado por:

étodos uméricos SOLUÇÃO NUMÉRICA DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS ORDINÁRIOAS Prof. Erivelton Geraldo Nepomuceno

Métodos Numéricos. Professor Tenani - 9 de Agosto de 2015

EVOLUÇÃO ORBITAL DE ASTERÓIDES QUE SOFREM GRANDES APROXIMAÇÕES: O CASO VESTA-MAGNYA

CAOS NO SISTEMA SOLAR

FUNDAMENTOS DE CONTROLE - EEL 7531

CAOS E ORDEM CONTROLO DE UM PÊNDULO INVERTIDO

Método de Euler. Marina Andretta/Franklina Toledo ICMC-USP. 29 de outubro de 2013

PLANO DE ATIVIDADE ACADÊMICA NOME

t RESOLUÇÃO COMECE DO BÁSICO = 0,1 cm/min . Para as frequências temos: v v 2 f r 2 f r f 1,5 r f r f 1,5 f.

Modelos Biomatemáticos - aulas Teórico-Práticas

Equações Diferenciais Ordinárias

Aulas Multimídias Santa Cecília Professor Rafael Rodrigues Disciplina: Física Série: 1º ano EM

Pequenas oscilações TÓPICOS FUNDAMENTAIS DE FÍSICA

/augustofisicamelo. 16 Terceira Lei de Kepler (2)

Quarta Lista de Exercícios (data de entrega: 11/05/2018)

Sistemas Dinâmicos e Caos Lista de Problemas 2.1 Prof. Marco Polo

O problema restrito dos 3 corpos

Sistemas lineares. Aula 3 Sistemas Lineares Invariantes no Tempo

II. REVISÃO DE FUNDAMENTOS

Noções de Astronomia e Cosmologia

Leis de Kepler Miguel Migu Net N a, 2, j 0 a 0 n 8 eiro de 2019 [Imagem:

étodos uméricos INTERPOLAÇÃO, EXTRAPOLAÇÃO, APROXIMAÇÃO E AJUSTE DE FUNÇÕES Prof. Erivelton Geraldo Nepomuceno

Denomina-se gravidade a interação ente dois ou mais corpos devido sua massa. A força da gravidade é uma força de ação à distância, que torna-se mais

Roteiro do Experimento Força de Atrito Variável Parte II

Cálculo Numérico. Profº Ms Ademilson Teixeira IFSC

Cálculo Numérico. Resumo e Exercícios P2

Matemática Computacional

FUNDAMENTOS DE SISTEMAS LINEARES PARTE 2

Aula 2a Elementos Orbitais

Sistema. de Referência. Equador

Teoria do Controle: fundamentos teóricos e técnicas numéricas

Deduza a Equação de Onda que representa uma onda progressiva unidimensional, numa corda de massa M e comprimento L.

Mat. Monitor: Roberta Teixeira

Dinâmica de Sistemas Planetários

CÁLCULO NUMÉRICO UFRJ Lista 0: revisão de cálculo e álgebra linear

ESTUDO DA ESTABILIDADE DO MOVIMENTO ROTACIONAL DE SATÉLITES ARTIFICIAIS COM VARIÁVEIS CANÔNICAS

Transcrição:

Trabalho apresentado no III CMAC - SE, Vitória-ES, 215. Proceeding Series of the Brazilian Society of Computational and Applied Mathematics Análise de estabilidade em problemas de três corpos utilizando o MEGNO Alan Costa de Souza 1 Departamento de Ciência da Computação, UFRJ, Rio de Janeiro, RJ Juliana Vianna Valério 2 Departamento de Ciência da Computação, UFRJ, Rio de Janeiro, RJ Leonardo Navarro de Carvalho 3 Departamento de Matemática Aplicada, UFF, Niterói, RJ Resumo. Dado que problemas de três corpos são, em geral, caóticos, é importante investigar indicadores de caos nessas situações. Este trabalho considera o indicador de caos Mean Exponential Growth of Nearby Orbits (MEGNO) e seu cálculo em duas situações. Uma delas tem motivação astronômica e é observável exatamente por ser estável. Na outra, apesar de ter solução periódica, esta é extremamente sensível a pequenas perturbações nas condições iniciais, como mostra o cálculo do MEGNO, indicando que a solução não é observável. Palavras-chave. MEGNO, caos, problema de três corpos. 1 Introdução. É claro o interesse em entender como corpos soltos no espaço, sujeitos somente às leis da natureza, se comportam ao longo do tempo. Por exemplo, se poderia prever a dinâmica do nosso sistema solar. Esse problema vem sendo investigado há mais de dois mil anos. Já no século XVII Kepler postula três leis que aproximam a dinâmica dos planetas orbitando em torno do Sol. Com Newton foi possível descrever as equações governantes da dinâmica do problema, caso os corpos sejam considerados massas pontuais sujeitas às leis de Newton e à Lei da Gravitação Universal. Sob essas condições o problema é modelado por um sistema de equações diferenciais ordinárias (EDO s) de segunda ordem: r i = N j=1,j i 1 alancosta@ufrj.br. Bolsista CNPq durante esse trabalho 2 juvianna@dcc.ufrj.br 3 leonardoc@id.uff.br Gm j (r j r i ) r j r i 3, i = 1,..., N, (1) DOI: 1.554/3.215.3.2.13 213-1 215 SBMAC

2 onde r i e m i são posição e massa do i-ésimo dentre N corpos e G a constante gravitacional. Dada uma condição inicial, que consiste da posição e velocidade de cada massa, a solução do sistema descreve a evolução da posição dos corpos ao longo do tempo. O modelo descreve bastante bem algumas situações. Nas situações mais simples, como é o caso de dois corpos, tem-se solução analítica. Em geral, uma solução numérica faz-se necessária para se aproximar a solução do sistema de EDO s. É relevante entender não apenas a solução como também sua sensibilidade a pequenas perturbações. Portanto é importante investigar o quão estável é a solução obtida, especialmente em se tratando de soluções aproximadas provenientes de esquemas numéricos, nos quais instabilidades são adicionadas artificialmente ao sistema dinâmico. Um indicador clássico de caos, no sentido de sensibilidade a pequenas perturbações nas condições iniciais, é o Número Característico de Lyapnov, que representa a divergência exponencial de soluções inicialmente próximas. Maneiras de estimar o número de Lyapnov numericamente são através do Fast Lyapunov Indicator (FLI) [8] e do Lyapunov Characteristic Number (LCN) [7]. Mais recentemente [3] apresentaram o Mean Exponential Growth of Nearby Orbits (MEGNO), que de acordo com [7] consegue determinar se o sistema é caótico com tempo de simulação menor que o método LCN. O trabalho [4] apresenta evidências das vantagens de um esquema simplético para resolver o sistema (1), uma vez que mantém a energia constante em média. Contudo, para o cálculo de um indicador de caos, resolve-se um sistema de equações de primeira ordem que não admite um esquema simplético, dado que não é um sistema hamiltoniano. Portanto o esquema escolhido, que resolve o sistema (1) e a estabilidade, via MEGNO, foi Runge-Kutta de quarta ordem. O objetivo deste trabalho é apresentar o indicador MEGNO, ilustrando seu uso em duas situações. Em uma aplicação em astronomia [7], onde utiliza-se o MEGNO para o estudo da estabilidade do sistema planetário υ Andromidae, que consiste de uma estrela e dois planetas. Uma vez calculada a órbita, o MEGNO é calculado indicando a regularidade da solução. A outra situação considerada é periódica contudo caótica, que é a trajetória em forma de oito [2], batizada dessa forma pela dinâmica realizada por três corpos de mesma massa e dispostos de forma simétrica cujas trajetórias, para condicões iniciais específicas, coincidem e têm forma um oito. Nesse caso, o MEGNO indica a extrema sensibilidade da solução às condições iniciais. 2 O indicador MEGNO Neste trabalho se considera o sistema (1) planar, ou seja, todos os corpos se movem no mesmo plano. Uma condição inicial é representada por um vetor x R 4n, onde n é o número de corpos envolvidos: para cada corpo tanto sua posição quanto sua velocidade iniciais são descritas por vetores pertencentes ao mesmo plano. A solução do sistema é uma função vetorial x(t) R 4n do tempo, suas coordenadas representando posição e velocidade de todos os corpos. A ideia é entender a sensibilidade dessa solução x(t) a pequenas perturbações. Assim utiliza-se a aproximação de primeira ordem de uma DOI: 1.554/3.215.3.2.13 213-2 215 SBMAC

3 perturbação δ R 4n : se z s (t) é solução com condição inicial x + sδ, define-se: z s (t) x(t) δ(t) = lim. s s Tal δ(t), um vetor tangente em x(t), é solução da equação variacional δ = Jδ, (2) com condição inicial δ, onde J é a matriz jacobiana do sistema de equações de primeira ordem obtido de (1) no vetor x(t) [4, 7, 8]. O MEGNO y(t) é definido como y(t) = 2 t t s ds, (3) δ(s) onde δ = δ(t), é a norma do vetor tangente à órbita. A presença do fator s multiplicando δ(s) na integral em (3) implica que o MEGNO y(t), para t, valoriza o comportamento assintótico de δ(s). 3 Exemplos analíticos do MEGNO. Nessa seção relaciona-se o crescimento do MEGNO e do δ em alguns casos particulares. Em geral não é possível calcular o MEGNO de forma analítica e recorre-se a métodos numéricos, que serão discutidos na próxima subseção. 3.1 Norma do vetor tangente com crescimento polinomial e exponencial. Seja δ(t) o vetor perturbação tangente ao longo da solução e δ(t) sua norma. Supondo a situação em que o MEGNO y(t) = 2 t s ds = k, com k constante, t > : t δ(s) 2 t t t δ(s) s ds = k 2 s ds = kt 2 δ(s) δ(t) t = k integrando dos dois lados, ln(δ(t)) = k 2 ln(t) + c δ(t) = a t k 2 δ(t) = k 2t, com c e a constantes. No caso em que o MEGNO y(t) = 2 o crescimento de δ(t) é linear, considerado regular. Segundo [3] quando y(t) tende a 2 o δ(t) tende à divergência linear e o sistema é regular. Considerando agora o caso em que y(t) = 2 t s ds = λt, com λ constante, se t δ(s) obtém: 2 t t s ds = λt t δ(s) δ(s) s ds = λt2 2 δ(t) t = λt δ(t) = λ, integrando, ln(δ(t)) = λt + c δ(t) = ae λt, com c e a constantes. O MEGNO y(t) com crescimento linear implica em δ(t) com crescimento exponencial. Segundo [3] mesmo DOI: 1.554/3.215.3.2.13 213-3 215 SBMAC

4 quando o y(t) tende a um crescimento linear o δ(t) tende à divergência exponencial. Esse caso é considerado caótico. Define-se o número característico de Lyapunov do sistema y(t) como λ = lim. t t 4 Abordagem numérica do MEGNO. Como mencionado na seção anterior, em geral não é possivel, ou pelo menos é difícil, calcular o MEGNO de forma analítica, por isso faz-se uso de métodos numéricos para seu cálculo. Nessa seção serão apresentadas duas abordagens para o cálculo do MEGNO: o método de Gozdziewski e o método de Breiter. 4.1 Método de Gozdziewski. O método de Gozdziewski é apresentado em [7]. Consiste em substituir a formulação apresentada na equação (3) pelo sistema v = δ.δ δ.δ t e ẇ = 2v t. (4) Após obter o valor das variáveis auxiliares v e w em cada instante de tempo, obtém-se o MEGNO através de y(t) = 2v(t) (5) t Numericamente o que se faz é resolver um sistema acoplado. Inicialmente transformase o sistema (1) em um sistema de primeira ordem nas variáveis posição e velocidade dos corpos. Resolve-se com o mesmo esquema numérico também o sistema (2), que descreve δ, e ainda o sistema (4) para encontrar o MEGNO y(t) através de (5). Ao final de cada passo tem-se a posição, velocidade, δ, e MEGNO no instante atual. 4.2 Método de Breiter. O método de Breiter é apresentado em [1]. Diferentemente do método anterior, o método utiliza uma fórmula analítica para o cálculo do MEGNO em cada passo. A fórmula é a seguinte: ( ) ( ) n 1 δ(n) y(n) = y(n 1) + 2 ln. n δ(n 1) onde δ(n) é a norma de δ no instante n. Em cada instante calculam-se as equações de movimento e as equações que determinam o δ, aplica-se o resultado nas fórmulas de Breiter para obter o valor do MEGNO. DOI: 1.554/3.215.3.2.13 213-4 215 SBMAC

5 Tabela 1: Dados sistema υ Andromidae. Dados massa(m J ) a(au) Período(dia) e Ω(graus) ω(graus) M(graus) planeta C 1 5,8282 242,3478 248,21 123,13 planeta D 1 5 2,5334 1269,296 242,99 354,78 5 Exemplos Numéricos do MEGNO. 5.1 MEGNO para o problema de três corpos regular. Nessa seção mostra-se um exemplo de sistema de três corpos que não é caótico. O sistema é constituído por uma estrela da constelação de Andrômeda, a υ Andromidae, cuja massa é 1,3 M (massa do Sol), e dois de seus planetas, denominados planeta C e planeta D, com massas da ordem de 1 5 M J (massa de Jupíter). As características dos planetas e suas órbitas foram extraídos de [7], e estão resumidos na Tabela 1. Os dados estão em elementos orbitais, que são a excentricidade da órbita (e), o semi-eixo maior da órbita (a) em unidades astronômicas (AU), a anomalia média (M), a longitude do nó ascendente (Ω) e o argumento do periélio (ω). As condições iniciais em coordenadas cartesianas de posição e momento são resumidas na Tabela 2. Lembrando que o momento p de um corpo é o produto de sua massa pela velocidade p = mv. Tabela 2: Coordenadas cartesianas do sistema υ Andromidae. r x (UA) r y (UA) p x (M UA/dia) p y (M UA/dia) planeta C.82472.6345 -.65 1 5.152 1 5 planeta D -1.832-1.44178.136 1 5 -.94 1 5 A seguir resolveu-se o sistema numericamente com as condições iniciais mencionadas anteriormente para um período de 1 3 períodos característicos do sistema, o que equivale a 1 3 períodos do planeta mais externo (1, 296 1 6 dias), pelo método de Breiter. Na Figura 1 exibe-se o resultado para um vetor perturbação δ aleatório. Do gráfico vê-se que y(t) converge para 2, indicando que o sistema não é caótico. Os resultados estão de acordo com [7]. 5.2 MEGNO para um problema de três corpos caótico. Nessa subseção será mostrado um problema de três corpos caótico. O problema apresentado é o da trajetória em forma de oito [2], ou Figura Oito, mais brevemente. O programa utiliza uma malha de 2 22 pontos, condições iniciais apresentadas na Tabela 3 e foi executado para um tempo de simulação total de aproximadamente 1 4 períodos característicos do sistema, como é recomendado em [3]. Na Figura 2 é exibida a órbita comum aos três corpos obtida, enquanto que o gráfico do MEGNO é exibido na Figura 3. DOI: 1.554/3.215.3.2.13 213-5 215 SBMAC

6 Figura 1: MEGNO υ Andromidae 1. 1.5 1.5.5 1 1.5 1 1 Figura 2: Solução numérica do Figura Oito. Figura 3: MEGNO do Figura Oito. Percebe-se que o gráfico na Figura 3 é uma reta, y(t) com crescimento linear, indicando caoticidade. Pode-se estimar o número característico de Lyapunov através da equação λ = y(t) t. Tabela 3: Condições iniciais da estrela tripla. Estrela 1 Estrela 2 Estrela 3 massa(m ) 1. 1. 1. x(ua).9743 -.9743. y(ua) -.24387.24387. p x (M UA/ano).46623.46623 -.93247 p y (M UA/ano).432365.432365 -.864731 6 Conclusão O MEGNO já vem sendo bastante usado desde sua concepção [3] na comunidade de astronomia. Os trabalhos [1, 4, 7, 8] são apenas alguns exemplos da vasta literatura aplicando o MEGNO para captar a caoticidade de sistemas planetários. É interessante perceber que o sistema de trajetória em forma de oito, situação conhecidamente periódica para condições iniciais bem específicas apresentadas em [2], apresenta MEGNO indicando caoticidade. Nesse trabalho verificou-se que, apesar de periódica, essa configuração é instável. Portanto não observável. Como exemplo foram feitos dois videos DOI: 1.554/3.215.3.2.13 213-6 215 SBMAC

7 com o programa numérico utilizado no trabalho: Video 1: https://www.youtube.com/ watch?v=easvlotgeuw mostra a solução numérica da configuração periódica. Video 2: https://www.youtube.com/watch?v=mmobwls8cqq uma solução com condições iniciais ligeiramentes perturbadas, em que se perde periodicidade. Referências [1] S. Breiter and B. Melendo and P. Bartczak and I. Wytrzyszczak, Synchronous motion in the Kinoshita problem application to satellites and binary asteroids, Astronomy and Astrophysics, vol. 437, 753 764, (25). [2] A. Chenciner and R. Montgomery, A remarkable periodic solution of the three-body problem in the case of equal masses, Annals of Mathematics, vol. 152, 881 91, (2). [3] P. M. Cincotta and C. Simó, Simple tools to study global dynamics in nonaxisymmetric galactic potentials - I, Astronomy and Astrophysics Supplement Series, vol. 147, 25 228, (2). [4] A. C. de Souza, Análise Numérica da Dinâmica e Estabilidade dos problemas de dois e três corpos, dissertação de mestrado, Programa de Pós Graduação em Informática Universidade Federal do Rio de Janeiro, 214. [7] K. Gozdziewski and E. Bois and A. J. Maciejewski and L. Kiseleva-Eggleton, Global dynamics of planetary systems with the MEGNO criterion, Astronomy and Astrophysics, vol. 378, 569 586, (21). [8] M. F. Mestre and P. M. Cincotta and C. M. Giordano, Analytical relation between two chaos indicators: FLI and MEGNO, Monthly Notices of the Royal Astronomical Society: Letters, vol. 414, L1 L13, (211). DOI: 1.554/3.215.3.2.13 213-7 215 SBMAC