Financiamento da seguridade social e do SUS: desafios e perspectivas

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Transcrição:

Financiamento da seguridade social e do SUS: desafios e perspectivas JOSÉ ROBERTO R. AFONSO IX Encontro Nacional de Economia da Saúde, ABRES Rio, Hotel Pestana, 8/12/2009

Carga e Gasto não reduzem desigualdade Ingresos Fiscales y Gasto público social 45.0 40.0 35.0 30.0 25.0 20.0 15.0 10.0 5.0 0.0 Brasil * Bolivia * Argentina * Colombia * Venezuela Chile Nicaragua Uruguay Costa Rica * Panamá Ecuador Perú * Honduras México Paraguay R. Dominicana El Salvador Guatemala En % del PIB Ingresos Fiscales Gasto Público Social DESIGUALDAD EN LA PARTICIPACIÓN EN EL INGRESO Estructura de la distribución del ingreso por deciles, 2003/2005 a/ 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Uruguay b/ Costa Rica El Salvador Venezuela, R.B. Argentina b/ Perú Ecuador b/ Paraguay México Panamá Guatemala Chile Rep.Dominicana Nicaragua Honduras Colombia Brasil Bolivia participación en el ingreso (porcentajes) relación de ingresos (veces) 5 0 50 45 40 35 30 25 20 15 10 40% más pobre 30% siguiente 20% anterior al 10% más rico 10% más rico D10/D(1 a 4) Q5/Q1 Fuente: CEPAL, sobre la base de tabulaciones especiales de las encuestas de hogares de los respectivos países. a/ Hogares del conjunto del país ordenados según su ingreso per cápita. b/ Área urbana. Fonte: CEPAL (2008).)

Expansão do gasto recente Evolução dos Principais Componentes do Gasto Social realizado pelo Governo Federal: 2000/2011 (em % do PIB) 2000 2006 2007 2008 2011 2000/07 Vinculações Universais (A) 2,23 2,63 2,51 2,50 2,50 0,27 Educação 0,51 0,74 0,76 0,76 0,76 0,25 Saúde 1,73 1,90 1,75 1,74 1,74 0,02 Benefícios Sociais (B) 6,21 8,54 8,78 8,88 9,74 2,57 Benefícios Previdenciários 5,58 7,10 7,23 7,24 7,80 1,65 Seguro-Desemprego e Abono Sal. 0,39 0,62 0,68 0,70 0,87 0,29 Benefícios Assist. (BPC+RMV) 0,22 0,49 0,53 0,56 0,69 0,31 Bolsas (escola até família) 0,01 0,33 0,34 0,38 0,38 0,33 = Soma (C = A+B) 8,44 11,18 11,29 11,38 12,24 2,84 Carga Tributária Federal (D) 20,77 24,26 24,93 25,48 25,83 4,16 Soma Gastos/Carga (C/D) 41% 46% 45% 45% 47% 68% STN, Relatório Exec.Orçamentária/LRF, dezembro cada ano - Vinculações Ensino/Saúde; Min. Humberto Costa (Saúde, 2000) Amir Khair - benefícios prev idenciários até 2006 MDAS - até 2003, outros benefícios; a partir de 2004, bolsa família MP/Propostas Orçamentária 2008 e Plano Pluarianual 2008/201 1 - projeções a partir de 2007 ; suposto que v inculações em 2009/1 1 mantenham peso no PIB d

Composição federativa do gasto Tabela 5 GOVERNO GERAL - DESPESA DIRETAMENTE REALIZADA POR TIPO EM 2005 Divisão Federativa - % do Total Per Capita Global (US$) Função/Subfunção % do Total % do PIB União Estados Municípios Total Ano DESPESA SOCIAL - CONCEITO AMPLO 100,0% 22,92% 54,7% 23,8% 21,5% 100,0% 1007,89 Benefícios 54,2% 12,42% 87,4% 9,1% 3,5% 100,0% 546,23 Seguro Social 35,3% 8,09% 98,5% 0,5% 1,0% 100,0% 355,60 Servidores 15,4% 3,54% 61,2% 30,5% 8,3% 100,0% 155,45 Assistenciais 3,5% 0,80% 90,7% 1,6% 7,7% 100,0% 35,17 Universais e Outros 45,8% 10,50% 18,5% 42,8% 38,7% 100,0% 461,66 Elaboração própria a partir de STN e IBGE (PIB). Consolidação de balanços governamentais por função (regime de competência). Divisão federativa compreende a execução direta do gasto, ou seja, em cada esfera de governo, excluídas transferências realizadas em favor de outros governos.

Seguridade Social - financiamento Carga das Contribuições Sociais, 1995/2007 (em % do PIB)

Seguridade Social - financiamento Taxação sobre a folha salarial: base é demasiado restrita (total das remunerações de pessoas físicas que contribuem para a previdência social era 16,7% em 2003 e 17,9% do PIB em 2006) recuperação do emprego formal modificou a composição dos contribuintes para a previdência social por faixa Composição dos Contribuintes da Previdência Social por Faixa de Rendimento: 1996,2003 e 2006 (Em Pisos Previdenciários) Faixa de Valor 1996 2003 2006 Quantidade % Quantidade % Quantidade % até 2 8.595.795 39,7 16.995.177 54,0 23.291.191 62,3 Entre 2 e 10 11.179.701 51,7 12.888.087 41,0 12.741.768 34,1 Acima de 10 1.860.817 8,6 1.571.300 5,0 1.381.699 3,7 Total 21.636.313 100,0 31.454.564 100,0 37.414.658 100,0 Fonte primária: MPAS/Anuário da Previdência

Contribuições clássicas com Base 7 diminuta Copilado IPEA, Estado da Nação, 2006

Carga Tributária, muito Indireta TRANSAÇÕES FINANCEIRAS 4,74% TAXAS COMÉRCIO 1,55% EXTERIOR 1,31% PATRIMONIAIS 3,18% Composição da carga tributária Nacional de 2007 por maiores base: total de 36,42% do PIB DEMAIS 2,92% BENS E SERVIÇOS 41,92% RENDA, LUCROS E GANHOS 20,53% SALÁRIOS E MÃO-DE- OBRA 23,85%

Regressividade piorou 2004/2008 9

Evolução Receita Federal 1s2002/2009 Atividades 1Sem 2009 1 Sem 2002 Variação 2009/02 R$ cor. R$ const.(ipca) Acum. %aa = Primário 595.491.405 599.091.207-0,6% -0,1% = Minério Ferro 935.197.981 390.211.771 139,7% 13,3% = Ind.Alimentos 8.294.137.259 4.568.690.390 81,5% 8,9% = Vestir 2.323.314.708 1.608.015.348 44,5% 5,4% = Petróleo 14.125.783.960 13.875.692.401 1,8% 0,3% = Petroquímica 20.424.490.398 19.095.565.355 7,0% 1,0% = Equip.Maquinas 8.349.090.797 5.227.999.071 59,7% 6,9% = Fabrica Auto 4.848.742.510 4.169.023.389 16,3% 2,2% = Ind.Automotiva 8.805.618.894 6.145.414.374 43,3% 5,3% = Agua e Esgoto 1.979.669.678 634.669.669 211,9% 17,6% = Ind.Ambiente 2.238.946.437 709.607.213 215,5% 17,8% = Ind.Construção 6.458.973.573 2.477.224.742 160,7% 14,7% = Com.Alimentos 1.506.102.231 1.275.747.209 18,1% 2,4% = Comércio Total 25.884.822.155 16.608.692.060 55,9% 6,5% = Telecomunicações 5.099.884.316 3.439.595.910 48,3% 5,8% = Bancos 31.708.028.825 31.346.591.876 1,2% 0,2% = Financeiro 52.941.910.831 57.036.155.355-7,2% -1,1% = Governo 9.724.985.968 6.729.618.671 44,5% 5,4% = Ensino 1.957.064.540 1.344.358.504 45,6% 5,5% = Saúde 2.505.421.079 1.743.729.746 43,7% 5,3% = Demais 41.081.382.766 25.048.606.020 64,0% 7,3% = Total 211.746.517.067 166.648.268.138 27,1% 3,5% CPMF 96.063.487 9.331.844.727-99,0% -48,0% = Líquido CPMF 211.650.453.580 157.316.423.411 34,5% 4,3% = Bancos sem CPMF 31.611.965.338 22.014.747.149 43,6% 5,3%

Considerações finais Reestruturar o padrão de financiamento do Estado Brasileiro é premente requer abandonar dogmas e ideologias e buscar uma reflexão a mais técnica Volume de recursos não pode ser o único objetivo a ser perseguido imprescindível conciliar quantidade e qualidade, no gasto e na receita Garantir que o aumento do gasto social verificado recentemente seja financiado por uma estrutura mais progressiva deve ser uma preocupação de todos Fundamental ter claro em mente é que as diferentes formas de financiar os gastos não são indiferentes do ponto de vista macroeconômico expansão do gasto baseado em uma tributação regressiva pode ser um tiro no pé, ou seja, ir contra os próprios princípios e objetivos da política social

José Roberto R. Afonso e-mail: zeroberto.afonso@gmail.com website: www.joserobertoafonso.ecn.br Opiniões de exclusiva responsabilidade do autor e não das instituições a que está vinculado.