APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE TÍTULO C/C SUSTAÇÃO DE PROTESTO E APREENSÃO DE TÍTULO. CHEQUE. FACTORING. FORMA DE TRANSMISSÃO DO TÍTULO QUE NÃO SE SOBREPÕE À NATUREZA CAMBIARIFORME DO CHEQUE. ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO ENTRE AS PARTES E NÃO CONCRETIZAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO QUE ORIGINOU O TÍTULO. IRRELEVÂNCIA DA CAUSA SUBJACENTE. AUTONOMIA E ABSTRAÇÃO DO TÍTULO DE CRÉDITO. INOPONIBILIDADE DE EXCEÇÕES PESSOAIS CONTRA O PORTADOR DE BOA-FÉ. A natureza da forma como transmitido o título por meio de operação de factoring não se sobrepõe à cartularidade do cheque, e, por isso, sendo a R. terceira de boa-fé, inoponíveis as exceções pessoais do A. para com o beneficiário original. NEGADO PROVIMENTO À APELAÇÃO. MAIORIA. APELAÇÃO CÍVEL DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL COMARCA DE LAJEADO DANIEL DOS SANTOS CREDFACTOR FOMENTO COMERCIAL LTDA. APELANTE APELADA A CÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, POR MAIORIA, VENCIDO O REVISOR, em negar provimento à apelação. Participaram do julgamento, além da signatária, os eminentes Senhores DES. CLÁUDIO AUGUSTO ROSA LOPES NUNES (PRESIDENTE E REVISOR) E DES. PEDRO CELSO DAL PRÁ. Porto Alegre, 18 de dezembro de 2008. NARA LEONOR CASTRO GARCIA, 1
Desembargadora-Relatora. R E L ATÓRIO NARA LEONOR CASTRO GARCIA, Desembargadora (RELATORA): DANIEL DOS SANTOS ajuizou Ação Declaratória de Nulidade de Título contra CREDFACTOR FOMENTO COMERCIAL LTDA. dizendo ter recebido intimação de protesto, referente ao cheque nº 000458, no valor de R$ 1.245,00, sem que tenha havido relação negocial com a R. ou com o credor desta, pois o título foi dado como garantia em negócio envolvendo a empresa da qual é gerente administrativo, Indústria e Comércio de Chocolates Dakas Ltda., e a fornecedora de açúcar, Supermarcas Comércio de Alimentos Ltda.; alegou que o negócio não se perfectibilizou, sendo indevida a cobrança do cheque; sustentou ser o fundamento do protesto unicamente a inibição do crédito do protestado; defendeu que cabe à R. notificar o devedor acerca da cessão de crédito para verificar a concreta relação comercial, o que não ocorreu; postulou a sustação do protesto e apreensão do cheque, em antecipação de tutela; ao fim, pediu seja julgado procedente o pedido, declarando-se a nulidade do título. mediante caução. Deferida a antecipação de tutela para a sustação do protesto, A R. contestou, afirmando não haver vício de consentimento na emissão do cheque, o qual circulou e, por isso, o novo portador, na condição de terceiro de boa-fé, passou a ser o efetivo credor; assim, possível a negociação mediante operação de factoring, como ocorreu; defendeu que não há obrigação de prévia comunicação ao emitente acerca da faturização; aduziu que houve endosso pleno, não havendo como o A. opor exceções pessoais; ao fim, pugnou pela improcedência da demanda. Houve réplica (fls. 79/82). Sobreveio sentença de improcedência do pedido. 2
Apelou o A. sustentando ter havido cessão de crédito, sendo possível a discussão acerca da causa debendi; ao fim, pediu o provimento do recurso, para que seja julgada procedente a demanda. Foram apresentadas contra-razões. De registrar, por fim, que foi observado o disposto nos artigos 549, 551 e 552, do CPC, tendo em vista a adoção do sistema informatizado. V O TOS NARA LEONOR CASTRO GARCIA, Desembargadora (RELATORA) Não prospera a pretensão recursal. Conforme bem observado pelo MM. Juiz de Direito, Dr. João Gilberto Marroni Vitola, a R. é terceiro de boa-fé em relação à negociação que deu origem ao cheque. Por outro lado, a alegação do A. de que o cheque é nulo e de que o protesto foi indevido por não ter havido qualquer transação entre as partes e que a causa da emissão do título não se perfectibilizou não procede, pois o cheque foi posto em circulação, desvinculando-se do negócio jurídico que lhe deu causa. Nessa senda, não há como se invocar a relação subjacente em face do portador de boa-fé, no sentido de afastar o direito da R. ao crédito representado pela cártula. Nesse sentido, os precedentes dês Câmara: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO DE COBRANÇA. PROCESSUAL CIVIL. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA. REJEIÇÃO. É parte ativa legítima para buscar a cobrança de cheques, que circularam pela via do endosso, o portador de boa-fé. CHEQUE. ENDOSSO. CIRCULAÇÃO. ABSTRAÇÃO. INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES CAUSAIS. ENDOSSATÁRIO DE BOA-FÉ. As obrigações decorrentes de cheque, uma vez posto em circulação o título, por serem abstratas, hão de ser cumpridas, mormente frente ao endossatário de boafé, não se admitindo qualquer recusa com lastro na causa que originou sua emissão, salvo se fundada em ilicitude. Alegação de desacordo comercial que não pode ser oposta à endossatária de boa-fé. PRELIMINAR 3
REJEITADA. UNÂNIME. RECURSO IMPROVIDO. MAIORIA. (Apelação Cível Nº 70022235899, Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Pedro Celso Dal Pra, Julgado em 19/12/2007). No caso dos autos, houve uma operação de factoring, o que, por si só, não tem o condão de desnaturar o cheque como título de crédito e meio de pagamento à vista. Certo que, em alguns casos, ocorre a cessão de direitos, onde se pode discutir a causa subjacente, como nos títulos causais, cuja exigibilidade a esta se mantém vinculada, motivo pelo qual a faturizadora assume os riscos acerca da negociação. Todavia, não é o que ocorre na presente demanda, uma vez que a natureza da forma como transmitido o título por meio de operação de factoring não se sobrepõe à cartularidade do cheque, e, por isso inoponíveis as exceções pessoais do A. para com o beneficiário original em relação à R.. Além disso, não restou evidenciada qualquer ilicitude que pudesse ensejar eventual má-fé por parte da R., que apenas adquiriu o título emitido conscientemente pelo A., em que pese não concretizado o negócio que o originou. Nesse contexto, sendo a R. detentora do crédito representado pelo cheque, legítima a cobrança e o protesto levados a efeito, tal como proclamado na sentença recorrida. Voto, então, em negar provimento à apelação. DES. CLÁUDIO AUGUSTO ROSA LOPES NUNES (PRESIDENTE E REVISOR) - De acordo no caso concreto. DES. PEDRO CELSO DAL PRÁ - De acordo. 4
DES. CLÁUDIO AUGUSTO ROSA LOPES NUNES - Presidente - Apelação Cível nº 70027649441, Comarca de Lajeado: "POR MAIORIA, VENCIDO O REVISOR, NEGARAM PROVIMENTO À APELAÇÃO." Julgador(a) de 1º Grau: JOAO GILBERTO MARRONI VITOLA 5