ACÓRDÃO Nº COMARCA DE ALVORADA CALECA MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO E AGROPECUÁRIA LTDA APELANTE LIFE INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA

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1 DESCONSTITUIÇÃO DE TÍTULO DE CRÉDITO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. DUPLICATAS. MERCADORIAS NÃO ENTREGUES. AUSÊNCIA DE AGIR ILÍCITO OU DE MÁ-FÉ DA EMPRESA DE FACTORING. VALOR INDENIZATÓRIO MANTIDO. A empresa de factoring, a despeito de assumir os riscos da cessão de crédito, conforme as circunstâncias do caso, tomou as providências cabíveis para aferir a legalidade das duplicatas emitidas. Descabe sua responsabilidade pelos danos morais decorrentes do protesto indevido quando agiu de forma lícita e de boa-fé. Valor indenizatório mantido porque até mesmo superior ao comumente fixado por esta Câmara em casos semelhantes. Apelo desprovido. Unânime. APELAÇÃO CÍVEL DÉCIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL COMARCA DE ALVORADA CALECA MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO E AGROPECUÁRIA LTDA LIFE INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA ABERSUL ABERTURAS DE MADEIRAS SPREAD FACTORING DE FOMENTO COMERCIAL LTDA. APELANTE ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos. 1

2 Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento ao apelo. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, além da signatária, os eminentes Senhores DES. PAULO AUGUSTO MONTE LOPES (PRESIDENTE) E DES. ERGIO ROQUE MENINE. Porto Alegre, 10 de outubro de DES.ª HELENA RUPPENTHAL CUNHA, Relatora. RELATÓRIO DES.ª HELENA RUPPENTHAL CUNHA (RELATORA) Trata-se de ação de cobrança ajuizada por CALECA MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO E AGROPECUÁRIA LTDA. contra LIFE INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA., ABERSUL ABERTURAS DE MADEIRAS E SPREAD FACTORING DE FOMENTO COMERCIAL LTDA., pleiteando a desconstituição da dívida e o pagamento de indenização por danos materiais e morais, oriundos do protesto indevido de títulos. O magistrado de primeiro grau julgou (fls. 126/127) parcialmente procedente o pedido, para declarar a inexistência da dívida representada pelos títulos IDM 9811-A e IDM 9811-B e condenar as rés Life e Abersul ao pagamento de indenização no valor de R$ 7.500,00, com correção monetária conforme a variação do IGP-M/FGV desde a data da sentença e juros de mora de 12% ao ano desde a data do trânsito em julgado da decisão. Em razão da revelia e do decaimento mínimo em relação 2

3 à ré Spread, condenou, também, as rés Life e Abersul ao custeio processual e aos honorários advocatícios, fixados em 20% sobre o valor da condenação, com fulcro no art. 20, 3 4º do CPC. Por fim, ainda que reconhecida a sua não responsabilidade, considerou recíproca e idêntica a sucumbência da ré Spread em relação à autora, motivo pelo qual compensou os honorários na forma do art. 21 do CPC. Apela a autora (fls. 130/136). Historiando os fatos, sustenta ser também a ré Spread responsável solidariamente pelo dano causado a empresa apelante, visto que teve conhecimento dos fatos antes do protesto indevido dos títulos e não tomou as devidas precauções para evitá-lo; sendo este o entendimento, necessário se faz a majoração do valor fixado em sentença a título de danos morais, pois a Spread é uma empresa de maior potencial econômico e, portanto, o valor estabelecido não servirá de meio de punição para que a ré reveja sua atuação no mercado. Requer o provimento do recurso. Recebida a apelação no seu duplo efeito e apresentadas as contra-razões da ré Spread (fls. 141/147), subiram os autos a este Tribunal. Registro que foi observado o disposto nos artigos 549, 551 e 552 do CPC, tendo em vista a adoção do sistema informatizado. É o relatório. VOTOS DES.ª HELENA RUPPENTHAL CUNHA (RELATORA) 3

4 Irresigna-se o apelante com a não-condenação da empresa Spread Factoring de Fomento Comercial Ltda. ao pagamento de indenização a título de danos morais à autora, sustentando sua responsabilidade solidária porque não verificou que a data do pedido das mercadorias foi posterior a emissão das notas fiscais. Embora possa o devedor opor ao cessionário as exceções que tinha contra o cedente, as circunstâncias do caso levam à conclusão que a empresa de factoring agiu de forma lícita e de boa-fé, restando afastada sua responsabilidade pelo dano moral sofrido pela empresa-apelante quando do protesto indevido dos títulos. Portanto, não merece reparo a sentença exarada pelo ilustre magistrado, Dr. Juliano da Costa Stumpf, cujos fundamentos vão aqui ratificados: Os títulos foram alvo de cessão de crédito em favor da ré Spread ainda no mês de janeiro/2004 fl. 49, alguns dias depois de formalizado o contrato de compra e venda das esquadrias. Depois, conforme disse a autora, foi cancelado o contrato apenas 10 dias antes do vencimento dos títulos, o que autoriza entender que até então era regular a atividade da empresa Spread. Some-se a isso o fato de que foi exigido pela empresa Spread a demonstração de que as duplicatas cedidas tinham causa legítima, ou seja, estavam amparadas por verdadeira compra e venda de mercadorias que foram entregues. Não seria outra a razão para contar a ré, em seu poder, com o documento juntado na fl. 50, ou seja, nota fiscal de venda e respectivo comprovante de entrega da marcadoria. Ainda que pese o risco da atividade desenvolvida pela ré Sperad, não se pode ignorar que tomou elas as cautelas necessárias, dentro do que se entende como razoável antes de adquirir os créditos representados pelas duplicatas. 4

5 Sabe-se que as empresas de factoring são, em regra, solidárias em casos como o que se examina nos autos. Contudo, a sua responsabilidade deve ser afastada sempre que demonstrado o cumprimento das cautelas necessárias no avaliar a legitimidade dos títulos e da relação jurídica que lhes deu causa. Portanto, se as cautelas foram tomadas pela ré Spread, sendo o protesto medida que se insere no exercício legal de um direito, não há razão para se entender que tenha praticado ato abusivo ou ilícito a permitir a indenização reclamada pela autora. A pretensão de natureza indenizatória deduzida contra a ré Spread, então, deve ser rejeitada. Quanto ao valor fixado a título de danos morais R$ 7.500,00 vai mantido, pois até mesmo superior ao comumente fixado por esta Câmara em processos semelhantes. Em conclusão, nego provimento ao apelo. DES. ERGIO ROQUE MENINE (REVISOR) - De acordo. DES. PAULO AUGUSTO MONTE LOPES (PRESIDENTE) - De acordo. DES. PAULO AUGUSTO MONTE LOPES - Presidente - Apelação Cível nº , Comarca de Alvorada: "NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME." Julgador(a) de 1º Grau: JULIANO DA COSTA STUMPF 5