EMENTA ACÓRDÃO. Acordam os Desembargadores da SEGUNDA TURMA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e

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1 Órgão : 2ª TURMA CÍVEL Classe : APC APELAÇÃO CÍVEL N. Processo : Apelante : SENA COMERCIAL E SERVIÇOS LTDA Apelado : JOÃO BATISTA VIANA Relatora Desa. : ADELITH DE CARVALHO LOPES Revisor Des. : MÁRIO-ZAM BELMIRO EMENTA TÍTULO DE CRÉDITO AUTONOMIA E ABSTRAÇÃO INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES PESSOAIS PORTADOR DE BOA FÉ FACTORING PRESCRIÇÃO. 1. São inoponíveis contra portadores de boa fé, assim considerados os que se dedicam, licitamente, à atividade de factoring, as exceções de caráter pessoal, especialmente as que digam respeito à inexecução do contrato que deu origem ao cheque regularmente transferido. 2. Prescritos os cheques, justifica-se o manejo da ação monitória para se obter a eficácia executiva do título, perdida pelo decurso do tempo. 3. Recurso provido. ACÓRDÃO Acordam os Desembargadores da SEGUNDA TURMA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e 1

2 Territórios, ADELITH DE CARVALHO LOPES - Relatora, MÁRIO-ZAM BELMIRO - Revisor, CARMELITA BRASIL, Vogal, sob a presidência da Desembargadora CARMELITA BRASIL, em CONHECER E DAR PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas. Brasília (DF), 20 de outubro de Desa. CARMELITA BRASIL Presidente Desa. ADELITH DE CARVALHO LOPES Relatora 2

3 RELATÓRIO Trata-se de Ação Monitória, movida por Sena Comercial e Serviços Ltda em desfavor de João Batista Viana, por meio da qual pretende a firma autora receber a quantia de R$ 2.418,62 (dois mil, quatrocentos e dezoito reais e sessenta e dois centavos) devida em razão dos cheques de fls. 05, já prescritos e não pagos. O réu, regularmente citado, aviou os embargos de fls. 38/40, salientando, em preliminar, sua ilegitimidade passiva, vez que não realizou qualquer negócio com a autora, tendo, inclusive, providenciado a contraordem dos mencionados cheques. Enfatizando que a autora não comprovou a origem da dívida, nem trouxe aos autos quaisquer elementos que pudessem ser examinados, os quais seriam obrigatórios, por tratar-se de cobrança de cheque prescrito, pugna pela improcedência do pedido. Na sentença de fls. 53/59, o e. magistrado singular, acolhendo a preliminar aventada pelo requerido, extinguiu o feito sem julgamento de mérito, com base no art. 267, III, do CPC. Indignada, apelou a autora às fls. 62/66, pugnando pela cassação do douto decreto monocrático, para que o mérito fosse apreciado. Às fls. 79/82, esta E. 2ª Turma Cível proferiu voto afastando a preliminar argüida e determinando o julgamento do mérito. Retornado os autos à instância a quo, foi prolatada nova sentença às fls. 85/91, oportunidade em que foram acolhidos os embargos e, em conseqüência, julgado improcedente o pedido deduzido na monitória. Insatisfeita, apela novamente a requerente às fls. 94/96, aduzindo que recebeu os cheques de boa-fé, que o requerido não afastou a validade dos títulos e que, em virtude do princípio da inoponibilidade das 3

4 exceções, o devedor não pode lhe opor as exceções fundadas em relações pessoais com o sacador. Requer o provimento de seu recurso. Nas contra-razões de fls. 102/104, o réu rebate as considerações do recurso e requer o seu desprovimento. É o relatório. VOTOS A Senhora Desembargadora ADELITH DE CARVALHO LOPES - Relatora. Presentes os pressupostos legais, conheço do recurso. Malgrado, no entanto, os fundamentos esposados na r. sentença vergastada, tenho que razão assiste à recorrente. Os cheques prescritos não perdem suas características cambiariformes, tais como literalidade, autonomia, cartularidade e abstração, apenas deixam de ser exeqüíveis. Assim, a autora, ao receber, mediante endosso, as cártulas emitidas pelo réu, passou a ser sua portadora legítima, podendo, conseqüentemente, reclamar o pagamento tanto dos emitentes que figuram como devedores principais, como do endossante, que também se obrigou quando opôs sua assinatura nos documentos. Os cheques foram obtidos pela apelante em razão de atividade de factoring, lícita em nosso ordenamento jurídico. Tal fato, a meu ver, já é suficiente para a demonstração da causa de pedir ou da causa da dívida. Transferidas as cártulas, tornou-se a autora credora, sendo, portanto, válida a sua pretensão de transformá-los em título executivo através da ação monitória. A origem da dívida restou, pois, esclarecida. Mas, ainda que assim não fosse, tenho que a monitória constitui meio adequado à satisfação da pretensão da credora. 4

5 A lei que rege esse tipo de título de crédito (Lei nº 7.357/85) prevê, no caso de não pagamento, a sua execução (art. 47). Deixando, porém, o credor decorrer seis meses, contados da expiração do prazo de apresentação do título ao banco sacado, pode entrar com ação Monitória. A referida ação, se for proposta até dois anos após o decurso do prazo previsto no art. 47 da citada Lei 7.357/85, dispensa a autora de deduzir a causa debendi do cheque prescrito. Se, contudo, já houver decorrido esse prazo, o credor também poderá, para satisfação de seu crédito, intentar a ação monitória, mas aí terá que narrar a origem do título. De fato, este tem sido o melhor posicionamento, conforme se pode observar do julgamento proferido no REsp nº /MG, 4ª Turma do Eg. STJ, em que foi relator o Min. Barros Monteiro: AÇÃO MONITÓRIA. CHEQUE QUE PERDEU A EFICÁCIA EXECUTIVA EM FACE DO TRANSCURSO DO LAPSO PRESCRICIONAL. PROVA ESCRITA. ADMISSIBILDADE DA VIA ELEITA. É hábil a ensejar a ação monitória o cheque que tenha perdido a natureza executiva em face do transcurso do prazo prescrição. Recurso especial conhecido e provido. Assim, demonstrou a autora ser credora do réu, pelo simples fato de ser portadora de cheques endossados por este, cuja origem nem era obrigada a revelar de plano. Competia ao devedor, em sede de embargos, fazer a prova da existência de fato que, de uma forma ou de outra, pudesse interferir nessa relação creditícia. Como, no entanto, o réu não logrou êxito em afastar os fatos constitutivos do direito da autora, tenho como válida a presente ação. Ante o exposto, dou provimento ao recurso para, em reformando a r. sentença singular, julgar improcedentes os embargos à 5

6 monitória, convertendo, em conseqüência, os cheques que a instruem em títulos executivos judiciais. Inverto o ônus da sucumbência. É o voto. BELMIRO - Revisor. O Senhor Desembargador MÁRIO-ZAM Com a Relatora. BRASIL Presidente/Vogal. A Senhora Desembargadora CARMELITA Com a Relatora. DECISÃO Deu-se provimento. Uninâme. 6