PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Registro: ACÓRDÃO

Transcrição

1 fls. 1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Barueri, em que é apelante MARGRAF EDITORA E INDÚSTRIA GRÁFICA LTDA., são apelados BANCO LUSO BRASILEIRO S/A e 1º TABELIÃO DE NOTAS E PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS DE BARUERI. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores LUÍS FERNANDO LODI (Presidente sem voto), SIMÕES DE VERGUEIRO E MIGUEL PETRONI NETO. São Paulo, 18 de março de Jovino de Sylos RELATOR Assinatura Eletrônica

2 fls. 2 VOTO Nº: APEL.Nº: COMARCA: BARUERI APTE. : MARGRAF EDITORA E INDÚSTRIA GRÁFICA LTDA. APDOS. : BANCO LUSO BRASILEIRO S/A E 1º TABELIÃO DE NOTAS E PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS DE BARUERI *DUPLICATA ação declaratória de obrigação de fazer c.c. antecipação de tutela pretensão da postulante de cancelamento do protesto do título fundado em pagamento exigência do Tabelionato de Protesto de carta de anuência do banco requerido que recebeu a cártula por endosso-caução conduta de acordo com as normas de serviço da E. CGJ do TJSP extinção do feito sem julgamento do mérito (art. 295, I, c.c art. 267, I, do CPC) tão-somente em relação à instituição financeira improcedência da demanda no tocante ao réu remanescente recurso improvido.* 1. Cuida-se de ação declaratória de obrigação de fazer c.c. antecipação de tutela para suspensão dos efeitos do protesto, deferida a fls. 18, movida por Margraf Editora e Indústria Gráfica Ltda. em face de 1º Tabelião de Notas e Protesto de Letras e Títulos de Barueri e Banco Luso Brasileiro S/A, visando o cancelamento da duplicata DMI nº 5034, no valor de R$1.920,00 (fls. 54). Alega a autora que a cártula foi emitida por Tecnotintas Indústria e Comércio Ltda. e já se encontra devidamente quitada, tendo inclusive obtido carta de anuência. Sustenta que compareceu perante o Tabelião para efetuar o cancelamento do protesto do título, mas obteve informação de que havia necessidade também de anuência do banco réu, o que não concorda. 2. Pela r. sentença de fls. 104/111 entendeu a magistrada a quo que em relação ao Banco Apelação nº

3 fls. 3 Luso Brasileiro S/A reconheço a inépcia da inicial, extinguindo o processo sem julgamento do mérito, com base no art. 295, I, combinado com o art. 267, I, do CPC, e ainda que o termo de audiência, onde ficou consignada a concordância do banco com o cancelamento do protesto, equivale à carta de anuência, devendo a autora munida do referido documento, providenciar o necessário junto ao Tabelionato respectivo. Julgou improcedente a demanda no tocante ao 1º Tabelião, revogando a liminar anteriormente concedida. Carreou à autora sucumbência de custas e honorários advocatícios fixados em R$1.000,000 para cada um dos réus. 3. Irresignada, recorreu a postulante a este Tribunal para reforma do decisum combatido, com inversão sucumbencial, alegando que a atitude do 1º Tabelião de se recusar a cancelar protesto de título quitado, bem como de exigir a carta de anuência do banco réu, vai de encontro ao item 46.1 das Normas de Serviço dos Cartórios Extrajudiciais da Corregedoria Geral da Justiça, devendo ser compelido a cancelar o protesto. Subsidiariamente requer a redução da verba honorária que lhe foi imposta. 4. O recurso foi recebido, processado e respondido. Os autos subiram em seguida. É o relatório. 5. O apelo não merece acolhimento. Como bem destacou a juíza singular: Os documentos de fls. 58/59 revelam que em o Banco Luso Brasileiro recebeu a duplicata 'sub judice' em carteira para cobrança, em garantia do pagamento de Apelação nº

4 fls. 4 empréstimo/capital de giro, disponibilizado em favor da emitente (Tecnotintas). Ou seja, recebeu a duplicata por endosso-caução (cláusula 2ª fls. 59 verso). A fim de efetivar o recebimento do crédito, incumbiu outro banco, o Bradesco S/A (cláusula 1ª fls. 59 verso), o qual apresentou o título em cartório, mediante endossomandato (fls. 54). Em face da negociação operada com a emitente do título, é certo que o banco passou a exercer e praticar os atos necessários para defesa e conservação dos direitos emergentes da duplicata, na condição de endossatário-caucionado. Assim, não se mostrou abusiva a conduta do Tabelião ao exigir que a carta de anuência fosse expedida pelo endossatáriocaucionado, deixando de conferir os efeitos almejados pela autora, portadora da carta de anuência firmada pela Tecnotintas, a qual promoveu a circulação da cártula mediante endosso-caução (fls. 11). 6. Vale dizer, o Banco Luso Brasileiro recebeu a duplicata em questão através de endossocaução, para garantia do contrato de empréstimo/capital de giro com a empresa Tecnotintas, reservando-se o direito de receber o valor do título até integral liquidação da dívida, recebendo poderes de levá-lo a protesto, agindo sobre a cambial direitos de verdadeiro dono e exercendo em nome próprio e no seu interesse os direitos derivados do título, segundo WERTER R. FARIA (cf. Ações Cambiais, Sérgio Fabris Ed. 1987, p. 41). 7. Desta forma, a atitude do Tabelionato está sim em consonância com o item 46.1 das Normas de Serviço dos Cartórios Extrajudiciais da Corregedoria Geral da Justiça, vigente na época, que estipulava que Apelação nº

5 fls. 5 Quando o cancelamento for fundado no pagamento e não for possível demonstrá-lo pelo título ou documento de dívida, será dele exigida prova, mediante apresentação de declaração de anuência com o cancelamento, oferecida pelo credor originário ou endossatário, que deverá estar suficientemente identificado na declaração, exigindo-se a sua firma reconhecida, razão pela qual o Tabelião exigiu que o Banco Luso Brasileiro desse a carta de anuência, já que este passou a ser o credor originário. 8. Nessas circunstâncias, nada há para ser modificado no decisório combatido, o qual permanece irretocável, inclusive no que tange aos ônus sucumbenciais, que se afiguram bem arbitrados no contexto do julgado, em consonância com o artigo 20, 3º e 4º, do Código de Processo Civil. 9. Com esses fundamentos, nega-se provimento ao recurso. mf:js JOVINO DE SYLOS Relator Apelação nº