Nº COMARCA DE SÃO LEOPOLDO VALMIR ORTÁCIO PEREIRA, ACÓRDÃO

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1 AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE C/C CANCELAMENTO DE PROTESTO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CHEQUES. INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES PESSOAIS PERANTE O PORTADOR DO TÍTULO. ÔNUS DA PROVA. CASO CONCRETO. Ainda que tenham sido recebidos os cheques pela demandada em razão de operação de factoring, os cheques não se desnaturam. Persiste a regra de sua autonomia e independência, razão pela qual, são inoponíveis à demandada as exceções pessoais do devedor em face do credor originário, inexistindo prova da máfé. NEGARAM PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME. APELAÇÃO CÍVEL DÉCIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL COMARCA DE SÃO LEOPOLDO VALMIR ORTÁCIO PEREIRA, CUSTUMER SERVICE FOMENTO MERCANTIL LTDA., APELANTE; APELADO. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, negar provimento ao apelo. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores DES. VICENTE BARROCO DE VASCONCELLOS (PRESIDENTE) E DES. PAULO ROBERTO FÉLIX. Porto Alegre, 12 de março de DES. OTÁVIO AUGUSTO DE FREITAS BARCELLOS, Relator. 1

2 RELATÓRIO DES. OTÁVIO AUGUSTO DE FREITAS BARCELLOS (RELATOR). Trata-se de APELAÇÃO CÍVEL interposta por VALMIR ORTÁCIO PEREIRA, por inconformado com sentença que, nos autos da Ação Declaratória de Nulidade c/c Cancelamento de Protesto e Indenização por Danos Morais que move contra CUSTOMER SERVICE FOMENTO MERCANTIL LTDA., julgou improcedentes os pedidos e condenou o autor ao pagamento das custas processuais e de honorários advocatícios, fixados em R$ 1.000,00, suspensa a exigibilidade nos termos do art. 12 da Lei nº 1.060/50. Em suas razões, pugnou o apelante pela reforma da sentença aduzindo que o depoimento de fl. 119 faz prova cabal do desfazimento do negócio que deu origem aos cheques. Sustentou inaplicável, ao caso, o princípio da inoponibilidade das exceções pessoais, nem tampouco pode a apelada dizer que agiu de boa-fé, pois quando recebeu o título em endosso, já havia sido a mercadoria devolvida. Posto isto, requereu o provimento do apelo. Ausente o preparo por litigar a parte apelante sob o pálio da Assistência Judiciária Gratuita e com contra-razões, subiram os autos conclusos para julgamento. Registro, finalmente, que foram rigorosamente observadas as formalidades constantes dos arts. 549, 551, 2º, e 552 do CPC. É o relatório. VOTOS DES. OTÁVIO AUGUSTO DE FREITAS BARCELLOS (RELATOR) Não procede a inconformidade. 2

3 Com efeito, tenho que absolutamente nenhum reparo merece a v. sentença ora recorrida, que se confirma pelos seus próprios e jurídicos fundamentos, aos quais me permito reportar em homenagem ao ilustre prolator. Ao que se observa dos autos, a emissão dos cheques pelo ora apelante, Valmir Ortácio Pereira, ocorreu para lastrear negócio jurídico celebrado com terceiro referente à compra de micro-pvc. Não há cogitar de desfazimento do negócio subjacente junto ao credor originário (desfazimento, aliás, que não poderia ser efetivamente comprovado apenas pelo depoimento de uma testemunha quando certamente deveria haver documentos que o demonstrassem). Tenho que qualquer referência à nulidade ou não do negócio subjacente estabelecido são inoponíveis ao faturizador quando não há prova de que este tenha agido de má-fé. Cumpre ainda, ressaltar que embora os cheques tenham sido transmitidos à empresa demandada em razão de operação de factoring, não se desnaturam os títulos de crédito, persistindo a regra de sua autonomia e independência, razão pela qual, ainda assim, são inoponíveis, ao endossatário, as exceções pessoais do devedor em face do credor originário, quando não há prova da sua má-fé, como ocorre no caso concreto. E nesse sentido são os precedentes do STJ: Processual Civil. Comercial. Recurso especial. Execução. Cheques pós-datados. Repasse à empresa de factoring. Negócio subjacente. Discussão. Possibilidade, em hipóteses excepcionais.- A emissão de cheque pós-datado, popularmente conhecido como cheque pré-datado, não o desnatura como título de crédito, e traz como única conseqüência a ampliação do prazo de apresentação. - Da autonomia e da independência emana a regra de que o cheque não se vincula ao negócio jurídico que lhe deu origem, pois o 3

4 possuidor de boa-fé não pode ser restringido em virtude das relações entre anteriores possuidores e o emitente.- Comprovada, todavia, a ciência, pelo terceiro adquirente, sobre a mácula no negócio jurídico que deu origem à emissão do cheque, as exceções pessoais do devedor passam a ser oponíveis ao portador, ainda que se trate de empresa de factoring. - Nessa hipótese, os prejuízos decorrentes da impossibilidade de cobrança do crédito, pela faturizadora, do emitente do cheque, devem ser discutidos em ação própria, a ser proposta em face do faturizado. Recurso especial não conhecido. (Resp , Terceira Turma do STJ, Relª Minª Nancy Andrighi, DJU ). COMERCIAL E PROCESSUAL CIVIL. CHEQUE. INVESTIGAÇÃO DA CAUSA DEBENDI. CIRCUNSTÂNCIAS ESPECIAIS, QUE O PERMITEM. LEI N /85. EXEGESE. HONORÁRIOS. FIXAÇÃO EQÜITATIVA. CPC, ART. 20, 4º. I. A autonomia do cheque não é absoluta, permitida, em certas circunstâncias especiais, como a prática de ilícito pelo vendedor de mercadoria não entregue, após fraude notória na praça, a investigação da causa subjacente e o esvaziamento do título pré-datado em poder de empresa de factoring, que o recebeu por endosso. II. Honorários advocatícios já fixados em valor módico, não cabendo ainda maior redução. III. Recurso especial não conhecido. (REsp , Quarta Turma do STJ, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJU ). E assim é o entendimento deste Órgão Fracionário: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CONTRATO DE FACTORING. INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES PESSOAIS PERANTE O PORTADOR DO TÍTULO. Ainda que tenha sido recebido pela embargada em razão de operação de factoring, o cheque não se desnatura. Assim, persiste a regra de sua autonomia e independência, razão pela qual, ainda assim, são inoponíveis à embargada, as exceções pessoais do devedor em face do credor originário, inexistindo prova da sua má-fé. POR UNANIMIDADE, DERAM PROVIMENTO AO 4

5 RECURSO. (Apelação Cível Nº , Décima Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Angelo Maraninchi Giannakos, Julgado em 14/02/2007) Diante do exposto, nego provimento ao apelo. É o voto. DES. PAULO ROBERTO FÉLIX (REVISOR) - De acordo. DES. VICENTE BARROCO DE VASCONCELLOS (PRESIDENTE) - De acordo. DES. VICENTE BARROCO DE VASCONCELLOS - Presidente - Apelação Cível nº , Comarca de São Leopoldo: "NEGARAM PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME." Julgador(a) de 1º Grau: DEBORA KLEEBANK. ef 5