Acórdão GABINETE DA DESEMBARGADORA ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO

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1 GABINETE DA DESEMBARGADORA ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO Órgão : 6ª Turma Cível Classe : APC - Apelação Cível Processo : Apelante(s) : GESTÃO DF FOMENTO MERCANTIL LTDA Apelado(s) : MARIA DELZA DE SOUSA REIS E OUTROS Relator(a) : ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO EMENTA. COMERCIAL. FACTORING. PREVISÃO CONTRATUAL DE RESPONSABILIDADE DO FATURIZADO PELA LIQUIDEZ DO TÍTULO. POSSIBILIDADE. O factoring é considerado, via de regra, um contrato de risco, pelo qual o faturizador assume o risco de possível insolvência dos respectivos devedores, isentando o faturizado da responsabilidade pelo pagamento do título, mediante uma contraprestação, consistente no desconto de certa quantia do valor constante do título que lhe foi entregue. A despeito disso, como se cuida de um contrato atípico, as partes são livres para pactuar o que melhor lhes convierem, inclusive no que se refere a responsabilidade do faturizado pela liquidação do título. Recurso provido. Acórdão Acordam os Desembargadores da Sexta Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO - Relatora, JAIR SOARES, JAMES EDUARDO OLIVEIRA - Vogais, sob a presidência do segundo, em CONHECER. PROVER. UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas. Brasília (DF), 13 de dezembro de Desembargadora ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO Relatora

2 R E L A T Ó R I O transcrevo: O relatório é, em parte, o da sentença de fls. 94/98, que Trata-se de ação sob o rito sumário proposta por GESTÃO DE FOMENTO MERCANTIL LTDA em desfavor de MARIA DELZA DE SOUSA REIS e IVANY GONÇALVES DA COSTA OLIVEIRA ME, partes já qualificadas nos autos. Diz a autora que os cheques emitidos pela primeira ré lhe foram endossados pela segunda ré, por meio de contrato de fomento mercantil. Afirma que os cheques foram devolvidos pelo Banco Regional de Brasília por motivo de contra ordem ou oposição de pagamento sem ocorrência policial, alínea 21 da tabela do Banco Central do Brasil. Assevera que ambas as partes rés são responsáveis pelo pagamento das cártulas, sendo que a segunda ré manifestou-se expressamente dando ciência do direito de regresso da endossatária. Pede a condenação das rés na obrigação de pagar a quantia de R$ 1.977,63 (mil novecentos e setenta e sete reais e sessenta e três centavos). Junta os documentos de fls. 11/37. A primeira ré foi citada (fls. 52), compareceu à audiência de conciliação, mas não constituiu advogado nem apresentou resposta à demanda, conforme descreve o termo de fls. 55. A segunda ré foi citada (fls. 54) e apresenta a contestação de fls. 56/58. Aduz que o devedor é o endossante, pessoa física, e não a ré que é pessoa jurídica inscrita no CNPJ / Afirma, ainda, que as regras do Código de Defesa do Consumidor são aplicáveis, que a autora cobrou 7% (sete por cento) de juros ao mês e que tal cobrança é ilegal. Pede a inversão do ônus da prova. 2

3 Postula a improcedência do pedido. Réplica às fls. 61/82, com documentos (fls. 83/90). Acrescento que o MM. Juiz a quo julgou o pedido parcialmente procedente para condenar a primeira ré ao pagamento da quantia de R$ 1.977,63 (mil novecentos e setenta e sete reais e sessenta e três centavos) atualizada monetariamente desde o ajuizamento da ação e com juros de mora de 1% (um por cento) desde a citação, mais custas processuais e honorários advocatícios, fixados em 15% (quinze por cento) da condenação. Condenou a autora ao pagamento de honorários advocatícios da segunda ré, fixados em R$ 300,00 (trezentos reais), na forma do art. 20, 4º c/c art. 21, do CPC. Irresignada, apela a autora (fls. 101/123), aduzindo que a responsabilidade da 2ª ré é incontestável, pois pactuou expressamente o direito de regresso, conforme se infere do verso da cártula juntada às fls. 28/29. Preparo efetuado à fl As partes, regularmente intimadas, não ofereceram contrarazões. É o relatório. V O T O S A Senhora Desembargadora Ana Maria Duarte Amarante Brito Relatora Conheço do recurso, presentes que se fazem os pressupostos de admissibilidade. Tenho que a pretensão da apelante merece prosperar. Com efeito, o factoring é um contrato atípico, pelo qual a fomentadora adquire créditos que o faturizado tem, adiantando as importâncias e encarregando-se das cobranças, mediante uma contraprestação, consistente no desconto de certa quantia do valor constante do título que lhe foi entregue, considerada a remuneração pelo negócio celebrado. Cuida-se, a princípio, de um contrato de risco, pois, de regra, quando não pactuado de forma diversa, o faturizador assume o risco de possível 3

4 insolvência dos respectivos devedores, isentando o faturizado da responsabilidade pelo pagamento do título. Colha-se, a propósito, entendimento jurisprudencial a respeito do tema: EMBARGOS À EXECUÇÃO. FACTORING OU CONTRATO DE FOMENTO MERCANTIL. OPERAÇÃO DE RISCO. RESPONSABILIDADE DO ENDOSSANTE APENAS EM RELAÇÃO À LEGITIMIDADE, LEGALIDADE OU VERACIDADE DOS TÍTULOS. ENDOSSO SEM GARANTIA. AÇÃO DO FATURIZADOR APENAS CONTRA O EMITENTE. DEVEDOR DO TÍTULO DE CRÉDITO TRANSFERIDO. As operações de crédito nessa modalidade negocial (endosso sem garantia) parte da transferência para o faturizador de contas e créditos do faturizado em relação aos seus clientes, cabendo ao comprador o direito de escolha das contas que admite garantir e desde então o recebimento do crédito por sua conta e risco. O insucesso na cobrança não reaviva a responsabilidade do faturizado, salvo exceções quanto à legitimidade, legalidade ou veracidade dos títulos, só dispondo o faturizador de ação contra o emitente-devedor do crédito transferido. (APC 40758/96, 1ª Turma Cível, Rel. Des. Eduardo de Moraes Oliveira, DJU 20/085/1997, p ). Na hipótese vertente, no entanto, verifico que o contrato de factoring celebrado entre as partes (fls. 83/85) prevê expressamente, em sua cláusula segunda, a responsabilidade da faturizada por todas as obrigações inerentes ao endosso, inclusive no que se refere à liquidez dos títulos. Além disso, a apelada pactuou expressamente o direito de regresso com a apelante, consoante se infere do verso da cártula acostada às fls. 28/29, atraindo a regra disposta no art. 914, 1º, do CC, que assim dispõe: Assumindo a responsabilidade pelo pagamento, o endossante se torna devedor solidário. Assim, nada obstante o factoring ser considerado um 4

5 contrato de risco, como se cuida de um contrato atípico, as partes são livres para pactuar o que melhor lhes convierem, não havendo qualquer proibição que se estipulem cláusulas diversas das comumente adotadas, inclusive no que pertine a responsabilidade do faturizado pela liquidação do título. Desse modo, é de se reconhecer a responsabilidade da 2ª apelada, ante a existência de cláusula contratual expressa nesse sentido. Ante o exposto, dou provimento ao recurso e julgo procedente a ação, para condenar as rés ao pagamento da quantia de R$ 1.977,63 (hum mil novecentos e setenta e sete reais e sessenta e três centavos) atualizada monetariamente desde o ajuizamento da ação e juros de mora de 1% desde a citação, mais custas e honorários advocatícios, que fixo em 15% (quinze por cento) da condenação. É como voto. O Senhor Desembargador Jair Soares Vogal Com a Relatora. Vogal O Senhor Desembargador James Eduardo Oliveira Com a Turma. D E C I S Ã O Conhecido. Provido. Unânime. 5