TEATRO E POESIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Autor: Laureen Gabriele Mallmann Órgão: Universidade Federal de Uberlândia Especificações: Relato de pesquisa



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Transcrição:

TEATRO E POESIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Autor: Laureen Gabriele Mallmann Órgão: Universidade Federal de Uberlândia Especificações: Relato de pesquisa A poesia é uma função lúdica... Ela está para além da seriedade, naquele plano mais primitivo e originário a que pertençam a criança, o animal, o selvagem e o visionário, na região do sonho, do encantamento, do êxtase, do riso. ( Johan Huzinga) A poesia que já cumpriu um papel importante em nossas salas de aula está virando um mito dentro desta. Poesia nos remete ao passado, coisa de nossos avós que declamavam para as visitas ou recitavam versos nas aulas de língua portuguesa, tendo função de ritual, entretenimento, profecia, filosofia e até mesmo de competição. Na antigüidade o poeta era concebido como um sábio e a função do poema era social, educar e criar uma prática. E hoje pode-se observar certa resistência nas escolas em ler, interpretar, criar e recriar poemas. Não quero dizer que a poesia tenha sido abolida do ambiente escolar, ela ainda é encontrada nas salas de aula, muitas vezes através de livros didáticos, por exemplo. Mas a questão é, de que forma os professores estão trabalhando com essas poesias? Ela está presente sim, mas não recebe importância ou ênfase, fica sendo apenas mais um meio de passar o conteúdo, é encarada como um meio para se alcançar um objetivo qualquer. Mas a poesia deve ser mais do que um meio, ela deve ser também, um objetivo. Um aspecto importante a ser destacado é que não é pelo grande número de histórias que contamos, mas pela ênfase que damos a esta atividade essencial para a criança, que serão alcançados bons resultados. Através deste trabalho com a literatura infantil a criança aprende a lidar com diversos valores essenciais para sua vida. Existe um preconceito de que é difícil trabalhar com poesia, mas é fundamental romper com essa idéia. E para tanto o primeiro passo é o interesse do professor e a consciência da importância de levar a linguagem poética para a sala de aula. Os professores antes de qualquer coisa precisam recuperar o prazer da leitura poética, a degustação de palavras combinadas, a viagem na fantasia das imagens, dos grandes sonhos e de grandes invenções. Para então mostrar aos alunos algo que lhes seja verdadeiro, que lhes leve brilho ao olhar.

Poesis, é uma palavra grega que significa, produzir, fazer, criar uma realidade diferente da factual e histórica. E esta é uma necessidade do ser humano, o homem precisa da ficção, precisa sair dessa realidade e enxergar o mundo de maneira diferente. A criança também sente essa necessidade, e é nossa obrigação enquanto educadores proporcionar a ela esse encontro com a possibilidade de reinventar o mundo, ou seja, conhecer e se relacionar com a poesia. Esse encontro da criança com a poesia é praticamente natural. A criança já dialoga com a poesia durante seus primeiros anos de vida. Em seu cotidiano, a criança vive a poesia através das Canções de ninar, imaginação sobre outros mundos possíveis, brincadeiras de transformação em monstros e princesas bem como, com as rimas feitas partindo de palavras simples mas contendo uma sonoridade parecida. Proporcionar o contato da criança com a poesia é ainda mais importante, pois temos o dever de não permitir a distância dessas crianças com aquilo que já lhes é orgânico. Contudo, hoje é tão comum, ver crianças que querem a todo custo ser adultas. Vestindo salto alto, em uma busca constante de ultrapassar etapas e deixar de brincar. Afinal de contas, nós enquanto pais e professores, auxiliamos o mundo a podar o que lhes é infantil, mágico, fantasioso. Empenhamo-nos em apresentar às nossas crianças um mundo prático, modelo padrão, racional e real. E com isso levamos a criança a construir um mundo já criado, privando-as de construir formas originais de ver o mundo. Perdendo assim o contato com maneiras de se expressar e de transmitir o que sente e pensa. Que adulto não se lembra com carinho das brincadeiras da infância? Toda via o mundo de hoje despreza o verbo brincar. As crianças vivem a rotina dos adultos no lar e em suas atividades. Depois da escola há as academias, as aulas de línguas ou de música e outras mais. Em casa, vivem presas nos apartamentos, fazendo deveres de casa ou fugindo da violência urbana em frente da tevê ou do computador. Mas brincar é mais do que uma atividade sem conseqüência para a criança. Brincando, ela não apenas se diverte, mas recria e interpreta o mundo em que vive, se relaciona com este mundo. Brincando, a criança aprende. Por isso, cada vez mais os educadores recomendam que os jogos e brincadeiras ocupem um lugar de destaque no programa escolar desde a Educação Infantil. Não podemos deixar-nos envolver pela idéia de que apenas as crianças pequenas é que gostam de ouvir histórias, pois o ouvir histórias narradas ou lidas é essencial para a criança mesmo após sua alfabetização, uma vez que este trabalho auxilia no estímulo à imaginação, na

superação de inúmeros limites e no auto-conhecimento. O trabalho com a história infantil e a poesia é essencial, para o desenvolvimento da criança. O espaço do contar, ler e ouvir histórias deve ser aproveitado cada vez mais, estimulando-se sua organização nas escolas. Obviamente, o contato com a arte literária, oral, poesia, música, adereço, dramatização são fundamentais para este estímulo à imaginação bem como para o despertar o gosto pela literatura infantil, por isto a poesia e as belas histórias podem tornar-se significativas para as crianças. Vejam as sábias palavras do psicólogo Alexandre Cordeiro de Vasconcelos, do Laboratório de Pesquisa sobre a Infância, imaginário e comunicação da USP: Hoje, o lúdico, infelizmente, está muito submetido a esses frankensteins mecânicos que as pessoas chamam de brinquedos. O ato de brincar evoluiu de forma muito negativa. O conceito foi deturpado. O homem está distante do papel primordial da brincadeira, que é conectar as pessoas entre si e com o mundo. Poderíamos afirmar a proximidade entre o sujeito poético e o sujeito infantil, porque a atividade lúdica define e identifica tanto as criações poéticas como os jogos infantis. Crianças e poetas jogam com a linguagem de forma similar: transformam as palavras. Crianças e poetas chegam, com freqüência, às invenções léxicas, às rupturas gramaticais, à textura musical dos seus discursos. A poesia entra no mundo infantil como jogo. É jogo verbal em uma construção sutil de frases que permite a exploração de múltiplos significados, de recriação sonora e semântica, de adivinhações, de deslocamentos, de pensamentos e ação. Esses jogos tornam-se mais complexos e as regras vão sendo introduzidas para garantir resultados mais elaborados. O aluno entra em contato com os recursos estilísticos da poesia para reconhecer, interpretar e criar. Todo poema tem origem no jogo: jogo do culto, da corte amorosa, jogo marcial da competição, jogo do humor dentre outros. Tudo que transcende a esfera do juízo lógico é lúdico, e este é um dos norteadores da poesia. Na medida em que o contato com a literatura molda a mente e o coração da criança, há que admitir que influi nela (pedagogicamente). Assim, a literatura infantil tem uma finalidade primária e fundamental que é a de promover, na criança, o gosto pela beleza da palavra, o deleite perante a criação de mundos de ficção. Além disto, existe, ainda, a função de arraigar as palavras no mundo mágico da criança, permitindo-lhe, não só entendê-las e usá-las, como também gozálas e desfrutá-las no contexto da imaginação.

Na prática nos deparamos com certos questionamentos, por exemplo, como despertar o prazer pela leitura da poesia? Como ensinar poesia? Como fazer os alunos criar através da poesia? Mas antes de responder a estas perguntas é necessário que saibamos que antes de ensinar é preciso sensibilizar. Na criança, tanto o desenvolvimento da personalidade e da sensibilidade quanto a expansão do real pela poesia e pela arte em geral, se dão por meio do fluxo da fantasia, por sua percepção particular do mundo. A literatura infantil procura pôr, perante os olhos da criança, alguns fragmentos de vida, do mundo, da sociedade, do ambiente imediato ou longínquo, da realidade exeqüível ou inalcançável, mediante um sistema de representações, quase sempre com uma chamada à fantasia. E tudo isto para responder às necessidades íntimas e inefáveis, que a criança sofre sem sequer saber formulá-las, e para que a criança jogue com as imagens da realidade que se lhe oferecem e construa, assim, a sua própria cosmo visão. É bom lembrar que a criança recebe imagens da realidade, mas não a própria realidade. Jacqueline Held, uma autora voltada para estudos do imaginário infantil, reforça a necessidade de pais e educadores darem às crianças muita leitura para o prazer, porque o papel do fantástico não é, de maneira alguma, dar à criança receitas de saber e de ação, por mais exatas que sejam. A literatura fantástica e poética é, antes de tudo e indissociavelmente, fonte de maravilhamento e de reflexão pessoal, fonte de espírito crítico, porque toda descoberta de beleza nos torna exigentes e, mais críticos diante do mundo. E porque quebra clichês e estereótipos, porque é essa re-criação que desbloqueia e fertiliza o imaginário pessoal do leitor, é que é indispensável para a construção de uma criança que, amanhã, saiba inventar o homem. O teatro abre muitas possibilidades de trabalhar com a poesia na escola, seja através da escrita e dramaturgia desta, ou através de sua encenação. A criança se abre, se coloca mais a disposição para o jogo, então os resultados do trabalho da união entre poesia e teatro possibilitam um grande processo de aprendizagem e criação, que deve partir das crianças sem que o professor se faça omisso, o mestre deve sempre orientar seus alunos para que o trabalho fique coeso e possa evoluir. O teatro é o lugar de reunião de todas as artes. A poesia, a literatura, a pintura, a escultura, a dança, o canto, a arquitetura, a arte da moda, a arte da luz e tantas outras mais artes podem estar no palco. Há também as multimídias, que trazem o vídeo e o cinema para o palco em harmonia

com a representação ao vivo. O ator em cena, ao vivo, em ação, é a essência do teatro. Mas os atores podem estar atrás de bonecos ou qualquer outro meio de intermediação da cena. A sistematização de uma proposta para o ensino do Teatro, em contextos formais e nãoformais de educação, através de jogos teatrais, foi elaborada pioneiramente por Viola Spolin ao longo de quase três décadas de pesquisas junto a crianças, pré-adolescentes, adolescentes, jovens, adultos e idosos nos Estados Unidos da América. Utilizando a estrutura do jogo com regras como base para o treinamento de teatro, Viola Spolin ambicionava libertar a criança e o ator amador de comportamentos de palco mecânicos e rígidos. As possibilidades do Teatro como instrumento pedagógico são bem conhecidas. O Teatro na Educação, ou Teatro Educativo, ou ainda Teatro Pedagógico, consiste em trazer para a sala de aula as técnicas do teatro e aplicá-las na comunicação do conhecimento. Na Escola, esteja o aluno entre os espectadores ou como figurante, o Teatro é um poderoso meio para gravar na sua memória um determinado tema, ou para levá-lo, através de um impacto emocional, a refletir sobre os valores morais. Quanto ao aprendizado, o aluno na prática de artes cênicas, tem um campo aberto para suas emoções e a sua intuição. Isso quer dizer desenvolvimento da criatividade. Nesse estado criativo o conhecimento se conecta imediatamente, relacionando à vida cotidiana. As crianças vão muito cedo para a escola! Vão para aprender precocemente a desenhar, a divertir, a ler, a contar e a conviver em um universo maior e, às vezes, bem mais estimulante. A escola que entende de educação coloca o brinquedo como elemento primordial. E o livro de histórias, os poemas, os jogos, os número, todas as artes e processos criativos tornam-se lúdicos, transformam-se em brinquedos.

Referências bibliográficas : ALVES, Rubem. "É brincando que se aprende". Folha de S.Paulo, São Paulo, 17 fev. 2002. [Caderno Sinapse] ANTUNES, Celso. Uma nova concepção sobre o papel de brincar. Páginas Abertas. São Paulo, ano 29, n. 21, 2004. GALEANO. Eduardo. De pernas pro ar: Escola do mundo ao avesso. Porto Alegre: L&PM, 2002. HELD, Jacqueline. O imaginário no poder: as crianças e a literatura fantástica. São Paulo: Summus, 1980. PIMENTA, Arlindo C. Sonhar, brincar, criar, interpretar. São Paulo: Ática, 1986. (Série Princípios). VASCONCELOS, Alexandre Cordeiro de. "O adulto tem o dever de liberar as brincadeiras". Folha de S.Paulo, São Paulo: 12 dez.2002. [Caderno Equilíbrio] ECO, Umberto, Leitura do Texto Literário, Lisboa, Presença, 1983. CUNHA, Maria Antonieta Antunes, Literatura Infantil Teoria e Prática, 2 a ed., São Paulo, Ática, 1984. RODARI, Gianni, Gramática da Fantasia, São Paulo, Summus, 1982. SILVA, Vitor Manuel Aguiar e, Teoria da Literatura, 7ª ed., Coimbra, Almedina, 1986.