BNDES ÁREA DE OPERAÇÕES INDUSTRIAS 1 - AO1 SUINOCULTURA GERÊNCIA SETORIAL DE AGROINDÚSTRIA



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ÁREA DE OPERAÇÕES INDUSTRIAS 1 - AO1 GERÊNCIA SETORIAL DE AGROINDÚSTRIA Data: 20/12/95 N o 6 BNDES SUINOCULTURA INTRODUÇÃO Em termos humanos, a carne suína é a mais consumida no mundo. No Brasil, o consumo de carne suína é largamente superado pelo das carnes de frango e bovino. Além disso, se dá majoritariamente sob a forma de industrializados, enquanto no resto do mundo a forma principal de consumo é "in natura". Embora possua o quarto maior rebanho mundial, a produção brasileira não nos coloca entre os dez maiores produtores mundiais, em função da nossa baixa produtividade. Essa baixa produtividade é conseqüência da heterogeneidade da atividade nacional. No Brasil, a suinocultura é explorada de duas formas diferentes. A primeira, concentrada na região Sul, é tecnificada e, embora alcance índices de produtividade entre os melhores do mundo, vem apresentando problemas ambientais. A outra suinocultura, predominante nas regiões Norte e Nordeste, é rústica e possui baixos índices de produtividade e sanidade. A suinocultura brasileira encontra-se num momento crítico. Tem excelentes oportunidades de crescimento, mas defronta-se com uma série de obstáculos, que devem ser superados para que o potencial de crescimento se materialize. Embora apresente boas perspectivas, o mercado internacional é, a curto prazo, pouco relevante para a produção brasileira. Assim, este Informe prioriza as questões internas da atividade. PRODUÇÃO Pela FAO, em 1993, o plantel mundial de suínos era de aproximadamente 872 milhões de cabeças, sendo 394 milhões da China. A produção chinesa de carne suína é também a maior do mundo, representando, em 1994, 44,6% da produção mundial, conforme mostra a tabela a seguir. É interessante notar que a produtividade da CEI não é muito boa; apesar de possuir o 2 maior rebanho do mundo, representando 7,1% do total, responde por apenas 3,7% da produção mundial. Por outro lado, é importante salientar a participação dos EUA, uma vez que seu rebanho, aproximadamente 7% do mundial, gera 11,7% da produção. O Brasil, embora possua o quarto maior rebanho (3,6% do mundial) responde por menos de 2,0% da produção mundial de carne suína. Essa variação de posições nos "rankings" de rebanho e produção de carne é reflexo da diferenciação de produtividade entre os países. TABELA 1 Rebanho, Produção e Produtividade Mundiais - 1993 País Rebanho Produção Tx. desfrute Mil % Mtec % % cabeças (1) China 393.964 45,19 28.544 43,19 101 CEI 61.679 7,07 2.432 3,68 88 USA 59.815 6,86 7.750 11,73 160 Brasil 31.700 3,64 1.260 1,91 55 Alemanh 27.050 3,10 3.095 4,68 162 a França 12.574 1,44 2.151 3,26 167 Outros 285.090 32,70 20.860 31,55 ND Total 871.872 100,00 66.092 100,00 (1) - Mil t equivalente carcaça Fontes: FAO, USDA, DANSKE & SLAGTERIER e WEDEKIN & MELLO O rebanho nacional, que em 1994 atingiu 33,1 milhões de cabeças, está distribuído por todas as regiões do país. O Sul possui o maior rebanho, com 35% do total, seguido pelo Nordeste, 25%, Sudeste, 20%, Centro-Oeste, 13% e Norte, 7%. A produção da região Sul representa aproximada-mente 65% da produção nacional, seguida da região Sudeste (26%) e Nordeste (5%). Em termos tecnológicos, distinguem-se, a grosso modo, dois tipos de exploração suinícola no Brasil. Uma, pouco produtiva, que se encontra nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde é muito comum a criação de porco tipo banha. Outra, nas regiões Sul e Sudeste, melhor tecnificada, onde se concentra quase 80% do total de animais abatidos que são registrados pelo Serviço de Inspeção e Fiscalização do Ministério da Agricultura, em que predomina a criação do porco tipo carne, com taxa média de desfrute da ordem de 100% e 110%. No Estado de Santa Catarina, essa taxa chega a 160%, já 1

próxima dos países mais desenvolvidos na atividade. Com o deslocamento da fronteira agrícola para o Centro-Oeste começam a ser implantados projetos de produção suinícola moderna na região, que devem, a curto prazo, alterar o perfil da produção regional. De 1985 à 1994, a produção brasileira cresceu cerca de 118%. Este crescimento foi devido a um grande aumento de produtividade, uma vez que o rebanho, no mesmo período, cresceu apenas 21%, conforme pode-se observar na tabela a seguir. Ressalte-se que, considerando 1987, como ano base a variação da produção é de apenas 11%. TABELA 2 Rebanho e produção nacionais Ano Rebanho (Milhares de cabeças) Produção (M. Ton.Eq. Carc.) * 1985 30.067 611 1986 32.539 800 1987 32.480 1200 1988 32.121 1100 1989 33.015 950 1990 33.687 1050 1991 34.290 1130 1992 34.616 1150 1993 34.878 1260 1994 36.272 1330 * Milhares de toneladas de equivalente carcaça Fonte: FNP Evidenciou-se nesta década um avanço tecnológico da suinocultura brasileira, que assemelha-se à revolução tecnológica da avicultura na década de 80. O ponto comum entre elas está nos ganhos de produtividade, menor custo de produção e preço mais barato na matéria-prima para abate. Esses avanços de produtividade têm gerado maior (ainda que modesta) competitividade da carne suína no mercado nacional. A maior parte dos animais produzidos é comercializada através de contratos (sistema de integração entre produtores e empresas), mas ainda existem criadores que preferem o mercado livre (não integrados). Na região Sul, predomina a integração, principalmente no oeste catarinense. A integração da suinocultura nacional surgiu na década de 60 e desde então vem se expandindo. Ao optar pela associação com alguma empresa, o produtor está em busca de segurança e comodidade, garantindo o mercado para a sua produção e valorizando a assistência técnica recebida. A desvantagem existente está na pouca interferência dos criadores na determinação de preços e na impossibilidade de escolha de compradores. CONSUMO Os maiores consumidores mundiais são também grandes produtores e geralmente 2 garantem o próprio abastecimento. Com alta produtividade e preços relativos competitivos, a carne suína é hoje a mais consumida no mundo, conforme podemos observar na tabela 3, que também evidencia que a carne bovina perdeu significativo espaço para as carnes de frango e suína, principalmente. TABELA 3 Consumo de Proteína Animal Carne Média 1991 a 1993 Média 1981 a 1983 Mil t % Mil t % Suíno 67.213 47,5 36.359 40,3 Bovino 47.067 33,2 39.109 43,4 Frango 27.221 19,2 14.615 16,3 Total 141.501 100 90.083 100 Fonte: ABECS No mundo, a maior parte da carne suína é consumida na forma "in natura", que possui preços mais baixos do que a carne industrializada, podendo assim ser comprada por toda a população. Na Dinamarca, Suécia e Polônia o consumo per capita de carne suína é de cerca de 66, 55 e 53 Kg/hab./ano, respectivamente, enquanto nos EUA é de 23,5 Kg/hab./ano. No Brasil, o consumo per capita de carne suína é de 8,6 Kg/hab./ano, e está no mesmo nível observado no início dos anos 70. Após forte queda no final da década de 70 e início de 80 o consumo recuperou-se na época do Plano Cruzado, ficando estagnado desde então. Vale destacar que o significativo crescimento do consumo per capita de carne suína entre 1985 e 1987, foi conseqüência da melhoria de renda da população no Plano Cruzado e da escassez das outras carnes. Durante o Plano Real, essa explosão não se repetiu, em função do baixo preço da carne de frango que absorveu a maior parte do crescimento do consumo de carnes. O consumo de carne suína no Brasil está segmentado em três diferentes mercados: o de consumo de produtos industrializados, o de massa e o informal. No caso dos produtos industrializados predominam consumidores de alta renda, que exigem, sobretudo, marca e qualidade. Este mercado, que absorve cerca de 54% da produção, é o mais lucrativo e o de maior interesse das empresas. O segmento denominado de consumo de massa tem no preço o principal indicador de demanda. Este mercado, aproximadamente 23% do total, é ocupado por consumidores de média e baixa renda e que não exigem um produto final de alta qualidade, o que permite a sobrevivência no mercado interno de segmento industrial composto por pequenas e médias empresas. O consumo informal, por sua vez, favorece a participação do abate não inspecionado (clandestino) no volume total do abate. Esta vasta e diferenciada estrutura de unidades informais sem fiscalização sanitária é predominantemente de pequenas

empresas, tanto nas grandes capitais quanto no interior, e responde por 23% do mercado. No varejo, normalmente, o preço da carne de suínos é muito próximo ao da carne de bovinos. A carne de frango por sua vez custa cerca de 40% menos que a carne de boi. Este padrão é diferente dos países que apresentam alto consumo per capita de carne suína, como os países europeus e explica-se, no caso do Brasil, pela abundância de terras e pastagens que propiciam um baixo custo de produção para o boi. Acredita-se que isto levou o setor de suínos à especialização na produção de embutidos e produtos curados, visando evitar a competição direta com a carne de boi "in natura". Outro fator que levou à industrialização foi a localização da indústria na região Sul, distante, portanto, dos grandes centros populacionais, o que dificulta e encarece a comercialização de carne fresca em larga escala. Hoje, pouco mais de 70% de toda a carne de porco inspecionada, no Brasil, é consumida na forma de carne industrializada. Além do alto preço dos industrializados, outros fatores que ajudam a explicar o baixo consumo de carne suína no Brasil são: a menor incorporação de tecnologia na suinocultura que na avicultura, os hábitos alimentares e culturais, incluindo os tabus e preocupações com a saúde do brasileiro envolvendo a carne de porco. A produção industrializada é oriunda principal-mente dos frigoríficos instalados no Sul do país. Com base na tabela a seguir, podemos constatar que as cinco maiores empresas respondem por cerca de 38% do abate inspecionado nacional, enquanto as dez maiores representam cerca de 45%, existindo espaço para inúmeras empresas locais e regionais de pequeno e médio portes. TABELA 4 Principais Frigoríficos Suinícolas, Brasil - 1994 Frigorífico Capacidade anual de abate % % Acumulado (em cabeças mil) Sadia 1.440 11,4 11,4 Perdigão 1.120 8,9 20,3 Ceval (1) 845 6,7 27,0 Coopercentral 780 6,2 33,2 (Aurora) Chapecó 520 4,1 37,3 Sudcoop 260 2,1 39,4 Batavo 260 2,1 41,5 Damo 200 1,6 43,1 Coop. Suin. 140 1,1 44,2 Encantado Prenda 130 1,0 45,2 Outros 6.925 54,8 100,0 Total 12.620 100,0 100,0 (1) - Inclui aquisição da Agroeliane Fonte: IEA/IBIRÁ COMÉRCIO MUNDIAL O comércio mundial de suínos representa cerca de 7% do total da produção mundial. Isto porque os maiores produtores são também os maiores consumidores e suas produções ficam quase que totalmente internalizadas. A Dinamarca e a Holanda são os dois maiores exportadores, com suas exportações representando cerca de 53% das exportações mundiais. São seguidos pela França e Canadá. A Alemanha é atualmente o maior importador mundial de carne suína, com suas importações representando cerca de 23% do total mundial, seguida pela Itália. O Japão aumentou suas importações em cerca de 60% nos últimos dez anos, sendo hoje o terceiro maior importador do mundo. As importações destes três países representam cerca de 54% das importações mundiais. Na década de 70, época da decolagem da indústria de frango no Brasil, as perspectivas da indústria de carne suína eram altamente promissoras. De 1974 a 1977 a quantidade exportada brasileira passou de 397 t para 12 mil t. Porém, esta evolução foi interrompida em 1978, quando a Europa proibiu a importação de carnes suínas do Brasil, pela constatação da febre aftosa e peste suína nos estados do Sul. Isto levou nossas exportações a praticamente zero no ano seguinte. Em 1984, conseguiu-se retornar às exportações com o embarque de cerca de 6,5 mil t para o exterior. A retomada de alguns mercados deu-se em seguida, mas em ritmo bastante lento. Desde então as exportações brasileiras de carne suína evoluiram positivamente. Em 1992, o Brasil alcançou a marca recorde de 44 mil t exportadas. A grande oferta brasileira junto ao mercado argentino naquele ano gerou reações protecionistas por parte dos criadores daquele país. A suposta existência de focos de febre aftosa no Paraná com possibilidade de afetar o rebanho argentino levou as autoridades daquele país a proibirem as compras de carne suína brasileira. Com isto, as exportações brasileiras em 1993 caíram para 34,8 mil t. Em 1994, as exportações brasileiras caíram ainda mais, pois desde maio do mesmo ano houve nova proibição formal da entrada de carne suína no mercado argentino (medida protecionista local), que afetou duramente as vendas brasileiras. Esta queda nas exportações pode ser explicada também pela política cambial seguida pelo Governo desde a implantação do Plano Real e foi absorvida pelo aumento do consumo interno brasileiro. Para 1995, a expectativa é de que a redução se acentue, conforme indica o volume exportado nos três primeiros trimestres do ano. TABELA 5 Exportações Brasileiras de Carne Suína 3

Em mil ton. equivalente carcaça 50,0 44,5 45,0 40,0 34,8 35,0 32,3 30,0 25,0 20,0 19,0 17,0 17,1 15,0 10,0 5,0 0,0 1990 1991 1992 1993 1994 Até set/1995 Volume Fonte: ABECS Ano As exportações brasileiras são oriundas exclusivamente dos estados da Região Sul, são realizadas pelas maiores empresas do setor, destacando-se: Ceval, Sadia Chapecó e Perdigão e destinam-se principalmente a Hong Kong, Argentina e Uruguai. TECNOLOGIA De acordo com a Associação Brasileira de Criadores de Suínos, com o avanço da tecnologia e os ganhos de produtividade, a criação de suínos vai chegar no ano 2000 com uma redução dos seus custos de produção da ordem de 31,5%, com diversas conseqüências na suinocultura. A mais evidente, seguindo uma tendência mundial, talvez seja a redução do número de granjas, acompanhado pelo aumento do número médio de matrizes e reprodutores alojados e pela redução do rebanho total. A partir deste ano espera-se que a tipificação de carcaças, que serão classificadas em função da espessura de gordura, se torne generalizada nas agroindústrias do Sul. Possivelmente, este será o principal indutor de tecnificação da suinocultura nos próximos anos, a exemplo do que ocorreu na Europa, Estados Unidos e Canadá. A tabela a seguir apresenta os principais índices zootécnicos da suinocultura nacional. Em função da diversidade da tecnificação da atividade, os índices serão apresentados sob três ângulos distintos: a média nacional, a média de Santa Catarina e a meta a nível mundial. TABELA 6 Índices zootécnicos - 1994 Índice Média Média SC Meta leitões/parto 9,5 11 12 mortalidade (%) 17 9 8 partos/porca/ano 1,8 2,2 2,4 leitões/porca/ano 14 22 26 idade abate (dias) 160 140 130 tx conversão (kg) 4,5 3,0 2,5 taxa desfrute (%) 55 160 190 peso abate (kg) 100 90 85 Fonte: ABCS TENDÊNCIAS E PERSPECTIVAS Na Europa não se espera um crescimento acelerado da produção de suínos, uma vez que lá existe um problema sério de poluição ambiental, que não se apresenta no Brasil, à exceção dos estados do Sul. Não se nota tendência de aumento significativo de produtividade nos principais países produtores de carne suína da UE e nos EUA, uma vez que apresentam uma demanda devidamente atendida pela produção e um já alto nível tecnológico. Porém, países como China, CEI e Brasil ainda apresentam grande possibilidade de crescimento em produtividade através do investimento em tecnologias mais avançadas de produção. Com a eliminação das barreiras argentinas e a inclusão de outros países no pacto, o Mercosul pode ser encarado como uma boa opção para a produção brasileira de carne suína. É preocupante o acelerado decréscimo das exportações para os países europeus, uma vez que esse mercado reúne alguns dos principais consumidores e importadores mundiais do produto, e o crescimento de sua capacidade de produção, em função de questões ambientais, encontra-se fortemente limitado. O consumo de carne suína, no Brasil, é concentrado em produtos industrializados, destinados a população de maior renda, que representa uma parcela muito reduzida da população. As perspectivas para a próxima década são para um crescimento nulo ou muito modesto desta parcela, enquanto há grande probabilidade de crescimento das famílias com renda média e baixa. Há indícios de forte demanda por carnes de menor preço por essa população. Assim, o preço será um dos fatores críticos na conquista do mercado de carnes, juntamente com qualidade e facilidade de preparo, caminho que deve ser buscado pela suinocultura nacional. O crescimento do consumo de carne suína "in natura" no Brasil ainda está sujeito aos preconceitos existentes quanto às características da carne e às condições sanitárias do plantel. No sentido de eliminar esses preconceitos, os suinocultores e empresas nacionais estão desenvolvendo uma campanha de esclarecimento público, envolvendo pesquisas e encontros com representantes do varejo, consumidores e profissionais da área de saúde. De posse dos resultados desse trabalho, pretendem investir em campanha de "marketing" de estímulo à demanda primária que possibilite formar no grande público nova percepção do produto, viabilizando o crescimento de seu consumo. As possibilidades da suinocultura nacional são boas. A concretização dos planos de crescimento do setor, no entanto, depende de uma conjunção de diversos fatores: - absorção generalizada de tecnologia, que permita ganhos de produtividade e redução de custos, com repasse para os preços; - redução do abate informal e garantia da qualidade do produto; 4

- erradicação das doenças endêmicas que afetam o rebanho nacional; e - veiculação da campanha publicitária em desenvolvimento. A atuação de forma conjunta dos diversos componentes da cadeia produtiva; fornecedores de insumos, produtores, indústrias e rede de distribuição e comercialização, como já está ocorrendo, parece ser a melhor forma de viabilizar essas metas. Elaboração: JALDIR FREIRE LIMA Gerente ERIK RIOS Estagiário Colaboração: ALEXANDRE P. GOMES PEREIRA Técnico SANDRA HELENA GOMES DE SIQUEIRA Técnica Pesquisa Bibliográfica: HELOÍZA MIRANDA Bibliotecária Editoração: CRISTINA TURANO Encarregada de Serviço I 5