Ficha catalográfica: Biblioteca Central Julieta Carteado - UEFS



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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURA E DIVERSIDADE CULTURAL COLEGIADO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS 3º COLÓQUIO DO GRUPO DE ESTUDOS LITERÁRIOS CONTEMPORÂNEOS: 100 ANOS DE AFRÂNIO COUTINHO (1911-2011): A CRÍTICA LITERÁRIA NO BRASIL ANAIS Fira d Santana 2012

Ficha catalográfica: Bibliotca Cntral Julita Cartado - UEFS Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos (3. : C693a 2011 : Fira d Santana, BA). Anais do 3. Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos [arquivo lgívl por maquina]: um cosmopolitismo nos trópicos 100 anos d Afrânio Coutinho (1911-2011): a crítica litrária no Brasil, d 15 a 16 d dzmbro d 2011/ organização (anais): Danilo Crquira Almida, Adítalo Manol Pinho. Fira d Santana: UEFS, 2011. 1 arquivo d txto. ISBN: 978-85-7395-210-0 Rtirado do sit: HTTP:// www2.ufs.br/dla/romantismolitratura/coloquiogrupodstudos2011 1. Litratura. 2. Coutinho, Afrânio, 1911-2011 Intrprtação critica. I. Almida, Danilo Crquira, org. II. Pinho, Adítalo Manol, org. III. Titulo. CDU 82

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA Ritor José Carlos Barrto d Santana Vic-ritor Gnival Corrêa d Souza Pró-Ritor d Graduação Rubns Edson Alvs Prira Pró-Ritora d Extnsão Maria Hlna da Rocha Bsnosik Pró-Ritora d Psquisa Pós-Graduação Marluc Maria Araújo Assis Pró-Ritor d Administração Finanças Rossin Crquira da Cruz Dirtora do Dpartamnto d Ltras Arts Mávis Dill Kaippr Coordnador do Programa d Pós-graduação m Litratura Divrsidad Cultural Adítalo Manol Pinho Univrsidad Estadual d Fira d Santana Avnida Transnordstina, S/N Bairro: Novo Horizont Tl.: (75) 3161-8000 CEP: 44.036-900 Fira d Santana-BA Sit: www.ufs.br

ORGANIZAÇÃO COORDENADOR GERAL Prof. Dr. Adítalo Manol Pinho (GELC/UEFS) COMISSÃO ORGANIZADORA Profa. Dra. Maria da Concição Pinhiro Araújo (GELC/IFBA-Salvador) Ma. Juliana d Souza Goms Noguira (GELC) Ma. Silvania Cápua Carvalho (GELC/PPgLDC/UEFS) Ma. Elizangla Maria dos Santos (GELC/PPgLDC/UEFS) Andria Frrira Alvs Carniro (GELC/PPgLDC/UEFS) Edinag Maria Carniro da Silva (GELC/PPgLDC/UEFS) Maria David Santos (PPgLDC/UEFS) Danilo Crquira Almida (GELC/UEFS) COMITÊ CIENTÍFICO Prof. Dr. Cláudio Cldson Novas (UEFS) Prof. Dr. André Luis Mitidiri Prira (GELC/UESC) Prof. Dr. Robrto Hnriqu Sidl (UEFS) Prof. Dr. Bndito José d Araújo Viga (UEFS) Profa. Dra. Edit Luzia d A. Vasconclos (IFBA) Profa. Dra. Maria da Concição P. Araújo (GELC/IFBA-Salvador) ORGANIZAÇÃO (Anais) Danilo Crquira Almida Prof. Dr. Adítalo Manol Pinho MONITORIA Bárbara Daiana A. Nascimnto Cíntia Portugal d Almida Elisu Frrira da Silva Juliana Pachco Olivira Nvs Maurício d Olivira Santos Nathilly Gadlha da Silva Palloma Morais Rocha Patrik Waukr Prira da Silva Priscylla Marinho Magalhãs Tiago Rbouças d Almida WEB DESIGNER Danilo Crquira Almida Lonardo Nuns da Silva ASSESSORIA WEB Prof. Dr. Adítalo Manol Pinho Maurício d Olivira Santos EDITORAÇÃO Danilo Crquira Almida REVISÃO Prof. Dr. Adítalo Manol Pinho Ma. Elizangla Maria dos Santos Maria David Santos NORMATIZAÇÃO (ABNT) Os autors SECRETARIA Gorgia Kalin Macil da Silva (CPLDC/PPgLDC/UEFS) Thais Lit da Silva Macdo (CPgLt/UEFS) GELC Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: da litratura d jornal ao sistma litrário Sit: www2.ufs.br/dla/romantismolitratura/coloquiogrupodstudos2011 E-mail: acoutinhocoloquio3@gmail.com

SUMÁRIO A DIVERSIDADE DOS NOVOS ESTUDOS LITERÁRIOS Prof. Dr. Adítalo Manol Pinho... 6 CONFERÊNCIA PALESTRA A CONTRIBUIÇÃO DE AFRÂNIO COUTINHO PARA OS ESTUDOS LITERÁRIOS NO BRASIL Prof. Dr. Eduardo F. Coutinho... AFRÂNIO COUTINHO E O PROCESSO EVOLUTIVO DA LITERATURA BRASILEIRA Prof. Dr. Luiz Robrto Cairo... SILVIANO SANTIAGO E A LEITURA CRÍTICA Prof. Dr. Robrto Carlos Ribiro... 9 21 31 MESAS AFRÂNIO COUTINHO, 100 ANOS POR UM AMADURECIMENTO CULTURAL DA BAHIA Prof. Dr. Adítalo Manol Pinho... COUTINHO E CANDIDO: ELOGIO À CRÔNICA Profa. Dra. Alana d Olivira Fritas El Fahl... CRÍTICA CULTURAL E BIOGRAFIA: ESPARSOS E INÉDITOS DE MARIO QUINTANA Prof. Dr. André Luis Mitidiri Prira, Profa. Ma. Miqula Piaia... SANTIAGO E AS NOVAS ESCRITURAS NO CENÁRIO DA LITERATURA: UM DIÁLOGO COM JORGE AMADO E PAULO COELHO Profa. Ma. Arlânia Maria Ris d Pinho Mnzs... LITERATURA E DEMOCRATIZAÇÃO CULTURAL: NEGOCIAÇÕES PARA UM NOVO OLHAR NA CONTEMPORANEIDADE Profa. Ma. Elizangla Maria dos Santos... O SER COMO ELEMENTO CULTURAL: DIÁLOGOS ENTRE SILVIANO SANTIAGO E MARTIN HEIDEGGER Profa. Ma. Jucin Silva d Sousa Nascimnto... A SENSIBILIDADE CLARICEANA DE NARRAR O COTIDIANO Profa. Ma. Silvania Cápua Carvalho... 47 55 61 78 83 93 107

COMUNICAÇÕES A PRODUÇÃO LITERÁRIA DE ALTAMIRANDO REQUIÃO: A BAHIA DO SÉCULO XVII NA FICÇÃO METAHISTORIOGRÁFICA Cristian Tavars Santos Mlo... MEMÓRIAS N O IMPARCIAL: A LITERATURA BRASILEIRA POR JOÃO PARAGUAÇU Danilo Crquira Almida... O CINEMA DE OLNEY SÃO PAULO: UMA ANÁLISE DE GRITO DA TERRA NO CONTEXTO DO CINEMA NOVO Dinamir Olivira Carniro Rios... DON JUAN ÀS AVESSAS: A PARÓDIA AMOROSA EM CONFISSÕES DE NARCISO, DE AUTRAN DOURADO Elis Angla Franco Frrira Santos... O CONTO, O NARRADOR E A NARRATIVA MODERNA E PÓS- MODERNA EM SILVIANO SANTIAGO E WALTER BENJAMIN Elisu Frrira da Silva... A IRONIA ROMÂNTICA E O LUGAR DO NARRATÁRIO EM CORAÇÃO, CABEÇA E ESTÔMAGO Ena Lélis... A QUESTÃO CULTURAL E A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL EM A LITERATURA AFORTUNADA DE AFRÂNIO COUTINHO Juliana Cordiro d Olivira Silva... A CULTURA BAIANA DO VALE DO SÃO FRANCISCO: JACUBA, DE WILSON LINS Maurício d Olivira Santos... A CONCEPÇÃO DE CULTURA DE AFRÂNIO COUTINHO N O IMPARCIAL DA BAHIA Patrik Waukr Prira da Silva... O CONQUISTADOR: UM ENTRELAÇAMENTO PARODÍSTICO ENTRE O TEXTO HISTORIOGRÁFICO E O FICCIONAL Profa. Ma. Sinéia Maia Tls Silvira... A AULA DE ARTE-EDUCAÇÃO COMO ESPAÇO DE REFLEXÃO CULTURAL Wilson Sousa Olivira... 118 130 144 154 166 176 186 195 204 215 233 5

A DIVERSIDADE DOS NOVOS ESTUDOS LITERÁRIOS O projto d psquisa A Litratura d Jornal m Priódicos Brasiliros (CONSEPE 059/2009) tm como uma d suas atividads, o Grupo d Estudos Litrários Contmporânos, o qual tm por fim o studo d uma obra ou autor durant o príodo d um ano, culminando com a ralização d colóquio para aprsntação d rsultados, dbats com spcialistas avaliação das atividads. O grupo já ralizou dois colóquios, um sobr o livro do historiador Jacqus L Goff, I Colóquio do Grupo d Estudos Contmporânos: história, mmória litratura, outro sobr o livro O Local da Cultura, do crítico hindu-britânico Homi K. Bhabha, II Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: o local da cultura. Além dsss vntos, o grupo promovu também a ralização do IV ENAPEL Encontro Nacional d Psquisadors d Priódicos, m stmbro d 2010 o Simpósio 22, no III SIMELP Simpósio Mundial d Estudos m Língua Portugusa, Macau-China, 30 d agosto a 2 d stmbro d 2011. Agora, após studo do livro lito para st ano: O Cosmopolitismo do Pobr (2004), d Silviano Santiago, organizamos o 3º Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: um cosmopolitismo nos trópicos. Ralizado nos dias 15 16 d dzmbro d 2011, no Anfitatro do módulo II da Univrsidad Estadual d Fira d Santana, aprovitamos a oportunidad para homnagar também o grand crítico baiano Afrânio Coutinho (1911-2011), qu complta 100 anos d nascimnto st ano, promovndo no vnto uma discussão sobr o autor sua grand obra. Assim, surgm dbats também sobr os rumos dos studos litrários nas suas três facs: toria, crítica história da litratura. Para tanto convidamos alguns noms importants para contmplar os tmas abordados. São ls: Prof. Dr. Eduardo Coutinho (UFRJ), Prof. Dr. Luiz Robrto Vlloso Cairo (UNESP/Assis), dois grands spcialistas m litratura comparada crítica litrária d xprssão nacional intrnacional o Prof. Dr. Robrto Carlos Ribiro, um psquisador spcialista na produção crítica ficcional d Silviano Santiago. Juntam-s a sts noms d ponta dos studos litrários, spcialistas do grupo d psquisa da casa, igualmnt rnomados, como o Prof. Dr. Jorg d Souza Araujo (UEFS), Prof. Dr. Bndito José d Araujo Viga (UEFS), Prof. Dr. André Luis ISBN 978-85-7395-210-0

Mitidiri Prira (GELC/UESC), Profa. Dra. Maria da Concição Pinhiro Araujo (GELC/IFBA). Além dsss noms, uma ruma d doutorandos, mstrs, mstrandos, spcialistas, spcializandos, bolsistas d Iniciação Cintífica graduandos prtncnts ao Grupo d Estudos Litrários Contmporânos a outras instituiçõs aprsntaram propostas d trabalho. Durant o vnto, lança-s o primiro livro do grupo d studos: Litratura, história mmória: lituras d Jacqus L Goff (UEFS Editora, 2011). Dsd já dsjando votos d xclnt vnto, spramos podr ofrcr à comunidad o rtrato dos nossos sforços durant o ano d 2011, assim como oportunidad d psquisadors d outras instituiçõs partilharm conosco as suas produçõs para o avanço dos studos litrários contmplarm as xpctativas das comunidads nvolvidas m nossos dbats, scritas, compromissos, intrsss paixõs. Adítalo Manol Pinho Comissão Organizadora. 3º Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: um cosmopolitismo nos trópicos 100 anos d Afrânio Coutinho: A crítica litrária no Brasil, 3., 2012, Fira d Santana. Anais. Fira d Santana: Ufs, 2012, p. 6-7. 7

CONFERÊNCIA E PALESTRA

A CONTRIBUIÇÃO DE AFRÂNIO COUTINHO PARA OS ESTUDOS LITERÁRIOS NO BRASIL 1 Eduardo F. Coutinho 2 Considrado uma das maiors xprssõs dos studos litrários no Brasil, no século XX, Afrânio Coutinho tv um papl fundamntal na rstruturação dos studos d Litratura no país, através das contribuiçõs qu introduziu no âmbito da Crítica, da Toria da Historiografia litrárias. Além disso, dstacou-s pla sua atuação no nsino da Litratura, ond transformou significativamnt os métodos d abordagm d autors txtos, na divulgação d scritors brasiliros por intrmédio das obras coltivas qu ralizou. Nst trabalho, farmos uma brv aprsntação d algumas das principais linhas d rflxão dsnvolvidas plo autor ofrcrmos uma visão d sua contribuição nos divrsos stratos dos studos litrários no Brasil. A crítica litrária brasilira m mados do século XX achava-s prdominantmnt dividida, salvo raras honrosas xcçõs, ntr rsquícios d um historicismo novcntista d um puro imprssionismo, xrcia-s na maioria dos casos por mio da rsnha jornalística. No primiro caso, tratava-s d uma crítica dominada plo studo dos fators xtriors ou xtrínscos qu condicionam a gêns do fato litrário, qu rprcutia as torias d Tain Saint-Buv, do naturalismo dtrminismo biológico, social gográfico, do biografismo, princípios sss a qu s dvm a obra d Sílvio Romro dos outros críticos historiadors litrários da fas naturalista positivista do final do século XIX comço do XX. D acordo com ssa prspctiva, a obra litrária ra vista como uma instituição social, um documnto d uma raça, uma época, uma socidad, uma prsonalidad as rlaçõs ntr a litratura a vida s rsolviam m favor da vida, d qu a litratura tinha qu sr um splho. 1 Est txto foi publicado também no livro Crítica Litratura, org. por Carmm Lúcia Ngriros d Figuirdo, Silvio Augusto d Olivira Holanda Valéria Augusti (Rio d Janiro: D Ltras, 2011, p. 185-96. 2 Profssor Titular da UFRJ. ISBN 978-85-7395-210-0

No sgundo caso, tinha-s um tipo d crítica calcado na ausência d qualqur método d abordagm, d qualqur organização sistmática. Era uma spéci d prcpção, antrior à intrprtação ao julgamnto. A tndência marcant da crítica imprssionista, d qu foram xponts figuras como Anatol Franc Waltr Patr, ra sair do objto para o sujito, mudar ou transfrir o intrss para o crítico, suas imprssõs moçõs, dsprtadas pla litura ou scuta d uma obra d art. No ntanto, no contxto brasiliro, o imprssionismo crítico havia dgnrado m tornios opiniáticos ou mros rgistro d imprssõs, sm contúdo doutrinário nm bas crítica, s havia confundido com a simpls rsnha ou rcnsão crítica. Insatisfito com ssa situação da crítica litrária no Brasil imbuído d uma séri d idéias dsnvolvidas m cursos psquisas qu ralizou na Univrsidad d Columbia, m Nova York cidad ond vivra no príodo d 1942 a 1947 como Scrtário d Rdação da rvista Slçõs do Radr s Digst Afrânio Coutinho dsncadou, a partir d 1948, intnsa campanha d rnovação, primiro na sção dnominada Corrnts Cruzadas do Diário d Notícias do Rio d Janiro, m sguida m divrsos livros qu vio a publicar ao longo d sua carrira, dntr os quais Por uma crítica stética (1953), Corrnts Cruzadas (1953), Da crítica da nova crítica (1957), A crítica (1959), Crítica poética (1968) Crítica críticos (1969). Nssa campanha, Afrânio advogava vmntmnt um tipo d crítica intrínsco ao próprio fato litrário, qu partiss do txto nquanto tal, rconhcndo rspitando sua autonomia, qu o nfocass à luz d prssupostos d ordm fundamntalmnt stética. Era a drrocada do historicismo m su sntido tradicional, qu abordava a obra litrária smpr por um movimnto do contxto para o txto, o abandono ao imprssionismo crítico ao achismo, como l costumava dizr m nom d um labor cintífico, técnico mticuloso, qu colocava a crítica brasilira ao lado das grands corrnts qu s vinham dsnvolvndo, havia já algumas décadas, na Europa nos Estados Unidos. Com bas m prssupostos dssas corrnts, dntr as quais dstacamos o Formalismo Russo, a Estilística Espanhola Tuto-Suíça, o Aristotlismo d Chicago, a Analys d Txt francsa sobrtudo o Nw Criticism anglo-amricano, Afrânio Coutinho s batu com ardor pla primazia do txto litrário, nfatizando, na abordagm da obra, a ncssidad d s focalizarm os sus lmntos struturais rgocêntricos, 3º Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: um cosmopolitismo nos trópicos 100 anos d Afrânio Coutinho: A crítica litrária no Brasil, 3., 2012, Fira d Santana. Anais. Fira d Santana: Ufs, 2012, p. 9-20. 10

a harmonia do conjunto, rsponsávis plo qu os formalistas slavos dsignaram d litraridad. Além disso, chamou atnção para a importância d o analista aproximar-s o máximo possívl do txto, a fim d vitar o subjtivismo acntuado qu tanto caractrizara a crítica d cunho imprssionista. Todas ssas corrnts acham-s prsnts m maior ou mnor scala na Nova Crítica introduzida por Afrânio Coutinho no mio intlctual brasiliro, mas é prciso lmbrar qu a sua doutrina não s atinha xclusivamnt a nnhuma dlas. A Nova Crítica nunca foi, como s chgou rronamnt a afirmar, mro transplant dos princípios do Nw Criticism anglo-amricano ao contxto brasiliro, sim uma tndência com fição própria, qu abarcou métodos técnicas d várias origns, tndo tido inclusiv como prcursors figuras como Machado d Assis Mário d Andrad, qu dsnvolvram studos críticos calcados na primazia do txto xploraram com rigor mticuloso os lmntos intrínscos das obras qu analisaram. A ênfas posta por Afrânio Coutinho no primado do txto litrário foi, aliás, uma qustão qu grou crto mal-ntndido no mio intlctual brasiliro, à época ainda muito afrrado aos métodos tradicionais, máxim aos qu s voltavam para uma prspctiva xtrínsca. Propor uma abordagm crítico-tórica qu parta fundamntalmnt do txto não significa, d modo algum, ignorar o contxto históricocultural m qu a obra fora produzida. O qu s nga na Nova Crítica é o nfoqu xtrínsco, qu vê a obra como rflxo não como ralidad autônoma; a rlação com o contxto, ao contrário, é uma tapa indispnsávl d qualqur procsso crítico. A obra para a Nova Crítica é um conjunto harmonioso dos divrsos lmntos qu a compõm, mas la s acha smpr m rlação dialética com o contxto m qu surg. Combat-s na Nova Crítica o historicismo no sntido dfinido antriormnt, mas s rspita plnamnt a história; rjita-s do msmo modo uma abordagm puramnt xtrínsca, mas s dfnd s raliza, o studo das rlaçõs da obra com o contxto sócio-político conômico ao qual la s ncontra vinculada. A xigência d rigor mtodológico na abordagm do fnômno litrário acha-s rlacionada a uma tndência ocorrida no Brasil m mados do século XX, qu foi a passagm da crítica litrária do priodismo para o mio acadêmico, das mãos dos críticos m gral para as dos profssors psquisadors univrsitários. Até ss momnto, a crítica litrária ra xrcida no Brasil d duas maniras: ora como crítica no 3º Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: um cosmopolitismo nos trópicos 100 anos d Afrânio Coutinho: A crítica litrária no Brasil, 3., 2012, Fira d Santana. Anais. Fira d Santana: Ufs, 2012, p. 9-20. 11

sntido strito, m livros ou studos, ora sob a forma militant, smanal, nciclopédica, na imprnsa, na maioria dos casos m folhtins ou rodapés. Ao primiro tipo rsrvavas a dnominação d nsaio ao sgundo a d crítica, o qu grou à época uma séri d quívocos, lvando sta última a sr vista como algo suprficial, d carátr apologético ou rstritivo, à manira da mra rsnha. Imbuído do spírito acadêmico rsultant d sua formação, Afrânio Coutinho s mpnhou na dfsa da spcialização da crítica litrária como uma disciplina cintífica autônoma, mostrando como o su xrcício não s coadunava com o spírito mais lv da imprnsa diária. A crítica, para l, dvria star voltada para a cátdra, a rvista spcializada, o livro, como ra o caso do chamado nsaio, star calcada m princípios métodos rigorosos; à rcnsão ou rsnha, important também, mas d cunho mais lv, informativo, xrcida d modo diltant, ficariam dstinadas as páginas dos jornais. Sua dfsa tv um papl xprssivo na passagm da crítica para as mãos spcializadas do scholar na sua futura institucionalização no mio univrsitário. A tntativa d sistmatização dos lmntos qu intgram a strutura da obra litrária, somada à busca d rigor na abordagm do txto, lvou Afrânio Coutinho a uma procupação com a toria da litratura, qu l procurou xplicitar m vários d sus livros, m spcial no volum Notas d toria litrária (1976). O livro é um rsumo das principais torias xistnts sobr os pontos fundamntais do studo da Litratura, m nívl bastant lmntar, mas procurando sr informativo, ao msmo tmpo, tntando orintar o studant no intricado dos problmas, sm acumulá-lo com xcssos doutrinários. Embora voltado primordialmnt para o docnt o studant d Ltras, o livro prssupõ uma filosofia da Litratura, bm como uma toria d su nsino. Su autor part da idéia d qu o aprndizado da Litratura não dv sr subordinado ao do vrnáculo, como fora prática corrnt no Brasil,, portanto, dv star cntrado nos txtos. Além disso, o qu s visa não é a forncr apnas informação d ordm histórico-cultural, como s fz durant longa data, mas a dsnvolvr o gosto pla litura a aprciação stética. Essa dfsa do primado do txto, prsnt tanto na Nova Crítica quanto no âmbito da Toria Litrária, ncontrou também trrno fértil na sfra da historiografia litrária, com a publicação, ntr 1955 1959 d A Litratura no Brasil, obra coltiva lapidar d história litrária (m quatro volums na primira dição), idalizada, 3º Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: um cosmopolitismo nos trópicos 100 anos d Afrânio Coutinho: A crítica litrária no Brasil, 3., 2012, Fira d Santana. Anais. Fira d Santana: Ufs, 2012, p. 9-20. 12

planjada, dirigida, m grand part, scrita por Afrânio Coutinho, com bas m um método intiramnt novo o priodizador stilístico. Dixando d lado a prspctiva xtrínsca, rmanscnt do historismo lansoniano, adotando como método m sua struturação a priodização stilística, basada na primazia do txto litrário numa abordagm cntrada no carátr stético da obra, A Litratura no Brasil pôs m prática o projto dsnvolvido por su idalizador na campanha qu dsncadara m prol da Nova Crítica do studo da litratura basado primordialmnt nos lmntos intgrants da composição da própria obra, rvolucionou compltamnt o concito d historiografia litrária no Brasil. Além disso, com o su carátr coltivo os capítulos spcíficos sobr autors ou movimntos litrários foram confiados a spcialistas distintos sob a suprvisão d Afrânio Coutinho, a obra adquiriu uma abrangência xtraordinária, ofrcndo um panorama crítico-volutivo da litratura brasilira dsd suas primiras manifstaçõs até os dias m qu foi publicada, com studos d profundidad sobr figuras ou movimntos spcíficos, até ntão nunca vistos m obras d história litrária no Brasil. Sus capítulos foram struturados com bas m critérios intrínscos à ára dos studos litrários divididos m subcapítulos spcíficos, voltados para tópicos ou autors, nm smpr rstritos ao chamado cânon da litratura brasilira. Na obra, qu s foi ampliando nas diçõs subsqünts, sob a organização do msmo autor, há studos spcíficos sobr folclor, litratura oral popular, sobr gênros como o nsaio, a crônica o drama, modalidads como a chamada litratura infanto-juvnil, há studos d tor comparativo como litratura filosofia litratura arts. Ests studos são m gral produzidos por autors divrsos consqüntmnt ofrcm no conjunto da obra uma multiplicidad d visõs qu complmntam o cunho abrangnt qu lh quis dar o su idalizador. Com o sucsso d sua primira dição, A Litratura no Brasil tv até o prsnt mais sis, rvistas atualizadas, ncontra-s agora m sua sétima dição, m sis volums, publicada m 2004 pla Global, d São Paulo, já após su falcimnto. Mas obsrv-s qu os capítulos introdutórios d cada part do livro, scritos todos ls por Afrânio Coutinho, foram runidos por l msmo m um volum, a Introdução à Litratura no Brasil, publicado pla primira vz m 1959, mas qu já conta com mais d quinz rdiçõs s ncontra traduzido para o inglês o spanhol. Est livro, qu 3º Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: um cosmopolitismo nos trópicos 100 anos d Afrânio Coutinho: A crítica litrária no Brasil, 3., 2012, Fira d Santana. Anais. Fira d Santana: Ufs, 2012, p. 9-20. 13

assnta as bass da priodização stilística lvada a cabo plo autor, é obra indispnsávl para a comprnsão d sua proposta inovadora constitui um itm fundamntal na produção bibliográfica do autor. Outro ponto crucial dos studos d Crítica História Litrária ralizados por Afrânio Coutinho foi o movimnto qu dsncadou para dmonstrar qu a litratura brasilira já atingira a plnitud d sua prsonalidad, tanto na lírica quanto na ficção, m consqüência do dsnvolvimnto d uma tradição afortunada, provnint dos primórdios da vida nacional. Essa tradição, qu constitui objto d studo d um dos livros mais xprssivos d sua carrira, publicado m 1968 com st título A tradição afortunada consistiu na prsnça na litratura brasilira, dsd suas primiras manifstaçõs (cit-s como xmplo a obra satírica d Grgório d Matos), do qu Machado d Assis cunhou d instinto d nacionalidad, qu vio tomando corpo ao longo dos anos até configurar-s m vrdadiro procsso d dscolonização litrária, consolidado a partir do Romantismo. Dss momnto m diant, sgundo Afrânio Coutinho, a litratura brasilira já aprsnta fisionomia própria, qu nunca mais s dissipa. Ao contrário, vm ganhando m nitidz à mdida qu avança m su prcurso, sobrtudo no século XX, após a closão do Modrnismo. Com bas nas primiras manifstaçõs da litratura produzida no Brasil, Afrânio Coutinho dsnvolvu a ts d qu as raízs d nossa litratura s ncontram no barroco, stilo qu aqui aportou plas mãos dos jsuítas, mas qu s modificou substancialmnt no contacto com a nova trra, dando origm a algo novo, com uma fição bastant distinta da d su contxto d origm. O autor combat a historiografia litrária lusa qu considrava a litratura produzida no Brasil no príodo colonial como ramo da portugusa, procura mostrar como dsd Anchita, passando por figuras como Viira principalmnt Grgório d Matos, ssa produção já aprsntava não só traços qu a distinguiam da litratura da mtrópol, como sobrtudo uma procupação m marcar a sua singularidad, qu s xprssa, por xmplo, através das obras dos autors citados ou d figuras como a do Alijadinho, no âmbito das arts plásticas. Tais qustõs acham-s prsnts m sus livros Concito d litratura brasilira (1960) O procsso d dscolonização litrária (1983), mas sus studos sobr o barroco já s haviam iniciado dsd a ts com qu obtv a cátdra d Litratura Brasilira no 3º Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: um cosmopolitismo nos trópicos 100 anos d Afrânio Coutinho: A crítica litrária no Brasil, 3., 2012, Fira d Santana. Anais. Fira d Santana: Ufs, 2012, p. 9-20. 14

Colégio Pdro II m 1951 (Aspctos da litratura barroca), dpois s runiram no volum Do barroco, publicado pla Tmpo Brasiliro m 1994. Assim como na produção litrária, também na sfra dos discursos sobr a litratura a procupação com a busca d idntidad nacional já s fazia sntir dsd o príodo colonial, acntuando-s com o Romantismo postriormnt com o movimnto modrnista. Mas, ao largo d todo ss tmpo prmancu também viva no Brasil uma tndência oposta d admiração quas cga dos modlos uropus, qu ram para cá transplantados frqüntmnt apnas adaptados ao novo contxto. Contra ss colonialismo mntal, ss sntimnto d infrioridad, oriundo do procsso d colonização, Afrânio Coutinho s batu ardorosamnt m muitos d sus txtos, prgando a formação d uma consciência voltada para a ralidad brasilira (vid A polêmica Alncar-Nabuco, 1965, Caminhos do pnsamnto crítico, 1964). Para o autor, assim como ra prciso procurar m nossa litratura não a smlhança com a uropéia, mas a difrnça qu a caractrizava lh confria singularidad, ra mistr também qu s lutass, como afirmava assiduamnt, por uma crítica brasilira, pla consolidação d um pnsamnto, ou d um corpus crítico-tórico, calcado sobr o húmus dssa trra. A procupação d Afrânio Coutinho com a constituição d uma crítica litrária brasilira ao msmo tmpo cintífica mticulosa, qu tm como vículo o nsaio acadêmico não apnas a rsnha jornalística, somada aos sus muitos anos d xpriência docnt m nívl tanto scundário quanto suprior, s rfltiu também no nsino da Litratura, ond, do msmo modo, introduziu vrdadira rvolução, marcada pla dfsa do studo cntrado no txto litrário m vz d na história da litratura, como ra prax ainda na maioria das instituiçõs brasiliras. Era prciso, sgundo l, dsnvolvr no studant o gosto pla litratura, isso só ra possívl com o contacto dirto com o txto litrário, não com uma listagm stéril d noms datas. Ao aluno comptia, ants d mais nada, a litura dos txtos, ao profssor a orintação m sala d aula, qu dvria partir d discussõs conjuntas sobr os txtos slcionados, visando a sistmatizaçõs tóricas rflxõs críticas. Ao aluno brasiliro faltava, sgundo l, sabr lr, no sntido d xtrair d um txto o fundamntal, pnsar, rfltir, sobr o matrial m qustão. E ra na orintação à rflxão crítica tórica qu rsidia o papl do profssor. 3º Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: um cosmopolitismo nos trópicos 100 anos d Afrânio Coutinho: A crítica litrária no Brasil, 3., 2012, Fira d Santana. Anais. Fira d Santana: Ufs, 2012, p. 9-20. 15

O papl d docnt d Afrânio Coutinho fica bastant vidnciado, não só por sua atuação amplamnt rconhcida m sala d aula plas palstras confrências qu pronunciou, muitas dlas publicadas m sparatas ou m priódicos no Brasil no xtrior, como também pla quantidad qualidad d tss dissrtaçõs qu orintou, d obras d x-discípulos qu prfaciou. Afrânio Coutinho ra, além d crítico mticuloso, um ntusiasta da produção litrária crítica qu s fazia no Brasil, sua contribuição como divulgador da obra d autors novos d studiosos da litratura foi significativa, conform dão tstmunho as obras d rfrência qu coordnou publicou, dntr as quais Brasil brasiliros d hoj (1961), Crítica críticos (1969) a Enciclopédia d Litratura Brasilira, sta última já d 1989. Como organizador d diçõs d autors da litratura brasilira, Afrânio Coutinho aprsnta também ampla produção, tndo laborado ntr outras as obras compltas d Machado d Assis, Euclids da Cunha, Jorg d Lima Carlos Drummond d Andrad, a obra poética d Vinícius d Morais, os romancs compltos d Afrânio Pixoto, a obra crítica d Ararip Júnior, os studos litrários d Alcu Amoroso Lima, numrosas diçõs críticas d obras d autors como Ambrósio Frnands Brandão, Manul Antônio d Almida, José do Patrocínio, Rocha Pombo, Viriato Corria, Lindolfo Rocha, Rodolfo Tófilo, Ribiro Couto, Ascndino Lit Adonias Filho, ntr outros. Em todos sss casos, Afrânio Coutinho, além da organização da obra, scrvu substanciais studos críticos introdutórios qu constitum pças indispnsávis da fortuna crítica dos autors m qustão, como é o caso do txto introdutório das Obras compltas d Machado d Assis, autor por qum o crítico nutria spcial admiração sobr o qual scrvu os livros A filosofia d Machado d Assis (1940) Machado d Assis na litratura brasilira (1960), ambos postriormnt runidos m dição da Acadmia Brasilira d Ltras (1990). O nvolvimnto d Afrânio Coutinho com o nsino foi tal qu, além das cátdras qu ocupou, primiro no Colégio Pdro II dpois na Univrsidad do Brasil, hoj Univrsidad Fdral do Rio d Janiro, participou d inúmros colgiados, inclusiv o Conslho Fdral d Educação. E no âmbito da univrsidad, foi fundador, nsta última, d uma Faculdad d Ltras, modrna dinâmica, qu s tornou modlo à época m todo o país. Os cursos supriors d Litratura ram até ntão no Brasil ministrados nas Faculdads d Filosofia, ou d Ciências Humanas m gral, não sndo 3º Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: um cosmopolitismo nos trópicos 100 anos d Afrânio Coutinho: A crítica litrária no Brasil, 3., 2012, Fira d Santana. Anais. Fira d Santana: Ufs, 2012, p. 9-20. 16

dotados assim d spaço próprio para dsnvolvr-s. Afrânio Coutinho, imbuído da xpriência qu vivra no xtrior, ond as Escolas ou Dpartamntos d Ltras já haviam conquistado ampla rconhcida tradição, lutou por torná-los indpndnts, lançou a pdra fundamntal d uma instituição hoj plnamnt consolidada. Além disso, instituiu também nssa Faculdad sis Cursos d Pós-Graduação m divrsas áras das Ltras, atualmnt bastant concituados, construiu, ntr outras coisas uma bibliotca orgulho da instituição qu possui acrvo rspitávl raridads incalculávis. O intrss plas bibliotcas smpr foi, aliás, uma das tônicas da carrira d Afrânio Coutinho. Além da bibliotca José d Alncar, da Faculdad d Ltras da UFRJ, qu l criou, acrscntando a um núclo básico provnint da antiga Faculdad Nacional d Filosofia um grand númro d bibliotcas particulars spcializadas d profssors sobrtudo da casa qu l s mpnhou m adquirir para a Faculdad quando fora su dirtor, Afrânio Coutinho construiu ao longo d toda sua vida uma xtraordinária bibliotca particular. Esta bibliotca srv às áras d Litratura Brasilira Estrangiras, Toria Crítica Litrárias, Filosofia, História, Educação, Estudos Brasiliros, Lingüística, Filologia, Sociologia, Art Brasilira Univrsal Estudos Culturais, ntr outras, inclui, além do su acrvo básico, um rico manancial d obras d rfrência, primiras diçõs hoj raras, manuscritos d autors como Machado d Assis, Raul Pompéia, José d Alncar, Castro Alvs Afrânio Pixoto, colçõs compltas d rvistas priódicos nacionais strangiros, arquivos d rcorts d jornais d sobr autors brasiliros farto matrial iconográfico. Ess acrvo, qu no princípio, ainda rduzido, ocupava o trciro pavimnto da rsidência d Afrânio Coutinho, m Ipanma, foi-s avolumando d tal modo, qu ao largo da década d 1970 stndu-s a toda a casa, mpurrando o su morador para um pquno cômodo na part suprior, qu sus amigos jocosamnt qualificaram d cla d mong. Ali, m mio a pilhas d livros jornais, lndo scrvndo sm cssar, Afrânio Coutinho concbu a idéia d abri-la para o público, transformando a própria rsidência m um cntro d psquisas litrárias, ond s ralizariam, além da consulta à bibliotca, atividads d divrsa sort, nglobando dsd cursos variados até a organização d publicaçõs. 3º Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: um cosmopolitismo nos trópicos 100 anos d Afrânio Coutinho: A crítica litrária no Brasil, 3., 2012, Fira d Santana. Anais. Fira d Santana: Ufs, 2012, p. 9-20. 17

Surgida m 1979 xtinta m 1991 pla carência d rcursos para mantê-la, a Oficina Litrária Afrânio Coutinho (OLAC) florscu na década d 1980, tndo-s tornado ponto d rfrência na vida cultural da cidad uma instituição d prstígio, amplamnt rconhcida no Brasil no xtrior. Nla s ralizaram cursos m todos os stors do conhcimnto ligados à litratura às arts; por la passaram spcialistas d rputação intrnacional. D suas oficinas d litratura, a atividad qu du nom à casa, surgiram novos potas ficcionistas; das psquisas ali xcutadas viram a lum publicaçõs. Sus arquivos d pastas d rcorts qu Afrânio Coutinho colcionou dsd o início d sua carrira uma das maiors prciosidads ali xistnts foram largamnt consultados, sobrtudo para a ralização d tss dissrtaçõs univrsitárias, sus livros foram amplamnt manusados plo público. Várias obras d autors brasiliros squcidas ou pouco conhcidas do público foram rvalorizadas na OLAC (lmbrmo-nos plo mnos da publicação das Obras d Raul Pompéia m dz volums, das obras d Otávio d Faria), publicou-s m 1989 a Enciclopédia d Litratura Brasilira, laborada durant anos por uma quip d psquisadors sob a sua orintação. Esta nciclopédia, qu abrang a Litratura Brasilira dsd o início da colonização até os dias atuais, tv uma sgunda dição, ampliada atualizada, m 2001. Três anos após a xtinção da OLAC, a Bibliotca d Afrânio Coutinho, mbora ainda amplamnt frqüntada, foi vndida à UFRJ, com o propósito d sr abrigada, m ala à part, anxa à Bibliotca José d Alncar, da Faculdad d Ltras. Contudo, dvido ao númro lvado d itns qu compunham o acrvo, la tv m sua maior part d sr incorporada à Bibliotca da Faculdad, cada livro caractrizado com o xlibris da antiga OLAC, na ala nova, ntão construída, foram instaladas as obras raras, diçõs spciais, as publicaçõs do próprio autor as obras assinadas ou com ddicatória dirigida a l. Além disso, foi criado na ala dsignada a ssas publicaçõs um Cntro d Estudos, batizado d Cntro d Estudos Afrânio Coutinho (CEAC), com a finalidad d dar continuidad aos projtos intrrompidos da OLAC iniciarm-s outros nas áras d Humanidads m gral, com ênfas spcial sobr litratura cultura. O CEAC vm sndo hoj bastant consultado plo público das psquisas m su acrvo já saíram as primiras publicaçõs. 3º Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: um cosmopolitismo nos trópicos 100 anos d Afrânio Coutinho: A crítica litrária no Brasil, 3., 2012, Fira d Santana. Anais. Fira d Santana: Ufs, 2012, p. 9-20. 18

Onz anos fz, m 2011, ano do cntnário d su nascimnto, qu Afrânio Coutinho falcu, sua contribuição aos studos litrários no Brasil sgu viva rndndo frutos prciosos. Afrânio Coutinho foi scritor, profssor, psquisador, jornalista, ducador, humanista, bibliófilo, criador da primira Faculdad xclusivamnt d Ltras do país, mmbro da Acadmia Brasilira d Ltras, mas foi ants d tudo um homm d su tmpo lugar, dotado d grand talnto filosófico, qu rvolucionou, com sua scrita fina, a Crítica, a Toria a Historiografia litrárias, mudou o rumo do nsino das Ltras no Brasil. BIBLIOGRAFIA COUTINHO, Afrânio. Corrnts cruzadas. Rio d Janiro: A Noit, 1953.. Concito d litratura brasilira. 2. d. Ptrópolis: Vozs, 2008.. A Crítica. Salvador: Livraria Progrsso Editora, 1959.. Crítica críticos. Rio d Janiro: Organização Simõs Editora, 1969.. Crítica toria litrária. Rio d Janiro: Tmpo Brasiliro; Fortalza: Ediçõs UFCE -- PROED, 1987.. Crítica poética. 2. d. Rio d Janiro: Civilização Brasilira, 1980.. Da crítica da nova crítica. 2. d. Rio d Janiro: Civilização Brasilira; Brasília: INL, 1975.. Do barroco. Rio d Janiro: Editora UFRJ; Tmpo Brasiliro, 1994.. Introdução à Litratura no Brasil. 6. d. Rio d Janiro: Ed. Distribuidora d Livros Escolars, 1970.. Machado d Assis na litratura brasilira. Rio d Janiro: ABL, 1990.. Notas d Toria Litrária. 2. d. Ptrópolis: Vozs, 2008.. A polêmica Alncar-Nabuco. Rio d Janiro: Tmpo Brasiliro, 1965.. Por uma crítica stética. Rio d Janiro: MEC, 1953.. O procsso d dscolonização litrária. Rio d Janiro: Civilização Brasilira, 1983. 3º Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: um cosmopolitismo nos trópicos 100 anos d Afrânio Coutinho: A crítica litrária no Brasil, 3., 2012, Fira d Santana. Anais. Fira d Santana: Ufs, 2012, p. 9-20. 19

. A tradição afortunada (O spírito d nacionalidad da crítica brasilira). Rio d Janiro: José Olympio, 1968.. Univrsidad, instituição crítica. Rio d Janiro: Civilização Brasilira, 1977., org. Brasil brasiliros d hoj; nciclopédia d biografias. 2 vols. Rio d Janiro: Foto Srvic, 1961., org. Caminhos do pnsamnto crítico. 2. d., 2 vols. Rio d Janiro: Pallas; Brasília: INL, 1980., org. A Litratura no Brasil. 7. d., 6 vols. São Paulo: Global 2004. & J. Gallant d Souza, orgs. Enciclopédia d Litratura Brasilira. 2 vols. Rio d Janiro: FAE, 1989. Lima, Alcu Amoroso t al. Misclâna d studos litrários. Homnagm a Afrânio Coutinho. Rio d Janiro: Pallas, 1984. 3º Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: um cosmopolitismo nos trópicos 100 anos d Afrânio Coutinho: A crítica litrária no Brasil, 3., 2012, Fira d Santana. Anais. Fira d Santana: Ufs, 2012, p. 9-20. 20

AFRÂNIO COUTINHO E O PROCESSO EVOLUTIVO DA LITERATURA BRASILEIRA Luiz Robrto Cairo 1 I A década d 50, na litratura brasilira, pod sr considrada como da crítica litrária. É o momnto m qu s adquir a consciência xata do papl rlvant da crítica m mio à criação litrária aos gênros d litratura imaginativa, função da disciplina d spírito litrário. Sm sr um gênro litrário, mas uma atividad rflxiva d anális julgamnto da litratura, a crítica s aparnta com a filosofia a ciência, mbora não sja qualqur dlas. É uma atividad autônoma, obdint a normas critérios próprios d funcionamnto, dtntora d uma posição spcífica no quadro da litratura. (Coutinho, 2003, p. 112) 2011 é um ano important para a história da crítica litrária brasilira, uma vz qu há cm anos, no dia 15 d março, nascia m Salvador, Afrânio Coutinho (1911-2000),, m 29 d outubro, falcia m Fortalza, Tristão d Alncar Ararip Júnior (1848-1911). Ambos, homns d ltras, críticos, cujas obras constitum marcos rlvants para a história da crítica litrária brasilira. Como litor da obra crítica dsss dois grands scritors, cujas trajtórias m momntos divrsos vntualmnt viram a s cruzar, não podria dixar d rgistrar a curiosa rlação qu ntr ls s stablcu. Cada um m su tmpo contribuiu com comptência para a rnovação dos studos litrários no Brasil, dixando sua marca no xrcício da atividad crítica historiográfica, a ponto d s imortalizarm m tmpos difrnts na Acadmia Brasilira d Ltras. Ararip Júnior fundou a cadira d númro 16 Afrânio Coutinho ocupou a cadira qu tv como patrono Raul Pompéia (1863-1895). Ararip mantinha laços d amizad com Pompéia. Afrânio tomou a si a tarfa d organizar m dz volums a obra 1 Profssor Doutor da F.C.L. UNESP Campus d Assis Psquisador CNPq (1D) ISBN 978-85-7395-210-0

d Pompéia m cinco volums a obra crítica d Ararip Júnior, tornando-s su litor mais snsívl ao aprsntar o trabalho Ararip Júnior o nacionalismo litrário, como ts à Faculdad Nacional d Filosofia, m 1957, para concorrr à docência livr d Litratura Brasilira. II Smpr fui fil, smpr fui solidário, ao lado da Bahia. Ediçõs baianas fiz várias. Trabalhi smpr m favor dos baianos, smpr procupado com figuras da Bahia. Mas no volum d coisas qu fazia, a part da Bahia ficava prdida no mio. (Coutinho, 2003, p.30) O primiro contacto qu tiv com a crítica litrária brasilira s du através d um txto d Afrânio Coutinho, m 1961, nas aulas d português d duas insqucívis mstras do Colégio Estadual Svrino Viira, Maria Hlna Candolina Rosa, quando fazia o Curso Colgial - na modalidad Cintífico - m Salvador. Ambas m lvaram a lr o capítulo rfrnt ao Ralismo, Naturalismo, Parnasianismo, d A litratura no Brasil. Para qum stava ntão habituado a psquisas fitas apnas m livros sriados didáticos, aqula litura aliada às prformancs brilhants das duas mstras qu nos introduziram uma, no univrso psicológico d Raul Pompéia, outra, na linguagm sdutora d Machado d Assis, dsprtou o ncanto pla litratura plas humanidads, qu m conduziram rspctivamnt, aos cursos d Dirito, m 1963, Ltras, m 1969. Em 1973, como não houvss Programa d Pós-graduação m Ltras, m Salvador, fui ao Rio d Janiro m sguida a São Paulo, para informar-m sobr o funcionamnto dos Programas da Univrsidad Fdral do Rio d Janiro da Univrsidad d São Paulo. Foi aí ntão qu tiv a oportunidad d conhcr Afrânio Coutinho, a qum fui gntilmnt aprsntado por sua filha Graça, Bibliotcária da Faculdad d Ltras da UFRJ. Foi um contacto rápido, mas stimulant. Além d gntil acolhdor como costumava sr com os baianos, qu o procuravam, Mstr Afrânio m passou todas as informaçõs d qu prcisava a rspito do Mstrado m Ltras da UFRJ. Em sguida, fui para São Paulo, ond conhci na Faculdad d Filosofia, Ltras Ciências Humanas da USP, o crítico prnambucano João Alxandr Barbosa (1937-3º Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: um cosmopolitismo nos trópicos 100 anos d Afrânio Coutinho: A crítica litrária no Brasil, 3., 2012, Fira d Santana. Anais. Fira d Santana: Ufs, 2012, p. 21-30. 22

2006) qu, curiosamnt, aconslhou-m a fazr minha dissrtação sobr a obra crítica d Ararip Júnior, o qu m rconduziu à litura da obra do Mstr Afrânio, dsta vz, dos sus txtos sobr o crítico carns. III A história litrária do Brasil ra vista como uma dpndência da portugusa. Os primiros séculos ram vistos como um prolongamnto da história litrária portugusa, simpls continuação da msma. Isto, apsar dos sforços d Sílvio Romro outros. Nunca aciti sta ts. Smpr m rbli contra la. Smpr nxrgui o início da litratura no Brasil como litratura brasilira. (Coutinho, 2003, p. 23) No ano m qu s commora o cntnário d nascimnto do crítico historiador Afrânio Coutinho (1911-2011), opti por rlr um d sus txtos mais significativos, o Prfácio da primira dição (1955) d A litratura no Brasil, sua magistral história da litratura brasilira. O Prfácio é um txto qu sozinho alimntaria uma disciplina d introdução aos studos litrários no Brasil. Nl, Afrânio Coutinho aborda qustõs d história litrária, priodização, gênros litrários, as soluçõs brasiliras, dfinição caractrs da litratura brasilira, influências strangiras, mtodologia, concito plano d sua história coltiva da litratura brasilira. Parallamnt, rli a Introdução à Formação da litratura brasilira: (momntos dcisivos) (1959), d Antonio Candido (1918-), uma vz qu juntamnt com o Prfácio, sts txtos constitum importants divisors d águas dos studos litrários no Brasil, d mados do Século XX. Minha scolha não foi alatória, pois como profssor, smpr os considri txtos d litura obrigatória, na disciplina Litratura Brasilira I, ministrada, durant 22 anos, na Faculdad d Ciências Ltras da UNESP, m Assis. IV A crítica univrsitária hoj é filha dsta rnovação crítica qu s fz no Brasil m todo o mundo, com o spírito d sridad d profundidad, d psquisa d orintação mtodológica. Hoj a crítica 3º Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: um cosmopolitismo nos trópicos 100 anos d Afrânio Coutinho: A crítica litrária no Brasil, 3., 2012, Fira d Santana. Anais. Fira d Santana: Ufs, 2012, p. 21-30. 23

univrsitária não é apnas isto. É a crítica brasilira pautada m princípio d ordm lógica, d raciocínio lógico, sobrtudo, com grand coisa, u diss isto, qu é a crítica basada nas psquisas intrínscas da obra litrária. (Coutinho, 2003, p. 31) Ao dfinir a litratura brasilira, na década d 50 do século passado, Afrânio Coutinho, com norm lucidz, lvanta crca d dz caractrísticas no procsso volutivo da litratura brasilira d nossa atividad litrária, sm prtnsõs a trabalho dfinitivo, sm tampouco confiar d todo na prdurabilidad dos traços dfinidors (Coutinho, 1986, I, p. 35): prdomínio do lirismo, xaltação à naturza, ausência d tradição, alinação do scritor, divórcio com o povo, ausência d consciência técnica, culto da improvisação, litratura política, imitação originalidad, mtrópol província. Estas caractrísticas stão todas, na vrdad, organicamnt intrligadas. Na tntativa d fazr circular alguns d sus pontos d vista xmplars ntr os jovns litors do século XXI, aprovito o spaço oportuno dsta msa-rdonda ond s commoram 100 Anos d Afrânio Coutinho (1911-2011): a crítica litrária no Brasil no 3º Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: Um Cosmopolitismo nos Trópicos, vnto organizado plo Programa d Pós-graduação m Ltras da UEFS, numa iniciativa d Adítalo Manol Pinho, m Fira d Santana, para rfltir sobr três dstas caractrísticas, qu, d crta forma, antcipam os rumos qu tomaram a litratura os studos litrários brasiliros na contmporanidad. São las: ausência d tradição, alinação do scritor divórcio com o povo. A ausência d tradição, rsultado da oposição ntr uma tradição importada uma vntualmnt nova, conduziu a litratura brasilira a uma antropofagia das graçõs, pois, d su ponto d vista: (...) cada nova gração, marcada plo cticismo plo iconoclastismo, m vz d procurar formar-s, só tm uma dirtriz, a dstruição da qu antcdu conform o mito da sobrania da gração prsnt, a qu corrspond uma stas da ralização artística da acuidad crítica, somnt possívis num clima d continuidad. (1986, I, p.36 37) Isto, por sua vz, grou o qu Afrânio Coutinho chamou d alinação do scritor, ou sja: 3º Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: um cosmopolitismo nos trópicos 100 anos d Afrânio Coutinho: A crítica litrária no Brasil, 3., 2012, Fira d Santana. Anais. Fira d Santana: Ufs, 2012, p. 21-30. 24

Divorciado d uma tradição, o homm d ltras snt-s sparado dos prdcssors, qu ignora, da socidad, qu o dsconhc ou dos sus pars, a qu não prsta atnção. É um dstrrado m sua própria trra. É marca indlévl d nossa vida intlctual a complta dsatnção do scritor ao trabalho dos outros scritors, passados ou contmporânos. (1986, I, p. 37) Esta situação d isolamnto, consqüntmnt, troux consigo um quívoco, pois não o aproximou do povo nquanto público-litor. Ao msmo tmpo m qu svaziou a possibilidad da xistência d uma tradição, optou plo divórcio com o povo, uma vz qu a litratura brasilira é: (...) litratura rquintada, fita por uma class para divrtimnto dssa msma class, lvando-s m conta o norm abismo qu spara lit povo no Brasil, lit cultivada, dona da vida, povo distant, analfabto dsrdado. (1986, I, p. 37). Convém obsrvar qu Afrânio Coutinho rgistrou, naqul momnto, sinais d transformação politicamnt importants como o acsso da massa ao podr político, conômico, social, a poss da cultura. (1986, I, p. 37) No ntanto, o contxto dos anos 50, marcado pla passagm d uma crítica tmática para uma crítica mais voltada às qustõs da linguagm, cntrada, portanto no valor stético, traço dfinidor d su concito d litratura, lvou-o a complmntar mio cético: Mas o risco prdura, pois a ninguém srá prmitido assvrar qu ssa ascnsão não s fará m dtrimnto dos valors stéticos, com um dsnivlamnto dos padrõs d cultura para adaptar-s às xigências da msma massa. Assim, o conflito ntr as tndências highbrow lowbrow s rsolvria por baixo. O divórcio com o público rsultou m uma litratura a qu falta o público. (1986, I, p. 37) É bom qu s diga, porém, qu, a partir da trcira dição d A litratura no Brasil, datada dos anos 80, o crítico acrscnta qu: Ess divórcio acntua com o dsnvolvimnto dos órgãos d cultura d massa, apsar dos bnfícios indirtos qu propiciam. (1986, I, p. 37) 3º Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: um cosmopolitismo nos trópicos 100 anos d Afrânio Coutinho: A crítica litrária no Brasil, 3., 2012, Fira d Santana. Anais. Fira d Santana: Ufs, 2012, p. 21-30. 25

Não s dv cnsurar o crítico por isso, m nnhuma hipóts, pois sta é ainda hoj, início da sgunda década do século XXI, uma qustão bastant polêmica. V Acrdito na fcundidad do dbat da controvérsia inflizmnt, ntr nós, transformados m polêmica pssoal! Dmais disso, [a sção Corrnts cruzadas ] cuida qu é fundamntal o trabalho doutrinário tórico, o dsbravamnto dos problmas d princípio método, sm o qu não lograrmos, no Brasil, jamais sair da fas do mpirismo da improvisação. (Coutinho, 2003, p. 110) Naqula msma época, Antonio Candido, crítico carioca radicado m São Paulo, scrvu o nsaio O scritor o público (1955), qu constitui um dos capítulos d A Litratura no Brasil, dirigida por Afrânio Coutinho, ond dfndu a xistência d uma tradição auditiva qu prpassou a história da litratura no Brasil dsd o século XVI. Em sua opinião: (...) durant crca d dois séculos, pouco mais ou mnos, os públicos normais da litratura foram aqui os auditórios d igrja, acadmia, commoração. O scritor não xistia nquanto papl social dfinido; vicjava como atividad marginal d outras, mais rquridas pla socidad mnos difrnciada: sacrdot, jurista, administrador. Qurndo fugir daí afirmar-s, só ncontrava os círculos populars d cantigas andotas, a qu s dirigiu o grand irrgular sm rssonância nm influência, qu foi Grgório d Matos na sua fas brasilira. (1986, I, 222) Convém rgistrar qu Antônio Candido prcbu também nst txto a ausência d comunicação ntr o scritor a massa ao obsrvar qu: Com fito, o scritor s habituou a produzir para públicos simpáticos, mais rstritos, a contar com a aprovação dos grupos dirignts, igualmnt rduzidos. Ora sta circunstância, ligada à smagadora maioria d iltrados qu ainda hoj caractriza o país, nunca lh prmitiu diálogo ftivo com a massa, ou com um público d litors suficintmnt vasto para substituir o apoio o stímulo d pqunas lits. (1986, I, p. 227) 3º Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: um cosmopolitismo nos trópicos 100 anos d Afrânio Coutinho: A crítica litrária no Brasil, 3., 2012, Fira d Santana. Anais. Fira d Santana: Ufs, 2012, p. 21-30. 26

Difrntmnt d Afrânio Coutinho, Antonio Candido não considrou a litratura produzida plos scritors brasiliros rquintada, nm tampouco viu a lit litrária, a qu sus txtos s dirigm como possuidora d um rfinamnto d gosto, mas apnas com capacidad d intrssar-s plas ltras, conform s pod constatar no fragmnto sguint: Corrspondndo aos públicos disponívis d litors, - pqunos singlos a nossa litratura foi gralmnt acssívl como poucas, pois até o Modrnismo não houv aqui scritor ralmnt difícil, a não sr a dificuldad fácil do rbuscamnto vrbal qu, justamnt porqu s dixa vncr logo, tanto agrada aos falsos rquintados. D ond s vê qu o afastamnto ntr o scritor a massa vio da falta d públicos quantitativamnt aprciávis, não da qualidad pouco acssívl das obras. (1986, I, p. 227) Antonio Candido obsrva a prsnça d sinais d transformação da socidad plo acsso da massa ao podr político, conômico, social cultural, mas também admitiu qu algumas mudanças no campo tcnológico político trouxram prjuízos, na mdida m qu las viram rforçar a tradição auditiva: Em nossos dias, quando as mudanças assinaladas indicavam um possívl nriqucimnto da litura da scrita fita para sr lida, - como é a d Machado d Assis, - outras mudanças no campo tcnológico político viram trazr lmntos contrários a isto. O rádio, por xmplo, rinstalou a litratura oral, a mlhoria vntual dos programas pod alargar prspctivas nst sntido. A ascnsão das massas trabalhadoras propiciou, d outro lado, não apnas maior nvrgadura coltiva à oratória, mas um sntimnto d missão social nos romancistas, potas nsaístas, qu não raro scrvm como qum fala para convncr ou comovr. (1986, I, p. 229) Nos anos 50, os txtos dsss dois críticos - Afrânio Coutinho Antonio Candido alicrçaram ftivamnt novos rumos para a litratura brasilira, por isso são divisors d águas, promovram a ruptura dos studos litrários no Brasil com o passado d tradição historicista. Val lmbrar, porém, qu a ruptura, traço caractrístico daqul momnto, significou como insistiu Antonio Candido, nos txtos scritos m quas três décadas, - u m rfiro principalmnt aos anos 50, 60 70, m qu alrtava para o prigo das prtnsõs xcssivas do formalismo (Candido, 1971, I, p. 33) - o ncontro do crítico 3º Colóquio do Grupo d Estudos Litrários Contmporânos: um cosmopolitismo nos trópicos 100 anos d Afrânio Coutinho: A crítica litrária no Brasil, 3., 2012, Fira d Santana. Anais. Fira d Santana: Ufs, 2012, p. 21-30. 27