O Impacto do Plano Brasil Maior na Indústria do RS



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Transcrição:

O Impacto do Plano Brasil Maior na Indústria do RS GT-MAPI Grupo Técnico de Monitoramento e Avaliação da Política Industrial GETEC Gerência Técnica e de Suporte aos Conselhos Temáticos Status das medidas em 27 de julho de 2012

O Impacto do Plano Brasil Maior na Indústria do RS Apresentação O Plano Brasil Maior (PBM) 2011/2014, lançado em agosto de 2011 e ampliado em abril de 2012, se propõe a lançar uma política industrial a fim de desonerar o setor produtivo e aumentar a competitividade da indústria nacional a partir do incentivo à inovação tecnológica e à agregação de valor, incorpora novos instrumentos e reestrutura alguns já existentes, como os anunciados na Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) 2008/2010. Mais abrangente que as políticas anteriores, o Plano prevê um conjunto de medidas de estímulo ao investimento e à inovação, apoio ao comércio exterior e defesa da indústria e do mercado interno, como: desonerações tributárias; financiamento à inovação; aplicação de recursos em setores de alta e média-alta tecnologia; fortalecimento das micro, pequenas e médias empresas inovadoras; criação de programa para qualificação de mão de obra; desoneração, financiamento e garantias para as exportações; preferência para produtos manufaturados e serviços nacionais nas compras governamentais; financiamento de projetos que reduzam as emissões de gases de efeito estufa; entre outros. Nesse documento, temos como objetivo analisar e propor melhorias as medidas anunciadas, dando sentido de urgência à resolução de fatores críticos que a atividade industrial tem atravessado. Análise global das medidas do Plano Brasil Maior 1. Mérito: o principal mérito da nova política industrial foi colocar na agenda do país o problema da competitividade da indústria exportadora, do estímulo à inovação e da necessidade de um aumento na densidade da estrutura industrial brasileira. A Política contém medidas e instrumentos relevantes e que apontam na direção certa, mas ainda são tímidos, pela sua abrangência setorial restrita e/ou pelos reduzidos impactos que produzem, mesmo considerando os setores e empresas contemplados. 2. Ausência de estratégia: o Plano Brasil Maior ainda não define com clareza uma estratégia para a retomada da competividade da indústria brasileira no futuro. O governo indicou que os instrumentos anunciados são um primeiro estágio da Política, entretanto, é preciso um cronograma para a introdução de medidas adicionais. Em função da gravidade das condições de competitividade da indústria brasileira, necessita-se de uma política industrial com medidas estruturantes e efetivas, isto é, que tragam, de fato, instrumentos de política industrial muito mais agressivos e com ampla abrangência entre os segmentos. 2

No caso da indústria gaúcha, sente-se a ausência da agroindústria no Plano Brasil Maior. O setor, apesar de ser um dos grandes pilares da indústria gaúcha, além de ser naturalmente exportador, não foi contemplado em nenhum das medidas anunciadas. Medidas pontuais para setores específicos, como as anunciadas no PBM, amenizam em parte a atual situação, mas, certamente, são insuficientes para reverter o cenário da indústria brasileira. Políticas não transversais tendem a ser menos efetivas do ponto de vista de promoção do crescimento econômico do País, dada a complexidade das relações entre os diferentes setores de atividade. Assim, é necessário que as medidas fundamentais, como a desoneração da produção, sejam transversais. 3. Efetividade: há uma série de lacunas que podem reduzir em muito o impacto das medidas. Algumas delas precisam ser melhor calibradas; muitas ainda não são suficientes (caso do Reintegra) e outras têm efeito dúbio sobre a competitividade dos setores afetados (caso da desoneração da folha de pagamento). Além disso, há uma grande preocupação com descompasso observado entre a velocidade de implementação das medidas e o sentido de urgência da indústria, cuja competitividade está exposta à estrutura altamente prejudicial dos custos da economia brasileira, os quais são agravados pela crise mundial. 4. Transitoriedade: apesar de ter trazido medidas que buscam atenuar as dificuldades competitivas da indústria, grande parte delas tem prazo definido, até dezembro de 2012 ou de 2013. Uma política econômica que ofereça estímulo efetivo ao crescimento do País deve visar à solução dos problemas estruturais. O Brasil precisa de um projeto de desenvolvimento de longo prazo, que vise mitigar os elementos inibidores da competitividade dos nossos produtos. Considerando-se que os problemas enfrentados têm natureza estrutural e sua solução exige horizonte amplo e estabilidade de regras, é necessário que as medidas sejam permanentes, para que, de fato, possam resolver os problemas estruturais da economia brasileira. 5. Governança e monitoramento: É consenso que o avanço do Plano em direção a uma política industrial concisa, seja no aperfeiçoamento das medidas anunciadas ou na formulação de medidas complementares, depende de um modelo de governança sólido. Os instrumentos apresentados e seus resultados devem ser continuamente monitorados e avaliados, de forma a aumentar a efetividade e permitir progressivo aprimoramento da Política Industrial no país, sendo fundamental o papel do setor empresarial. As Coordenações Setoriais se dispõem a construir junto à iniciativa privada uma agenda para a retomada da competitividade específica, através dos Conselhos Setoriais de Competitividade. Contudo, este diálogo não ocorre com as Coordenações Sistêmicas do Plano, responsáveis pelo monitoramento e aprimoramento das medidas transversais, que desenvolvem suas atividades sem a participação da iniciativa privada. Nesse sentido é imprescindível criar uma sistemática de monitoramento por parte da indústria, não somente uma discussão setorial, mas um debate que defina as bases para uma estratégia de desenvolvimento da competitividade da indústria como um todo. 6. Transparência: há preocupação com respeito à transparência e precisão dos custos fiscais associados às medidas. As estimativas de renúncias fiscais foram superestimadas e não consideraram os ganhos advindos de ampliação de base tributária. 3

A previsão das novas medidas contida no próprio Plano é que as desonerações para a indústria de transformação somem R$ 17,77 bilhões entre os anos de 2012 e 2014, o que representa apenas 0,13% do PIB brasileiro do período e 0,43% do total da arrecadação da União. A indústria de transformação é responsável por mais de 33% do total da carga tributária incidente sobre os setores produtivos. Além disso, a carga tributária da indústria de transformação é equivalente a mais de 57% do PIB do setor, um percentual muito acima do verificado para a média dos setores, que é de 26,5%. Valores de desoneração tributária das novas medidas do PBM para a indústria de transformação (R$ bilhões) 2012 2013 2014 Total Desoneração da folha de pagamentos da indústria 3,74 5,51 5,51 14,76 Desoneração de IPI (linha branca e outros produtos) 0,49 - - 0,49 Reporto 0,19 0,25-0,44 Postergação do prazo de recolhimento do PIS/COFINS (custo financeiro) 0,08 - - 0,08 Regime especial de tributação do Programa Nacional de Banda Larga (REPNBL) 0,46 0,97-1,43 REIMCOP - PROUCA (um computador por aluno) 0,15 0,20 0,22 0,57 Total 5,11 6,93 5,73 17,77 Arrecadação Total da União* 1.033,92 1.102,16 1.174,90 3.310,98 Desoneração em % da Arrecadação 0,49 0,63 0,49 0,54 PIB** 4.276,83 4.460,74 4.657,01 13.394,58 Desoneração em % do PIB 0,12 0,16 0,12 0,13 * Arrecadação Total estimada conforme sua taxa média de crescimento real entre 2007-2011. ** PIB estimado conforme as expectativas de mercado do Relatório FOCUS do Banco Central (04/05/2012). Fonte: Plano Brasil Maior. BCB. STN. Elaboração: FIERGS/UEE O impacto do Plano na retomada da economia Com o esgotamento da capacidade do consumo em puxar a recuperação da economia brasileira, o investimento se torna o principal motor de um desenvolvimento sustentável e sem inflação. No entanto, não é racional tentar elevar o investimento privado quando há expectativa de queda na demanda interna e externa, diante do baixo ritmo de crescimento do mercado interno e da estagnação da economia mundial. Assim, cabe ao governo dar os estímulos corretos à economia. Nesse sentido, o através do PAC Equipamentos o governo apostou no investimento de custeio com potencial de alavancar a demanda agregada rapidamente. Paralelamente, a taxa de câmbio em um patamar razoável, não supervalorizado, contribui para que estas compras sejam supridas por indústrias nacionais, estimulando, de fato, a retomada do crescimento no país. 4

Contudo, enquanto as compras governamentais priorizam alguns setores em detrimento de outros, os investimentos em infraestrutura por parte do governo possuem alta relevância por reduzir os custos da produção no país para todos os setores. Entre elementos inibidores da competitividade dos nossos produtos estão, por exemplo, os altos custos relacionados à logística. A infraestrutura com a qual o setor industrial conta, principalmente no que se refere às vias para escoamento da produção, não condiz com a elevada carga tributária praticada no Brasil, que se constitui também em um entrave. Além desses, existem diversos outros problemas que impedem o desenvolvimento do setor produtivo brasileiro e não estão contemplados no Plano Brasil Maior, como o elevado custo da energia elétrica, que é um dos principais insumos utilizados na produção, responsável por grande parte do preço dos produtos brasileiros. O investimento em infraestrutura melhora as condições de competitividade do país como um todo e reduz os gargalos para o crescimento. Sabe-se que a agenda de infraestrutura brasileira não está contida no Plano Brasil Maior, com exceção de algumas medidas. Estas discussões se dão no âmbito do PAC (Programa de Aceleração do Investimento) e do Orçamento da União, os quais deveriam receber um tratamento estratégico. Os investimentos em custeio contribuem para a rápida retomada da economia, com o governo estimulando a demanda através das compras governamentais. Contudo, os investimentos em infraestrutura são estratégicos, pois atuam transversalmente em todos os setores. Ao reduzirem o custo Brasil, contribuem para que a taxa de crescimento da economia consiga superar o patamar de 2-3% para alcançar uma taxa de crescimento plena. Como já mencionado, as medidas são esforços na direção correta, mas ainda são muito tímidas e pouco abrangentes, além de não existirem garantias de que sua implementação será imediata. Por este motivo, se mostram insuficientes para solucionar o problema da indústria brasileira. É necessário o desenho de um projeto de longo prazo, mais contundente e que tenha por objetivo a solução dos nossos entraves estruturais. Este é o único caminho para o crescimento sustentado do País. Do ponto de vista da implementação Após o lançamento do segundo pacote de medidas, cabe avaliar o status de implementação do Plano, a fim de verificar se as medidas anunciadas estão, de fato, disponíveis à indústria e/ou sendo implementadas. Assim, este documento traz a análise de todos 1 os 43 instrumentos de política industrial anunciados nos dois pacotes 2. Das 43 medidas anunciadas, 21 já estão disponíveis para a indústria, representando 48% do Plano Brasil Maior implementado, 17 estão em fase avançada de implementação. Cabe notar que 10 destas dependem do andamento das MPs 563 e 564. As MPs foram aprovadas na Câmara dos Deputados e seguem agora para aprovação do Senado e posterior sanção presidencial. Para as medidas contempladas nestas MPs a previsão de entrada em vigor é no dia 1º de agosto. 1 Não foi incluído no documento o Programa de Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (PRONON) por se entender que não constitui uma medida de política industrial, mas sim de saúde, através do estímulo à pesquisa e tratamento do câncer. 2 As medidas do segundo pacote do Plano Brasil Maior que já constavam no primeiro lançamento e que apenas foram ampliadas, incluindo mais setores, ou que foram reeditadas com novas taxas de juros ou condições de financiamento foram consideradas apenas um instrumento nesta análise. 5

Outras medidas estão em fase avançada de implementação, pois já foram analisadas e debatidas com a iniciativa privada, mas dependem do tempo de processos administrativos para entrar em vigor, como a aprovação no Mercosul para o aumento nos impostos de importação ou a conclusão do concurso para analistas do MDIC que reforçarão o quadro para dar mais celeridade às investigações de defesa comercial. Por fim, 5 medidas estão com sua implementação atrasada ou em fase muito inicial. Algumas delas já tiveram sua criação convertida em lei, como a fiscalização por parte do INMETRO aos produtos importados e o Fundo de Financiamento às Exportações, mas ainda não foram regulamentadas/operacionalizadas por alguns órgãos do governo. Além destas, o Ressarcimento Automático dos Créditos Tributários aos Exportadores se destaca como uma das medidas mais críticas, estando, de fato, atrasada, pois o anúncio previa sua implementação em outubro de 2011 e posteriormente março de 2012, contudo, nenhum movimento foi feito por parte do governo, deixando dúvidas se, de fato, será implementada. Nota-se que a maioria das medidas atrasadas ou e fase inicial de implementação concentram-se em incentivos ao setor exportador, um dos mais suscetíveis à crise mundial. As medidas também foram avaliadas quanto à sua: (i) relevância; ou seja, se efetivamente impactam no fator competitividade, (ii) abrangência; caracterizando se são medidas pontuais, atendendo apenas alguns setores, segmentos ou produtos (podendo ser de média ou baixa abrangência) ou se incluem todos os setores/segmentos (ampla abrangência), especialmente para os instrumentos transversais a toda a indústria, (iii) intensidade; adequada ou insuficiente, avaliando se foram ajustadas às necessidades da indústria. A redução da alíquota da Contribuição Previdenciária Patronal de 1,5% para 1,0% exemplifica bem o critério da intensidade, já que mesmo com a mudança a medida ainda não se mostrou suficiente para desonerar alguns setores/segmentos. Outra medida de intensidade inadequada é a do Reintegra, visto que o percentual de 3% sobre o valor exportado não se mostra suficiente para compensar toda a cumulatividade dos tributos não recuperáveis ao longo das cadeias produtivas. Abaixo, segue análise objetiva das medidas considerando os critérios: (i) status de implementação (ii) relevância, (iii) abrangência e (iv) intensidade. Em seguida, trazemos uma análise crítica do conjunto de medidas, separadas em cadernos temáticos, ressaltando os principais avanços do Plano no que diz respeito ao seu instrumental, mas sem deixar de apontar suas limitações, já que ainda não traz em seu bojo instrumentos suficientemente capazes de solucionar o problema da falta de competitividade da indústria brasileira. 6

Medida O Status das Medidas Intensidade Relevância Abrangência (coeficiente/índice do benefício) Defesa da Indústria Guerra dos Portos alta ampla adequada Fiscalização do INMETRO aos produtos importados Vigência permanente ( a partir de jan/2013) alta baixa ** ** Compras Governamentais média média insuficiente Fiscalização da Receita Federal aos produtos importados Aumento do Imposto de Importação Rapidez nas investigações de Defesa Comercial Suspensão do ex-tarifário para máquinas e equipamentos usados Desoneração da Folha de Pagamentos Prorrogação da Redução do IPI Devolução dos Créditos do PIS/Pasep e Confins sobre bens de capital Alteração do Preço de Transferência curto prazo (até dez/2013) média baixa adequada ** média baixa adequada curto prazo (1 a 2 anos) média baixa adequada permanente média baixa adequada permanente Tributárias alta média insuficiente curto prazo (dez/2014) alta média adequada curto prazo média média adequada permanente média baixa insuficiente permanente Status 50% 60% Postergação do Pagamento do PIS/Confins baixa baixa insuficiente curto prazo BNDES Progeren alta alta adequada Renovação do PSI - Bens de Capital alta alta adequada BNDES Procaminhoneiro alta média adequada Ampliação de Programas Setoriais alta média adequada BNDES Revitaliza média alta adequada Renovação PSI - Pré embarque BNDES Qualificação Investimento Acordo dos Bancos Públicos Agência Brasileira de Garantias -ABGF média alta adequada média média adequada curto prazo (até dez/2012) curto prazo (até dez/2013) curto prazo (até dez/2012) curto prazo (até jul/2012) curto prazo (até dez/2013) curto prazo (até abr/2013) curto prazo (até abr/2013) média média adequada ** alta alta adequada permanente Reporto alta média adequada Plano Nacional da Banda Larga Financiamento Infraestrutura médio prazo (dez/2015) alta média adequada longo prazo 88% 0% 7

Medida Intensidade Relevância Abrangência (coeficiente/índice do benefício) Vigência Inovação e Tecnologia Programa Semicondutores alta média insuficiente permanente PSI - 4 Projetos curto prazo alta média insuficiente Transformadores (até dez/2013) Renovação do PSI - curto prazo alta média adequado Inovação (até dez/2013) BNDES Qualificação - Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Mecanismo de Encomendas Tecnológicas Fundações de Apoio atendendo mais de uma ICT alta média adequada curto prazo (até abr/2013) alta média adequado permanente média média adequado permanente Regime Automotivo média média adequado permanente (a partir de jan/2013) Programa Um Computador por Aluno média baixa insuficiente permanente Ampliação da Carteira de Crédito da FINEP média baixa adequado curto prazo Incentivos à Lei do Bem: financiamento a ICTs privadas baixa média adequado permanente Comércio Exterior Ressarcimento dos créditos tributários alta alta adequada permanente Reintegra alta alta insuficiente curto prazo (até 31/12/2012) Questão Cambial alta alta ** ** Aumento dos recursos para PROEX alta alta adequada curto prazo Desburocratização do PROEX média alta ** permanente ACC e ACE na exportação via tradings média média ** permanente Fundo de Financiamento à Exportação baixa média adequada permanente Fundo de Garantia às Exportações baixa média adequada permanente Ampliação de Empresas Preponderantemente média baixa insuficiente permanente Exportadoras Status 60% 20% Ações de Promoção Comercial baixa méda ** médio prazo Glossário: Relevância: avalia a força e o impacto que a medida exerce sobre o problema principal. Abrangência: avalia se a medida é direcionada para alguns setores (média), se deixou de fora algum setor/segmento importante (baixa) ou se atendeu todos possíveis beneficiados (ampla). Intensidade: avalia se o índice aplicado pela medida (taxa de juros, alíquota, etc.) é suficiente para devolver a competitividade à indústria ou se foi tímida. Vigência: avalia se a medida é temporária (curto, médio ou longo prazo) ou se é permanente. Status: diz respeito à implementação da medida: vermelha (não implementada), amarela (regulamentação publicada, mas ainda não em vigor) e verde (já disponível para indústria). **não há como avaliar ou não foi divulgado. 8

ÍNDICE Caderno Defesa da Indústria 11 1) Guerra dos Portos 11 2) Fiscalização do INMETRO aos produtos importados 12 3) Compras Governamentais 12 4) Fiscalização da Receita Federal aos produtos importados 14 5) Aumento do Imposto de Importação 15 6) Rapidez nas Investigações de Defesa Comercial 16 7) Suspensão do ex-tarifário para máquinas e 17 equipamentos usados Caderno Tributário 18 1) Desoneração da Folha de Pagamentos 18 2) Prorrogação da Redução do IPI 21 3) Devolução dos Créditos do PIS/Pasep e Confins 22 sobre bens de capital (ativo imobilizado) 4) Alterações do Preço de Transferência 23 5) Postergação do Pagamentos do PIS/Confins 24 Caderno de Financiamento 26 1) BNDES Progeren 26 2) Renovação do PSI Bens de Capital 26 3) BNDES Procaminhoneiro 27 4) Ampliação dos Programas Setoriais 27 5) BNDES Revitaliza 27 6) Renovação do PSI Pré-embarque 29 7) BNDES Qualificação Investimento 29 8) Acordo dos Bancos Públicos 30 Caderno de Infraestrutura 31 1) Agência Brasileira de Garantias ABGF 31 2) Reporto 32 3) Plano Nacional da Banda Larga 34 9

Caderno de Inovação e Tecnologia 35 1) Programa Semicondutores 35 2) PSI -4 Projetos Transformadores 35 3) Renovação do PSI Inovação 36 4) BNDES Qualificação Pesquisa, Desenvolvimento 36 e Inovação 5) Mecanismo de Encomendas Tecnológicas 37 6) Fundações de Apoio atendendo a mais de uma ICT 37 7) Regime Automotivo 38 8) Programa Um Computador por Aluno 38 9) Ampliação da Carteira de Crédito da FINEP 39 10) Incentivos à Lei do Bem: financiamento 39 a ICTs privadas Caderno de Comércio Exterior 40 1) Ressarcimento Automático dos Créditos Tributários 40 2) REINTEGRA 41 3) Questão Cambial 42 4) Aumento dos Recursos do PROEX 43 5) Desburocratização do PROEX 44 6) ACC e ACE na exportação via tradings 44 7) Fundo de Financiamento à Exportação 45 8) Fundo de Garantia às Exportações 45 9) Ampliação de Empresas 46 Preponderantemente Exportadoras 10) Ações de Promoção Comercial 46 10

CADERNO DEFESA DA INDÚSTRIA 1) Guerra dos Portos EM IMPLEMENTAÇÃO alta relevância / ampla abrangência / adequada Descrição da medida Ação política do governo pela aprovação da Resolução 72/2010 do Senado Federal, que uniformiza em 4% a cobrança de ICMS sobre bens importados, visando por fim a chamada guerras dos portos, ao acabar com os incentivos estaduais aos produtos importados. A guerra dos portos é uma distorção tributária que favorece o produto importado em detrimento do nacional. Esse tipo de prática transfere empregos que poderiam ser criados no país para o exterior. Esses incentivos barateiam ilegalmente a importação e afetam a arrecadação fiscal dos estados, aprofundando a falta de isonomia dos importados em detrimento da produção local. Em que pese o esforço do governo para aprovação da Resolução 72/2010 do Senado, não seja medida de política industrial, e sim de combate à ilegalidade, a Medida é positiva, já que tem como objetivo a proteção da indústria nacional, a manutenção de empregos e da produção. A aprovação do Projeto de Resolução do Senado (PRS) 72/2010, transformado em norma jurídica com publicação da Resolução 13/12 em 26.04.12, no Diário Oficial da União, é a primeira etapa na tentativa de corrigir parte da distorção que é a guerra fiscal em nosso sistema tributário, mas não põe fim a questão enquanto não forem equalizados outros fatores, como a unificação das alíquotas interestaduais, de forma a transferir a maior fatia da tributação para o estado de destino das mercadorias. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal publicou em 24-04-12 Proposta de Súmula Vinculante 69 (PSV), que estabelece como inconstitucional qualquer tipo de benefício fiscal do ICMS sem prévia autorização unânime do CONFAZ. O efeito jurídico de uma PSV é que todo o sistema jurídico deve adotar a mesma decisão do Supremo Tribunal Federal em primeira instância, impedindo assim que um eventual benefício perdure anos até que seja declarado inconstitucional. A FIERGS, em atenção à proposta da Súmula Vinculante 69, manifestou-se favorável a sua aprovação, visto que a Súmula trará maior segurança jurídica aos projetos hoje incentivados e aos investimentos futuros, de modo a afastar as incertezas que tanto prejudicam a geração de riquezas no país. Entretanto, frisamos que a aprovação da PSV nº 69 deve observar algumas particularidades, de extrema relevância, no que tange a garantia da estabilidade institucional do Direito e a credibilidade do ordenamento jurídico, qual sejam - i - modulação temporal dos efeitos; ii - preservação dos benefícios fiscais concedidos dentro do próprio Estado; iii - distinção entre incentivos tributários e 11

financeiros de forma a explicitar que os incentivos financeiros não estão abrangidos pela Súmula. O processo segue em tramitação, para que seja levado ao Plenário do STF, que decidirá pela aprovação ou não da proposta de súmula. 2) Fiscalização do INMETRO aos produtos importados EM alta relevância / baixa abrangência IMPLEMENTAÇÃO Descrição da medida O Plano Brasil Maior I, lançado em agosto de 2011, trouxe o INMETRO para a tarefa de fiscalização das importações para verificar se respeitam as normas internas de segurança e qualidade. A medida dá fim à assimetria de tratamento entre produtos nacionais e importados, os quais não eram submetidos às mesmas exigências técnicas que os nacionais. O Plano define um novo marco legal para o INMETRO, concedendo permissão para sua atuação com livre acesso às aduanas e locais de produção, armazenagem e comércio, além de prever uma ação do Instituto em cooperação com a Receita Federal e o MDIC. Entende-se de extrema importância o efetivo controle e fiscalização do cumprimento da regulamentação técnica pelas importações, de forma a conferir maior isonomia competitiva. Especialmente no contexto de crise internacional, a medida se destaca por evitar a concorrência desleal gerada pela entrada e comercialização de mercadorias no país que não atendem aos padrões técnicos minimamente estabelecidos, cujo cumprimento é obrigatório para os produtos nacionais. Acordos de Cooperação entre o INMETRO e a Receita Federal já foram firmados e alguns produtos avaliados; contudo, ainda não há uma normatização de como o INMETRO operará nas áreas de aduanas tampouco está claramente especificado como será feita a escolha dos produtos que serão avaliados. Para que o INMETRO consiga atuar na fiscalização dos importados deve-se aguardar o concurso para 120 novos servidores. A medida possui um grau de abrangência médio, pois apenas alguns produtos específicos terão uma avaliação de conformidade mais rigorosa, não sendo possível conceder tratamento isonômico para todos os produtos importados, por falta de estrutura. Está sendo discutida na CAMEX a proposta de lei prevendo as infrações e penalidades aos produtos importados em situação de não conformidade, contudo, entende-se necessário elaborar o quanto antes o Plano de Trabalho e divulgar quais serão os critérios de escolha dos produtos prioritários. 3) Compras Governamentais EM VIGOR média relevância / média abrangência / adequada Descrição da medida Entre as medidas apresentadas pelo Programa Brasil Maior para incentivar a indústria e defender o mercado interno está a concessão de uma margem de preferência de até 25% para produtos manufaturados e serviços nacionais, nas compras realizadas 12

pelo Governo. Esta medida visa proteger a indústria nacional, já que o produto brasileiro poderá custar até 25% a mais do que seu concorrente do mercado externo nas aquisições pelos órgãos públicos. A implementação da medida teve, até o presente momento, diversas etapas. A primeira delas foi a publicação da Lei nº 12.349, em dezembro de 2010, com a sua regulamentação em agosto do ano seguinte. Nesse momento, foi definida uma margem de preferência de 8% para os setores de confecções, calçados e artefatos, com vigência até maio de 2012. Adicionalmente, em abril de 2012, no âmbito do Plano Brasil Maior, foram estabelecidas novas margens de preferência para aquisição de fármacos, biofarmácos e medicamentos, e retroescavadeiras e motoniveladoras - conforme tabela abaixo. Produto Margem de Preferência Prazo Medicamentos 8% 2 anos Fármacos 20% 5 anos Biofármacos 25% 5 anos Retroescavadeiras 10% Motoniveladoras 18% até dez/2015 Posteriormente, em junho de 2012, para os setores de confecções, calçados e artefatos, o governo ampliou a lista de mercadorias sujeitas à margem de preferência, ampliou o percentual de vantagem dos produtos nacionais para 20% e prorrogou a vigência até dezembro de 2013. Complementando a medida de compras governamentais do Programa Brasil Maior, o Governo apresentou o plano PAC EQUIPAMENTOS, que trataremos a seguir, e incluiu margem de preferência para mais de 80 equipamentos e materiais hospitalares. As margens de preferência para esses produtos variam de 8% a 25% conforme a complexidade tecnológica do material/equipamento adquirido, com vigência até 30 de junho de 2017. PAC EQUIPAMENTOS Com o intuito de estimular o crescimento num ambiente de crise internacional, o Governo apresentou um conjunto de compras governamentais que serão realizadas no 2º semestre de 2012 PAC EQUIPAMENTOS. O total das compras será no valor de R$ 8,4 bilhões. O Plano PAC EQUIPAMENTOS visa ampliar a capacidade produtiva da economia e os investimentos, além de tentar enfrentar os problemas ambientais, incluindo nas compras públicas perfuradores de poços para regiões secas. Outros produtos estão na lista de compras do governo, tais como: ônibus, carteiras escolares, caminhões, máquinas agrícolas, ambulâncias, trens urbanos, motocicletas para Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal, além de veículos militares. A implementação da margem de preferência para as compras nacionais é importante para a proteção da indústria. Políticas similares já foram adotadas em diversos 13

países. Nos Estados Unidos, por exemplo, as compras do governo são regidas pelo Buy American Act, que atua priorizando os produtos feitos naquele país, inclusive exigindo em alguns casos que os insumos sejam 100% de conteúdo local. Na medida do Plano Brasil Maior, destaca-se positivamente, a ampliação da margem de preferência para 20% nos setores de confecções e calçados, uma vez que isso possibilita uma competição mais equilibrada com os produtos oriundos da Ásia. Ressalta-se, também, a inclusão de margens de preferência para equipamentos e materiais hospitalares, que compõem um alto percentual das aquisições do Governo Federal. Entretanto, apesar de benéfica, a medida ainda abrange poucos setores, e a possibilidade de aplicação das margens tem curto prazo pré-estabelecido, dificultando o planejamento das empresas. Assim, entende-se que a medida deveria viger por prazo indeterminado. O plano PAC EQUIPAMENTOS é uma medida necessária, ainda mais com a crescente crise internacional. Porém, abrange poucos segmentos da indústria e representa apenas 0,2% do PIB nacional, o que na prática, não trará grandes impactos à economia. Ademais, o montante de R$ 1,82 bilhões, que representa 21% do valor anunciado (R$ 8,4 bilhões), corresponde a compras anteriormente já divulgadas pelo Governo. Entende-se que é importante para uma maior eficácia da medida que todos os produtos incluídos no PAC EQUIPAMENTOS sejam abrangidos por margens de preferência de produtos nacionais. 4) Fiscalização da Receita Federal aos produtos importados EM média relevância / média abrangência / adequada VIGOR Descrição da medida A Receita Federal também passará a fiscalizar intensamente produtos importados, neste caso, avaliando casos de subfaturamento, descaminho, dentre outras fraudes na importação. Atualmente a Receita Federal está atuando em duas operações setoriais específicas: Panos quentes e Passos Largos, as quais visam monitorar, respectivamente, a importação de tecidos e confecções e calçados com irregularidades. Além da Operação Maré Vermelha que está monitorando a entrada de brinquedos, autopeças, dentre outros. A Operação Panos Quentes, aplicada desde agosto de 2011, já realizou conferência de mais de 520 declarações de importação, colocando-as no canal vermelho, com conferência física e de valores, somando cerca de US$ 26 milhões de bens fiscalizados. O índice de fraude foi de 44%, resultando em retenções das mercadorias. Recentemente foi criado o Centro de Riscos Aduaneiros para avaliar, junto ao MDIC, através do cruzamento de informações entre os dois órgãos do governo, os principais produtos que podem ser alvo de irregularidades. O combate às importações ilegais que chegam ao Brasil é considerado importante, por evitar práticas de descaminho, subfaturamento, dentre outras que causam uma concorrência desleal aos produtos nacionais. Contudo, sabe-se que estas 14

ações não conseguirão conter a avalanche de produtos importados que esta assolando o mercado doméstico. Observou-se que o resultado da Operação Panos Quentes foi bastante satisfatório. Contudo, cabe notar que apenas alguns setores/produtos têm sido beneficiados, caracterizando uma medida de baixa abrangência. Além disso, não há um processo transparente e regulamentado, pelo qual os setores possam demandar este tratamento diferenciado nas importações. Espera-se uma interlocução mais aberta da Receita Federal para que os industriais possam levar suas necessidades e solicitar procedimentos diferenciados, quando houver indícios de práticas irregulares. A respeito do Centro Nacional de Riscos Aduaneiros, a iniciativa privada poderia contribuir indicando produtos que estão entrando no país em condições desleais. 5) Aumento do Imposto de Importação EM média relevância / média abrangência / adequada IMPLEMENTAÇÃO Descrição da medida A medida visa aumentar as tarifas de importação pelo período de um ano, prorrogável por mais um ano, a fim de proteger a indústria nacional da avalanche de produtos importados no mercado interno. Tendo em vista que o Brasil é um estado parte do Mercosul, esta decisão tem de ser tomada em conjunto para que seja elevada a Tarifa Externa Comum dos quatro países que pertencem ao bloco. Atualmente a lista brasileira está sendo consolidada no âmbito da CAMEX e deve seguir para aprovação dos outros países do Mercosul, no segundo semestre. De alta relevância para a indústria brasileira, pois permite elevar a tarifa de importação especialmente de produtos que estão sofrendo grande concorrência de produtos importados. Contudo, caracteriza-se por ser de média abrangência, pois apenas 200 produtos (NCMs) serão beneficiados, 100 deles incluídos na LEITEC (Lista de Exceção à TEC) e outros 100 que terão aumento temporário da alíquota de importação. O aumento da tarifa se dará de forma adequada por ser até o teto máximo permitido pela OMC, o que traz a maior proteção possível para cada produto, respeitando as normas e convenções internacionais. Os requisitos do governo para concessão do aumento do imposto foram bastante detalhados no formulário que as empresas e entidades preencheram para incluir seus produtos nas listas. Critérios como a capacidade ociosa e capacidade produtiva para suprir um eventual desvio de demanda por produtos nacionais no lugar de importados foram levados em consideração para evitar qualquer efeito inflacionário ou de desabastecimento do mercado interno. No âmbito dos acordos internacionais, o respeito a outros compromissos já assumidos pelo bloco foi detalhado também a partir da análise do tratamento tarifário que estes produtos têm nos diversos acordos. Assim, a medida será uma oportunidade de minimizar os efeitos predatórios da concorrência de produtos asiáticos no mercado interno, especialmente neste momento de crise internacional, além de estimular setores nascentes da economia e de alta tecnologia, que necessitam de investimentos altos inicialmente. 15

Aguarda-se a divulgação da lista de produtos beneficiados para que se possa ter uma avaliação mais precisa do impacto desta medida na competitividade da indústria. Cabe lembrar por fim que estes produtos devem ter uma análise bastante esmiuçada das cadeias produtivas a que pertencem, a fim de que não sejam elencados insumos necessários à competitividade da produção nacional. 6) Rapidez nas investigações de Defesa Comercial EM média relevância / baixa abrangência / adequada IMPLEMENTAÇÃO Descrição da medida Em 2011, o Brasil se destacou como um dos países que mais aplicou medidas de defesa comercial. Contudo, para que as investigações de defesa comercial (antidumping, medidas compensatórias e salvaguardas) pudessem se tornar, de fato, um instrumento de combate às práticas desleais de comércio, uma série de medidas foram tomadas pelo governo. A definição de novos prazos das investigações de Defesa Comercial, reduzindo 15 para 10 meses o tempo total da investigação e de 240 para 120 dias para a aplicação de direitos provisórios foram anunciadas no Plano Brasil Maior, em agosto de 2011. Uma nova modalidade de investigações também passou a fazer parte do rol de medidas disponíveis para combater as importações desleais, quais seja, a falsa declaração de origem; além de uma maior disposição do governo para, de fato, investigar práticas de circunvenção, mais conhecida como triangulação. As metas de celeridade nas investigações dependem da ampliação do número de técnicos no quadro do MDIC e de mudanças nas informações exigidas para abertura do processo. No primeiro caso, está sendo realizado concurso para 120 novos técnicos para as investigações de Defesa Comercial, os quais deverão entrar em exercício no 2º semestre do ano. Além dos novos técnicos, o Departamento de Defesa Comercial do MDIC publicou um novo modelo de petições para abertura do processo. Já na abertura, o peticionário terá de apresentar todos os dados referentes à produção, quantidade importada, capacidade ociosa, dentre outros, os quais antes eram levantados ao longo da investigação. Assim, o Ministério dá mais celeridade às suas atividades, pois é eliminado o tempo de envio e retorno dos questionários que as empresas eram obrigadas a responder prestando informações. O Ministério acaba repassando para as empresas o trabalho de levantar certas informações. Uma nova legislação antidumping também deve ser publicada em breve, atualizando os instrumentos e regras de defesa comercial brasileiros, explorando ao máximo os instrumentos aceitos legalmente pela OMC. Também se está aguardando uma nova legislação para a aplicação de medidas compensatórias, após uma ação de cooperação do Departamento de Defesa Comercial do MDIC com o seu similar americano. Nos EUA há uma maior flexibilidade na abertura de investigações de medidas compensatórias, são aceitos, por exemplo, recortes de jornais para comprovar a existência de subsídios (alvo das medidas compensatórias). As medidas compensatórias ganham uma importância estratégica na defesa comercial ao passo que 16

se aproxima a entrada da China na OMC, dificultando assim a comprovação de dumping nas importações de produtos chineses. Cabe analisar positivamente também a aplicação da nova modalidade de investigações de Falsa Declaração de Origem, especialmente por observar-se uma postura proativa em que o próprio governo pode abrir investigações se encontrar indícios, além de ser uma investigação mais rápida e sem custos para a indústria, como são as petições de defesa comercial tradicionais. Por fim, a criação do GETIP (Grupo Técnico de Avaliação do Interesse Público) é um fator ambíguo que poderá influenciar positiva ou negativamente o processo de defesa comercial no país. Após as investigações técnicas que comprovarão as evidências de práticas desleais de comércio, um grupo analisará se a aplicação dos direitos de antidumping, medidas compensatórias ou salvaguardas, são de interesse público. Os critérios desta avaliação permanecem ainda muito subjetivos, dando margem para influências políticas no processo de investigação. Por outro lado, a taxação de insumos importados necessários à produção nacional pode ser danosa para a competitividade da indústria, sendo assim importante uma instância que analise o impacto da aplicação de uma medida de defesa comercial em toda a economia do país. Nota-se um grande avanço na estrutura da defesa comercial do país. Contudo, deve-se ponderar que as medidas de defesa comercial são muito pontuais, aplicadas a um produto específico, tendo impacto em apenas 3% de toda a pauta de importações do país, além de uma investigação de defesa comercial ser um processo de custos elevados para uma empresa/entidade. 7) Suspensão do ex-tarifário de máquinas e equipamentos usados EM média relevância / baixa abrangência / adequada VIGOR Descrição da medida O governo federal, através desta medida, revogou a lei que permitia a importação de máquinas e equipamentos usados no regime de ex-tarifários (com isenção do imposto de importação). A importação de máquinas usadas para o setor produtivo pode ser um instrumento de competitividade. Contudo, entende-se que nestes casos específicos deva haver um processo de avaliação mais criterioso, no qual seja mantido um regime com normalização específica, levando em consideração a garantia da inexistência de produção nacional, e outros fatores como nível tecnológico e agregação de valor produtivo. 17

CADERNO TRIBUTÁRIO 1) Desoneração da Folha de Pagamentos: 1ª fase EM VIGOR alta relevância / pequena abrangência / insuficiente A medida traz a alteração na Contribuição Previdenciária Patronal (INSS) substituindo-a por uma alíquota sobre o faturamento e não mais sobre a folha de salários. O governo instituiu assim, em agosto de 2011, a substituição da alíquota de 20% da contribuição patronal ao INSS dos setores de confecção e coureiro-calçadista por uma contribuição de 1,5% sobre o faturamento bruto das empresas (de acordo com a relação de códigos TIPI). A fim de estimular as exportações, não serão computados no faturamento bruto para efeito do cálculo da contribuição as receitas de exportações, bem como as vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos. Paralelamente, o governo determinou a elevação da alíquota da COFINS- Importação em 1,5 pontos percentuais nas importações dos mesmos produtos industriais que, no caso de fabricação no país, estiverem tendo sua receita bruta tributada pela nova contribuição previdenciária; ou seja, os importados cujos códigos TIPI estejam elencados na medida. Em vez de adotar a substituição para todos os setores, em um primeiro momento, a desoneração da folha de pagamento foi adotada em alguns segmentos econômicos intensivos em mão-de-obra, como confecções, calçados, em uma experiência piloto. Outras pessoas jurídicas abrangidas pela desoneração da Folha foram as que (i) prestam serviços de Tecnologia da Informação TI e Tecnologia da Informação e Comunicação TIC, (ii) prestam serviços de call center. Nesses casos, a alíquota da contribuição à seguridade social foi fixada em 2,5% sobre a receita bruta. A medida foi implementada com vigência de 01/12/2012 até 31/12/2014. Avaliação da FIERGS e Articulações para aperfeiçoamento da Sistemática A FIERGS, visando propiciar maior eficiência às cadeias produtivas e aperfeiçoar o benefício de forma a reduzir as distorções existentes na nova sistemática, apresentou diversas emendas à MP 540, que regulamentava a Desoneração da Folha de Pagamentos, dentre as quais foram acolhidas as seguintes proposições: Extensão do prazo de vigência da medida até 31 de dezembro de 2014: A medida de desoneração da folha de pagamento, primeiramente, foi fixada com um prazo de vigência até dezembro de 2012, contudo, entendemos que a criação de novos postos de trabalho, bem como os demais ajustes no processo produtivo das empresas atingidas pelas medidas, envolve custos e só se justificariam diante de um prazo maior. 18

Exclusão da indústria moveleira do novo regime: Frente à constatação de que com a substituição do regime haveria um aumento da carga tributária, ao invés de uma desoneração sobre o setor, trabalhamos para promover a exclusão da indústria moveleira da medida, pois só haveria efetiva desoneração com uma alíquota de 0,75%. Inclusão de setores integrantes da cadeia produtiva de couro e confecções na nova sistemática: por se tratarem de setores intensivos em mão de obra e altamente integrados às cadeias produtivas contempladas pela nova sistemática, trabalhamos para incluir o setor curtidor de couro e os fabricantes de botões, ilhós e rebites no regime substitutivo. Desoneração da Folha de Pagamentos: 2ª Fase EM VIGOR A PARTIR DE alta relevância / média abrangência / insuficiente 01/08/12 No segundo pacote de medidas lançado pelo governo federal em abril de 2012, foram incluídos novos setores na Desoneração da Folha de Pagamentos. São eles: Têxtil, Móveis, Plásticos, Material Elétrico, Autopeças, Ônibus, Naval, Aéreo e Bens de Capital Mecânicos (de acordo com a relação de NCMs prevista na medida). Além disso, foi reduzida a alíquota da Contribuição Previdenciária Patronal e da COFINS importação de 1,5% para 1,0%, beneficiando inclusive os setores de confecções e couro-calçadista que já haviam sido contemplados com a medida no lançamento do PBM, em agosto de 2011. E, também, as empresas que prestam serviços de Tecnologia da Informação TI e Tecnologia da Informação e Comunicação TIC, prestam serviços de Call Center, que já haviam sido contempladas com a medida no lançamento do PBM em agosto de 2011, tiveram alíquota da contribuição à seguridade social reduzida para 2% sobre a receita bruta. Manteve-se a elevação da alíquota da COFINS-importação em 1,0 ponto percentual, para importação dos mesmos produtos industriais que, no caso de fabricação no país, estiverem tendo sua receita bruta tributada pela nova contribuição previdenciária; ou seja, os importados cujos códigos TIPI estejam elencados na Medida. Nesse caso, como adicional à alíquota da COFINS-Importação deverá ser adotado o percentual de 8,6%. No total, a extensão da desoneração da folha de pagamentos contemplou onze atividades industriais: Setores Alíquota Fixada sobre Faturamento Bruto Têxtil 1% Confecções * 1% Couro e Calçados * 1% Material Elétrico 1% Bens de Capital - mecânico 1% Ônibus 1% Autopeças 1% Naval 1% Aéreo 1% Móveis 1% Plásticos 1% TI & TIC * 2% Hotéis 2% Call Center * 2% Design Houses (chips) 2% * Setores já contemplados na Lei nº 12546, de 2011. 19

A medida entra em vigor para os novos setores e com a nova alíquota de 1% para os setores que já estavam incluídos a partir de 01/08/2012 e é válida até 31/12/2014. A desoneração da folha de pagamentos é meritória, mas ainda tem efeitos limitados e alcance setorial restrito. Considerando que a indústria de transformação é o setor com maior impacto na economia, mas que em contraponto, carrega o maior ônus tributário, e que a distribuição dos tributos em relação ao PIB de cada setor não é isonômica, entendemos que é preciso aprofundar a medida para que efetivamente a indústria sinta a desoneração pretendida, de forma a alavancar um crescimento mais robusto do país. Adotar critério de regime voluntário: Por se tratar de um benefício, a sistemática da desoneração da folha deveria ser opcional, de forma a oportunizar aos empreendedores a escolha pelo melhor regime. A alteração da contribuição de forma compulsória produzirá efeitos negativos sobre muitas empresas, pois acarretará para estas um aumento da carga tributária em relação ao modelo anterior de tributação. Isso porque, dependendo das peculiaridades do processo produtivo das empresas abrangidas pela medida, a nova forma de tributação poderá gerar um aumento da carga tributária ao invés de desonerar, prejudicando a competitividade de setores que já vêm sofrendo claro processo de desindustrialização. Alíquota inadequada para produzir os efeitos almejados: Com a troca de base tributária de INSS da folha de pagamentos para a Receita Bruta nos setores de confecções e coureiro-calçadista com alíquota de 1,5% sobre a Receita Bruta, em agosto de 2011, a FIERGS, na impossibilidade da aplicação da proposta de tornar o mecanismo opcional, alertou que o percentual de 1,5% sobre a Receita Bruta era elevado, e que para ter uma desoneração, embora parcial, a alíquota não poderia ultrapassar o percentual de 0,8% da Receita Bruta. Com a extensão da desoneração da folha de pagamentos lançada em abril de 2012 ocorreu um avanço por parte do Governo que reduziu a alíquota para 1%, reconhecendo que, de fato, 1,5% é uma taxação elevada e não se constituiu em uma verdadeira desoneração da folha de pagamentos. Mesmo com a referida redução, entendemos que ainda remanescem distorções em relação ao percentual incidente sobre o faturamento, sendo provável que o Governo tenha que rever novamente a alíquota aplicável, de forma a reduzí-la a patamares inferiores a 1%. A vigência da medida é limitada, criando incerteza quanto ao custo de produção futuro: Não se solucionará a perda de competitividade em apenas dois anos, nem mesmo no médio prazo. Por isso, a medida dificilmente servirá para estimular decisões de investimento. Dificuldade de operacionalização, com aumento na burocracia e riscos tributários para empresas que produzem também mercadorias não contempladas: Se uma empresa produzir tipos diferentes de produtos ou prestar diferentes tipos de serviços, sendo apenas alguns deles elencados na Medida Provisória, ela deverá proporcionalizar sua receita de acordo com os serviços/produtos enquadrados 20