CHEIRO E SABOR: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA ENVOLVENDO A ALIMENTAÇÃO NUM CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL



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Transcrição:

TÍTULO CHEIRO E SABOR: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA ENVOLVENDO A ALIMENTAÇÃO NUM CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL Eixo do COPEDI EIXO 4 - Práticas Pedagógicas, Culturas Infantis e Produção Cultural para crianças pequenas. AUTOR Professora Ozely Alves Silva CEU CEI Quinta do Sol São Paulo SP Secretaria Municipal de Educação Resumo Este texto relata uma experiência que ocorreu em 2011 no CEU CEI Quinta do Sol da rede pública de São Paulo, onde as crianças tiveram várias experiências relacionadas à alimentação em diferentes situações. A proposta surgiu com a observação da professora que percebeu em seu grupo algumas crianças que recusavam, sistematicamente, a alimentação oferecida na unidade. A partir desta constatação e de pesquisa feita junto às famílias para conhecer um pouco dos hábitos alimentares das crianças no ambiente doméstico, foram proporcionadas diversas vivências para que as crianças pudessem conhecer novos sabores e aromas das frutas, temperos e ervas. Gradualmente, as crianças incorporaram novos sabores ao seu repertório alimentar. Essa experiência ampliou-se aos demais agrupamentos da unidade. Os pais demonstraram disposição em contribuir e participar de atividades envolvendo a prática alimentar junto às crianças e às professoras. Relato da experiência Nos Centros de Educação Infantil (CEI) da Rede Municipal de São Paulo, as crianças de 0 a 4 anos permanecem por 10 horas na instituição. Ao longo desse tempo, são previstos cinco momentos de alimentação que são motivo de atenção por parte de toda a equipe. A organização dessas refeições (café da manhã, suco, almoço, lanche e jantar) faz parte da rotina institucional onde são definidos horários, espaço, cardápio, além do acompanhamento das crianças.

Em 2011, no CEI (Centro de Educação Infantil) do Centro Educacional Unificado (CEU) Quinta do Sol, vinculado à Diretoria Regional de Educação Penha (DRE-Penha), Zona Leste da capital paulista, colocou-se em prática outra forma das crianças experimentarem os alimentos, que surgiu da observação do alto índice de rejeição de meninas e meninos de três anos aos alimentos oferecidos durante as refeições no CEI. Segundo Costa e Guimarães (2009, p.132) Isso ocorre porque nessa idade a criança já apresenta uma possibilidade de relacionar determinados alimentos a determinados sabores, de que gosta ou desgosta mesmo sem experimentar. Afirmam as autoras que frequentemente a criança escolhe a comida não por causa do sabor. Às vezes ela quer ou não o alimento por causa de alguma outra característica dele, como cor ou forma. Outras vezes ela o quer ou não, porque relaciona o alimento com alguma outra experiência que viveu. Por exemplo, não chupa uma laranja porque um dia chupou uma que estava azeda, ou adora tal marca de refrigerante porque a propaganda é bonita. (2009, p.132). Diante dessa realidade e considerando também as experiências das crianças em casa junto da família, a influência da propaganda de alimentos e bebidas destinados ao público infantil que nem sempre são indicações saudáveis, aconteceram várias vivências ao longo do ano com o objetivo de ampliar ou em alguns casos criar um repertório alimentar de melhor qualidade e que acabou por envolver também todos os demais agrupamentos da unidade. Algum conhecimento específico na área de nutrição também se fez necessário e antes de iniciar o trabalho com as crianças, pesquisas bibliográficas foram realizadas para se obter informações a respeito das características nutricionais, especialmente das frutas. De posse dessas informações o planejamento das ações com as crianças foi mais bem elaborado no que diz respeito à escolha do que seria servido considerando as propriedades de cada alimento. Para iniciar o trabalho também foi fundamental conhecer um pouco da realidade das crianças em casa. Através de um levantamento realizado junto às famílias, foi possível conhecer alguns dos hábitos domésticos e as vivências infantis dos pais com relação à apreciação das frutas e hábitos alimentares. A partir daí começou a ação. A proposta inicial foi a descoberta dos cheiros e sabores de frutas dos mais diversos tipos, conhecidas e desconhecidas pelas crianças, que puderam observálas, inicialmente inteiras e sentir a textura da casca, perceber suas cores e odores. Em seguida, aconteceu a degustação e a experimentação de sabores diversos: mais doces, mais ácidos e texturas mais macias, mais ásperas. Foram maçãs, bananas, peras, abacaxis, uvas, maracujás, melancias, laranjas e limões, jacas e até cacau. A cada nova experiência vivida, novos sabores iam se agregando ao repertório das crianças. Além de frutas, ervas e temperos também foram usados: manjericão, alecrim, arruda, coentro, orégano, hortelã entre outros também foram apresentados às crianças. Os temperos e ervas são menos conhecidos, mas também foram explorados com prazer e curiosidade, pois têm odores muito característicos e fortes.

Para Hohmann e Weikart (1995, p. 20), o poder para aprender reside na criança, o que justifica o foco nas práticas de aprendizagem através da ação. Quando aceitamos que a aprendizagem vem de dentro, atingimos um balanço crítico na educação das crianças. Sendo assim, os adultos são apoiantes do desenvolvimento e, como tal, o seu objetivo principal é o de encorajar a aprendizagem ativa por parte das crianças. (p.27). Ao longo do tempo várias experimentações aconteceram pelos espaços do CEI, e isso também foi despertando a atenção de crianças e professoras de outros agrupamentos. Foi aí surgiu a possibilidade de integração entre as turmas. Como o interesse era geral, passou-se a programar ações que pudessem envolver um número maior de crianças de faixas etárias diversas. Foi então, retomada a primeira das atividades: o reconhecimento de diversas frutas. Foram disponibilizadas para todas as crianças frutas com diferentes texturas, cheiros, tamanhos, arrumadas em travessas e bandejas de modo que ficassem bem acessíveis. As crianças em roda puderam manusear e sentir as diferenças: cascas mais lisas ou ásperas, cheiros cítricos ou doces, perceber o tamanho, as cores. A textura da casca do abacaxi foi uma das maiores surpresas para as crianças pela sua textura. Mangas, tangerinas e o próprio abacaxi, chamaram a atenção pelo cheiro. Limões e maracujás embora azedos agradaram também as crianças, algumas delas desconsideraram o sabor ácido e saborearam com prazer. Também aconteceu à tarde dos sucos coloridos: foram preparados sucos de diversas cores, dispostos em uma bela mesa onde as crianças tiveram oportunidade de provar sucos verdes, amarelos, vermelhos, elaborados com muitas e variadas frutas. Nesta ocasião todas as crianças da unidade foram envolvidas, do berçário I aos mini grupos I e II (mais de 200 crianças). Houve o momento para descobrir de olhos vendados qual era a fruta através de seu cheiro e seu gosto, usando o tato e o olfato para descobrir novidades. Todos os sentidos foram estimulados e não apenas a visão e o olfato. As crianças assim iam descobrindo novidades de um jeito lúdico e prazeroso, até mesmo quando o gosto de determinada fruta não lhes agradava muito. Ao mesmo tempo, a cada novo momento de experimentação, sempre havia o cuidado na organização do espaço, na apresentação das frutas, e, principalmente muita atenção dos adultos na observação das reações das crianças. A cada nova experiência vivida pela criança, novas observações das professoras e novos planejamentos a serem feitos: As professoras devem planejar atividades variadas, disponibilizando os espaços e os materiais necessários, de forma a sugerir diferentes possibilidades de expressão, de brincadeiras, de aprendizagens, de explorações, de conhecimentos, de interações. A observação e a escuta são importantes para sugerir novas atividades a serem propostas, assim como a justes no planejamento e troca de experiências na equipe (BRASIL, 2009, p.40). Uma das experiências mais interessantes foi a apresentação do cacau, muito conhecido pelo chocolate que produz, mas desconhecido por muitos, inclusive pelos adultos, já que esta não é uma fruta comum em São Paulo. Da mesma forma como aconteceu com outras frutas as

crianças observaram, manusearam e provaram a fruta e decidiram que plantariam as sementes que ficaram. Para a surpresa de todas, inclusive dos adultos algumas das sementes germinaram e as crianças puderam acompanhar esse processo. E já que o cacau pode se transformar em chocolate, este também foi um bom momento para a culinária, fazendo e comendo docinhos de chocolate, desta vez contando com a presença de algumas das mães que também tiveram novas oportunidades de participar desses momentos e compartilhar as experiências com seus filhos. A participação das famílias no cotidiano da criança no CEI é muito importante: A instituição de educação infantil é um espaço de vivências, experiências e aprendizagens. Nela, as crianças se socializam, brincam e convivem com a diversidade humana. A convivência com essa diversidade é enriquecida quando os familiares acompanham as vivências e as produções das crianças. Estando aberta a essa participação, a instituição de educação infantil aumenta a possiblidade de fazer um bom trabalho, uma vez que permite a troca de conhecimento entre familiares e profissionais em relação a cada uma das crianças. Assim, a família e instituição de educação infantil terão melhores elementos para apoiar as crianças nas suas vivências, saberão mais sobre suas potencialidades, seus gostos, suas dificuldades. (BRASIL, 2009, p. 57). À medida que o tempo passou, percebeu-se que as crianças passaram a identificar e conhecer maior variedade de frutas e mais do que isso, passaram a comer com mais prazer e vontade. Isso foi muito positivo, pois esse era o objetivo inicial da professora: contribuir para que as crianças pudessem adquirir hábitos alimentares mais saudáveis. Como afirmam Piotto, Ferreira, Pantoni (2009, p.129). A alimentação faz parte do processo educativo e é uma parte importante do desenvolvimento infantil. O processo educativo e o desenvolvimento infantil acontecem continuamente. A alimentação, então, não pode ser pensada somente dentro de casa ou somente dentro da creche. A creche e família devem pensar juntas sobre a alimentação da criança. Para avaliar se todo o trabalho realizado teve um reflexo fora do espaço do CEI, enviamos às famílias um questionário para que os pais pudessem expressar o que havia acontecido com as crianças e a devolutiva dessas questões foi das melhores, pois os relatos dos pais apontaram que de fato as crianças passaram a comer mais frutas em variedade e quantidade. Diante de resultados positivos, consta como proposta para 2012 ampliar essas ações para toda unidade, focando também os momentos de alimentação da rotina institucional com a implantação do autosserviço e ampliação das experiências para outros cheiros e sabores, incluindo também as verduras e legumes, além das frutas, temperos e ervas. A prática, aliada à avaliação e reflexão é a base para a construção da Proposta Pedagógica da unidade como pontua o MEC: A proposta pedagógica não deve ser apenas um documento que se guarda na prateleira. Ao contrário, deve ser um instrumento de trabalho, periodicamente revisto, com base nas experiências vividas na instituição, nas avaliações do trabalho desenvolvido e nos novos desafios que surgem. (BRASIL, 2009)

O processo não está finalizado. Ainda há muitos desafios a serem vencidos e muitas ações a serem realizadas: envolver a equipe, trabalhar com as famílias reconhecendo suas vivências e cultura, dar oportunidades às crianças na construção de suas preferências e bons hábitos com relação à alimentação são apenas alguns deles sempre se levando em conta o período de permanência das crianças no espaço da instituição e o papel dos adultos em garantirem condições de qualidade realizando o trabalho focado nas necessidades das crianças a serem atendidas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BALBACH, A. BOARIM, Daniel S.F. - As Hortaliças na Medicina Natural, Itaquaquecetuba, SP Edições Vida Plena, 1993. BRASIL. MEC/SEB, 2009, Indicadores da Qualidade da Educação Infantil / Ministério da Educação/Secretaria da Educação Básica, Brasília, 2009. CAMPOS, Maria Malta, Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças / Maria Malta Campos e Fúlvia Rosemberg. 6. ed. Brasília : MEC, SEB, 2009 COSTA, Edna Ap. A da Costa e GUIMARÃES, Laudicéia Bem-vinda, Dona Maria Chicória, in Os fazeres da Educação Infantil, Rossetti-Ferreira, Maria Clotilde (org.), São Paulo, Cortez Editora, 2009. HOHMANN, M. e WEIKART. D.P. Educar a Criança, Lisboa, Fundação Calouste Gulbekian, 2004. PIOTTO, Débora C., FERREIRA, Marisa V., PANTONI, Rosa V. Comer, comer... comer, comer... É o melhor para poder crescer... in Os fazeres da Educação Infantil, Rossetti-Ferreira, Maria Clotilde (org.), São Paulo, Cortez Editora, 2009. POLLAN, Michael - Em Defesa da Comida um manifesto; tradução de Adalgisa Campos da Silva, Rio de Janeiro, Editora Intrínseca, 2008. SCHNEIDER, Ernest A Cura e a Saúde pelos Alimentos, Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP, 1987.