HORTA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA
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- Manuella Lisboa Dreer
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1 HORTA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA Raquel Alves de Oliveira, Vânia Galindo Massabni ESALQ - USP Eixo: 03 Ciências Agrárias Resumo O presente trabalho trata a respeito do projeto desenvolvido por estagiárias dos cursos de licenciatura em ciências agrárias e biológicas da ESALQ USP na escola Municipal Nosso Lar no município de Piracicaba - SP ao longo do segundo semestre de Este projeto surgiu por demanda das professoras do jardim II, que buscaram a universidade para parceria no manejo, elaboração e aplicação de atividades educativas com aproximadamente 50 crianças. Buscou-se a utilização da horta enquanto espaço pedagógico de maneira que estas atividades sejam parte do currículo trazendo discutindo temas ambientais no currículo da educação infantil. A oportunidade de planejar e realizar atividades de educação ambiental foi muito interessante para a das estagiárias. Os estágios de prática de ensino são momentos formativos dos futuros professores, momento em que o futuro profissional age diretamente no cotidiano escolar. Testando formas de ser e estar na profissão. A política nacional de educação ambiental é específica no que se refere à educação ambiental enquanto parte do currículo em todos os níveis e tipos de educação. Em complemento, o referencial curricular da educação infantil no tópico natureza e sociedade recomenda a utilização de hortas como ferramenta para explorar o ambiente e conhecer o seres vivos. Introdução A inserção de temas ambientais na educação é um desafio constante na formação de professores comprometidos. Neste sentido, utilizar hortas como espaços pedagógicos apresenta grande potencial para a inserção destes temas na educação infantil. Se este trabalho for realizado com metodologias criativas, irão estruturar novos conhecimentos. O tratamento adequado destes e outros temas atendem a um enfoque educativo que priorize a educação ambiental. Tal como afirma a Política nacional de educação ambiental (PNEA) instituída pela Lei de 27 de abril de 1999, em seu artigo primeiro: Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999) Em complemento, os Referenciais Curriculares da Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 179), diz entre as orientações didáticas, a necessidade da escola em trabalhar projetos que apresentem tarefas que envolvam as crianças na comparação de dados, formulação de perguntas e participação ativa e resolução de problemas. (BRASIL, p.177). 1
2 A formação dos educadores é importante para uma educação em que as questões ambientais sejam postas na prática educativa, não apenas presente em atividades pontuais. É no estágio que o futuro professor desenvolve seus conhecimentos profissionais. O estágio é um momento de colocar em prática ideias, concepções, valores e testar formas de ser e estar na profissão. Kulcsar (1991), afirma que a função dos estágios supervisionados na formação de professores é propiciar aos estudantes a possibilidade de perceber na prática os desafios da profissão, visando principalmente a integração do saber com o fazer. Neste sentido, o presente relato visa discutir trabalhos de estágio supervisionado realizados como parte da conclusão dos cursos de Licenciaturas em Ciências Agrárias e Biológicas da ESALQ USP, em uma unidade de educação infantil onde a horta foi utilizada como instrumento metodológico. A proposta do projeto de extensão em educação ambiental foi colaborar com a formação do licenciado como docente, embora o ensino na educação infantil não esteja reservado legalmente a ele, o licenciado pode colaborar neste espaço escolar. Com esse enfoque, o projeto Horta e galinheiro na creche foi desenvolvido a partir do segundo semestre do ano de A parceria entre a universidade e esta escola de educação infantil permanece até os dias atuais (2014), embora no momento a horta esteja desativada devido a reforma do prédio escolar. A utilização do espaço da horta na Escola Municipal Nosso Lar se apresentou como uma experiência muito rica para a formação das estudantes, por se tratar não só da realização de atividades com as crianças, mas também todo o planejamento das atividades em parceria com as professoras visando à inserção da educação ambiental no currículo. Metodologia do trabalho A parceria entre a escola e a universidade se iniciou a partir de demanda das professoras do jardim II da escola municipal de educação infantil Nosso Lar, que buscaram a ESALQ USP ambas na cidade de Piracicaba para parceria no manejo do espaço, elaboração e aplicação de atividades educacionais. Será relatado o trabalho de estágio realizado em Ao longo de 12 semanas, as estagiárias realizaram atividades sobre a horta três vezes por semana na escola, realizadas com aproximadamente 50 crianças divididas em duas salas de 25 crianças cada do jardim II. A rotina da escola se iniciava às 8 da manhã, com a chegada das crianças na escola, estas iam direto para a sala de aula, onde tinham um período de brincadeiras livres enquanto esperavam para tomar café da manhã. Depois se iniciavam as atividades na horta. Quando o projeto se iniciou, já havia uma organização dos trabalhos. A horta era dividida em canteiros, de forma que cada grupo de cinco crianças fosse responsável por cada um, onde foram plantadas algumas espécies de fácil manejo, como cebolinha e rúcula. 2
3 As atividades do projeto eram compostas de intervenções na horta com as crianças que realizavam o manejo do espaço, como retirada de plantas espontâneas, rega dos canteiros e observação dos fenômenos que ocorriam no local, possibilitando que as crianças tivessem o contato direto com o ambiente, tornando possível que estas realizassem suas descobertas relacionadas aos acontecimentos que ocorrem no espaço. As estagiárias também realizaram regências em sala, com a contação de historias, elaboração de desenhos e colagens pelas crianças, realização de experiências em sala e na horta e outras faziam parte das atividades de alfabetização e desenvolvimento da motricidade das crianças, buscando a coesão dos assuntos tratados na horta com os da sala de aula, além da realização de observação participante das atividades cotidianas das professoras. Resultados As atividades do estágio se iniciaram com o acompanhamento da excursão para a Estação Experimental de Tupi, localizada na cidade de Piracicaba. A atividade foi importante para as estagiárias por ser um primeiro contato com as crianças, e observar a relação destas com as professoras e com o meio ambiente. Como explicado anteriormente as atividades na horta eram realizadas em grupos, que sob supervisão das estagiárias, realizavam as atividades propostas. As crianças também eram incentivadas a observar e explorar o espaço. Com muita frequência as crianças encontravam e mostravam para as estagiárias, caramujos, cogumelos entre outros. As atividades a respeito das partes das plantas começaram a partir das raízes, em que foi realizada uma breve explicação a respeito das funções das raízes na qual as crianças tinham disponíveis diversas raízes diferentes para observar, seguido de um desenho para pintar. O assunto sobre as folhas e suas funções foi realizado através de observação dos diferentes tipos de folhas na horta seguido de explicação na lousa com a ajuda das crianças. A estagiária responsável teve dificuldades em planejar o tempo realizar a transposição didática do tema, de maneira que o tempo a atividade perdeu o foco. O tema sementes foi trabalhado com uma breve explicação e na seqüência seria para as crianças realizarem uma colagem com sementes em um desenho. Sendo primeira vez que a estagiária ficou sozinha com as crianças e a maneira com que a atividade tinha sido planejado se mostrou inadequada à faixa etária, a atividade foi apresentada sem detalhamento suficiente para as crianças que não colaram as sementes como esperado, cobrindo o papel todo com as sementes misturadas com cola. Por isso, a professora encerrou a atividade e as crianças foram para a horta realizar o plantio de sementes. Uma atividade sobre o processo de envelhecimento e morte das folhas, de maneira a abordar o ciclo de vida dos seres vivos. Com a observação de uma seqüência de quatro 3
4 folhas em diferentes estágios do ciclo de vida e um desenho para completar e colorir com as cores específicas das folhas jovens, maduras e secas. A atividade também possibilitou às crianças reconhecer a letras, visto que estas estavam terminando de conhecer o alfabeto. Buscando-se trazer elementos a respeito da ciclagem de nutrientes, foi feito o minhocário pelas estagiárias, para ser mantido em sala de aula. Estes foram feitos em aquários, para que fosse possível a visualização das minhocas e dos caminhos feitos na terra pelos animais. O que os alunos mais gostaram foi o contato com as minhocas, e poder pegá-las na mão e observar como estas se comportavam. Para as estagiárias, esta vivência possibilitou entender a organização de experimentos em sala e a importância deste serem bem planejados e inseridos no contexto dos assuntos tratados. Outro assunto trabalhado na horta foi os tipos de solo. O que mais despertou a atenção das crianças foram as diferenças de cores entre os tipos de solo mostrados, que foram areia, argila e composto orgânico, de maneira que elas entenderam que para o plantio de alimentos saudáveis era necessário que a terra utilizada possuísse os três tipos mostrados e misturados Em outra oportunidade as estagiárias retomaram o tema solo que também discutiu com os conceitos de em baixo e em cima de algo, foi realizada a atividade de cobrir o solo com palha para evitar a erosão. Esta começou com um desenho para pintar com animais que viviam no solo, após a pintura, as crianças colaram palha como cobertura do solo do desenho, depois disso os canteiros também foram cobertos para garantir sua conservação. Um tema muito importante deste trabalho foi a inserção do ser humano enquanto parte do ambiente e não um ente separado deste (REIGOTA, 2012), de maneira que as crianças compreendessem sua responsabilidade na preservação do seu entorno além de inserir as primeiras ideias a respeito de relações ecológicas. Esta foi realizada com os alunos separados em grupos de cinco crianças que realizaram uma atividade que se iniciou com uma conversa com as crianças sobre o que tem na natureza seguida de colagem em um desenho previamente fornecido pelas professoras, em que algum elementos já haviam sido desenhados e seria necessário completar com elementos recortados de revistas. Contar uma história a respeito de uma lagarta que se torna borboleta foi a forma encontrada de trabalhar o assunto do ciclo de vida dos insetos e suas funções ecológicas, além disso, a atividade de contar histórias é muito apreciada pelas crianças e é uma forma de incentivar a imaginação, que é muito importante nesta fase do desenvolvimento infantil. Em um dos últimos dias de atividade do projeto as estagiárias realizaram com as crianças uma avaliação do trabalho através de desenhos a respeito de quais atividades estas haviam gostado mais. Nos desenhos da maioria das crianças estava representado a horta com os vegetais colhidos e o galinheiro, além disso, também apareceu com bastante freqüência nos desenhos a irrigação da horta. Demonstrando para as estagiárias quais das 4
5 atividades mais interessaram as crianças, mostrando que o projeto conseguiu atingir alguns dos objetivos propostos No encerramento das atividades do ano na escola, ocorreu uma exposição para as famílias das atividades produzidas pelas crianças ao longo do ano. A exposição das salas do jardim II focou nas realizações do projeto da horta. Contando com a presença do secretário municipal de educação. De maneira geral, a experiência de utilização da horta como espaço pedagógico se mostrou enriquecedora para a formação das licenciadas, que puderam construir seus saberes na prática. O foco não foi apenas a realização de atividades na horta. O projeto elaborado pelas estagiárias e professoras buscou o manejo do espaço, de forma integrada ao currículo. Assim, a criação e utilização de metodologias foi fundamental para a integração teoria-prática, trazendo a discussão dos temas ambientais para o currículo da educação infantil. Todo o processo de planejamento do projeto se mostrou muito importante para a formação das licenciandas, pois, confrontou diferentes visões de educação ambiental na busca por sua integração no currículo escolar. A integração da temática no currículo foi percebida ao tornar a horta um espaço de brincadeiras, continuidade das atividades desenvolvidas pelas estagiárias, sendo incorporado enquanto extensão do parquinho. Outro indicativo de que este projeto atingiu alguns dos objetivos propostos, foi o recebimento do prêmio Destaque Ambiental de 2012 na categoria instituição de ensino, oferecido pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente (COMDEMA) de Piracicaba. A parceria entre escola e universidade foi de fundamental importância para a formação das graduandas, visto a construção coletiva do projeto, na construção de utilização de um espaço pedagógico, e como atividade para a formação de professores que vivenciaram o planejamento e aplicação das atividades, focando a inserção da educação ambiental no currículo escolar. Bibliografia BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil / Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, v.: il.. Lei n , 27 abr Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial, Brasília, 28 abr KULCSAR, R. O estágio supervisionado como atividade integradora. In:PICONEZ, S.C.B. (coord) A prática de ensino e o estágio supervisionado. Campinas: Papirus, (Coleção Magistério: Formação e trabalho pedagógico) REIGOTA, M. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2012, (coleção Primeiros Passos, 292) 5
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