O PLANEJAMENTO FINANCEIRO COMO INSTRUMENTO DE QUALIDADE DE VIDA



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Transcrição:

O PLANEJAMENTO FINANCEIRO COMO INSTRUMENTO DE QUALIDADE DE VIDA Claudia Regina Halles Rivelto Sokolowski Emerson Martins Hilgemberg Resumo A qualidade de vida e a qualidade do trabalho desenvolvido pelos servidores públicos estaduais assim como pelos trabalhadores em geral estão diretamente relacionados a uma boa saúde financeira. Problemas nessa área podem refletir-se, por exemplo, na qualidade da alimentação e do lazer. Quanto ao ambiente de trabalho, não é incomum encontrar servidores com alto grau de insatisfação e estresse gerados por problemas familiares, não raro com origem nas dificuldades econômicas. Em geral, nos problemas financeiros reside boa parte das preocupações, que só tendem a piorar a situação de desmotivação e de falta de concentração no desenvolvimento das atividades profissionais. Logo, a implantação de algumas políticas públicas que visem amenizar esses problemas, pode contribuir para melhorar a qualidade de vida dos servidores, e o reflexo direto disso poderá ser observado na qualidade do serviço prestado à comunidade. O objetivo deste artigo é analisar a situação econômico-financeira de servidores lotados no Corpo de Bombeiros e Polícia Civil de Ponta Grossa, a fim de propor soluções para, eventualmente, melhorá-la. Para tanto, faz uma revisão da literatura acerca da importância do planejamento financeiro pessoal, para em seguida, por intermédio de um questionário avaliar a situação financeira dos servidores, procurando identificar a relação entre a situação financeira e a qualidade de vida e do trabalho. Ao final, propõe soluções por meio da implantação de políticas públicas capazes de melhorar a gestão das finanças pessoais de cada um dos servidores. Palavras-chave: finanças pessoais, orçamento familiar, qualidade de vida Introdução A qualidade de vida e a qualidade do trabalho desenvolvido pelos servidores públicos estaduais assim como pelos trabalhadores em geral estão diretamente relacionados a uma boa saúde financeira. Problemas nessa área podem refletir-se na qualidade da alimentação e do lazer, por exemplo. Quanto ao ambiente de trabalho, não é incomum encontrarmos colegas com alto grau de insatisfação e estresse gerados por problemas familiares, não raro com origem nas dificuldades econômicas. Durante muitos anos no Brasil foi uma prática comum gastar todo o dinheiro de que se dispunha o mais rápido possível, pois já que os preços das mercadorias (alimentos, eletrodomésticos, etc.) eram reajustados pelo menos uma vez por semana e as famosas máquinas remarcadoras de preços funcionavam sem parar, não havia lógica em poupar e a idéia de planejamento futuro não parecia ser viável. Com a implantação do Plano Real em julho de 1994, conseguiu-se a estabilização da economia e índices de inflação menores que 1% ao mês. Muitos dos hábitos antigos, porém, sobre a forma de lidar com o dinheiro, prevalecem ainda hoje. Tendo estas questões como pano de fundo, o presente trabalho analisa a situação financeira pessoal de uma amostra de servidores que atuam como policiais civis e bombeiros militares, profissões que, por sua própria natureza, convivem com altos níveis de estresse. Em geral, nos problemas financeiros reside boa parte das preocupações, que só tendem a piorar a situação de desmotivação e de falta de concentração no desenvolvimento das atividades profissionais. Assim sendo, a implantação de algumas políticas públicas que visem amenizar esses problemas, pode contribuir para melhorar a qualidade de vida dos servidores, e o reflexo direto disso poderá ser observado na qualidade do serviço prestado à comunidade.

O objetivo deste artigo é analisar a situação econômico-financeira de servidores lotados no Corpo de Bombeiros e Polícia Civil de Ponta Grossa, a fim de propor soluções para, eventualmente, melhorá-la. Para tanto, a seção seguinte trata da elaboração de uma metodologia que permita avaliar a situação financeira dos servidores. Em seguida, é feita a análise dos dados obtidos, procurando identificar a relação entre a situação financeira e a qualidade de vida e do trabalho. A quarta seção propõe soluções por meio da implantação de políticas públicas capazes de melhorar a gestão das finanças pessoais de cada um dos servidores. Finalmente, na quinta seção são feitas algumas considerações finais a respeito do problema. O planejamento financeiro As dificuldades financeiras têm origem em vários fatores, os quais costumam ser rapidamente apontados, tais como: baixos salários, dificuldade de acesso ao crédito ou facilidade excessiva, sem a devida capacidade de pagamento cobrança de juros abusivos, práticas consumistas, etc. Entretanto, a falta de planejamento financeiro dificilmente é apontada como um fator relevante e, ao mesmo tempo, é aquela que está diretamente sob o controle do servidor. As outras questões, como o nível de salário e as altas taxas de juros que não são objetos do presente estudo não são controláveis por ele. Por meio do planejamento é possível adequar o rendimento familiar às suas necessidades, identificar e eliminar gastos supérfluos, planejar compras futuras evitando o pagamento excessivo de juros, realizar objetivos de vida e enfrentar com maior tranqüilidade eventuais problemas. Segundo Frankenberg (1999, p.31), planejamento financeiro significa estabelecer e seguir uma estratégia que permita acumular bens e valores que formarão o patrimônio de uma pessoa ou família.. Cerbasi (2003) já chamou a atenção para o fato de que, na nossa cultura, a acumulação e ostentação de bens são associadas à riqueza, entretanto o objetivo central do planejamento é o acúmulo de valores (reservas) que, além de utilizados em situações imprevistas, serão destinados à execução dos mais diferentes objetivos em diferentes períodos da nossa vida. Eid Junior e Garcia (2001) exemplificam: podem-se traçar objetivos de curto, médio ou longos prazos, ou seja, para 12 a 24 meses; 2 a 5 anos e superior a 5 anos. Um objetivo de curto prazo pode ser, por exemplo, a quitação do débito com o cartão de crédito. Em médio prazo, a aquisição de um veículo e em longo prazo, a aposentadoria. Os autores ressaltam ainda a importância de que o planejamento financeiro seja desenvolvido a partir do conhecimento dos valores, objetivos e prioridades da família. Tais objetivos devem refletir as necessidades ao longo da vida e levar em conta as possibilidades de serem atingidos. O orçamento doméstico faz parte do planejamento financeiro e é um instrumento pelo qual as estratégias estabelecidas pelo planejamento poderão ser colocadas em prática. De uma forma bastante simples, o orçamento doméstico pode ser definido como uma planilha, na qual são anotados todos os gastos e despesas familiares, mesmo as variáveis e os considerados irrisórios, e tem por objetivo proporcionar um panorama geral da vida econômica e dos hábitos familiares. Num primeiro momento pode parecer que o objetivo da elaboração do orçamento seja o corte de gastos, o que pode ser associado à queda no padrão de vida ou a um comportamento avaro. È inescapável que as dificuldades financeiras são o resultado de despesas maiores que as receitas. Dessa forma, o orçamento doméstico ajuda a identificar o destino do dinheiro e definir prioridades, decidindo quais gastos podem ser eliminados ou diminuídos, 2

possibilitando, assim, a formação de uma reserva que é o objetivo principal do planejamento, independente de quais metas foi definida. Procedimentos metodológicos Segundo Labes (1998), conhece-se até o momento quatro técnicas destinadas ao levantamento de dados para uma pesquisa, quais sejam, entrevista, pesquisa documental, observação pessoal e questionário. Para atender aos objetivos propostos nesse trabalho foi excluída a pesquisa documental e a observação pessoal. A técnica da entrevista, embora possua algumas vantagens em relação ao emprego do questionário, não foi utilizada devido à necessidade de atingir uma amostra mais numerosa, respeitando o cronograma do projeto de pesquisa e os recursos disponíveis. O instrumento utilizado nesse trabalho para a coleta dos dados foi a aplicação de um questionário contendo dezenove questões, das quais dezesseis eram perguntas fechadas, uma questão era aberta, na qual o servidor poderia externar sua opinião da forma como preferisse, e duas questões eram semi-abertas, nas quais há espaço para que o servidor preencha com uma opção não disponível. O questionário foi submetido a um pré-teste, aplicado entre acadêmicos do curso de Economia da Universidade Estadual de Ponta Grossa, não tendo sido detectado nenhum problema relativo à interpretação das questões. No cabeçalho do questionário havia informações sobre os responsáveis pela pesquisa e divulgação dos resultados, sua natureza e seus objetivos, além de garantir o anonimato dos respondentes. Os questionários foram aplicados durante o mês de outubro de 2007 a 101 bombeiros militares do 1º Sub-Grupamento de Bombeiros do 2º Grupamento de Bombeiros, o que corresponde a 66,8% dos servidores que atuam na cidade de Ponta Grossa e a 42 policiais civis que correspondente a 61,7% do total de policiais civis lotados na 13ª Subdivisão Policial de Ponta Grossa, além dos quatro distritos policiais e duas delegacias especializadas (Delegacia da Mulher e Delegacia do Adolescente). Na Delegacia Antitóxico não havia nenhum policial civil lotado durante o período de realização dessa pesquisa. Os ocupantes do cargo de Delegado de Polícia sete no total, durante o mês de outubro de 2007 não foram incluídos na pesquisa devido ao fato de perceberem salários muito superiores aos dos ocupantes dos outros cargos (investigador e escrivão) o que poderia levar a erros quando da comparação dos resultados. 3 Resultados e Discussão Nesta seção os resultados da aplicação do questionário são apresentados. Inicialmente é feita a caracterização da amostra e, em seguida, a partir do questionário, procura-se avaliar o nível da educação financeira dos respondentes. Descrição da amostra Os servidores apresentaram as seguintes características: 94% eram do sexo masculino e apenas 6% do sexo feminino. Dessa forma os dados foram analisados de forma global, sem qualquer comparativo com relação ao sexo. Cerca de 85% dos respondentes têm uma renda mensal entre R$ 1.600 e R$ 2.000 reais; 11% têm renda entre R$ 2.100 e R$ 2.500 reais e apenas 4% dos servidores entrevistados percebem mais que R$ 3.100 reais mensais.

O gráfico 1 mostra que o maior grau de freqüência da idade é observado em servidores com idades entre 40 e 46 anos, vindo em seguida, empatados dos de 28 a 34 e de 34 a 40 anos. Gráfico 1 Idade dos servidores 4 60 50 40 Freqüência 30 20 10 0 22 28 34 40 Id a d e 46 52 58 64 O gráfico 2 representa o de tempo de serviço, mostrando que a maior parte dos servidores presta serviços para o Estado entre 10 e 15 anos, seguidos pelo que trabalham entre 20 e 25 anos. Gráfico 2 Tempo de serviço 50 40 Freqüência 30 20 10 0 0 5 10 15 20 Tempo de serviço 25 30 35 Com relação ao nível de instrução, o gráfico 3 mostra que 35% possuem o ensino médio completo, 18,2% possuem nível superior incompleto, 28,7% possuem nível superior completo, destes somente 5,6% tem pós-graduação. Os outros 12,6% possuem o Ensino Médio incompleto.

5 Gráfico 3 Escolaridade dos respondentes 2a. Série - Ens. Med.méd 6,3% 1a. Série - Ens. Med. 3,5% 8a. Série 2,8% Pós-graduado 5,6% 3a. Série - Ens. Med. 35,0% Sup. Completo 28,7% Sup. Incompl. 18,2% Resultados Ao serem perguntados se a situação financeira acaba interferindo na qualidade de vida e na qualidade do trabalho desenvolvido 1 foram obtidas respostas que, para efeito de análise foram tabuladas de acordo com as idéias que eram citadas com maior freqüência, a saber: (1) causas de estresse, preocupações e déficit de concentração no trabalho; (2) qualidade do lazer, moradia, alimentação, saúde e educação para si e a família; (3) baixo salário exige complementação da renda com atividades extras; (4) não interfere no trabalho, mas interfere na qualidade de vida; (5) não interfere em nada; (6) sim, mas não justificou; (7) não, mas não justificou; (8) não respondeu; (9) não soube responder; (10) não foi possível interpretar a resposta. Alguns servidores deram respostas nas quais apareciam elementos de duas categorias. Por exemplo, alguns citaram como interferência maior o estresse e a falta de dinheiro para viajar, sendo então incluídos nas categorias 1 e 2. Dos 143 funcionários, 74 deles afirmaram que sua situação financeira interfere diretamente no trabalho e na qualidade de vida, causando, principalmente, estresse, preocupações, falta de estímulo e de concentração no trabalho. Esses dados foram incluídos na primeira categoria. Como exemplos das respostas incluídas, pode-se mencionar idéias do tipo devido aos diversos gastos, acabo ficando nervosa ; devido ao constrangimento que traz e o estresse ; fico nervoso e no dia seguinte estou de serviço, preocupado como vou pagar o restante das dívidas ; fico desmotivado no trabalho, não consigo me concentrar.. Na segunda categoria foram incluídos 57 servidores em cujas respostas identificaramse como preocupações principais o lazer (muitos citaram a impossibilidade financeira para 1 A pergunta aberta foi formulada da seguinte maneira: Você acha que sua situação financeira acaba interferindo na sua qualidade de vida e na qualidade de seu trabalho? Por quê?

viajar, freqüentar cinema, teatro e outros meios de lazer), a saúde da família e a educação para os filhos. Nessa categoria aparecem respostas como: sem dinheiro não tem lazer, vive de casa para o trabalho e vice-versa ; não tem como viajar, ir ao cinema, pagar uma academia... ; podia ter melhor qualidade na alimentação e melhor educação para os meus filhos ; podia comprar brinquedos para os meus filhos.. Na terceira categoria foram incluídos dez funcionários, os quais afirmaram que a maior interferência da situação econômica em sua vida era o pouco tempo dedicado à família devido à necessidade de fazer bicos, ou procurar outras atividades como forma de complementar a renda, considerada insatisfatória. Entre as respostas, temos: devido ao dinheiro curto, acabamos tendo que fazer bicos... ; quanto menos eu precisar fazer atividades extras, maior será meu rendimento.... Cabe ressaltar que a pergunta do questionário não mencionou a necessidade ou não de realização de atividades extras, sendo que apenas dez servidores a citaram como sendo a causa de maior interferência da sua situação financeira na qualidade de vida. Na quarta categoria, dos que responderam que não interfere no trabalho, mas interfere na qualidade de vida, foram incluídos nove servidores, os quais apontaram, entre outros, a necessidade de ser profissional, de saber separar as coisas.. Na quinta categoria, oito servidores responderam que sua situação financeira não interfere em nada na sua qualidade de vida ou na qualidade de seu trabalho. Cinco servidores responderam que sim (interfere), mas não justificaram a resposta. Dois servidores responderam que não, mas também não justificaram a resposta; três não responderam (deixando em branco), dois responderam que não sabem e sete não tiveram suas respostas incluídas devido à impossibilidade de interpretação das mesmas de modo que refletisse, de forma confiável, a idéia do pesquisado. Quando se trata de formar uma poupança, para casos de emergência ou visando atingir objetivos de caráter material, praticamente metade dos respondentes afirmaram que gostariam de ter uma poupança, porém alegam que não sobra nada no final do mês para poupar 2 (gráfico 4). Gráfico 4 Reserva para situações imprevistas 6 6 5 48,65% 4 25,87% 21,68% Tenho uma poupança para situações emergenciais ou para aquisição de bens mais caros. Como o dinheiro que sobra no final do mês é pouco, acabo gastando e não poupo. 3,50% Gostaria de ter uma Nunca me preocupei poupança, mas nunca em poupar. sobra nada no final do mês. 2 A pergunta era: Você procura guardar uma parcela de seus rendimentos em uma poupança, para casos de emergência ou visando atingir objetivos de caráter material (compra de casa, etc?).

Quanto ao orçamento doméstico 3, pode-se inferir que a maioria acredita na importância do orçamento doméstico. Cerca de 66,43% dos servidores pesquisados afirmaram possuir um registro de despesas, onde anotam todos os seus gastos sabendo dizer para onde está indo o seu dinheiro; 25,17% já tentaram mais acabam perdendo o controle no decorrer do mês (gráfico 5). 7 Gráfico 5 Registro de compras, anotação de gastos e despesas 7 6 5 4 0,70% Não respondeu 66,43% Sim, anoto todas as despesas e sei dizer para onde está indo meu dinheiro. 2,10% Gostaria de ter, mas não sei exatamente como fazer. 25,17% Já tentei, mas acabo esquecendo de anotar as despesas. 3,50% 2,10% Nunca tentei fazer qualquer tipo de anotação dessa natureza. Não acho necessário fazer este tipo de controle. Conforme mostra a literatura, o orçamento doméstico é uma ferramenta importante para fornecer uma idéia mais precisa a respeito dos gastos desnecessários cujo valor poderia ser, a princípio, o valor inicial de uma poupança. Das respostas obtidas, pode-se esboçar duas hipóteses: ou, de fato, o orçamento existe e é efetivamente implementado, porém de maneira a esgotar a renda mensal com o consumo, ou, ao contrário, o orçamento existe mas é implementado de modo ineficaz, o que leva a incapacidade de poupança. A utilização correta do orçamento doméstico como instrumento de gestão e de planejamento de gastos futuros foi avaliada a partir da questão Se você tem um controle ou registro escrito de suas despesas e gastos, de que forma o utiliza?. Praticamente a metade (49,65%) dos entrevistados afirma planejar suas despesas futuras com vistas à aplicação de sua renda; 22,38% anotam as despesas mensais, mas não realiza nenhum controle posterior; 18,18% revelaram não planejar suas despesas futuras; 7,69% não fazem nenhum tipo de controle e 2,10% não responderam à questão (gráfico 6). 3 A questão formulada foi: Você tem um registro de compras, onde anota seus gastos e outras despesas mensais?

8 Gráfico 6 - Formas de utilização do registro de compras, gastos e despesas. 6 5 49,65% 4 18,18% 22,38% Analisa o orçamento para saber onde está sendo gasto o dinheiro e para controlar e planejar melhor despesas futuras. Analisa o orçamento para saber onde está sendo gasto o dinheiro e para controlar despesas, mas não faz planejamento de gastos futuros. Anota no início do mês quais serão as despesas, mas não realiza nenhum controle ao longo do mês. 7,69% Não costuma fazer nenhum tipo de controle dos gastos. 2,10% Não respondeu. De outro lado, a tabela 1 indica a porcentagem de servidores que têm acesso aos diversos tipos de crédito disponíveis no mercado, embora não os utilizem necessariamente. Tabela 1 Acesso aos vários tipos de crédito Tipos de crédito Acesso Empréstimo consignado 80,42% Limite do cartão de crédito ou cartão de lojas e supermercados 65,03% Limite do cheque especial 64,34% Empréstimo em financeiras 50,35% Empréstimo pessoal em bancos 48,95% Nenhum 3,50% Outros 2,10% Quando perguntados sobre onde recorrer numa situação de emergência financeira 4, apenas 12,59% afirmaram ter uma poupança para situações de emergência. A maioria (58,04%) afirma que necessitaria recorrer a um empréstimo bancário e apenas 15,38% afirmam possuir seguro da casa, do carro e plano de saúde (gráfico 7) 4 A resposta refere-se à questão: Em uma situação emergencial (acidente, doença na família, furto de seu carro ou em sua casa), como resolveria o problema?

9 Gráfico 7 Onde recorrer em situações emergenciais 7 6 58,04% 5 4 Teria de recorrer a um empréstimo bancário. 4,90% Teria de recorrer a um parente ou amigo. 15,38% Costuma ter em dia um seguro da casa, do carro e plano de saúde. 12,59% 7,69% 0,70% Tem uma Não sabe como Não respondeu. poupança para resolveria. situações de emergência. Fica claro, portanto, que a porcentagem dos servidores que têm acesso ao crédito é muito grande e, em muitos casos o crédito oferecido pode ser superior à capacidade de pagamento do devedor. Desta forma, esclarecimentos acerca do funcionamento desses instrumentos financeiros, enfatizando as altas taxas de juros praticadas, poderiam contribuir para capacitar os servidores para a utilização consciente desses instrumentos, tendo em vista que quando perguntados acerca de Com que freqüência você faz usos dos tipos de crédito mencionados na pergunta anterior para pagar dívidas ou outras despesas? (prestações, financiamentos) mais de um terço dos respondentes afirma utilizar os instrumentos de crédito citados na tabela 1 para se financiar (gráfico 8). Quando comparado o nível de escolaridade com a freqüência na utilização de crédito, observa-se que, independente do nível de instrução, os servidores costumam fazer uso eventual - algumas vezes - dos sistemas de crédito.

10 Gráfico 8 Freqüência no uso dos vários tipos de crédito 6 51,75% 5 4 25,87% 13,29% 9,09% Nunca Algumas vezes Quase Sempre Sempre Note-se que, se 49,65% dos servidores, ou seja, praticamente a metade dos respondentes (gráfico 6), afirma que utiliza seu orçamento como forma de controlar e planejar melhor suas despesas futuras, as porcentagens dos que possuem poupança deveria ser maior que apenas 25,87% (gráfico 5) e a dos que recorreriam a um empréstimo bancário numa situação de emergência (doença, acidente, furto de seu carro ou sem sua casa) deveria ser proporcionalmente menor. Geralmente, a importância em possuir reservas, que é o objetivo principal de um planejamento financeiro só é compreendida na ocorrência de um imprevisto ou de uma situação emergencial. Halfeld (2001, p.16), afirma que um dos principais obstáculos para a construção de uma poupança, está na dor da renúncia ao consumo imediato e que poucas pessoas conseguem, de fato, diferenciar os verbos necessitar e precisar, do verbo desejar (grifo nosso). Um bom planejamento financeiro, como já foi dito, deve levar em conta os desejos e necessidades de toda a família, o que não implica apenas no consumo de produtos e serviços de primeira necessidade, como alimentação, transporte e moradia. A grande diferença é que, se o servidor possui um orçamento doméstico bem elaborado, analisado mensalmente, melhores serão seus hábitos de consumo, pois poderá definir se o valor de uma compra, ainda que não planejada, será compatível ou não com o seu orçamento. Segundo dados da pesquisa (gráfico 9), 67,83% dos respondentes afirmaram fazer compras por impulso algumas vezes; 5,59%, quase sempre e 1,40% deles sempre.

11 Gráfico 9 Freqüência de compras por impulso 8 7 67,83% 6 5 4 25,17% 5,59% 1,40% Nunca. Algumas vezes. Quase sempre. Sempre. No entanto, quando perguntados acerca de com que freqüência os respondentes sentiam-se preocupados, acreditando que suas necessidades básicas e as de sua família (água, luz, alimentação e moradia) poderiam ser prejudicadas por falta de dinheiro, mais de metade respondeu que já enfrentou tal situação algumas vezes e cerca de um quarto (25,9%) respondeu que tal fenômeno acontece sempre ou quase sempre (gráfico 10). Gráfico 10 Preocupação com necessidades básicas 60,0% 53,8% 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 19,6% 13,3% 12,6% 10,0% 0,0% 0,7% Nunca Algumas vezes Quase Sempre Sempre Não respondeu Quando instados a responder sobre qual seria o fator determinante para o aparecimento de dificuldades financeiras 5, os baixos salários e a aquisição da casa própria foram os fatores que receberam maior destaque (tabela 2). Em segundo lugar, como causador de dificuldades aparecem tratamento de saúde e gastos com alimentação. 5 A pergunta era: Você acredita que suas dificuldades financeiras estão mais ligadas a que fatores?dentre as alternativas, enumere de 1 a 5, da mais importante a menos importante.

Tabela 2 Fatores de dificuldades financeiras Do mais para o menos importante Aquis. Casa Pgto. Aluguel Compra carro Trat. Saúde Alimentação Baixo salário Prest/financ. Pgto. Pensão 1 27,27% 1,40% 2,10% 17,48% 14,69% 36,36% 7,69% 3,50% 2 5,59% 3,50% 12,59% 22,38% 19,58% 12,59% 17,48% 2,10% 3 11,19% 6,99% 11,89% 16,08% 18,88% 6,99% 17,48% 4,20% 4 10,49% 11,89% 13,99% 14,69% 18,88% 6,99% 9,09% 0,70% 5 9,09% 13,29% 28,67% 6,29% 9,79% 7,69% 11,89% 6,29% Deve ser lembrado que na amostra utilizada neste artigo, cerca de 85% dos respondentes têm uma renda mensal entre R$ 1.600 e R$ 2.000 reais; 11% têm renda entre R$ 2.100 e R$ 2.500 reais e apenas 4% dos servidores entrevistados percebem mais que R$ 3.100 reais mensais. Não obstante, os resultados da pesquisa mostram que cerca de 90% dos respondentes nunca tiveram qualquer informação através do ensino médio, fundamental ou superior sobre a importância do planejamento financeiro, ou sobre como gastar seu dinheiro. Ao responder a questão Quais são suas fontes de informação sobre como gastar seu dinheiro? a maioria informou que busca auxílio junto à família (gráfico 11). Gráfico 11 - Fontes de informação 45,00% 4 35,00% 25,00% 15,00% 5,00% 41,96% 27,27% 14,69% 10,49% Converso com Leitura de livros Nunca tive Aprendi na De outro lado, a grande maioria (94,4%) externou o desejo de aprender mais sobre o assunto e 63,83% deles afirmar necessitar de auxílio para adquirir maiores informações a respeito da educação financeira (gráfico 12). 12

13 Gráfico 12 - Aquisição de informações sobre educação financeira 35,00% 30,77% 29,37% 25,00% 20,98% 15,00% 10,49% 5,00% Acredito que posso fazer isso por mim mesmo. Palestras inseridas em Cursos de curta duração eventos (um dia ou menos). (instruções, seminários de aperfeiçoamento profissional, etc.) 2,80% Serviço de assessoria Cursos de longa duração financeira via convênios (mais de um dia). com as universidades. Considerações Finais Considerando que a busca para a educação financeira é um processo complexo e dinâmico, influenciado por fatores psicológicos, comportamentais, culturais e econômicos, pode-se concluir que a qualidade de vida e a qualidade do trabalho desenvolvido pelos servidores públicos estaduais está diretamente relacionada a uma boa saúde financeira. Neste trabalho, partiu-se da hipótese que a situação econômico-financeira dos servidores lotados no Corpo de Bombeiros e Polícia Civil de Ponta Grossa, interfere na qualidade de vida e na qualidade do trabalho desenvolvido por esses profissionais e que situações de estresse são agravadas por dificuldades econômicas. Dentre os resultados que confirmam essa hipótese, é possível apontar como mais significativos: a) a dificuldade dos servidores em formar reservas (poupança) para utilização em casos imprevistos ou para a aquisição de bens mais caros; b) o alto índice de servidores que utilizariam o empréstimo bancário como recurso nessas situações 58,04% - ainda que as altas taxas de juros comprometam ainda mais a renda das famílias; c) a dificuldade em controlar e planejar as finanças pessoais devido à inexistência de um orçamento doméstico, ou quando o orçamento é feito, a ausência de um controle eficiente; d) a preocupação dos servidores quanto à capacidade de atender às necessidades básicas de sua família (água, luz, alimentação e moradia). A análise das respostas da questão aberta, na qual há oportunidade para que o servidor externe suas opiniões, deixa clara a interferência da situação financeira pessoal na qualidade de vida e do trabalho, já que dos 143 servidores respondentes, 131 deram respostas nas quais aparecia à situação econômica como causa de preocupações, estresse, desmotivação e falta de concentração no trabalho; além de prejudicar o lazer, a qualidade da alimentação e da educação dos filhos, por exemplo. Apenas oito servidores afirmaram que não existe nenhuma relação entre a situação econômica pessoal e sua qualidade de vida ou do trabalho que desenvolvem.

A maioria dos servidores apontou os baixos salários como principal causa de seu endividamento, entretanto, em termos econômicos, o endividamento é sempre causado por despesas maiores que receitas independentemente do salário percebido. Os resultados obtidos apontam para dificuldades no gerenciamento das finanças pessoais, em parte causado pela falta de educação financeira, situação que não permite creditar a importância devida ao planejamento financeiro, o que acaba gerando a utilização dos instrumentos de crédito de forma desmedida, a falta de reservas e o conseqüente endividamento. Alguns dos problemas revelados pela pesquisa relacionam-se ao estresse, falta de motivação para o trabalho e preocupações referentes à qualidade de vida que o servidor é capaz de oferecer à família, gerados, em parte, pela falta de um planejamento financeiro eficiente. Uma vez que estudos sobre Gerenciamento de Pessoas estão cada vez mais focados para resultados estratégicos, estes estão orientando seus treinamentos para que os profissionais desenvolvam melhores estratégias e recursos, podendo fazer opções mais sensatas quando sob pressão. Que possam gerenciar ambigüidades e tensões com o máximo de inteligência e saúde possível, diminuindo sua ansiedade e aumentando sua confiança diante de incertezas. De acordo com Limongi-França (2003), embora, historicamente, a qualidade de vida no trabalho (QVT) esteja mais associada a questões de saúde e segurança no trabalho, seu conceito passa a sinalizar a emergência de habilidades, atitudes e conhecimentos em outros setores, abrangendo agora associações com produtividade, legitimidade, experiências, competências gerenciais e mesmo integração social. Aspectos positivos da QVT podem ser percebidos na área organizacional, no aumento de produtividade, na competitividade, nos resultados e imagem da empresa ou organização, e na qualidade dos processos e produtos, no caso específico desse trabalho, na melhoria da prestação de serviços à comunidade. Com isso, a conquista da qualidade de vida, em grande parte, depende do próprio indivíduo, seja na organização ou fora dela. Dependem de sua auto-estima e auto-imagem, do engajamento profissional, político e social e, acima de tudo, de sua postura na transformação da realidade e da consciência de seus direitos e deveres. Como já apontado, as dificuldades financeiras têm origem em vários fatores, tais como: baixos salários, cobrança de juros abusivos, práticas consumistas, entre outros. Contudo, com exceção do consumo excessivo, esses são fatores que não dependem, pelo menos diretamente, da intervenção do servidor, sendo que o planejamento financeiro é um instrumento disponível, que pode ser utilizado como forma de melhorar a qualidade de vida e, conseqüentemente, a qualidade do trabalho prestado. Como uma das causas principais da dificuldade em elaborar um planejamento econômico esteja centrada na falta de educação financeira e utilização consciente dos instrumentos financeiros, projetos ou políticas públicas voltadas para a melhoria dessa situação devem focar, principalmente, o aspecto educativo e didático, através da difusão de informações e conhecimentos de economia, que possam ser utilizados de forma prática pelos servidores. O trabalho revelou que um grau elevado de servidores que tem interesse em obter capacitação em educação financeira e no mesmo momento direciona para as formas de obtenção da informação. Como forma de remediar o problema essas informações poderiam ser divulgadas através de convênios com universidades que possuem cursos de ciências econômicas. A fim de evitar essa carência no futuro podem ser inseridas disciplinas sobre planejamento financeiro nos cursos de formação de bombeiros militares, investigadores e escrivão de polícia. 14

15 Referências CERBASI, Gustavo Petrasunas. Dinheiro: Os segredos de quem tem. 2ª ed. São Paulo: Editora Gente, 2003. COLEMAN, Vermon. Técnica de Controle do Estresse: como administrar a saúde das pessoas para aumentar os lucros. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1992. EID JUNIOR, William e GARCIA, Fábio Gallo. Como Fazer o Orçamento Familiar. São Paulo: Publifolha, 2001. EWALD, LUÍS CARLOS. Sobrou dinheiro: lições de economia doméstica. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2005 FIORELLI, José Osmir. Psicologia para administradores: integrando teoria e prática. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2004. FRANKENBERG, Louis. Guia prático para cuidar do seu orçamento: viva melhor sem dívidas. Rio de Janeiro: Campus, 2002. FRANKENBERG, Louis. Seu futuro financeiro. 12ª ed., Rio de Janeiro: Campus, 1999. HALFELD, Mauro. Investimentos: como administrar melhor seu dinheiro. São Paulo: Fundamento Educacional, 2001. LABES, Emerson Moisés. Questionário: do planejamento à aplicação na pesquisa. Chapecó: Grifos, 1998. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA. Manual de normatização bibliográfica para trabalhos científicos. Ponta Grossa: UEPG, 2005.