Nutrição em Cuidados Paliativos. Nutrição e Alimentação Papel, Significados e Simbolismo. Nutrição - Necessidade básica do ser humano

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Transcrição:

Nutrição em Cuidados Paliativos Laura Ribeiro Nutricionista SNA, IPOPFG laura.ribeiro@ipoporto.min-saude.pt Nutrição - Necessidade básica do ser humano Nutrição e Alimentação Papel, Significados e Simbolismo Academy of Nutrition and Dietetics,2013, OMS, 2015 Nós nos construímos comendo não apenas biologicamente mas também social e culturalmente (Maciel 2005). 1

Impacto da Doença Crónica Impacto da Doença Crónica Fisiopatologia Doença Oncológica 2

Fisiopatologia Doença Oncológica ESPEN - Guidelines nutricionais na doença oncológica Caquexia e nutrição Arends et al. Clinical Nutrition 36 (2017) 1187-1196 Fearon et al. Lancet Oncology 2011;12:489-95 3

Intervenção Individualizada No continuum da doença Em internamento /domicílio /ambulatório PrevostV e Grach. European Journal of Cancer Care. 21: 2012, 581-590 Overal I. Nutrition 31; 2015:615-616 Palliative Nutrition Care - The Dutch Dietitians Oncology Group 2017 Diferentes fases da trajetória diferentes objetivos Expetativa de vida 2-3 meses: dieta direcionada para necessidades nutricionais Expetativa de vida de semanas: alimentos de conforto General Nutrition and Dietary TreatmentNation-wide guideline, Version: 3.0, 2017 Dutch Dieticians Oncology Group, 2017 Intervenção - o processo Avaliação Diagnóstico Intervenção Monitorização Técnicas antropométricas apropriadas, dados bioquímicos, dados clínicos Informações socioeconômicas e dados de consumo alimentar Identificação de problemas nutricionais e suas causas ou fatores contribuintes Determinação das necessidades nutricionais, formulação de metas nutricionais Implementação do plano nutricional Aconselhamento de cuidadores ou membros da família Monitorização do progresso, sucesso e resultados Nutrition care process (Academy of Nutrition and Dietetics, Lacey & Pritchett, 2003 4

Intervenção - o processo 1. Avaliar -Avaliar a situação clínica. -Identificar sintomas/preocupações. -Avaliar estado nutricional. -Avaliar ingestão. -Funcionalidade do T.G.I. -Estado psicológico/ expetativas. -Eventual necessidade de suporte nutricional. 2.Decidir -As decisões devem refletir o melhor interesse do doente. Considerar: -Desejos do doente e família. -Potenciais riscos/benefícios -Sobrevida estimada. -Sintomatologia 3.Reavaliar -Reavaliar objetivos/intervenção. -Considerar risco-benefício -Implementar as alterações necessárias. Explicar ao doente/família a eventualidade de suspensão de medidas European association of Palliative Care. EJPC,2006;13(5):190-3 Guimarães NS, et al. Hos Pal Med Int Jnl. 2018;2(2):115 117. Intervenção - Estratégias Alimentação oral Suplementação nutricional oral NutriçãoEntérica Sondas/Ostomias Nutrição Parentérica Adequar Diferentes Situações/Objetivos/Abordagens Prevoste &Grach.Eur Jour Cancer Care,2012;21:581-590 Critérios de atuação nutricional em CP Perda de peso não intencional de ± 5% independentemente do período de tempo e Presença de desnutrição energético-proteica (PEM) de qualquer grau, medido pelo índice de massa corporal (IMC), avaliado por um nutricionista ou outro profissional de saúde devidamente qualificado ou Presença de sintomas que impactam negativamente a ingestão ou assimilação de nutrientes ou que aumentam perdas nutricionais. Classificação da desnutrição por % perda ponderal Duração Perda ponderal significativa 1M 5% >5% 3M 7,5% >7,5% 6M 10% >105 Perda ponderal severa Mahan, Escott-Stump & Raymond, 2012 5

Evidências? Não existe evidência científica conclusiva para estabelecer recomendações em nutrição/hidratação artificial em cuidados paliativos. Avaliação individualizada Avaliação individualizada Doentes Doentes selecionados selecionados Objetivos Objetivos realistas realistas Considerar Considerar riscos/benefícios MI del Rio et al. Psycho Oncology, 2012; 21: 913-921 Melhor resposta à terapêutica médica Melhoria de sintomas Possível melhoria do estado nutricional Habilitação do doente Melhoria da QdV Nutricionais Bem estar e dignidade Benefícios psicológicos do doente Benefícios psicológicos da família Psicosociais Contributo e benefícios da nutrição em Cuidados paliativos Fisiológicos Económicos Gestão de fome, sede, fadiga Manutenção da capacidade funcional Retardar a deterioração física A Redução de tempo hospitalização Redução de custos associados Arends et al, 2017 Filteau, 2018 Freijer et al, 2014 Laviano, 2016 6

Considerações Finais A terapêutica nutricional em cuidados paliativos é considerada uma estratégia terapêutica, que faz parte integrante da assistência médica. Neste contexto o papel do nutricionista, integrado na equipa de cuidados é fundamental, permitindo uma intervenção individualizada e centrada nas necessidades e expetativas do doente e família. 7